Uma palavra de advertência do Senhor aos crentes divisivos em Marcos 9:33-50 | Witness Lee
Leitura Bíblica: Marcos 9:14-50
A EXPULSÃO DE UM ESPÍRITO MUDO
Esse trecho, de trinta e sete versículos, começa com o caso da expulsão de um espírito mudo do filho de um homem (Mc 9:14-29). Isso aconteceu imediatamente depois que o Senhor Jesus e três dos seus discípulos desceram do monte da transfiguração. “Quando chegaram para junto dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor deles, e alguns escribas discutiam com eles. E logo que toda a multidão O viu, ficou surpreendida, e, correndo para Ele, O saudavam.” (Mc 9:14-15). Quando o Senhor lhes perguntou a respeito da discussão, “um dentre a multidão respondeu-Lhe: Mestre, trouxe-Te meu filho, que tem um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Pedi a Teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.” (Mc 9:17-18). Aqui vemos que se tratava de um espírito mudo; não era o caso de a pessoa toda necessitar de cura. No versículo 25 vemos que foi um espírito mudo e surdo que foi expulso do menino. Portanto, novamente houve a necessidade de cura específica dos órgãos da audição e da fala.
A Razão Pela Qual os Discípulos Fracassaram:
O pai do menino havia pedido aos discípulos do Senhor que expulsassem o demônio, mas eles não o conseguiram. Como aprendizes, eles deveriam ter sido capazes de expulsá-lo. Mas, como não foram capazes de fazê-lo, houve séria discussão. Quando o Senhor desceu do monte da transfiguração, encontrou essa situação. Ele, então, expulsou o espírito surdo e mudo.
Marcos capítulo 9 versículo 28 diz: “Quando entrou na casa, os Seus discípulos Lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo?”, Os discípulos pareciam dizer ao Senhor: “Somos Teus seguidores e temos aprendido de Ti por longo tempo. Foi fácil para o Senhor expulsar o demônio, mas por que nós não fomos capazes de expulsá-lo?”.
No versículo 29 temos a resposta do Senhor à pergunta dos discípulos: “Essa casta não pode sair por meio de coisa alguma senão por meio de oração”. A palavra do Senhor aqui indica que os discípulos não oraram, e essa foi a razão de não poder expulsar o demônio.
Oração e Negar o Ego:
Você sabe o que significa orar? Significa que percebemos que não somos nada e não podemos fazer nada. Isso implica que oração é o verdadeiro negar o ego. Orar, portanto, é negar a nós mesmos, sabendo que não somos nada e somos incapazes de fazer qualquer coisa. Além disso, orar é, na verdade, declarar: “Não eu, mas Cristo”.
Em vez de orar, os discípulos tentaram expulsar o demônio. Talvez tenham pensado: “Já há mais de dois anos temos observado o Senhor expulsar demônios, e já aprendemos. Devemos ser capazes de expulsar o demônio desse menino”. Mas, embora tentassem, não tiveram sucesso. Podemos dizer que tentaram expulsar o demônio sem o poder, a energia, a eletricidade divina necessária.
Quero enfatizar que a palavra “oração” em Marcos capítulo 9 versículo 29 na verdade indica “não mais eu, mas Cristo”. Com respeito a essa questão, precisamos entender por que esse caso vem imediatamente depois da revelação de Cristo como nosso substituto e da palavra do Senhor sobre negar a nós mesmos. Precisamos negar a nós mesmos a fim de que Cristo seja nosso substituto e se torne tudo para nós. Embora os discípulos tenham tido essa revelação, eles não a praticaram, não viveram de acordo com ela. Obter a revelação é uma coisa, mas viver de acordo com ela é outra.
Aplicar a Revelação a Respeito de Cristo como Nosso Substituto:
Marcos capítulo 9 versículos 14 ao 50, na verdade, é a prática da revelação de Cristo como nosso substituto. Havia sido revelado aos discípulos que Cristo é o substituto completo, mediante Sua morte e ressurreição. A morte põe fim a nós e a ressurreição nos traz Cristo, e o resultado é: “Não mais eu, mas Cristo”. Mas como essa revelação pode ser aplicada? De acordo com o caso da expulsão do espírito mudo do menino, ela é aplicada pela oração.
Como seres humanos, todos temos problemas com o temperamento. Assim; podemos usar essa questão, especialmente na vida matrimonial, como ilustração do fato de que, certos “demônios” só podem ser expulsos por meio de oração. Na vida matrimonial é fácil o marido ou a mulher ter problema de temperamento. Com certeza, todo marido tem problemas com isso e toda mulher também. Temperamento é um problema sério na vida conjugal e uma das causas de separação e divórcio. Se um casal nunca trocasse palavras ásperas nem tivesse problema com o temperamento, a maioria dos problemas na vida matrimonial seria eliminada. Mas o temperamento é um problema. Por isso, certamente precisamos de Cristo na vida conjugal. Eu diria que em nenhum aspecto do viver humano precisamos mais de Cristo do que na vida conjugal.
Você sabe como ter a melhor vida conjugal? É praticar: “Não eu, mas Cristo”. Mas como podemos praticar isso? A maneira é orar. Por exemplo, você não deve tentar subjugar o temperamento. Se tentar subjugá-lo por si mesmo, no final terá um problema mais sério com ele. Quanto mais lutar para subjugar o temperamento, mais “depósitos” fará no “banco do temperamento”. Cedo ou tarde você irá explodir de forma mais séria. Isso é tentar expulsar o “demônio” do temperamento por esforço próprio, em vez de fazê-lo pela oração.
Em vez de tentar subjugar o temperamento, você deve orar. Se perguntar ao Senhor por que você não é capaz de expulsar o demônio do temperamento, Ele poderá dizer: “Essa casta não pode sair por meio de coisa alguma senão por meio de oração. Você precisa orar”.
Invocar o Senhor:
Na verdade, não precisamos fazer uma longa oração. Basta invocar: “Ó Senhor Jesus!”. Até mesmo essa pequena oração mostra que é “não mais eu, mas Cristo”. Sua oração testifica que você não exercita o esforço próprio para lidar com a situação, e sim aplica Cristo. Isso é praticar a visão de Cristo, com Sua morte e ressurreição, como nosso substituto.
Você não deve tentar expulsar demônios pelo esforço próprio. Para expulsá-los é preciso orar. Como já ressaltamos, oração significa “não mais eu, mas Cristo”. Portanto o caso de Marcos capítulo 9 versículos 14 ao 29 nos mostra que, se quisermos ser substituídos por Cristo, precisamos orar, em vez de tentar expulsar os demônios por nós mesmos.
A SEGUNDA REVELAÇÃO DA MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Em Marcos capítulo 9 versículos 30 ao 32, o Senhor Jesus revela Sua morte e ressurreição pela segunda vez. O versículo 31 diz: “Porque ensinava os Seus discípulos e lhes dizia: O Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos homens, e eles O matarão; e, quando morrer, depois de três dias ressuscitará”. Contudo, como diz no versículo 32, os discípulos “não compreendiam essa palavra, e temiam interrogá-Lo”.
O ENSINAMENTO ACERCA DA HUMILDADE
Depois do fracasso em expulsar o demônio, os discípulos devem ter ganho algum entendimento de que orar trata-se de “não eu, mas Cristo”, que a oração implica que negamos a nós mesmos e percebemos que não somos nada, não podemos fazer nada e precisamos ser substituídos por Cristo. Para ser substituídos por Ele, precisamos orar para que Ele entre na situação e seja tudo para nós. Mas não podemos ser treinados para a prática disso apenas uma vez, pois um caso específico é limitado em seu alcance. Portanto em Marcos capítulo 9 versículos 33 ao 37, temos outro caso (o ensinamento a respeito da humildade) no qual o mesmo tópico é enfatizado.
Marcos capítulo 9 versículos 33 ao 34, diz: “E chegaram eles a Cafarnaum. Estando Ele na casa, perguntou-lhes: Sobre o que arrazoáveis pelo caminho? Mas eles ficaram em silêncio; porque pelo caminho haviam discutido entre si sobre quem era o maior”. Nenhum dos discípulos ousou responder. Mas o Senhor já sabia que eles discutiram sobre quem era o maior. Então Ele prosseguiu, ensinando a respeito da humildade. “Chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e servo de todos.” (Mc 9:35). Então, o Senhor pegou uma criança, e colocou no meio deles e, tomando-a nos braços disse-lhes: “Qualquer que acolher uma destas crianças por causa de Meu nome, a Mim Me acolhe; e qualquer que a Mim Me acolhe, não acolhe a Mim, mas Aquele que Me enviou.” (Mc 9:36-37). Ao tomar a criança nos braços, o Senhor expressou Sua humanidade em Seu terno amor para com os pequeninos.
Você percebe o que é humildade? Assim como oração, humildade significa que não somos nada. Humildade significa “não mais eu, mas Cristo”.
Aqui o Senhor ensinou aos discípulos a mesma lição, como na expulsão do espírito mudo. Os discípulos haviam ganho a visão a respeito da Pessoa de Cristo, de Sua morte para pôr fim a eles e de Sua ressurreição para fazê-Lo ser a substituição deles. Mas, embora essa visão lhes tivesse sido revelada, eles ainda precisavam praticá-la. Na questão de expulsar demônios, eles precisavam praticá-la orando. Orar é testificar que se trata de “não mais eu, mas Cristo”. Quanto à questão de grandeza, os discípulos precisavam praticar a visão aprendendo a ser humildes. Quando discutiam para ver quem era o maior, estavam negligenciando a visão de Cristo como substituto deles e a visão de Sua morte que punha fim a eles e de Sua ressurreição que os supria. Portanto foi necessário que o Senhor os treinasse a praticar a visão a respeito Dele mesmo como substituto deles.
O ENSINAMENTO ACERCA DA TOLERÂNCIA COM VISTAS À UNIDADE
Em Marcos capítulo 9 versículo 38, João, um dos filhos do trovão, de repente disse ao Senhor: “Mestre, vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios, e nós lhe proibimos, porque não nos seguia”. Esse foi um ato impetuoso de João, o filho do trovão, contrário à virtude do Salvador-Servo a quem acompanhava. A atitude de João foi como a de Josué em Números capítulo 11 versículo 28.
Talvez a intenção de João tenha sido mudar de assunto. Talvez ele e Tiago, os filhos do trovão, é que tenham instigado a discussão sobre quem seria o maior. Creio que eles representaram os papéis principais nessa discussão.
Em vez de repreender João, o Senhor Jesus respondeu de modo muito sábio. O restante desse capítulo é dedicado à resposta do Senhor ao que João disse no versículo 38.
No versículo 39, o Senhor disse: “Não os proíbam; porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e em seguida possa falar mal de Mim”. Isso demonstrou a tolerância do Salvador-Servo, na prática do serviço evangélico, para com os crentes que eram diferentes dos mais chegados a Ele. Nesse aspecto, a atitude do apóstolo Paulo em Filipenses capítulo 1 versículos 16 ao 18: "Estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei." E a atitude de Moisés em Números capítulo 11 versículos 26 ao 29: "Porém, no arraial, ficaram dois homens; um se chamava Eldade, e o outro, Medade. Repousou sobre eles o Espírito do Senhor, porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não saíram à tenda; e profetizavam no arraial. Então, correu um moço, e o anunciou a Moisés, e disse: 'Eldade e Medade profetizam no arraial.' Josué, filho de Num, servidor de Moisés, um dos seus escolhidos, respondeu e disse: 'Moisés, meu senhor, proíbam eles de profetizarem!' Porém Moisés lhe disse: 'Tens tu ciúmes por mim? Bom seria se todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito!'". A atitude de Paulo e Moisés são iguais à do Senhor Jesus, mas a do impetuoso João, não. É muito significativo que esse trecho de Marcos capítulo 9 versículos 38 ao 50 dê continuidade ao anterior (versículos 33 ao 37) no qual o Salvador-Servo ensinou humildade a Seus seguidores, pois os Seus discípulos haviam discutido entre si sobre quem era o maior. Nessa discussão, provavelmente os dois filhos do trovão, Tiago e João, representaram os papéis principais: "Então, se aproximaram do Senhor, Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-Lhe: 'Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir.' E o Senhor lhes perguntou: 'Que quereis que vos faça?' Responderam-Lhe: 'Permite-nos que, na Tua glória, nos assentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.' Mas Jesus lhes disse: 'Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo ou receber o batismo com que Eu sou batizado?' Disseram-Lhe: 'Podemos.' Jesus disse: 'Bebereis o cálice que Eu bebo e recebereis o batismo com que Eu sou batizado; quanto, porém, ao assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado.' Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João. Mas Jesus, chamando-os para junto de Si, disse-lhes: 'Sabeis que os que são considerados governadores dos povos [do mundo] têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vocês não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vocês será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos." (Mc 10:35-45). Aqui o mesmo João não queria ser tolerante para com um crente diferente. Sua ação impetuosa provavelmente se relacionava com a ambição de ser grande. Pode ter sido essa ambição que causou sua intolerância para com a prática diferente de outros crentes. Esse é um fator básico de divisão entre os cristãos. [Por causa do ego e orgulho, muitos irmãos se dividem por que querem ser o maior entre outros irmãos. Eles são controladores, não acolhem outros irmãos, que são simples, no meio deles; e proíbem que os irmãos compartilhem os talentos do Senhor. Tais irmãos que agem assim são como filhos do trovão. Reúnem-se na base do orgulho espiritual, aparência e riquezas materiais, etc.]. O Salvador-Servo certamente não concordava com João nessa questão.
A TOLERÂNCIA DO SALVADOR-SERVO
Em Marcos capítulo 9 versículos 40 a 50, há muitas coisas que nos deixam perplexos. No versículo 40, o Senhor Jesus disse: “Pois quem não é contra nós é por nós.” Esse versículo me incomodou por anos e eu tinha dificuldade para entendê-la, porque achava que contradizia a palavra do Senhor em Mateus capítulo 12 versículo 30: "Quem não é por Mim é contra Mim; e quem Comigo não ajunta espalha." Na verdade, não há contradição. Os dois trechos vieram da boca do Salvador-Servo e podem ser considerados máximas. A máxima em Marcos capítulo 9 versículo 40 fala da conformidade exterior na prática e diz respeito às pessoas que não são contra Ele: “Não o proíbam; porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e em seguida possa falar mal de Mim”. (Mc 9:39); a palavra do Senhor em Mateus capítulo 12 versículo 30 fala da unidade interior no propósito e diz respeito a quem é contra Ele: "Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios." (Mt 12:24). Para manter a unidade interior, precisamos praticar a palavra de Mateus e, no que concerne à conformidade exterior, devemos praticar a palavra aqui, tolerando os crentes que diferem de nós.
Em Marcos capítulo 9 versículo 41, o Senhor prossegue: “Porque qualquer que vos der a beber um copo de água, por terdes o nome de que sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão”. No versículo 38 vemos que João portou-se como quem exercia influência sobre os outros. A sábia palavra do Salvador-Servo no versículo 40 fez com que ele e os demais discípulos se tornassem pessoas que recebiam cuidados dos outros. Isso implicava que todos, quer discípulos quer outros crentes, estavam sob o cuidado do Senhor, pois eram todos Dele. Quer fosse o relacionamento deles para com os outros crentes, quer fosse o dos outros para com eles, tudo o que se fizesse em nome do Senhor, até mesmo dar um copo d'água, seria por Ele galardoado.
No versículo 41, o Senhor fala de alguém que dá um copo d'água em Seu nome a um discípulo por ele ser de Cristo. Isso indica que o Salvador-Servo reconhecia que aquele a quem João proibira de expulsar demônios em Seu nome era um crente autêntico que Lhe pertencia. Isso deve ter sido uma lição para João.
UMA PALAVRA DO SENHOR DE ADVERTENCIA AOS CRISTÃOS
O nosso Senhor Jesus disse: "Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em Meu Nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão. E quem puser uma pedra de tropeço no caminho de um destes pequeninos que crê em Mim, melhor seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar. Se a tua mão te servir de pedra de tropeço, corte-a. Melhor é entrares na vida manco do que, tendo as duas mãos, ires para a Geena [de fogo], para o fogo inextinguível, onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga." (Marcos 9:41-44)
UM GALARDÃO NO FUTURO
Em Marcos capítulo 9 versículo 42, o Senhor Jesus diz: “E a qualquer que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pusesse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar”. Aqui o Salvador-Servo deixou de lidar apenas com João e os demais discípulos e passou a falar dos crentes em geral, a quem Ele considerava pequeninos (nada tendo a ver com as crianças do versículo 37), inclusive João, os demais discípulos e os que eles proibiram de expulsar demônios em nome do Senhor. Isso pode ser considerado uma advertência a João e aos demais, para não fazer tropeçar nenhum dos crentes que seguiam ao Senhor de modo diferente.
NÃO CAUSE TROPEÇO PARA OS OUTROS E NEM PARA VOCÊ MESMO
No versículo 43, a palavra "vida" se refere à vida eterna, que os crentes vencedores desfrutarão no reino vindouro. Herdar a vida eterna: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do Meu Nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna." (Mt 19:29); é ser galardoado na era do mundo vindouro do reino milenar: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna." (Lc 18:29-30); é ser galardoado na era do mundo que há de vir, com o desfrute da vida divina na manifestação do reino.
Geena é o termo grego equivalente ao hebraico Ge Hinnom, 'vale de Hinom'. Era um vale profundo e estreito próximo a Jerusalém, usado como depósito de lixo da cidade, onde se lançava todo tipo de imundícia bem como os cadáveres dos criminosos executados. Também chamado Tofete (2Rs 23:10; Is 30:33; Jr 19:13). Por causa do seu fogo contínuo, tornou-se o símbolo do lugar do castigo eterno, o lago de fogo: "E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo." (Ap 20:15).
Em Marcos capítulo 9 versículo 43, o fogo inextinguível está em aposição a Geena, e, segundo o contexto, denota o castigo dispensacional dos crentes derrotados, como sofrer o dano da segunda morte, mencionado em Apocalipse capítulo 2 versículo 11: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá o dano da segunda morte." Nesse versículo fogo inextinguível não se refere à perdição eterna.
Em Marcos capítulo 9 versículo 45, o Senhor diz: “Se o teu pé te faz tropeçar, corta-o. Melhor te é entrar na vida coxo do que, tendo os dois pés, ser lançado na Geena [de fogo.]”. Isso é bastante semelhante à palavra no versículo 43. (Nos versículos 44 e 46, alguns manuscritos inserem: “Onde não lhes morre o verme, e o fogo não se extingue.”).
No versículo 47, o Senhor continua: “E se o teu olho te faz tropeçar, lança-o fora; melhor te é entrar no reino de Deus com só um olho do que, tendo dois olhos, ser lançado na Geena [de fogo.]”. Entrar no reino de Deus é entrar no desfrute da vida eterna na era vindoura do reino milenar.
O versículo 48 diz a respeito da Geena: “Onde não lhes morre o verme, e o fogo não se extingue”. Essa palavra é uma citação de Isaías capítulo 66 versículo 24: "Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.".
SALGADO COM FOGO
O fogo citado em Marcos capítulo 9 versículo 49 é o fogo refinador: "Mas quem poderá suportar o Dia da vinda do Senhor? E quem poderá subsistir quando Ele aparecer? Porque Ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros." (MI 3:2), que purifica e purga, como em 1ª Coríntios capítulo 3 versículos 13 e 15: "Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.". "Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?" (Is 33:14). Este fogo refinador, como punição dispensacional na era do reino milenar, purgará os crentes que cometem pecado e não se arrependem nesta era. Mesmo nesta era Deus purga os crentes por meio das provações, como que pelo fogo: "Para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada. Ora, se o juízo primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?" (1Pe 1:7; 4:12, 17). A punição dispensacional por meio do fogo na era vindoura do reino milenar, segue o mesmo princípio do castigo de Deus nesta era por meio dos sofrimentos, como que pelo fogo.
Em Marcos 9 versículo 50, o Senhor Jesus conclui: “Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com que o temperareis? Tende sal em vós mesmos, e vivei em paz uns com os outros”. O sal por natureza é uma substância que mata e elimina os germes da corrupção. Dizer que um crente se tornou insípido é o mesmo que dizer que ele perdeu a sua função de salgar. Nesse caso tornou-se igual às pessoas mundanas e já não pode ser distinguido dos incrédulos.
A aplicação da palavra do Senhor aqui em Marcos 9 versículo 50 a respeito do sal difere da de Mateus 5 versículo 13: "Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens." E difere também de Lucas 14 versículo 34: "O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?". Em Mateus e Lucas, o sal, retratando a influência dos crentes no mundo, é para salgar o mundo corrupto; o sal aqui em Marcos 9 versículo 50, em aposição ao fogo purgador, visa salgar os crentes pecadores, assim como os castigos de Deus são para os crentes pecadores nesta era. Logo os crentes devem ter sal em si mesmos para ser purificados não somente dos pecados mas também de qualquer elemento de divisão, e estar assim em paz uns com os outros. O elemento de divisão foi demonstrado pelo impetuoso João ao proibir um irmão diferente dele de expulsar demônios em nome do Senhor, e ao discutir sobre quem era o maior. Essa purificação visa que eles “vivam em paz uns com os outros”. Esse sal purgador purifica a palavra dos crentes com graça: "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem." (Ef 4:29), para que mantenham paz uns com os outros: "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um." (Cl 4:6). O que o Senhor disse aqui indica que as palavras que João havia dito ao irmão diferente não haviam sido purgadas. Assim todo esse trecho de Marcos capítulo 9 versículos 38 ao 50, apresenta o ensinamento do Salvador-Servo sobre a tolerância dos crentes por causa da unidade.
A CHAVE PARA ESSE TRECHO DE MARCOS
Já enfatizamos que em Marcos capítulo 9 versículo 38, João disse ao Senhor Jesus que eles haviam visto alguém expulsando demônios em Seu nome o qual não seguia os discípulos, e o haviam proibido, porque não os seguia. João parecia dizer: “Esse homem estava expulsando demônios em Teu nome, Senhor. Mas ele não nos queria seguir. Ele é faccioso, sectário. Como ele causa problemas, nós o proibimos de expulsar demônios em Teu nome. Eu disse a ele que ou ele segue conosco ou deve parar de expulsar demônios em Teu nome”.
Será que nessa situação João podia dizer que vivia Cristo, que agora não era mais ele, mas Cristo? Certamente não. Acaso João havia sido terminado pela morte de Cristo, e Sua ressurreição, trabalhada nele? De forma alguma! Em Marcos capítulo 9 versículo 38, João ainda era filho natural do trovão; ainda estava em si mesmo, até mesmo num ego expandido. Quando o Senhor falava aos discípulos a respeito da humildade, João até mesmo mudou de assunto no versículo 38.
A resposta do Senhor no versículo 39 deve ter sido uma grande surpresa para João: “Não o proíbam; porque ninguém há que faça milagre em Meu Nome e em seguida possa falar mal de Mim”. Aqui o Senhor Jesus dizia a João: “Tu não deves proibi-lo, ele não é contra Mim; pelo contrário, é por Mim. Todos os crentes são Meus.”.
No versículo 41, o Senhor prosseguiu: “Porque qualquer que vos der a beber um copo de água, por terdes o nome de que sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão”. Aqui Ele parecia dizer: “Em vez de proibi-lo de expulsar demônios em Meu Nome, tu deverias dar-lhe um copo d'água para beber. Se ele servir um copo de água para um de vós, Eu Me lembrarei disso. Qualquer pessoa que em Meu nome vos der um copo d' água para beber receberá galardão na era vindoura do reino milenar.”.
UMA PALAVRA SÉRIA A RESPEITO DE FAZER UM CRISTÃO TROPEÇAR
Nos versículos 43 ao 48, o Senhor Jesus já não fala da questão de fazer os outros tropeçar, e sim de fazer com que nós mesmos tropecemos. Ele mostra que podemos tropeçar por causa da nossa mão, nosso pé ou nosso olho. É sério fazer com que outro crente tropece e também é sério que nós mesmos tropecemos devido a qualquer parte do corpo físico. A seriedade disso está indicada pelo fato de que se nós como membro do Corpo de Cristo fizer outro irmão tropeçar, podemos ser lançados na Geena de fogo, no fogo inextinguível; onde não lhes morre o verme, e o fogo não se apaga.
A RECOMPENSA E A PUNIÇÃO NA ERA VINDOURA DO REINO MILENAR
Em Marcos capítulo 9 versículo 41, o Senhor fala de galardão (recompensa) e nos versículos 42 ao 48, de punição. Tanto a recompensa como a punição ocorrerão na era vindoura, na era do reino milenar. O que der de beber um copo de água fria para um discípulo porque ele é de Cristo será recompensado na era vindoura do reino milenar. Da mesma forma a punição falada nesses versículos também será na era vindoura do reino milenar.
Em Marcos capítulo 9 versículo 43, o Senhor fala sobre entrar na vida. Um aspecto da punição na era vindoura do reino milenar é perder o desfrute da vida eterna. Como vimos, aqui não se trata de receber a vida eterna, e sim de entrar nela. Nós recebemos a vida eterna quando fomos regenerados. Mas entrar na vida eterna ocorrerá na era vindoura do reino milenar, era na qual o reino de Deus será manifestado na terra. Ainda não está definido se vamos ou não entrar no desfrute da vida eterna na era vindoura do reino milenar. Podemos ser impedidos pela concupiscência da nossa mão, do nosso pé ou do nosso olho. A concupiscência em nossos membros pode fazer-nos perder o desfrute da vida eterna na era vindoura do reino milenar. Podemos, em vez de entrar no desfrute, ser punidos com fogo. [Muitos crentes poderão ser disciplinados na era vindoura do reino milenar.]
Quando alguns ouvem que os crentes podem sofrer na era vindoura do reino milenar, talvez digam: “Isso é sério! Como é possível um redimido sofrer tal punição? A redenção de Cristo não é completa e adequada?”. Sim, certamente a redenção de Cristo é completa e adequada. Contudo é fato que os redimidos freqüentemente recebem alguma punição de Deus nesta era. De acordo com 1ª Pedro capítulo 1 versículo 7; capítulo 4 versículos 12 e 17, os crentes podem ser purificados por meio de provas como que pelo fogo: "Para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada. Ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?". Por exemplo, 1ª Pedro capítulo 4 versículo 12 diz: “Amados não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”. A palavra grega traduzida por fogo ardente é pyrosis. Essa palavra significa queima e representa a queima de um cadinho para a purificação de ouro e prata: "O valor da prata e do ouro pode ser testado pelo fogo; o valor de um homem é demostrado pela espécie de elogios que ele recebe. Pois Tu, ó Deus, nos tens posto a prova; nos colocaste no fogo para nos purificar, como se faz com a prata." (Pv 27:21; Sl 66:10 - Bíblia VIVA). Pedro considerava a perseguição sofrida pelos crentes como tal cadinho usado por Deus para lhes purificar a vida. Essa é a maneira de Deus lidar com os crentes no juízo de Sua administração governamental, que começa pela própria casa: "Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; [e deve começar primeiro entre os próprios filhos de Deus.]. Ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? [E se até mesmo nós, que somos cristãos, devemos ser julgados, qual será o destino terrível que aguarda aqueles que nunca crêram no Senhor?]. E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador? Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao Fiel Criador, na prática do bem. [Portanto, se vocês estiverem sofrendo segundo a vontade divina, continuem a fazer o que é direito e entreguem-se aos cuidados do Deus que criou vocês, pois Ele nunca os abandonará.]" (1Pe 4:17-19 - ARA e VIVA).
Muitos mestres da Bíblia percebem que é possível que os redimidos de Deus sofram a punição de Deus nesta era. Já que os redimidos podem sofrer a punição de Deus nesta era, por que iríamos achar que não lhes é possível também sofrer a punição de Deus na era vindoura do reino milenar? Quem tem base para afirmar que os crentes não podem sofrer a punição de Deus na era vindoura do reino milenar? A Bíblia não diz tal coisa. Pelo contrário, a Bíblia revela que Deus sabe como executar Sua punição tanto nesta era como na era vindoura do reino milenar. Por exemplo, um pai pode considerar qual é a melhor maneira de disciplinar o filho: pode fazê-lo imediatamente ou preferir esperar um pouco. Ele irá considerar qual é a melhor hora para ministrar disciplina ao filho. De forma semelhante, Deus sabe qual é a hora mais adequada para disciplinar os filhos, e também qual é a melhor maneira.
O Novo Testamento nos mostra que crentes autênticos, os que foram plenamente redimidos por Cristo, ainda podem sofrer a disciplina, a punição de Deus [nesta era, ou na era do reino milenar]. O fato de Deus poder disciplinar os crentes não significa que a redenção de Cristo não seja completa ou adequada. Embora seja completa e adequada, ainda precisamos tomar Cristo e ser substituídos por Ele. Ainda precisamos orar e assim ser capazes de dizer de maneira prática: “Não mais eu, mas Cristo”. Se não tomarmos Cristo dessa forma, poderemos tropeçar devido à concupiscência da nossa mão, do nosso pé ou do nosso olho. Nesse caso, em vez de desfrutar a vida eterna na era vindoura do reino, sofreremos a punição de Deus.
A MANEIRA DE ENTRAR NO REINO MILENAR VINDOURO
Se essa for a sua experiência, então você irá vencer a concupiscência da sua mão, do seu pé e do seu olho. Você será alguém que toma Cristo como substituto, desfrutando-O como tudo no viver diário e vivendo-O de maneira prática. Como resultado, nada o fará tropeçar, tampouco você fará os outros tropeçarem. Porque você está cheio e saturado de Cristo, nenhuma parte de seu ser será capaz de fazê-lo tropeçar. Em vez de tropeçar, você poderá louvar o Senhor e dizer: “Aleluia, não mais eu, mas Cristo! Aleluia por Cristo! Aleluia por Sua morte e ressurreição!”. Esse desfrute hoje o introduzirá no desfrute na era vindoura do reino milenar. Isso é entrar no reino vindouro e ser mantido fora da punição dispensacional de Deus na era do reino milenar, uma punição que é temporária, por certo período.
Em Marcos capítulo 9 versículo 49, o Senhor diz: “Porque cada um será salgado com fogo”. Isso indica que o fogo funcionará como sal, e seremos salgados com ele. Esse sal mata os germes da concupiscência que estão em nós. Embora tenhamos sido salvos e sejamos filhos de Deus, ainda temos muitos “germes” em nós. Assim precisamos do “sal” de “fogo” para matar esses germes e nos purificar. Não é mera punição, mas é também preservação. Esse sal de fogo nos preservará de ser corrompidos eternamente.
Se virmos o que está revelado nesses versículos, iremos orar: “Senhor Jesus, que não seja mais eu, mas Tu em meu viver diário. Em todas as coisas e em relação a todas as pessoas, que não seja eu, mas Tu. Senhor, preciso ser uma pessoa de oração. Pela oração posso vencer a concupiscência que está em mim. Senhor, fui crucificado Contigo, e agora Tu vives em mim.”.
Pela cruz tivemos fim, e em ressurreição Cristo foi introduzido em nós. Agora devemos desfrutá-Lo e vivê-Lo. Dia a dia devemos levar uma vida em Sua morte e ressurreição. Então de fato será: “Não mais eu, mas Cristo”. Com tal vida, não causaremos tropeço aos outros nem seremos levados a tropeçar por nenhuma concupiscência interior. Então nesta era iremos desfrutar Cristo e na era vindoura do reino milenar entraremos num desfrute mais pleno da vida eterna, o desfrute do reino vindouro no milênio.
O PERIGO DE CONSIDERAR-NOS MELHORES DO QUE OS OUTROS
Em Marcos capítulo 9 versículo 38, João disse ao Senhor Jesus: “Mestre, vimos alguém que em Teu Nome expulsava demônios, e nós o proibimos, porque não nos seguia”. O restante desse capítulo é a respeito do ensinamento do Senhor sobre a tolerância com vistas à unidade, um ensinamento dado em resposta à afirmação de João no versículo 38.
Precisamos ver que, se proibimos os outros como João fez no versículo 38, isso indica que nos consideramos maiores do que eles. Além disso, quando proibimos os outros, achando que somos maiores, também os fazemos tropeçar. Enquanto os fazemos tropeçar, também fazemos a nós mesmos tropeçar. O maligno pode usar os membros do nosso corpo (nossa mão, nosso pé ou nosso olho) para expressar concupiscência e fazer-nos tropeçar. Precisamos ser muito cuidadosos a esse respeito.
Não devemos considerar-nos grandes, mas precisamos perceber que não somos ninguém e não somos nada. Se tivermos essa percepção, então iremos orar e esse fato mostra que percebemos que não somos nada e nada podemos fazer. Precisamos de outro (o próprio Cristo) para nos substituir.
Se não nos considerarmos grandes, maiores do que os outros, não faremos ninguém tropeçar. Mas se pensarmos que somos grandes, faremos os outros tropeçar. Ao mesmo tempo, abriremos as portas para o inimigo usar a concupiscência em nossos membros para nos fazer tropeçar. Os membros do corpo, especialmente os olhos, são cheios de concupiscência. Se fizermos os outros tropeçar considerando-nos maiores do que eles, talvez tenhamos um olho maligno (ou sejamos invejosos, orgulhosos...). Então abrir-se-á caminho para o inimigo utilizar a concupiscência em nossos membros e nos fazer tropeçar.
Todos precisamos aprender a tomar e carregar a cruz, e a aplicar a morte “terminadora” do Senhor à nossa situação. Se levarmos a nós mesmos à morte dessa forma, não nos consideraremos grandes, e sim nos consideraremos nada. Assim não haverá base para o inimigo entrar e utilizar os membros de nosso corpo para nos fazer tropeçar.
Se não tomarmos a cruz e não a aplicarmos a nós, não apenas faremos os outros tropeçar, como também faremos com que nós mesmos tropecemos continuamente. A concupiscência na nossa mão, nosso pé e nosso olho nos fará tropeçar. Se nossa situação for essa, então, no final, quando vier a era do reino milenar, necessitaremos ser salgados porque ainda estaremos cheios de “germes”.
PURIFICADOS E PRESERVADOS PELO FOGO
Como já enfatizamos, o fogo em Marcos capítulo 9 versículo 49 é um fogo purificador: ""Mas quem sobreviverá no Dia em que o SENHOR aparecer? Quem pode suportar a Sua presença? Ele é como o fogo que purifica o ouro." (Ml 3:2 - VIVA), que purifica e purga. Como em 1ª Coríntios capítulo 3 versículos 13 e 15, esse fogo, como punição dispensacional na era vindoura do reino milenar, purgará os crentes que cometem pecado e não se arrependem nesta era: "Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo." Mesmo nesta era, Deus purga os crentes por meio das provações, como que pelo fogo (1Pe 1:7; 4:12, 17). A punição dispensacional por meio do fogo na era vindoura do reino milenar segue o mesmo princípio do castigo de Deus nesta era por meio dos sofrimentos, como que pelo fogo.
EM PAZ UNS COM OS OUTROS
Enfatizamos que Marcos capítulo 9 versículo 38 ao 40 se inicia com a palavra de João a respeito de proibir alguém de expulsar demônios em nome do Senhor, porque essa pessoa não seguia os discípulos. Como resposta à palavra de João, o Senhor parecia dizer nesses versículos: “Esse que expulsou demônios em Meu Nome não seguiu vocês, contudo, apesar disso é um dos Meus crentes, e vocês precisam estar em paz com ele. Contudo vocês não estavam em paz com ele porque se consideraram maiores do que ele. Vocês também se consideraram mais próximos de Mim do que ele. Vocês acham que são melhores do que ele. Esse pensamento o faz tropeçar e também abre as portas para o inimigo entrar e fazer com que vocês tropecem, usando seus membros concupiscentes.”.
Na verdade, esse trecho de Marcos é profundo. Aqui vemos a verdadeira causa das divisões entre os cristãos de hoje. Eles certamente não estão em paz uns com os outros. Em Marcos capítulo 9 versículo 50, o Senhor diz: “Tende sal em vós mesmos, e vivei em paz uns com os outros”. Mas a situação toda entre os crentes hoje é o oposto. Não podemos dizer que estão em paz uns com os outros.
A razão pela qual os crentes não estão em paz uns com os outros é que muitos se consideram importantes e pensam que são maiores do que os outros. O resultado é que isso faz com que os outros tropecem e a porta está aberta para o inimigo utilizar os membros concupiscentes (a mão, o pé e o olho) do corpo dos crentes a fim de fazê-los tropeçar. Assim a imensa maioria dos crentes, por fim, tem sido levada a tropeçar.
Onde estão os cristãos que não foram levados a tropeçar, quer por outros quer por si próprios? A situação é que fazem os outros tropeçar, e então Satanás entra para usar as mãos, os pés e os olhos deles para fazer com que eles mesmos também tropecem. Assim, os crentes levam uns aos outros a tropeçar e cada um faz a si mesmo tropeçar também.
SAL E GRAÇA
Necessitamos de visão, não apenas de Cristo, mas também de Sua morte todo-inclusiva e ressurreição. Precisamos ser substituídos por Cristo por meio de Sua morte e ressurreição. Isso significa que precisamos aplicar Sua morte a nós e então receber o rico suprimento em Sua maravilhosa ressurreição. Se formos substituídos por Cristo dessa forma, seremos curados dos “germes” em nosso interior. Seremos salgados agora mesmo, nesta era: não haverá necessidade de esperar pela era vindoura. Ser salgado nesta era é ser salgado pela graça por meio da morte e ressurreição de Cristo. Mas se formos esperar para ser salgados na era vindoura do reino milenar, seremos salgados pelo fogo. Se nos salgarmos hoje por meio da morte e ressurreição de Cristo, ganharemos graça.
Em Colossenses capítulo 4 versículo 6, Paulo coloca junto graça e sal: “A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.” Em Efésios capítulo 4 versículo 29, Paulo se refere às palavras que transmitem graça aos que ouvem: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”. Graça é Cristo como nosso desfrute e suprimento. Nosso falar deve transmitir essa graça aos outros. A palavra que edifica sempre ministra tal graça aos ouvintes. Dizer que nosso falar é com graça é dizer que Cristo é expresso por meio de nossas palavras. Isso quer dizer que elas devem ser a expressão e elocução de Cristo. Cada palavra deve ser a expressão de Cristo como graça.
De acordo com Colossenses capítulo 4 versículo 6, nosso falar também deve ser temperado com sal. O sal torna as coisas agradáveis ao paladar. A palavra temperada com sal nos manterá em paz uns com os outros. É por isso que o Senhor em Marcos capítulo 9 versículo 50, nos diz que tenhamos sal em nós mesmos e então paz uns com os outros. Se nossas palavras forem com graça e sal, farão com que todas as coisas sejam agradáveis. Quando nos salgamos com a morte e ressurreição de Cristo, recebemos graça. Caso contrário, perdemos a oportunidade de receber graça e, como conseqüência, seremos salgados com fogo como punição na era vindoura do reino milenar.
Encorajo você a ler-orar Marcos capítulo 9 versículos 38 ao 50. Lendo-orando esses versículos você será iluminado e perceberá que nunca deve ser faccioso, não deve proibir os outros e nunca deve força-los a segui-lo.
DUAS MÁXIMAS
Nesta mensagem eu também gostaria de impressioná-lo com duas máximas expressadas pelo Senhor Jesus, a primeira em Mateus capítulo 12 versículo 30 e a segunda em Marcos capítulo 9 versículo 40.
Em Marcos capítulo 9 versículo 40, o Senhor diz: “Pois quem não é contra nós é por nós”. A máxima aqui fala da conformidade exterior na prática e diz respeito às pessoas que não são contra o Senhor (Mc 9:39). Segundo o versículo 38, alguém expulsava demônios em nome do Senhor, embora não seguisse os discípulos que estavam próximos a Ele. Aqui temos a conformidade exterior. Tanto essa pessoa como os discípulos do Senhor expulsavam demônios. Contudo a pessoa não seguia o Senhor da mesma maneira que os discípulos. Aqui vemos uma diferença de prática exterior. A maneira dos discípulos era seguir o Senhor Jesus, mas a maneira da outra pessoa, não. Os discípulos expulsavam demônios seguindo o Senhor; a outra pessoa expulsava demônios não seguindo o Senhor, mas em nome do Senhor. O que temos aqui é uma diferença na forma exterior.
Quanto a diferenças na forma exterior precisamos ser muito abertos. A pessoa mencionada no versículo 38 expulsava demônios em nome do Senhor Jesus. Estava correto fazer isso, pois fazia a mesma coisa que os discípulos. Da mesma forma, pode haver crentes hoje que preguem o evangelho de modo diferente de nós, mas tanto eles como nós ainda pregamos o evangelho. Isso é conformidade exterior na prática, e precisamos ser gerais em nossa atitude a esse respeito.
Com respeito à Unidade Interior:
A segunda máxima está em Mateus capítulo 12 versículo 30: “Quem não é Comigo, é contra Mim; e quem Comigo não ajunta, espalha”. Essa palavra fala da unidade interior no propósito e diz respeito aos que eram contra o Senhor. Ela foi falada especificamente a respeito dos fariseus, que haviam dito: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.” (Mt 12:24). Os fariseus não eram um com o Senhor Jesus, pelo contrário, eram contra Ele. Em vez de ajuntar com Ele, eles espalhavam para longe Dele. Portanto, estavam absolutamente separados Dele e se uniram ao Seu inimigo, Satanás.
Precisamos ver que a máxima em Mateus capítulo 12 versículo 30, relaciona-se à unidade interior no propósito. Essa máxima certamente se aplica a nós hoje na restauração do Senhor. Como estamos aqui por causa da restauração do Senhor, temos de ser um uns com os outros. Não é possível alguém entre nós dizer: “Embora não sejamos um com vocês, ainda somos pela restauração do Senhor.” Não cremos que alguém possa ser pela restauração do Senhor e ainda assim não ser um com os que estão na restauração do Senhor. Deve haver unidade interior no propósito.
Com respeito a essas duas máximas, precisamos ver a diferença entre prática e propósito. Quanto à prática, precisamos ser gerais. Mas, quanto ao propósito, precisamos ser específicos. Com respeito à prática exterior o Senhor diz: “Pois quem não é contra nós, é por nós.” Mas, quanto à unidade interior no propósito, Ele diz: “Quem não é Comigo, é contra Mim.”
(Estudo-Vida de Marcos 9:14-50, Witness Lee)
Jesus é o Senhor!