O Que é Obsessão? É engano próprio, é a ausência da realidade espiritual | Watchman Nee
CAPÍTULO 1
O QUE É OBSESSÃO?
"Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus. Eia! Todos vós, que acendeis fogo e vos armais de setas incendiárias, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as setas que acendestes; de mim é que vos sobrevirá isto, e em tormentas vos deitareis." (Isaías 50:10-11).
"Pois em Ti, Senhor, está o manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz." (Salmos 36:9).
Realidade espiritual é veracidade, é a verdade que nos liberta. Frequentemente, o cristão falha em tocar a realidade espiritual e cai na falsidade. Ele é enganado e atado pela falsidade; ele não vê claramente o verdadeiro caráter de certo fato, mas mesmo assim se considera esclarecido; o que pensa e faz é errado, mas ele entende que está muitíssimo certo. A essa condição nós chamamos de obsessão. A pessoa obcecada precisa da luz de Deus; caso contrário, não poderá sair da sua obsessão. Vejamos o que é obsessão.
OBSESSÃO É ENGANO PRÓPRIO
João, em sua primeira carta, descreve uma pessoa obcecada, dizendo que ela engana a si mesma (1Jo 1:8). Se alguém sabe que pecou, mas mesmo assim diz aos outros que não pecou, é uma mentira. Mas se ele pecou e ainda assim crê que não cometeu pecado, isso é engano próprio. A mentira é cometida quando alguém sabe que pecou, mas diz aos outros que não pecou. A obsessão é evidente quando alguém comete pecado e ainda pensa tão bem de si mesmo a ponto de crer ser sem pecado como o Senhor Jesus. O mentiroso conhece seu pecado, mas procura enganar os outros; o obcecado, embora tendo pecado, crê e diz aos outros que não tem pecado. Em outras palavras, enganar os outros é mentira e enganar a si mesmo é obsessão.
A essência numa mentira é a mesma que numa obsessão; ambas são pecado. Mas numa mentira a pessoa conhece seu pecado em sua consciência, mas procura enganar os outros dizendo que não pecou. Na obsessão, ela não apenas diz que não tem pecado, mas psicologicamente acredita em sua inocência. Quem engana as pessoas é mentiroso; quem engana a si mesmo é obcecado. Todos os obcecados enganam a si mesmos. Eles vivem no mundo de sua imaginação. Muitos dos que são orgulhosos são obcecados! A tendência dos soberbos é conceber pensamentos sobre eles mesmos, a ponto de literalmente crerem que são assim como pensam e desejarem que os outros também creiam que são assim.
Paulo foi, em certo tempo, obcecado. Quando Estêvão foi morto por apedrejamento, Paulo "consentia na sua morte." (At 8:1). Ele estava totalmente obcecado por dentro. Quando escreveu à igreja em Filipos, fez referência à sua história passada, dizendo: “... quanto ao zelo, perseguidor da Igreja..." (Fp 3:6). Ele pensava estar servindo a Deus zelosamente ao perseguir a Igreja. Ele não estava satisfeito apenas em ver as pessoas serem feridas; ele pediu ao sumo sacerdote cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, se encontrasse alguns que fossem do Caminho, homens ou mulheres, pudesse levá-los presos para Jerusalém (At 9.12). Ele cria que, agindo dessa forma, poderia servir a Deus com fervor. Mas ele estava certo? Seu desejo de servir a Deus estava certo, mas sua perseguição contra a Igreja como um serviço a Deus estava errado. Ele estava errado, mas ainda assim acreditava estar certo, – isso se chama obsessão.
Aqueles a quem o Senhor se refere em João capítulo 16 versículo 2, eram também obcecados: "Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar pensará que está prestando serviço a Deus". Imaginar que matar os discípulos do Senhor é servir a Deus, isso é obsessão.
A obsessão está relacionada ao coração. Quando o obcecado faz algo errado, seu coração insiste em que ele está certo. Se alguém age errado e afirma que está certo está mentindo. Mas se age errado e ainda declara com a boca e crê no coração que está certo, é obcecado. O mentiroso é duro por fora, mas seco por dentro; quanto mais confiante exteriormente, mais vazio se torna interiormente. O obcecado é duro por fora e por dentro, sendo confiante no interior e no exterior, pois até mesmo sua consciência parece justificá-lo.
A situação do obcecado é tal que, tendo feito algo errado, ele ainda pensa e firmemente acredita que aquilo está tão certo que ninguém pode dizer que está errado. Isso é obsessão. Além do mais, o obcecado imagina algo que não aconteceu como se realmente tivesse acontecido, e sua imaginação vai tão longe a ponto de afirmar que outros definitivamente fizeram aquilo. Na verdade, quanto mais ele pensa naquilo, mais certo se torna para ele. Isso também é obsessão. Algumas vezes, cristãos admiram certa coisa e secretamente almejam consegui-la. No início, sentem-se um pouco incomodados sobre seu desejo, mas à medida que continuam pensando naquela direção, pouco a pouco e de forma crescente ficam convencidos da legitimidade e realidade de sua cobiça. Finalmente, recebem-na como verdade e passam a propagá-la como verdade. Isso também é obsessão. Quando as pessoas chegam a esse ponto de obsessão, é muito difícil convencê-las do seu erro, mesmo que alguém prove isso pela Palavra de Deus. A razão é que elas dizem conscientemente (isto é, conforme a consciência) que estão certas. Por isso, sejamos muito cuidadosos a fim de não termos a menor intenção de enganar os outros. Devemos corrigir palavras inexatas pronunciadas de qualquer forma. Se dissermos palavras inexatas visando a enganar as pessoas, acabaremos por enganar a nós mesmos.
Conta-se uma história de um irmão que desejava ser um cristão zeloso. Ele achava que a voz com que orava naturalmente não era bastante ardente; resolveu, então, produzir outra voz. Quando orou a primeira vez com sua nova voz, sentiu-se bastante constrangido, pois não era sua voz natural. Mas pouco a pouco se esqueceu de como era sua voz natural. Todos sentiam a falta de naturalidade da sua voz, mas ele a achava muito natural. Considerar o que não é natural como natural é obsessão. Quando fingiu a primeira vez, ele tinha consciência da ausência de naturalidade. Mas depois de ficar obcecado, perdeu sua consciência interior e aceitou aquela voz como real. Quão lamentável é a obsessão!
A OBSESSÃO ILUSTRADA EM MALAQUIAS
O livro de Malaquias do Antigo Testamento mostra, de maneira especial, que tipo de pessoa é o obcecado: "Eu vos tenho amado, diz o Senhor." Isso é um fato, "mas vós [Israel] dizeis: Em que nos tens amado?" (Ml 1:2). Isso é obsessão. O que eles dizem não é o mesmo que uma mentira comum. Eles ousam dizer a Deus: "Em que nos tens amado?". Isso prova que o coração deles realmente não cria que Deus os amava. Eles não criam no fato; pelo contrário, aceitavam uma mentira como verdade. Se isso não for obsessão, o que será, então?
"O filho honra o Pai, e o servo, ao seu Senhor. Se Eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se Eu sou Senhor, onde está o respeito para Comigo? - diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Isso foi dito por Deus, ao que eles responderam: "Em que desprezamos nós o teu nome?" (v. 6). Eles não honraram a Deus; todavia, criam que não haviam desprezado Seu nome. Isso é obsessão.
"Ofereceis sobre o meu altar pão imundo." Essa é a palavra de Deus. Mesmo assim, eles responderam: "Em que te havemos profanado?" (v. 7). Eles estavam errados, mas acreditavam estar certos. Isso é obsessão.
"Vocês ainda fazem isto: cobrem o altar do Senhor de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que Ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. (...) Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança." Isso era um fato, ao qual eles responderam: “Por quê?" (Ml 2:13-14). Eles não criam que houvessem agido erradamente. Isso é obsessão.
"Enfadais o Senhor com vossas palavras." Isso era um fato. Mas eles diziam: "Em que o enfadamos?" (v. 17). É evidente que eles haviam enfadado a Deus, mas ainda assim não criam o houvessem feito. Isso é obsessão.
"Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos." Isso é o que Deus disse, mas a resposta deles foi: "Em que havemos de tornar?" (Ml 3:7). Aos seus próprios olhos, eles eram um povo que nunca se afastaram das ordenanças de Deus, por isso acreditavam não haver motivo para retornar. Isso é inquestionavelmente um caso de obsessão.
"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais.", disse Deus. Mas a resposta deles foi: “Em que te roubamos?" (v. 8). Eles haviam roubado a Deus nos dízimos e nas ofertas; todavia, acreditavam que nunca O haviam roubado. Isso é obsessão.
“As vossas palavras foram duras para Mim, diz o Senhor." Isso era um fato, mas a resposta deles foi: “Que temos falado contra ti?" (v. 13). Eles ofenderam, entretanto não acreditavam que houvessem ofendido a Deus. Isso certamente é obsessão.
O Evangelho de João no Novo Testamento, trata bastante da obsessão: "Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente, o recebereis." (Jo 5:43). Os judeus pareciam ter uma consciência sem ofensa em sua rejeição ao Senhor Jesus. A razão era o fato deles serem obcecados.
"Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?" (Jo 5:44). Por que eles buscavam aquilo que não era glória em lugar da verdadeira glória? Porque eles eram obcecados.
"Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?" (Jo 7:19). Isso foi o que o Senhor disse, mas "a multidão respondeu: Tens demônio. Quem é que procura matar-te?" (v. 20). A mentira deles chegou ao ponto de obsessão, caso contrário, como poderiam acusar o Senhor de ter demônio? Eles pretendiam matar o Senhor Jesus, e mesmo assim, estavam tão obcecados que chegavam a imaginar que o Senhor tinha demônio.
Eles diziam: "Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é." (v. 27). Isso também é mentir a ponto de estar obcecado.
Estar obcecado é muito trágico e triste. O obcecado cai num estado bastante anormal. Vamos dar algumas ilustrações. Alguns cristãos são obcecados em sua forma de falar. Tendo dito coisas, são capazes de acreditar que nunca as disseram; ou não tendo dito coisas, ainda assim acreditam que as disseram. O que os outros nunca disseram eles imaginam e insistem que foi dito. Tais crentes não apenas mentem, mas também estão obcecados. Na verdade, existem cristãos que estão obcecados num nível tal que chegam a aceitar a mentira como verdade, o errado como certo e o falso como fato.
Tais cristãos começam pensando em enganar os outros, mas acabam enganando a si mesmos. Alguém pode mentir e enganar um, cinco ou mesmo dez irmãos. Esses irmãos, sem dúvida, sofrem perda, mas o preço pago pelo que mente é muitíssimo mais alto, pois suas trevas o conduzirão à obsessão. Ele mente até isso se tornar um hábito. Por fim, ele acreditará que sua mentira é verdade. As mentiras começam enganando os outros e terminam em obsessão para o que mente. No início, alguém pode sentir-se um pouco incomodado, achando que não está certo para um cristão falar uma mentira. Porém, mais tarde, quanto mais ele mentir menos sentirá que está errado. Na verdade, quanto mais ele mentir, mais convicto se tornará; sim, ele mesmo acredita que isso é verdade. Isso é obsessão. Ele começa criando uma desculpa desnecessária para enganar os outros, mas termina acreditando que aquilo é um fato. Isso é realmente obsessão.
Alguns cristãos são obcecados em seu testemunho. Depois de ouvir o testemunho de muitos irmãos a respeito de como suas orações foram respondidas, seu trabalho abençoado e seus problemas, resolvidos, um irmão começa a sonhar que suas orações também são respondidas, suas obras abençoadas e seus problemas igualmente resolvidos. Tudo isso, entretanto, não são fatos, e sim fantasias. Mesmo assim, havendo oportunidade, ele se levanta para dar seu testemunho. Ele fala de forma tão viva que faz com que o fato mais comum pareça algo extremamente maravilhoso. Depois de dar seu testemunho algumas vezes, passa a acreditar nele. Não pode mais distinguir que parte é verdadeira e que parte é falsa. Ele se enganou crendo que tudo é verdade. Isso é obsessão.
Alguns cristãos são obcecados por doença. Seu corpo, na verdade, é saudável; todavia, eles afirmam ter alguma doença. Muitas das suas doenças surgem do amor-próprio. Não estão doentes, pois os médicos não podem prescrever nenhum remédio; mas por amarem tanto a si mesmos, eles se queixam desse ou daquele incômodo. Se seu coração bate apenas um pouco mais depressa, concluem que devem ter problemas de coração. Se tossem um pouquinho mais, têm certeza do que estão com tuberculose. Se os médicos lhes disserem a verdade, que não estão nem um pouco doentes, eles afirmam que os médicos são incompetentes. Mas se os médicos disserem que estão doentes de verdade, eles os louvam vezes seguidas por serem muito capazes. Não ter doença e ainda insistir que tem, é obsessão. Isso é o resultado do amor-próprio. Pode bem começar com o desejo oculto de ganhar simpatia da família, dos amigos, dos parentes, mas, por fim, termina com a própria pessoa realmente acreditando estar doente. Ela cria sua doença por meio das inclinações de sua alma. Isso é obsessão, pois a obsessão é criar algo para, por meio dele, enganar a si mesmo até não ter consciência de estar enganado.
Alguns do povo de Deus estão obcecados pelo medo. Alguém pode abrigar um medo em seu coração sem que nada terrível tenha acontecido. No início, pode ser um simples pensamento de que algo é terrível. Mas depois o medo real desce sobre ele. Podemos dar a essa pessoa muitas razões para mostrar que não há nada amedrontador, mas mesmo assim não poderemos convencê-la. Não importa quem lhe diga a verdade, ela acredita na falsidade. Isso também é obsessão.
Alguns cristãos são obcecados por suas suposições. Devido à falta de luz, tais crentes frequentemente aceitam as suposições como fatos. A princípio, alguém pode apenas imaginar que o outro fez certa coisa, ou pronunciou palavras ou frequentou certo lugar. Depois, entretanto, ele acredita que a pessoa em questão fez aquela coisa, falou aquela palavra ou frequentou aquele lugar. Ele está tão obcecado que imagina algo que nunca aconteceu. Sua acusação é claramente injustificável, mas mesmo assim ele acredita ser verdade. Isso é obsessão. Ele acredita no que não é verdade para outras pessoas. Isso é obsessão. Ele aceita a suposição como fato. Isso é obsessão.
Existe outro tipo de obsessão. Alguns santos estão verdadeiramente buscando o Senhor. Eles esperam andar de modo perfeito diante Dele, mas não têm luz. Tais pessoas podem contemplar a si mesmas achando que fizeram algo errado, quando não existe nada errado. Elas se preocupam quase a ponto de morrer. Chegam ao extremo de lamentar que o Senhor não as pode perdoar nem o sangue precioso pode purificá-las do seu pecado. Julgando pela luz de Deus, só podemos concluir que elas não pecaram. Mas elas confessam que pecaram, que cometeram uma terrível transgressão. Elas agonizam e derramam muitas lágrimas, e confessam, não uma, mas centenas de vezes. Confessam o tempo todo porque sentem que seu pecado está sempre presente com elas. Que nome você dá a isso? Isso também é obsessão. Uma pessoa não fica obcecada apenas com coisas ruins; existe a possibilidade de ficar obcecado até pela convicção de pecado. Um cristão que busca a Deus pode se condenar desnecessariamente se lhe falta a luz. Crer naquilo que não é um fato é obsessão.
"Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!" (Is 5:20). Alguém pode ficar tão obcecado a ponto de chamar o mal de bem e o bem de mal, de fazer da escuridão luz e da luz escuridão e pôr o amargo por doce e o doce por amargo. Ele está totalmente errado, mas tem confiança que está certo. Quão lamentável é tal condição! O que o cristão mais deve temer é ter pecado e não ver tal pecado. Ter pecado está relacionado com contaminação, mas não ver o pecado está relacionado com as trevas. A contaminação já é bastante perigosa, mas acrescentar as trevas à contaminação é duplamente perigoso. O cristão que vive nas trevas não pode andar tranquilamente no caminho que está a sua frente, porque não về o caminho.
Os fenômenos da obsessão são muitos e variados. Existe a possibilidade de o crente ficar obcecado em seu pensamento em relação a si mesmo e aos outros, em suas palavras concernentes a si mesmo e aos outros, em sua situação espiritual, em seus pecados e em tudo relacionado consigo mesmo. A obsessão é, realmente, um sintoma muito comum. Todos os cristãos podem cair na obsessão; a diferença reside apenas no grau. Por isso, não podemos deixar de prestar atenção a isso.
Existe uma causa para cada obsessão. Vamos tentar encontrar algumas das causas básicas examinando atentamente as Escrituras.
1º. Amor às Trevas:
Há pessoas que amam mais as trevas do que a luz. Essa é uma das principais causas da obsessão. Esse amor anormal revela o desvio do coração; por isso, tais pessoas se tornam facilmente obcecadas. A fim de evitar dificuldades e de se salvarem de problemas, elas não ousam encarar a luz, mas procuram se confortar dizendo que estão certas. Pouco a pouco, começam a crer que estão certas. Assim, ficam obcecadas. Os judeus rejeitaram o Senhor Jesus porque amavam mais as trevas do que a luz (Jo 3:19). Eles não tinham luz, pois habitavam nas trevas. Achavam justo odiar e rejeitar o Senhor Jesus. O Senhor disse: "Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai." (Jo 15:24). Por quê? Porque estavam obcecados. Eles odiaram o Senhor sem causa. Precisamos saber que sempre que houver trevas, e não luz, existirão conceitos errados, falsa confiança e julgamento errado. Existe um elemento de obsessão em cada um desses erros. A consequência de não amar a luz é obsessão.
2º. Orgulho:
O orgulho também é uma grande causa da obsessão. “A soberba do teu coração te enganou..." (Ob 1:3). Isso revela que a maior causa do engano próprio é o orgulho. Aqueles que enganam a si mesmos a ponto de entrar em obsessão são, provavelmente, todos pessoas soberbas. Se um cristão colocar seu coração em obter vanglória e posição diante dos homens, ele pode começar a fingir ser o que não é, a fim de enganar as pessoas. Pouco a pouco, ele começa a enganar a si mesmo e a se tornar obcecado. Uma vez que se torna orgulhoso, ele pode facilmente imaginar a si mesmo como alguém que tem algo extraordinário. Lentamente, aceitará as fantasias como verdade. Assim, ele cai na obsessão. Nunca considere o orgulho como um pecado insignificante, pois ele pode facilmente nos impelir para a obsessão. Aprendamos, portanto, a ser humildes.
3º. Não Receber o Amor da Verdade:
Não receber o amor da verdade é outra causa enorme por trás da obsessão. Em 2ª Tessalonicenses nos é mostrado que para aqueles que "não acolheram o amor da verdade para serem salvos... Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira." (2Ts 2:10-11). Essa é, realmente, uma consequência terrível. As pessoas se tornam obcecadas por crer nas mentiras. Elas creem em coisas que não existem. Por não receberem o amor da verdade, naturalmente se inclinam para as mentiras.
“Compra a verdade e não a vendas; compra a sabedoria, a instrução e o entendimento." (Pv 23:23). A verdade precisa ser comprada, isto é, um preço deve ser pago. Bem-aventurados somos se nosso coração está bem preparado para a verdade de Deus. Nós amaremos a verdade e a aceitaremos, custe o que nos custar. Mas, muitas vezes, os homens não têm o amor da verdade neles. Eles torcem a verdade e até a descartam. Finalmente, acabam acreditando que ela não é a verdade. Proclamam como falso o que é verdade e pregam como verdade o que é falso. Eles parecem fazer isso com confiança. Isso, definitivamente, é obsessão.
Devemos saber que, uma vez que alguém rejeita o amor da verdade no coração, é muito difícil para ele ver a verdade mais tarde. Havia um irmão que estudava num seminário teológico. Ele foi conversar com um dos seus professores sobre o batismo. Esse irmão disse: “Tenho visto diante de Deus que fui crucificado com o Senhor. Já estou morto; preciso ser sepultado; devo ser batizado. O que o senhor acha disso?". O professor respondeu: “Eu também tive uma experiência semelhante anteriormente. Logo antes de me formar no seminário, como acontece com você agora, eu também vi essa questão da morte, sepultamento e ressurreição juntamente com Cristo. Eu vi que já havia morrido, que devia ser sepultado no batismo. Mas se eu fosse batizado por imersão, não poderia trabalhar na denominação à qual eu pertencia. Orei sobre isso e senti que podia adiar a decisão até depois da formatura e ordenação. Formei-me no seminário e fui ordenado pastor. Agora são passados muitos anos. Embora não tenha sido batizado, tenho me sentido muito bem. Por isso, por que você não se concentra nos seus estudos? Depois da sua formatura e ordenação, talvez isso não incomode mais você". Viver em paz depois de violar a verdade não é outra coisa senão obsessão. (Graças ao Senhor, felizmente, aquele irmão não deu ouvidos ao seu professor.). Lembre que podemos facilmente nos tornar obcecados se nosso coração não for totalmente para o Senhor.
4º. Não Buscar a Glória que Vem do Único Deus:
Não buscar a glória que vem do único Deus também é um fator que gera obsessão. "Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?" (Jo 5:44). Por cobiçarem a glória dos homens, os judeus rejeitaram o Senhor e perderam a vida eterna. Quão lamentável! Esse amor desordenado pela glória dos homens inclinou o coração deles para a mentira. Como resultado, eles acreditaram na falsidade. Eles se tornaram cada vez mais confiantes em si mesmos. Eram nada mais que obcecados.
A obsessão é trágica. Os filhos de Deus não devem ser obcecados. O obcecado não consegue ver o caráter real das coisas. Portanto, a seguir apontaremos, de forma breve, como ver a realidade e evitar a confusão.
"Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do Seu servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus. Eia! Todos vós, que acendeis fogo e vos armais de setas incendiárias, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as setas que acendestes; de mim é que vos sobrevirá isto, e em tormentas vos deitareis." (Is 50:10-11).
Quando os israelitas andaram em trevas e não tinham luz, mais do que naturalmente acenderam tochas com as quais se cercaram. Eles andavam nas chamas do seu próprio fogo. Isso era bom? De modo nenhum, pois o resultado foi que se deitaram em aflições. As trevas espirituais não podem ser desfeitas por tochas feitas pelo homem. A luz deve vir de Deus, não do homem. As tochas humanas nunca podem capacitar alguém a ver a realidade espiritual.
Procuremos entender que as tochas que acendemos nunca podem ser uma fonte de luz espiritual. Alguns cristãos dizem: "Onde estou errado? Não sinto que tenha feito algo errado. Não sinto estar errado em coisa alguma". Você é realmente tão digno de confiança assim? Outros podem dizer: "Meditei muito sobre essa questão em particular. Ouso concluir que isso está definitivamente certo". Está certo afirmar que você pode decidir definitivamente sobre algo pelo fato de ter meditado bastante? De acordo com a Palavra de Deus, essa não é a maneira de os cristãos conhecerem algo. Você pode esgotar seu poder mental em considerações, mas tudo o que for aceso ali será simplesmente sua tocha humana. Um cristão não pode prosseguir sua jornada espiritual pela luz de sua própria tocha. Ele deve depender do nome do Senhor. Somente por confiar em Deus ele pode, de fato, ver e andar espiritualmente. Com frequência, tornamo-nos mais confusos pelo nosso muito pensar e podemos até mesmo ser enganados. A luz espiritual não vem de nosso sentimento ou pensamento. Quanto mais alguém busca a luz dentro de si mesmo, menos luz tem, pois a luz não está nele.
"Pois em Ti está o manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz." (Sl 36:9). É somente pela luz de Deus que vemos realmente a luz, isto é, o verdadeiro caráter do que quer que seja. A primeira luz, no texto acima, é a luz que ilumina; a segunda luz é o verdadeiro caráter que é visto. Precisamos viver na luz de Deus se desejamos ver o caráter real de uma questão.
É um grande problema o modo como vivemos. Se vivemos na luz da vida de Deus, podemos ser pessoas que veem. Existem alguns cristãos que merecem nosso maior respeito não apenas por sua própria bondade, mas também por seu viver diante de Deus. “Deus é luz." (1 Jo 1:5). Todos os que conhecem a Deus conhecem a luz. Todos os que conhecem a luz manifestam ter Deus neles. Tão logo aquele que conhece a luz de Deus encontra-se com você, é capaz de discernir seu caráter e de apontar as faltas que você tem. Ele não faz isso com o desejo de ferir você, mas se deve totalmente à sua aguçada visão interior. Para o que não tem luz, certa coisa pode parecer muito boa; entretanto, deve-se deixar para aquele que vive na luz de Deus descobrir o verdadeiro caráter da coisa. Nenhuma luz de vela é necessária debaixo do sol brilhante; nenhuma outra tocha humana é necessária debaixo da luz de Deus. Se vivêssemos na luz de Deus, o verdadeiro caráter de todas as coisas seria tão claro e transparente como a luz.
Aqueles que se conhecem na luz de Deus têm verdadeiro conhecimento de si mesmos. Se não estivermos na luz de Deus, podemos pecar sem estar conscientes de quão vil é nosso pecado; podemos cair sem termos plena consciência de quão vergonhosa é nossa queda. Podemos fazer algum bem exteriormente, mas quão enganoso é nosso estado interior! Podemos mostrar bondade por fora, mas quem conhece nossa dureza por dentro? Somente Deus conhece. Podemos agir de forma espiritual, mas nossa realidade é que somos totalmente da carne. Quando a luz de Deus vem, o verdadeiro caráter de todas essas coisas será manifestado. Então, veremos a nós mesmos totalmente e confessaremos quão indignos sempre fomos.
Aqui está a diferença entre os dois testamentos: no antigo, o certo e o errado eram conhecidos pela lei exterior; no novo, conhecemos o verdadeiro caráter de algo por meio do Espírito Santo que habita em nós. É possível vermos nossa falta por meio da doutrina ou do ensino, mas mesmo assim precisamos ver nossas faltas na luz de Deus. Conhecer nossas faltas por meio da doutrina ou do ensino é superficial; perceber nossa falta na luz de Deus é perfeito. Somente na luz de Deus podemos ver o que Deus vê. Esse é o significado de ver a luz na luz de Deus.
Se não quisermos ficar obcecados, devemos viver na luz de Deus. Nossa maior tentação é acender nossas próprias tochas. Sempre que enfrentamos um problema, imediatamente procuramos as respostas em nós mesmos. Tentamos decidir o que é certo e o que é errado. Esse não é o caminho que Deus quer que sigamos. Precisamos ser humildes, reconhecendo quão indignos de confiança somos. Nosso julgamento, pensamento e ação não são confiáveis. Estamos sujeitos ao erro. O que julgamos como certo pode não ser necessariamente certo; o que julgamos errado pode não ser de todo errado. O que consideramos doce pode ser amargo, e vice-versa. O que recebemos como luz pode não ser luz de modo algum, e o que recebemos como trevas pode vir a não ser trevas. Não devemos substituir a luz de Deus por tochas que acendemos. Devemos receber a luz de Deus.
“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em há ti sejam trevas, que grandes trevas serão!" (Mt 6:22-23). O cristão que não tem luz em si tende para a obsessão. Que lamentável se alguém não về o que deveria ver e não sabe o que deveria saber. Devemos pedir a Deus para brilhar em nós a fim de poder tocá-Lo. A vida cristã não deve ser cheia de problemas, dúvidas e hesitações. Devemos ser capazes de ver se algo tem realidade espiritual ou não. Se pudermos ver, evitaremos cair em obsessão.
O Senhor Jesus disse: "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo." (Jo 7:17). A condição para sermos iluminados é genuinamente querer a vontade de Deus. Cuidemos para não decidir, de maneira rápida e confiante, sobre qualquer assunto que chegue a nós. Pelo contrário, peçamos a Deus para nos dar um coração perfeito para fazer Sua vontade. Um coração endurecido, egoísta e autoconfiante bloqueia a luz de Deus. Se desejamos ter a luz de Deus, devemos ser meigos, não egoístas e não autoconfiantes. Resumindo, devemos ser humildes. Peçamos a Deus para nos libertar, a fim de que diariamente vivamos em Sua luz e, assim, sejamos capacitados a conhecer o que é veracidade e realidade espiritual. Que Deus nos livre da falsidade e da obsessão!
"O filho honra o Pai, e o servo, ao seu Senhor. Se Eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se Eu sou Senhor, onde está o respeito para Comigo? - diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Isso foi dito por Deus, ao que eles responderam: "Em que desprezamos nós o teu nome?" (v. 6). Eles não honraram a Deus; todavia, criam que não haviam desprezado Seu nome. Isso é obsessão.
"Ofereceis sobre o meu altar pão imundo." Essa é a palavra de Deus. Mesmo assim, eles responderam: "Em que te havemos profanado?" (v. 7). Eles estavam errados, mas acreditavam estar certos. Isso é obsessão.
"Vocês ainda fazem isto: cobrem o altar do Senhor de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que Ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. (...) Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança." Isso era um fato, ao qual eles responderam: “Por quê?" (Ml 2:13-14). Eles não criam que houvessem agido erradamente. Isso é obsessão.
"Enfadais o Senhor com vossas palavras." Isso era um fato. Mas eles diziam: "Em que o enfadamos?" (v. 17). É evidente que eles haviam enfadado a Deus, mas ainda assim não criam o houvessem feito. Isso é obsessão.
"Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos." Isso é o que Deus disse, mas a resposta deles foi: "Em que havemos de tornar?" (Ml 3:7). Aos seus próprios olhos, eles eram um povo que nunca se afastaram das ordenanças de Deus, por isso acreditavam não haver motivo para retornar. Isso é inquestionavelmente um caso de obsessão.
"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais.", disse Deus. Mas a resposta deles foi: “Em que te roubamos?" (v. 8). Eles haviam roubado a Deus nos dízimos e nas ofertas; todavia, acreditavam que nunca O haviam roubado. Isso é obsessão.
“As vossas palavras foram duras para Mim, diz o Senhor." Isso era um fato, mas a resposta deles foi: “Que temos falado contra ti?" (v. 13). Eles ofenderam, entretanto não acreditavam que houvessem ofendido a Deus. Isso certamente é obsessão.
A OBSESSÃO ILUSTRADA NO EVANGELHO DE JOÃO
"Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?" (Jo 5:44). Por que eles buscavam aquilo que não era glória em lugar da verdadeira glória? Porque eles eram obcecados.
"Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?" (Jo 7:19). Isso foi o que o Senhor disse, mas "a multidão respondeu: Tens demônio. Quem é que procura matar-te?" (v. 20). A mentira deles chegou ao ponto de obsessão, caso contrário, como poderiam acusar o Senhor de ter demônio? Eles pretendiam matar o Senhor Jesus, e mesmo assim, estavam tão obcecados que chegavam a imaginar que o Senhor tinha demônio.
Eles diziam: "Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é." (v. 27). Isso também é mentir a ponto de estar obcecado.
O FENÔMENO DA OBSESSÃO
Tais cristãos começam pensando em enganar os outros, mas acabam enganando a si mesmos. Alguém pode mentir e enganar um, cinco ou mesmo dez irmãos. Esses irmãos, sem dúvida, sofrem perda, mas o preço pago pelo que mente é muitíssimo mais alto, pois suas trevas o conduzirão à obsessão. Ele mente até isso se tornar um hábito. Por fim, ele acreditará que sua mentira é verdade. As mentiras começam enganando os outros e terminam em obsessão para o que mente. No início, alguém pode sentir-se um pouco incomodado, achando que não está certo para um cristão falar uma mentira. Porém, mais tarde, quanto mais ele mentir menos sentirá que está errado. Na verdade, quanto mais ele mentir, mais convicto se tornará; sim, ele mesmo acredita que isso é verdade. Isso é obsessão. Ele começa criando uma desculpa desnecessária para enganar os outros, mas termina acreditando que aquilo é um fato. Isso é realmente obsessão.
Alguns cristãos são obcecados em seu testemunho. Depois de ouvir o testemunho de muitos irmãos a respeito de como suas orações foram respondidas, seu trabalho abençoado e seus problemas, resolvidos, um irmão começa a sonhar que suas orações também são respondidas, suas obras abençoadas e seus problemas igualmente resolvidos. Tudo isso, entretanto, não são fatos, e sim fantasias. Mesmo assim, havendo oportunidade, ele se levanta para dar seu testemunho. Ele fala de forma tão viva que faz com que o fato mais comum pareça algo extremamente maravilhoso. Depois de dar seu testemunho algumas vezes, passa a acreditar nele. Não pode mais distinguir que parte é verdadeira e que parte é falsa. Ele se enganou crendo que tudo é verdade. Isso é obsessão.
Alguns cristãos são obcecados por doença. Seu corpo, na verdade, é saudável; todavia, eles afirmam ter alguma doença. Muitas das suas doenças surgem do amor-próprio. Não estão doentes, pois os médicos não podem prescrever nenhum remédio; mas por amarem tanto a si mesmos, eles se queixam desse ou daquele incômodo. Se seu coração bate apenas um pouco mais depressa, concluem que devem ter problemas de coração. Se tossem um pouquinho mais, têm certeza do que estão com tuberculose. Se os médicos lhes disserem a verdade, que não estão nem um pouco doentes, eles afirmam que os médicos são incompetentes. Mas se os médicos disserem que estão doentes de verdade, eles os louvam vezes seguidas por serem muito capazes. Não ter doença e ainda insistir que tem, é obsessão. Isso é o resultado do amor-próprio. Pode bem começar com o desejo oculto de ganhar simpatia da família, dos amigos, dos parentes, mas, por fim, termina com a própria pessoa realmente acreditando estar doente. Ela cria sua doença por meio das inclinações de sua alma. Isso é obsessão, pois a obsessão é criar algo para, por meio dele, enganar a si mesmo até não ter consciência de estar enganado.
Alguns do povo de Deus estão obcecados pelo medo. Alguém pode abrigar um medo em seu coração sem que nada terrível tenha acontecido. No início, pode ser um simples pensamento de que algo é terrível. Mas depois o medo real desce sobre ele. Podemos dar a essa pessoa muitas razões para mostrar que não há nada amedrontador, mas mesmo assim não poderemos convencê-la. Não importa quem lhe diga a verdade, ela acredita na falsidade. Isso também é obsessão.
Alguns cristãos são obcecados por suas suposições. Devido à falta de luz, tais crentes frequentemente aceitam as suposições como fatos. A princípio, alguém pode apenas imaginar que o outro fez certa coisa, ou pronunciou palavras ou frequentou certo lugar. Depois, entretanto, ele acredita que a pessoa em questão fez aquela coisa, falou aquela palavra ou frequentou aquele lugar. Ele está tão obcecado que imagina algo que nunca aconteceu. Sua acusação é claramente injustificável, mas mesmo assim ele acredita ser verdade. Isso é obsessão. Ele acredita no que não é verdade para outras pessoas. Isso é obsessão. Ele aceita a suposição como fato. Isso é obsessão.
Existe outro tipo de obsessão. Alguns santos estão verdadeiramente buscando o Senhor. Eles esperam andar de modo perfeito diante Dele, mas não têm luz. Tais pessoas podem contemplar a si mesmas achando que fizeram algo errado, quando não existe nada errado. Elas se preocupam quase a ponto de morrer. Chegam ao extremo de lamentar que o Senhor não as pode perdoar nem o sangue precioso pode purificá-las do seu pecado. Julgando pela luz de Deus, só podemos concluir que elas não pecaram. Mas elas confessam que pecaram, que cometeram uma terrível transgressão. Elas agonizam e derramam muitas lágrimas, e confessam, não uma, mas centenas de vezes. Confessam o tempo todo porque sentem que seu pecado está sempre presente com elas. Que nome você dá a isso? Isso também é obsessão. Uma pessoa não fica obcecada apenas com coisas ruins; existe a possibilidade de ficar obcecado até pela convicção de pecado. Um cristão que busca a Deus pode se condenar desnecessariamente se lhe falta a luz. Crer naquilo que não é um fato é obsessão.
"Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!" (Is 5:20). Alguém pode ficar tão obcecado a ponto de chamar o mal de bem e o bem de mal, de fazer da escuridão luz e da luz escuridão e pôr o amargo por doce e o doce por amargo. Ele está totalmente errado, mas tem confiança que está certo. Quão lamentável é tal condição! O que o cristão mais deve temer é ter pecado e não ver tal pecado. Ter pecado está relacionado com contaminação, mas não ver o pecado está relacionado com as trevas. A contaminação já é bastante perigosa, mas acrescentar as trevas à contaminação é duplamente perigoso. O cristão que vive nas trevas não pode andar tranquilamente no caminho que está a sua frente, porque não về o caminho.
Os fenômenos da obsessão são muitos e variados. Existe a possibilidade de o crente ficar obcecado em seu pensamento em relação a si mesmo e aos outros, em suas palavras concernentes a si mesmo e aos outros, em sua situação espiritual, em seus pecados e em tudo relacionado consigo mesmo. A obsessão é, realmente, um sintoma muito comum. Todos os cristãos podem cair na obsessão; a diferença reside apenas no grau. Por isso, não podemos deixar de prestar atenção a isso.
CAPÍTULO 2
OBSESSÃO - "CAUSAS E LIVRAMENTO".
Existe uma causa para cada obsessão. Vamos tentar encontrar algumas das causas básicas examinando atentamente as Escrituras.
1º. Amor às Trevas:
Há pessoas que amam mais as trevas do que a luz. Essa é uma das principais causas da obsessão. Esse amor anormal revela o desvio do coração; por isso, tais pessoas se tornam facilmente obcecadas. A fim de evitar dificuldades e de se salvarem de problemas, elas não ousam encarar a luz, mas procuram se confortar dizendo que estão certas. Pouco a pouco, começam a crer que estão certas. Assim, ficam obcecadas. Os judeus rejeitaram o Senhor Jesus porque amavam mais as trevas do que a luz (Jo 3:19). Eles não tinham luz, pois habitavam nas trevas. Achavam justo odiar e rejeitar o Senhor Jesus. O Senhor disse: "Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai." (Jo 15:24). Por quê? Porque estavam obcecados. Eles odiaram o Senhor sem causa. Precisamos saber que sempre que houver trevas, e não luz, existirão conceitos errados, falsa confiança e julgamento errado. Existe um elemento de obsessão em cada um desses erros. A consequência de não amar a luz é obsessão.
2º. Orgulho:
O orgulho também é uma grande causa da obsessão. “A soberba do teu coração te enganou..." (Ob 1:3). Isso revela que a maior causa do engano próprio é o orgulho. Aqueles que enganam a si mesmos a ponto de entrar em obsessão são, provavelmente, todos pessoas soberbas. Se um cristão colocar seu coração em obter vanglória e posição diante dos homens, ele pode começar a fingir ser o que não é, a fim de enganar as pessoas. Pouco a pouco, ele começa a enganar a si mesmo e a se tornar obcecado. Uma vez que se torna orgulhoso, ele pode facilmente imaginar a si mesmo como alguém que tem algo extraordinário. Lentamente, aceitará as fantasias como verdade. Assim, ele cai na obsessão. Nunca considere o orgulho como um pecado insignificante, pois ele pode facilmente nos impelir para a obsessão. Aprendamos, portanto, a ser humildes.
3º. Não Receber o Amor da Verdade:
Não receber o amor da verdade é outra causa enorme por trás da obsessão. Em 2ª Tessalonicenses nos é mostrado que para aqueles que "não acolheram o amor da verdade para serem salvos... Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira." (2Ts 2:10-11). Essa é, realmente, uma consequência terrível. As pessoas se tornam obcecadas por crer nas mentiras. Elas creem em coisas que não existem. Por não receberem o amor da verdade, naturalmente se inclinam para as mentiras.
“Compra a verdade e não a vendas; compra a sabedoria, a instrução e o entendimento." (Pv 23:23). A verdade precisa ser comprada, isto é, um preço deve ser pago. Bem-aventurados somos se nosso coração está bem preparado para a verdade de Deus. Nós amaremos a verdade e a aceitaremos, custe o que nos custar. Mas, muitas vezes, os homens não têm o amor da verdade neles. Eles torcem a verdade e até a descartam. Finalmente, acabam acreditando que ela não é a verdade. Proclamam como falso o que é verdade e pregam como verdade o que é falso. Eles parecem fazer isso com confiança. Isso, definitivamente, é obsessão.
Devemos saber que, uma vez que alguém rejeita o amor da verdade no coração, é muito difícil para ele ver a verdade mais tarde. Havia um irmão que estudava num seminário teológico. Ele foi conversar com um dos seus professores sobre o batismo. Esse irmão disse: “Tenho visto diante de Deus que fui crucificado com o Senhor. Já estou morto; preciso ser sepultado; devo ser batizado. O que o senhor acha disso?". O professor respondeu: “Eu também tive uma experiência semelhante anteriormente. Logo antes de me formar no seminário, como acontece com você agora, eu também vi essa questão da morte, sepultamento e ressurreição juntamente com Cristo. Eu vi que já havia morrido, que devia ser sepultado no batismo. Mas se eu fosse batizado por imersão, não poderia trabalhar na denominação à qual eu pertencia. Orei sobre isso e senti que podia adiar a decisão até depois da formatura e ordenação. Formei-me no seminário e fui ordenado pastor. Agora são passados muitos anos. Embora não tenha sido batizado, tenho me sentido muito bem. Por isso, por que você não se concentra nos seus estudos? Depois da sua formatura e ordenação, talvez isso não incomode mais você". Viver em paz depois de violar a verdade não é outra coisa senão obsessão. (Graças ao Senhor, felizmente, aquele irmão não deu ouvidos ao seu professor.). Lembre que podemos facilmente nos tornar obcecados se nosso coração não for totalmente para o Senhor.
4º. Não Buscar a Glória que Vem do Único Deus:
Não buscar a glória que vem do único Deus também é um fator que gera obsessão. "Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?" (Jo 5:44). Por cobiçarem a glória dos homens, os judeus rejeitaram o Senhor e perderam a vida eterna. Quão lamentável! Esse amor desordenado pela glória dos homens inclinou o coração deles para a mentira. Como resultado, eles acreditaram na falsidade. Eles se tornaram cada vez mais confiantes em si mesmos. Eram nada mais que obcecados.
O LIVRAMENTO: "VER A LUZ DE DEUS".
"Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do Seu servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus. Eia! Todos vós, que acendeis fogo e vos armais de setas incendiárias, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as setas que acendestes; de mim é que vos sobrevirá isto, e em tormentas vos deitareis." (Is 50:10-11).
Quando os israelitas andaram em trevas e não tinham luz, mais do que naturalmente acenderam tochas com as quais se cercaram. Eles andavam nas chamas do seu próprio fogo. Isso era bom? De modo nenhum, pois o resultado foi que se deitaram em aflições. As trevas espirituais não podem ser desfeitas por tochas feitas pelo homem. A luz deve vir de Deus, não do homem. As tochas humanas nunca podem capacitar alguém a ver a realidade espiritual.
Procuremos entender que as tochas que acendemos nunca podem ser uma fonte de luz espiritual. Alguns cristãos dizem: "Onde estou errado? Não sinto que tenha feito algo errado. Não sinto estar errado em coisa alguma". Você é realmente tão digno de confiança assim? Outros podem dizer: "Meditei muito sobre essa questão em particular. Ouso concluir que isso está definitivamente certo". Está certo afirmar que você pode decidir definitivamente sobre algo pelo fato de ter meditado bastante? De acordo com a Palavra de Deus, essa não é a maneira de os cristãos conhecerem algo. Você pode esgotar seu poder mental em considerações, mas tudo o que for aceso ali será simplesmente sua tocha humana. Um cristão não pode prosseguir sua jornada espiritual pela luz de sua própria tocha. Ele deve depender do nome do Senhor. Somente por confiar em Deus ele pode, de fato, ver e andar espiritualmente. Com frequência, tornamo-nos mais confusos pelo nosso muito pensar e podemos até mesmo ser enganados. A luz espiritual não vem de nosso sentimento ou pensamento. Quanto mais alguém busca a luz dentro de si mesmo, menos luz tem, pois a luz não está nele.
"Pois em Ti está o manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz." (Sl 36:9). É somente pela luz de Deus que vemos realmente a luz, isto é, o verdadeiro caráter do que quer que seja. A primeira luz, no texto acima, é a luz que ilumina; a segunda luz é o verdadeiro caráter que é visto. Precisamos viver na luz de Deus se desejamos ver o caráter real de uma questão.
É um grande problema o modo como vivemos. Se vivemos na luz da vida de Deus, podemos ser pessoas que veem. Existem alguns cristãos que merecem nosso maior respeito não apenas por sua própria bondade, mas também por seu viver diante de Deus. “Deus é luz." (1 Jo 1:5). Todos os que conhecem a Deus conhecem a luz. Todos os que conhecem a luz manifestam ter Deus neles. Tão logo aquele que conhece a luz de Deus encontra-se com você, é capaz de discernir seu caráter e de apontar as faltas que você tem. Ele não faz isso com o desejo de ferir você, mas se deve totalmente à sua aguçada visão interior. Para o que não tem luz, certa coisa pode parecer muito boa; entretanto, deve-se deixar para aquele que vive na luz de Deus descobrir o verdadeiro caráter da coisa. Nenhuma luz de vela é necessária debaixo do sol brilhante; nenhuma outra tocha humana é necessária debaixo da luz de Deus. Se vivêssemos na luz de Deus, o verdadeiro caráter de todas as coisas seria tão claro e transparente como a luz.
Aqueles que se conhecem na luz de Deus têm verdadeiro conhecimento de si mesmos. Se não estivermos na luz de Deus, podemos pecar sem estar conscientes de quão vil é nosso pecado; podemos cair sem termos plena consciência de quão vergonhosa é nossa queda. Podemos fazer algum bem exteriormente, mas quão enganoso é nosso estado interior! Podemos mostrar bondade por fora, mas quem conhece nossa dureza por dentro? Somente Deus conhece. Podemos agir de forma espiritual, mas nossa realidade é que somos totalmente da carne. Quando a luz de Deus vem, o verdadeiro caráter de todas essas coisas será manifestado. Então, veremos a nós mesmos totalmente e confessaremos quão indignos sempre fomos.
Aqui está a diferença entre os dois testamentos: no antigo, o certo e o errado eram conhecidos pela lei exterior; no novo, conhecemos o verdadeiro caráter de algo por meio do Espírito Santo que habita em nós. É possível vermos nossa falta por meio da doutrina ou do ensino, mas mesmo assim precisamos ver nossas faltas na luz de Deus. Conhecer nossas faltas por meio da doutrina ou do ensino é superficial; perceber nossa falta na luz de Deus é perfeito. Somente na luz de Deus podemos ver o que Deus vê. Esse é o significado de ver a luz na luz de Deus.
Se não quisermos ficar obcecados, devemos viver na luz de Deus. Nossa maior tentação é acender nossas próprias tochas. Sempre que enfrentamos um problema, imediatamente procuramos as respostas em nós mesmos. Tentamos decidir o que é certo e o que é errado. Esse não é o caminho que Deus quer que sigamos. Precisamos ser humildes, reconhecendo quão indignos de confiança somos. Nosso julgamento, pensamento e ação não são confiáveis. Estamos sujeitos ao erro. O que julgamos como certo pode não ser necessariamente certo; o que julgamos errado pode não ser de todo errado. O que consideramos doce pode ser amargo, e vice-versa. O que recebemos como luz pode não ser luz de modo algum, e o que recebemos como trevas pode vir a não ser trevas. Não devemos substituir a luz de Deus por tochas que acendemos. Devemos receber a luz de Deus.
“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em há ti sejam trevas, que grandes trevas serão!" (Mt 6:22-23). O cristão que não tem luz em si tende para a obsessão. Que lamentável se alguém não về o que deveria ver e não sabe o que deveria saber. Devemos pedir a Deus para brilhar em nós a fim de poder tocá-Lo. A vida cristã não deve ser cheia de problemas, dúvidas e hesitações. Devemos ser capazes de ver se algo tem realidade espiritual ou não. Se pudermos ver, evitaremos cair em obsessão.
O Senhor Jesus disse: "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo." (Jo 7:17). A condição para sermos iluminados é genuinamente querer a vontade de Deus. Cuidemos para não decidir, de maneira rápida e confiante, sobre qualquer assunto que chegue a nós. Pelo contrário, peçamos a Deus para nos dar um coração perfeito para fazer Sua vontade. Um coração endurecido, egoísta e autoconfiante bloqueia a luz de Deus. Se desejamos ter a luz de Deus, devemos ser meigos, não egoístas e não autoconfiantes. Resumindo, devemos ser humildes. Peçamos a Deus para nos libertar, a fim de que diariamente vivamos em Sua luz e, assim, sejamos capacitados a conhecer o que é veracidade e realidade espiritual. Que Deus nos livre da falsidade e da obsessão!
Jesus é o Senhor!