O Que é Realidade Espiritual? | Watchman Nee
REALIDADE ESPIRITUAL
Em oposição a isso, há Satanás, o adversário, que persegue a obra de Deus, procurando trazer para ela seu rio de morte e destruição. Cada avanço que Deus conquista em Sua edificação é um avanço de vida respaldado por Sua Palavra. O adversário, por sua vez, procura apartar-nos de Deus, envolvendo-nos com atividades religiosas que produzem morte espiritual. Como Satanás não pode impedir o fluir da revelação Divina, ele sutilmente trabalha para desligar-nos da realidade das coisas espirituais e nos levar a abraçar meras imitações. A Obra que o Senhor está realizando nos últimos séculos visa à restauração da realidade interior e espiritual de tudo o que esteja relacionado a Deus, e não apenas dos ensinamentos sobre Deus.
Nesta mensagem o irmão Watchman Nee, com sua longa experiência em Cristo, faz-nos ver que, se desejamos seguir fielmente ao Senhor e cooperar com o Seu propósito, devemos dar a devida atenção ao fato de que a verdadeira obra de Deus é aquela que é realizada pelo Espírito Santo, o qual nos introduz na realidade dos fatos espirituais. Ao mesmo tempo, averte-nos sobre qual podemos cair sem perceber: a obsessão!
Watchman Nee demonstra que tudo que se relaciona com Deus está no Espírito Santo, e somente o que está no Espírito Santo é espiritualmente real. . Portanto, realidade espiritual é a veracidade ou o conteúdo real dos fatos espirituais, a qual necessitamos tocar para ter vida. Por outro lado, se tratarmos os fatos espirituais apenas teoricamente, como mera doutrina, sem a devida revelação do Espírito Santo, então, teremos apenas frustrações e morte. Por fim, se concebemos algo que não seja verdadeiramente espiritual, mas o sustentamos como se fosse, não temos realidade espiritual, mas o destrutivo engano da obsessão.
Entre vários exemplos disso, Watchman Nee ressalta Saulo (que depois veio a se chamar Paulo), que foi um obcecado em seu zelo natural a ponto de perseguir severamente a Igreja (os cristãos que invocava o nome do Senhor Jesus), pensando que, com isso, estava agradando a Deus. Somente quando o Senhor Jesus manifestou-Se a ele é que passou a conhecer, de fato, a Deus e a miserável situação na qual se encontrava (At 26:9-11; Fp 3:6). Como vemos, a obsessão é tão sutil que, se não estivermos na realidade das verdades espirituais, poderemos fabricar um formalismo religioso, na força de nossa carne, e ainda assim cuidar estar edificando algo para Deus.
Nossa tendência natural é agarrar-nos às doutrinas e à restauração da ordem exterior das coisas e não à realidade espiritual delas. Ou, em outro extremo, substituímos a verdade objetiva de Deus por certa "espiritualidade" ou "experiência" peculiares, que nos permite considerar-nos mais maduros que os demais, em detrimento da própria verdade.
Para ilustrar quanto necessitamos conhecer, na luz de Deus, esse importante assunto, aplicamos a nós mesmos as palavras do Senhor Jesus para a igreja em Laodicéia: "Tu dizes: 'Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma', e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres [de realidade espiritual], vestiduras brancas para te vestires [de verdadeiros atos de justiça], a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez [pobreza espiritual], e colírio [revelação do Espírito] para ungires os olhos, a fim de que vejas [a realidade]" (Ap 3:17-18). A carta à igreja em Laodicéia é uma verdadeira advertência para a Igreja hoje.
Agradecemos a Deus por permitir-nos publicar essa preciosa obra do irmão Nee, a qual, com certeza, muitos nos ajudará em nosso caminhar com o Senhor e no crescimento espiritual de Sua Igreja, ao mesmo tempo em que nos levará a ser menos ingênuos quanto ao perigo sempre presente de tomarmos os atalhos da falsidade.
Que o Senhor nos ganhe totalmente para Si e amadureça-nos em Seu Filho amado para que, nestes dias finais, sejamos, de fato, úteis cooperadores em Seu propósito.
CAPÍTULO 1
O QUE É REALIDADE ESPIRITUAL?
Leitura Bíblica:
"Deus é Espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito e em verdade" (João 4:24).
"Quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir" (João 16:13).
"E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade" (1João 5:6).
Um fato que o povo de Deus deve considerar é que toda questão espiritual tem sua realidade diante de Deus. Se o que tocamos é mera aparência e não realidade, descobriremos que isso que tocamos não tem qualquer valor espiritual. O que, então, é realidade espiritual? A realidade espiritual é de um fato algo espiritual, não material. Apesar da realidade espiritual ser frequentemente expressa em palavras, tais palavras - não importa quantas - não são a realidade. Embora a realidade espiritual necessite ser revelada em nossa vida, as formalidades estabelecidas em nossa vida não são realidade. Embora a realidade espiritual deva ser manifestada na conduta, a pretensão humanamente produzida não é realidade.
O que é realidade espiritual? "Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores O adorem em espírito e em verdade", diz o Senhor. A palavra "verdade" significa "veracidade" ou "realidade". O mesmo se aplica às seguintes passagens: "Quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. (...) E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade". Essas passagens revelam que Deus é Espírito e, portanto, tudo o que se relaciona com Deus está no Espírito. O Espírito da verdade é o Espírito da realidade. Por essa razão, a realidade espiritual deve estar no Espírito. É isso que transcende o homem e a matéria. Somente o que está no Espírito Santo é espiritualmente real, porque todos os fatos espirituais são nutridos no Espírito Santo. Uma vez que qualquer coisa esteja fora do Espírito Santo, ela se torna letras e formas mortas. Fatos espirituais são reais, vivos e cheios de vida somente quando estão no Espírito Santo. É o Espírito Santo quem nos leva para dentro de toda realidade. O que quer que possa ser iniciado sem a direção do Espírito Santo definitivamente não é realidade espiritual. Tudo aquilo que alguém possa obter simplesmente por ouvir, por pensar ou por ser emocionalmente envolvido não é espiritualmente real. Devemos lembrar que o Espírito Santo é o executor de todas as questões espirituais. O que Deus faz hoje é feito no Espírito Santo. Somente aquilo que o Espírito Santo faz, é verdadeiramente real.
O que quer que esteja no Espírito Santo é real. Se alguém toca nessa realidade, ele obtém vida, pois vida e realidade estão unidas. Quem deseja prestar atenção à vida espiritual deve enfatizar a realidade espiritual. . Aquele que toca na realidade espiritual no Espírito Santo responderá imediatamente com um "amém" em seu coração sempre que encontrar outro que também tocou na realidade espiritual, e vice-versa. Esse é o significado das palavras no Salmo 42 versículo 7: "Um abismo chama outro abismo". Podemos dizer que a realidade toca a realidade. Para um melhor entendimento, ilustremos com alguns exemplos concretos.
1) Batismo:
"Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3:5). Essas foram palavras do Senhor a Nicodemos.
Quando Paulo escreveu aos cristãos em Roma, ele perguntou: "Porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na Sua morte? Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com Ele na semelhança da Sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da Sua ressurreição" (Rm 6:3-5). Tanto o Senhor Jesus como Paulo falam da realidade do batismo.
Mas algumas pessoas olham o batismo do ponto de vista físico. Seus olhos só podem ver a água e, por isso, insistem na regeneração batismal. Eles não tocaram na realidade espiritual. Outros tentam tratar esse assunto mentalmente. Afirmam que a água não pode regenerar as pessoas e, conseqüentemente, explicam que para algumas pessoas o batismo é real e interior, enquanto para outros é falso e exterior. O primeiro grupo pode entrar no reino de Deus, mas os da segunda categoria são excluídos. Os que ensinam assim não tocaram a realidade espiritual nesse assunto.
O batismo sobre o qual o Senhor falou a Nicodemos é uma realidade. Paulo também vê realidade no batismo: sepultados com o Senhor para novidade de vida. Ele disse aos cristãos em Colossos: "Tendo sido sepultados, juntamente com Cristo, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados" (Cl 2:1-2). Para Paulo, o batismo e o sepultamento são uma e a mesma coisa; do mesmo modo, o batismo e a ressurreição. Ele sabe o que significa ser sepultado com o Senhor e também o que significa ser ressuscitado com o Senhor. Paulo não vê apenas a água do batismo nem vê alguns como sendo verdadeiramente batizados e outros, não. Ele comunica aos outros a realidade do batismo que ele tocou.
Irmãos e irmãs, se vocês viram o batismo como realidade, vocês naturalmente sabem o que isso é. À questão de ele ser real ou falso, interior ou exterior, simplesmente não existe, porque vocês vêem que ser batizados é ser sepultado e ressuscitado juntamente com Cristo. Tendo visto essa realidade, existe possibilidade de vocês se absterem de proclamar que o batismo é realmente tão grande, tão real e tão inclusivo? Tão logo seja mostrada a realidade a uma pessoa, o que é falso não mais existe. Suponhamos que alguém diga: "Agora que fui batizado, espero poder ser sepultado e ressuscitado juntamente com o Senhor". Aquele que faz tal declaração não tocou a realidade do batismo, visto que, para ele, o batismo é uma coisa e o sepultamento e a ressurreição, outra. Mas quem percebe a realidade espiritual sabe o que são o sepultamento e a ressurreição. O batismo é sepultamento e o batismo é também ressurreição. Eles são uma e a mesma coisa.
Vocês percebem, irmãos e irmãs, que ninguém jamais poderá entender as coisas espirituais com os olhos fixados no que é material, que ninguém jamais poderá pensar seriamente no que é espiritual com o cérebro? Todos os assuntos espirituais têm sua realidade. Aquele que toca a realidade não questiona mais.
2) Partir do Pão:
A mesma coisa é verdade com respeito ao partir o pão. Na noite em que foi traído, o Senhor Jesus tomou "um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos Seus discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o Meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de Meu Pai" (Mt 26:26-29). Alguns consideram isso do ponto de vista físico e, por isso, afirmam que quando o pão e o cálice são abençoados, toda a substância do pão se converte no corpo do Senhor e toda a substância do fruto da videira é mudado em sangue do Senhor. Outros vêem isso do ponto de vista racional, argumentando que o pão e o vinho não foram transubstanciados (como no caso anterior), mas apenas representam o corpo e o sangue do Senhor
Julgando pelas próprias palavras do Senhor, entretanto, vemos que Ele não enfatiza nem a transubstanciação nem a representação, mas a realidade espiritual. Por trás daquilo que é comido e bebido está a realidade espiritual. . Jesus disse: "Isto é o Meu corpo"; Ele não disse: "Isto representa o Meu corpo". E depois de dizer: "Isto é o Meu sangue, o sangue da nova aliança", o Senhor continuou dizendo: "Não beberei deste fruto da videira", indicando claramente que o vinho não foi transubstanciado nem representa o sangue. Quando o Senhor fala do pão e do cálice, Sua ênfase total está na realidade. Aos olhos Dele, não há representação nem transubstanciação.
Paulo argumenta do mesmo modo quando diz: "Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?" (1Co 10:16). E o pão, mas Paulo o reconhece como o corpo de Cristo. É o cálice, todavia, ele o aceita como o sangue de Cristo. Aos olhos de Paulo, não há nem representação nem transubstanciação, apenas realidade espiritual. Ele explica ainda mais: "Nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo" (1Co 10:17). Como ele poderia dizer isso se não tivesse tocado a realidade espiritual?
Quando alguém fala, ele declara um fato ou uma parábola - aquilo que é expresso em linguagem Literal ou simbólica. Tal não acontece com Paulo. "Nós, embora muitos" é literal; "somos unicamente um pão" é simbólico. Ele une o literal e o simbólico em uma sentença, porque, para ele, ambos, "nós, embora muitos" e "somos unicamente um pão", são fatos. A realidade espiritual que ele tocou é tão real que ele pode unir o "embora muitos" com o "somos um pão, um corpo". Ele transcendeu a gramática e a retórica. Aqui está alguém que realmente conhece o Senhor. Quando toma o pão, ele está verdadeiramente em comunhão com o corpo de Cristo, pois esqueceu o pão e agora está em contato com a realidade espiritual. Quando toma o cálice, ele está verdadeiramente em comunhão com o sangue de Cristo, pois esqueceu o fruto da videira e tocou a realidade espiritual. . Tendo tocado a realidade espiritual, para ele palavra ou doutrina não representam problema.
3) A Igreja:
Em relação à Igreja, eis algo realmente maravilhoso de se contemplar. Alguns acham que existem igrejas falsas e igrejas verdadeiras. Mas o Senhor disse a Pedro: "Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja e, as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus." (Mt 16:18-19). Essa é a igreja no pensamento do Senhor. A Igreja em Sua mente é nada mais que a Igreja verdadeira. Isso se aplica não somente à igreja em seu aspecto universal, mas igualmente à igreja local. O Senhor explica ainda mais: "Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligares na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que de desligardes na terra terá sido desligado nos céus." (Mt 18.15-18).
De acordo com o Senhor, quando a igreja declara que um irmão está certo, ele está seguramente certo; e quando a igreja declara que ele está errado, ele está inegavelmente errado. Quando lemos isso, uma pergunta facilmente se levanta em nossa mente: "E se a decisão da igreja estiver errada?" O Senhor, entretanto, está falando da realidade da igreja. Uma decisão errada não pode vir daquilo que é real, visto que uma decisão incorreta não será do Espírito Santo, mas da vontade do homem. A Igreja aos olhos do Senhor é uma realidade; tudo o que estiver fora daquela realidade não tem absolutamente lugar no pensamento de nosso Senhor.
Quando Paulo menciona a igreja em suas epístolas, ele se refere a ela como a chamada, a santificada e a habitação de Deus: "À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso." (1 Co 1:2). "No qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito." (Ef 2:22). O apóstolo João fala da igreja da mesma forma como Paulo fala. Embora as sete igrejas da Asia tivessem mitas falhas e fracassos, João ainda as chama de igrejas. O Senhor Jesus mesmo reconhece que "os sete candeeiros são as sete igrejas." (Ap 1:20).
Para os apóstolos, igreja é uma realidade; portanto, não existe o problema de uma igreja falsa aos seus olhos. Isso não quer dizer que no mundo não existam igrejas falsas, mas apenas indica o fato de que aquele que falha em ver a realidade da Igreja tem problema com sua visão espiritual. Quem considera a aparência, aceita todas as igrejas como verdadeiras. Quem julga racionalmente encontra umas verdadeiras e outras falsas. Somente aos olhos de quem tocou a realidade espiritual é que a Igreja é espiritual sem qualquer dúvida.
Mencionemos um ponto do aspecto prático. Podemos perguntar: o que é a vida do Corpo? A vida do Corpo não é introduzida por agirmos segundo certo procedimento. Somente quando a realidade espiritual é tocada, é que você toca a Igreja; somente, então, suas ações se tornam movimentos no Corpo e não são mais atividades independentes. Por exemplo: quando você está para fazer algo, não é porque cumpriu o procedimento exigido, tal como convidar os irmãos e as irmãs para reunirem-se a fim de você se aconselhar com eles, que sua ação pode ser considerada como vida do Corpo. Você está vivendo a vida do Corpo somente quando você tocou a realidade dele enquanto comunga com irmãos e irmãs (sejam poucos ou muitos). Se você não tocou a realidade espiritual, então, o que foi aceito unanimemente por toda a assembléia é apenas opinião da carne. Não é, de modo nenhum, a vida do Corpo. A vida do Corpo (isto é, a vida da Igreja) flui da realidade espiritual.
O caso em Atos capítulo 15 nos mostra o que é a vida do Corpo. Com o propósito de solucionar o problema sobre se os gentios deviam ser circuncidados, os apóstolos e os presbíteros se reuniram para considerar a questão. Finalmente, Tiago se levantou e deu a decisão. Essa decisão era do Espírito Santo, pois quando escreveram a carta-circular, eles puderam dizer: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós." (At 15:28). A decisão veio do Espírito Santo; ela tinha tocado a realidade espiritual. Embora a palavra tenha saído da boca de Tiago, os apóstolos e os presbíteros, com toda a igreja, disseram amém à decisão e concordaram com ela (At 15:22). Isso é a vida do Corpo. A vida do Corpo é manifestada quando a realidade é tocada no Espírito Santo. Não é por cumprir certo procedimento, mas é pelo tocar a realidade que a vida do Corpo é realmente praticada.
Devemos compreender que toda vida espiritual e ensinamento têm sua realidade diante de Deus. Se alguém não tocar essa realidade, não importando quão bem possa pregar a doutrina, ele não produz nada de valor espiritual. Se alguém não tocar a realidade da Igreja, embora fale sobre ela o tempo todo, está em trevas, enganando a si mesmo, e está cheio de orgulho. Mas para aquele que teve contato com a realidade espiritual, sua vida é prática e viva, em vez de ser na letra e exterior.
Algo maravilhoso acontece depois que você toca a realidade espiritual. Sempre que você encontra alguém que não tocou, ou não entrou, nessa realidade, imediatamente você sente isso. Você sabe que ele não tocou a realidade espiritual por ele ainda estar seguindo a mente, a lei, a norma ou o regulamento. Diante de Deus existe algo que a Bíblia chama de "verdadeiro". E isso não é outra coisa senão "a realidade". O contato com essa veracidade, com essa realidade, livra-nos da doutrina, da letra, dos pensamentos e métodos humanos. Seja batismo, seja partir do pão ou Igreja, existe realidade. Nada é mera forma, procedimento ou doutrina.
4) Adoração:
Quanto ao exemplo de adoração, lemos estas palavras: "Deus é Espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24). A palavra "Verdade" significa "realidade". A ênfase aqui está no Espírito, porque pelo Espírito a realidade é gerada. Deus deve ser adorado em espírito. O que é do espírito é real; o que não é do espírito não é real. A adoração não é alcançada por sentimento, emoção ou pensamento; ela deve ser em espírito e em realidade. O que é realidade? Quando o nosso espírito contata Deus, existe realidade; quando isso não acontece, não existe realidade, pois só aquilo que é do espírito é verdadeiro, enquanto o que não é do espírito não é verdadeiro. Além do tipo de adoração que está na letra, mesmo aquilo que é chamado de adoração espiritual algumas vezes falha em extrair um "amém" como resposta. Você pode não ser capaz de explicar porque, mas, de alguma forma, você sente que não é adoração espiritual. Por outro lado, você pode ser capaz de dizer amém a alguém que adora a Deus em espírito e em realidade. Podemos imaginar uma pessoa, na ocasião da crucificação, espargindo o sangue do Senhor Jesus sobre o próprio corpo, conseguindo, assim, purificar sua consciência? Ela não seria purificada dessa forma de modo nenhum, pois o Espírito Santo é o executor de todos os fatos espirituais. Quando o Espírito Santo purifica nossa consciência com o sangue de Cristo, Ele usa a realidade espiritual do sangue de Cristo, não suas propriedades físicas, para nos purificar. Somente o que está no Espírito Santo é real. Quando uma pessoa entra em contato com a realidade no Espírito Santo, ela toca vida. Se o que ela toca é apenas doutrina, não receberá vida.
8) O Velho Homem Crucificado:
Que nosso velho homem foi crucificado com Cristo, conforme Romanos capítulo 6 versículo 6, é um fato. No entanto, alguns cristãos ainda estão dizendo: "Sei que meu velho homem foi crucificado, mas não entendo porque este meu velho homem está vivendo a cada dia". A razão para isso é que esses cristãos tocaram apenas na doutrina e ainda precisam encontrar a realidade espiritual. . Devemos perceber que se a doutrina está na letra e não no Espírito Santo, ela não concede vida, não importa quão familiarizados estejamos com ela. Questões como salvação, justificação e santificação são mortas para nós se tudo o que tocamos for mera doutrina e letra. Aquilo que está no Espírito Santo é espiritualmente real. Quando alguém toca a realidade espiritual obtém vida, porque ela é viva e cheia de frescor.
Alguém pode pregar uma mensagem aparentemente espiritual e, ainda assim, provocar uma sensação de peso nos ouvintes. Isso porque o que essa pessoa disse não é realidade. Se tivesse tocado a realidade, suas palavras soariam como verdadeiras. Somente o que é real leva as pessoas a tocarem a realidade. Por outro lado, não importa quão bem uma pessoa fale, os que conhecem a realidade irão descobrir a irrealidade das palavras dela.
9) Conhecer a Cristo:
No que diz respeito a conhecer a Cristo, qualquer coisa que for conhecida pela aparência exterior não é conhecimento verdadeiro; só o que é conhecido em realidade é verdadeiro entendimento. Enquanto o Senhor Jesus esteve na terra, muitos homens O encontraram. Eles pareciam ter tido contato com o Senhor Jesus, mas não tiveram. Eles pareciam ter conhecido o Senhor, mas não O conheceram, pois o conhecimento deles era exterior. Todos os que realmente conheceram a Cristo tocaram a realidade. O conhecimento deles está no espírito. Vejamos um pouco mais disso na Bíblia, pois é uma experiência muito fundamental para ser desprezada.
Quando o Senhor Jesus esteve na terra, Ele foi conhecido de duas formas diferentes: Ele foi conhecido pela aparência e foi conhecido interiormente. O que é conhecer Cristo pela aparência? Esse foi o tipo de conhecimento pelo qual os judeus conheceram Cristo. Desde o início, eles assumiram essa atitude de conhecimento: Eles anunciaram: "E diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe?" (Jo 6:42). Eles tinham certeza de que O conheciam; eles conheciam até Seu pai e Sua mãe! Certa vez, quando o Senhor Jesus foia a Sua própria região, as pessoas comentaram: "Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs?" (Mc 6:3). Eles conheciam não apenas Seu pai e Sua mãe, mas também Seus irmãos e irmãs. Mas eles realmente conheciam o Senhor Jesus? Não, eles não O conheciam. Embora conhecessem o pai e a mãe de Jesus, eles não reconheciam o próprio Senhor. Embora conhecessem Seus irmãos e irmãs, eles não O conheciam. Eles julgavam o Senhor Jesus pela aparência e não tocaram a realidade.
Havia outra classe de pessoas cujo conhecimento do Senhor era um pouco mais profundo do que o dos judeus, mas, ainda assim, elas não O conheceram de forma interior: Seus discípulos. Uma vez, "indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a Seus discípulos: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem?" E eles responderam: "Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros Jeremias ou alguns dos profetas" (Mt 16:13-14). O conhecimento que eles tinham do Senhor certamente era mais avançado do que o dos judeus.
Alguns diziam que o Senhor Jesus era Elias. Elias foi um profeta poderoso; poderíamos dizer que Elias representa o poder. O Senhor Jesus certamente era um Elias, o mais poderoso dos profetas. Alguns diziam que o Senhor era Jeremias. Jeremias foi um profeta chorão; ele representava a paixão. O Senhor Jesus era realmente um Jeremias também, pois Ele era cheio de paixão. Sete vezes Ele denunciou os fariseus e escribas hipócritas com "ais." (Mt 23:13-16, 23, 25, 27, 29). Quando encontrou os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e viu os cambistas assentados. Ele os expulsou a todos do templo, incluindo os bois e ovelhas, e, além disso, espalhou o dinheiro dos cambistas e virou suas mesas (Jo 2:14-15). Jesus era realmente um Elias. Mas quando estava com os publicanos e pecadores, Ele se assentava à mesa com eles (Mt 9:10). Enquanto estava sentado à mesa na casa de Simão, Ele permitiu que uma mulher pecadora chorasse aos Seus pés (Lc 7:37-38). Ao ver Maria chorando e os judeus chorando com ela, Jesus gemeu em Seu espírito e chorou (Jo 11:33, 35). Ele era realmente um Jeremias. Entretanto, quando as pessoas confessavam que Ele era Elias ou Jeremias, revelavam que O conheciam simplesmente pela aparência.
No início, os primeiros discípulos também conheciam o Senhor Jesus apenas na carne. Eles ainda não tinham aquele conhecimento interior do Senhor. Homens como Tomé e Filipe haviam estado com o Senhor Jesus por muito tempo. Humanamente falando, eles deviam ter conhecido o Senhor Jesus de forma real, mas lamentavelmente não O conheciam. Quando o Senhor Jesus falou abertamente: "E vós sabeis o caminho para onde eu vou". E Tomé disse-lhe: "Senhor, não sabemos para onde vais; como sabe o caminho?" (Jo 14:4-5). A afirmação clara do Senhor: "Se vocês tivessem me conhecido, conheceriam também a meu Pai. Desde agora O conheceis e O tendes visto". Então, Filipe respondeu: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta" (Jo 14:7-8). O Senhor Jesus que Tomé conheceu era apenas um homem de Nazaré; ele não havia compreendido o Senhor Jesus como o Senhor da vida. O que Filipe viu no Senhor Jesus era também um nazareno; ele não havia visto o Senhor Jesus como a outra forma do Pai. Embora ambos tivessem estado com o Senhor Jesus, o conhecimento que eles tinham do Senhor permanecia exterior porque não haviam tocado a realidade.
Os discípulos conheciam o Senhor Jesus mais do que os judeus; mesmo assim, precisavam aprender que Senhor Ele era. Depois de terem estado com Ele por um longo período, eles falharam em reconhecê-Lo como Ele realmente é. Os discípulos viram-No com seus próprios olhos, ouviram-No com seus próprios ouvidos, tocaram-No com suas próprias mãos e, ainda assim, não O conheciam. Isso indica que conhecer o Senhor Jesus exige um órgão mais aguçado do que o do sentido da visão, mais perspicaz do que o do sentido da audição e mais sensível do que o do sentido do tato. Em Cristo, existe uma realidade que não pode ser conhecida na carne.
O conhecimento que Pedro teve do Senhor Jesus naquele dia particular em Cesareia de Filipe foi um conhecimento interior (em seu espírito). Quando o Senhor Jesus perguntou aos discípulos: "Mas quanto a vocês, (...) quem vocês dizem que Eu sou?" Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Imediatamente, o Senhor Jesus declarou: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que revelou isto a você, mas meu Pai, que está nos céus." (Mt 16:15-17). O que o Senhor Jesus quis dizer foi: "Embora você tenha Me seguido por algum tempo, seu conhecimento anterior era deficiente; seu conhecimento hoje, entretanto, é muito abençoado, pois veio por meio da revelação do Meu Pai celestial. Esse conhecimento é real!"
Por essa razão, a menos que haja revelação, os homens não reconhecem quem é o Senhor Jesus, mesmo que tenham comido e bebido com Ele ou andado e permanecido com Ele. Sem esse conhecimento revelado, tudo o que Dele se conhece é apenas o Cristo exterior, o Cristo histórico. Isso é chamado de conhecimento de Cristo segundo a carne (2Co 5:16). Só o conhecimento de Cristo como o que Pedro experimentou pode ser declarado como sendo uma compreensão interior de Cristo.
"Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não O conhecemos deste modo." (2Co 5:16). Durante os dias em que Paulo conheceu a Cristo segundo a carne, ele ousou atacar o nome de Jesus de Nazaré, perseguir e maltratar os discípulos do Senhor Jesus (At 26:9-11). Mas depois que Deus revelou Seu Filho no espírito de Paulo, ele pregou a fé que antes havia perseguido (Gl 1:16, 23). Então, Paulo se tornou uma pessoa diferente. Esse novo conhecimento que Paulo agora possuía era realidade espiritual; ele não mais conhecia a Cristo segundo a carne.
O Evangelho de Marcos inclui o registro de uma mulher que teve um fluxo de sangue por doze anos. "Tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás Dele, por entre a multidão, tocou-Lhe a veste. (...) E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo". O que o Senhor Jesus sentiu naquele momento? "Quem Me tocou nas vestes?", Ele perguntou. Mas, "responderam-Lhe Seus discípulos: Vês que a multidão Te aperta e ainda dizes: Quem Me tocou?" (Mc 5:27-31). Aqui vemos duas classes de pessoas: os que tocam o Senhor e os que O apertam. Os últimos podem apertá-Lo apenas na carne; os primeiros podem tocar o Cristo em Sua realidade. O Senhor parece não ter consciência dos que O apertam, mas está muito consciente do toque daqueles que realmente O tocam. Que lamentável existirem multidões que O apertam e apenas um que O toca!
"Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas Elias foi enviado, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro." (Lucas 4:25-27).
Estes episódios são semelhantes à história da mulher curada do fluxo de sangue. A questão jaz não na distância (perto ou longe) nem no tempo (permanente ou transitório), mas em quem está apertando e quem está tocando a realidade. A menos que alguém toque a realidade, ele permanecerá inalterado, não importa quão intimamente possa apertar o Senhor.
Aquele que conhece a Cristo segundo a carne nunca O conhecerá de verdade. Só por revelação alguém pode discernir a Cristo. Precisamos lembrar que Cristo não pode ser conhecido por nossos sentidos exteriores, tais como visão, audição e tato. Conhecer a Cristo é a obra do Espírito Santo. Sem o Espírito Santo, ninguém pode entender a realidade de Cristo. Não importa quão familiarizado com a história do Senhor Jesus alguém esteja, nem quanto tenha se lançado em direção a Ele, apertando-O, ouvindo Sua voz e se ajoelhando diante Dele, se não tem o Espírito Santo, ele não tocou a realidade de Cristo diante de Deus.
O Senhor Jesus disse: "As palavras que Eu vos tenho dito são Espírito e são vida." (Jo 6:63). Alguém que tocou o Espírito Santo tem vida. É totalmente impossível alguém tocar o Espírito e não possuir vida. O que é do Espírito é vida. Tocar realidade é possuir vida. É exatamente aqui que muitos problemas surgem. Alguns vem a conhecer o Senhor Jesus lendo livros, outros, ouvindo pessoas. Seja lendo ou ouvindo, eles não tocaram o próprio Senhor Jesus. O Cristo da realidade não pode ser comparado com o Cristo lido ou ouvido. Aquele Cristo só pode ser entendido no Espírito Santo; não existe outra forma de conhecê-Lo.
Muitos cristãos ficam desanimados porque sua fé parece não funcionar. Eles reclamam que têm ouvido a Palava durante muitos anos e conheceram muito, mas tudo o que conhecem é ineficaz. E por quê? Porque não tiveram contato com a realidade. Tocar a Cristo com a mão da carne nunca será eficaz. O poder saiu de Cristo para a mulher que O tocou. Mas apenas uma pessoa realmente O tocou. Se a fé é operante ou não, depende apenas de se tocar a realidade.
Devemos compreender naturalmente que Cristo na carne é tangível pelas mãos, visível pelos olhos e audível pelos ouvidos da carne. Mas Cristo no Espírito Santo só pode ser alcançado no Espírito Santo. Mesmo quando o Senhor Jesus vivia na terra, já havia os aspectos exteriores e interiores do conhecimento Dele. Nosso conhecimento Dele hoje não é diferente do conhecimento daquele do passado. A questão, portanto, é: "Como conhecemos a Cristo?" Se um dia nós O virmos pelo Espírito Santo e, desse modo, tocarmos o Cristo da realidade espiritual, então, naquele dia, O conheceremos interiormente, mesmo que não sejamos capazes de falar sobre isso ou explicar o que tocamos. Uma vez que vemos interiormente, todas as nossas dúvidas são resolvidas. Por essa razão, devemos pedir ao Senhor Jesus que nos dê um conhecimento verdadeiro Dele, um que não procede de nós mesmos nem da instrução da carne, mas da revelação do Pai celestial.
10) Perdão:
É correto um irmão perdoar outro irmão. Algumas vezes, vemos um irmão perdoar outro irmão que o ofendeu: vemos que ele faz o melhor que pode para o perdoar e quão audivelmente anuncia que perdoou. Julgando pela aparência exterior, ele realmente está perdoando mui generosamente; entretanto, de alguma forma, você não se sente bem por dentro ao ver aquilo. Você sente que ele está fazendo muito esforço para perdoar e que não é algo real. Por quê? Porque ele não tocou a realidade. Podemos encontrar outro irmão que foi ferido por outro irmão. Ele está triste; todavia, crê que Deus não pode estar errado: ele sente que deve perdoar de coração seu irmão. Mas ele não anuncia seu perdão em voz alta nem manifesta quão transcendente ele é. Ele apenas diz que perdoa seu irmão. Você sente que esse irmão não está representando e, sim, realmente perdoando. Esse tocou a realidade espiritual.
11) Humildade:
A humildade deve impressionar as pessoas, mas a humildade de alguns cristãos faz você sentir que estão usando sua força própria para serem humildes. Alguém pode exclamar quão imprestável é; todavia, você sente que se trata de "humildade voluntária", isto é, humildade procedente da própria vontade (Cl 2:18, 23). A humildade que ele projeta não é genuína. Se ele é, de fato, orgulhoso, pois não sabe bem como classificar esse tipo de humildade. Você não pode dizer que é orgulho nem dizer que é humildade. As atitude externas dele parecem humildade, todavia, estão longe de ser algo real.
Mas pode haver outro irmão que não usa sua própria força e vontade para ser humilde. Ele, pelo contrário, age de maneira espontânea e fala suavemente e, como resultado, seu orgulho, de você que o ouve, é imediatamente manifestado, e você sente quão vergonhoso seu orgulho é. Se em determinada situação, a outra pessoa com quem você se relaciona é orgulhosa, você também pode se permitir ser orgulhoso. Mas se essa pessoa considera os outros melhores do que a si mesma, então, buscará a ajuda dos outros muito naturalmente. Ela tocou a realidade da humildade.
(Existem pessoas que são naturalmente humildes, mas isso não tem valor espiritual por não ser a humildade de Cristo trabalhada em nós. Mas aqui, estamos sendo advertidos quanto ao engano da falsa humildade, dissimuladamente a qual é orgulho e pecado. O desejo de Deus é saturar-nos de Seu Filho, a verdadeira humildade).
12) Amor:
O capítulo 13 de 1ª Coríntios nos oferece um quadro muito vivo para o exemplo do amor. Do ponto de vista humano, raramente se encontra um homem com um amor como o que é descrito no versículo 3: "Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado". Pode-se dizer que não existe amor maior do que este. Todavia, Paulo acrescentou: "Se não tiver amor, nada disso me aproveitaria". Isso significa que existe a possibilidade de não se ter amor mesmo quando se dá todos os bens aos pobres e o próprio corpo para ser queimado. Em outras palavras, a menos que alguém toque a realidade do amor no Espírito Santo, sua atitude é apenas uma conduta exterior. É possível um irmão dar todos os bens para alimentar os pobres e seu próprio corpo para ser queimado sem que haja amor nele. Também é possível um irmão dar "a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos que crê no Senhor Jesus Cristo e receber seu galardão." (Mt 10:42). A questão aqui não está no mundo ou no pouco que é feito, mas em se a realidade é tocada. Somente a realidade contatada pelo Espírito do Senhor é real.
É necessário que vejamos que não precisamos agir além daquilo que somos diante de Deus. Alguns expressam um amor tão grande, que faz com que as pessoas duvidem de ele ser genuíno. Alguns cristãos mostram um amor assim, mas ele é vazio de sentimento humano; isso levanta suspeitas. Quando lemos 2ª Coríntios, vemos como Paulo foi mal interpretado e caluniado, como ele sofreu e como ficou constrangido - mas ele venceu todas essas coisas. Contudo, ele não era sem sentimentos, pois era um homem real. Ele foi afligido, mas venceu. Ele sofreu, mas venceu. Todavia, sua vitória foi a vitória de um homem, não a vitória de um anjo. Ele realmente venceu, mas venceu como um ser humano. Ele era verdadeiramente humano, e sua vitória foi também real. Pelo Espírito de Deus, ele tocou a realidade. Quando lemos suas palavras, não podemos deixar de curvar a cabeça e dizer: "Eis um homem que não está longe de nós. Parece que podemos tocá-lo". Sentimos que ele não é como Miguel ou Gabriel, que ele não vive entre os querubins, mas é uma pessoa que pode ser conhecida. Não existe outra razão para isso além de ele possuir realidade espiritual. . Consequentemente, ao tocar nele, tocamos na vida.
CAPÍTULO 2
A DIFERENÇA ENTRE A REALIDADE ESPIRITUAL E A CONDUTA DO CRISTÃO
Devemos lembrar que existe algo diante de Deus chamado realidade. A dificuldade com muitos cristãos é que eles tentam fabricá-la. Eles tentam produzir essa realidade diante de Deus, resultando em eles copiarem ou imitarem. O que Deus requer, entretanto, é veracidade, isto é, a realidade, o fato real manifestado em nossa vida. Aquilo que fazemos por nós mesmos é obra do homem, uma falsificação, e não algo genuíno. Quão sem sentido é para o homem fazer sobre a base da doutrina, pois tudo que ele tem é nada mais do que conduta exterior. Ele não tem o que é verdadeiro: a realidade espiritual.
Por causa disso, devemos aprender a viver diante de Deus de acordo com o que realmente somos. Devemos pedir a Ele que nos leve a contratar o que é espiritualmente real. Algumas vezes, chegamos perto de ser falsos, simplesmente porque sabemos muito e agimos conforme as doutrinas, em vez de seguirmos a liderança do Espírito Santo. Sempre que agimos sobre a base da doutrina, não estamos tocando a realidade espiritual.
Em certa ocasião, um irmão narrou sua experiência assim: "Um irmão me ofendeu grandemente. Um dia, ele veio falar comigo e disse: "Irmão, isso não tem importância, não existe mais nada!". Mas em meu interior havia um sentimento dizendo: "Isso não está certo, porque ele sempre faz essas coisas. Ele tem feito isso a muitos outros e também a mim". Senti que devia repreendê-lo severamente. Mas raciocinei que se eu o repreendesse duramente, ele poderia dizer que eu não o havia perdoado. Se, pelo contrário, eu o cumprimentasse e o convidasse para jantar, não estaria mostrando que eu amo meu irmão. Todavia, havia uma forte convicção dentro de mim dizendo: "Você deve lhe dizer a verdade hoje. Dizendo-lhe onde a conduta dele está errada". Depois de lutar interiormente por uns quinze minutos, eu finalmente lhe disse a verdade.
É um fato que, algumas vezes, é mais valioso repreender do que cumprimentar. Embora possamos manter uma aparência gentil que leva as pessoas a nos elogiar, diante de Deus isso não tem valor espiritual. A questão é: nossa conduta segue a ordem da doutrina morta ou a direção do Espírito Santo? O irmão acima mencionado amava de verdade seu irmão no coração, mas a questão não estava relacionada ao coração e, sim à realidade espiritual.
Um dia, um cristão teve uma briga com um dos membros de sua família que, por ser muito violento, feriu o cristão no rosto. Naquele momento, o irmão se lembrou de que Mateus capítulo 5 ensina: "A qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra." (Mt 5:39). Ele pensou que, por ser um cristão, deveria agir como um, e, assim, ofereceu a outra fáce. Tendo feito isso, ficou tão nervoso logo depois que não pôde dormir por duas noites. No tocante à sua conduta, ele agiu conforme a letra da palavra da Bíblia. Entretanto, ficou tão irritado que perdeu o sono por duas noites. Isso claramente revela o fato de que ele não havia tocado a realidade espiritual da Palavra de Deus. Sua conduta não procedia da vida e, por isso, não era algo real.
Muitos cristãos sentem que possuem uma deficiência por serem incapazes de distinguir o verdadeiro do falso, de serem incapazes de discernir o que é de Deus e o que não é. A razão para isso, julgando a partir da experiência espiritual, repousa na falha deles em tocar a realidade espiritual. Se tivessem contatado aquela realidade, no momento em que qualquer coisa falsa lhes aparecesse diante dos olhos, seriam inconstantemente reconhecidas pelo que eram. O poder de discernimento procede daquilo que alguém já viu. Se tocamos a realidade espiritual em certa questão, ninguém pode jamais nos enganar naquela questão em particular. Um crente verdadeiramente salvo tocou, pelo menos, a realidade espiritual da salvação. Consequentemente, se torna difícil enganá-lo nessa questão, igualmente, aquele que tocou a realidade espiritual de determinada questão descobrirá, de maneira muito natural, o que for irreal tão logo isso apareça. E quando encontrar a falsificação, dentro dele se levantará um estranho poder que repelirá a imitação.
A razão porque somos tão facilmente enganados é porque frequentemente enganamos a nós mesmos. Os que se enganam a si mesmos são sucessíveis de serem enganados pelos outros. Se não vemos algo em nós mesmos, como podemos vê-lo nos outros? Quando chegamos a conhecer a nós mesmos é que começamos a conhecer os outros. Os que não conhecem a si mesmos não podem conhecer os outros. Mas uma vez que, por meio dos tratos de Deus, vemos quem somos, de forma natural reconhecemos o que os outros são. Se numa questão em particular você recebeu o tratamento de Deus e tocou a realidade espiritual, você sabe como o Espírito de Deus trabalha em você. Por esse conhecimento, você instantaneamente discerne se a outra pessoa está agindo por si mesma ou se é movida pelo Espírito de Deus.
O discernimento espiritual só vem depois de nós mesmos contatarmos a realidade espiritual. Quem não tocou a realidade espiritual engana a duas pessoas: a si mesmo e a quem está espiritualmente no mesmo nível. Ele não pode enganar aqueles que sabem o que é do Espírito Santo e que vivem no Espírito Santo. Ele absolutamente não tem como enganar a igreja. A pessoa que não tocou a realidade espiritual pode considerar-se espiritual, mas, por alguma razão desconhecida, a igreja não diz "amém". Sabemos que sempre que a igreja não pronuncía seu "amém" a uma pessoa, está na hora de ele confessar seu pecado. Se os irmãos e as irmãs não sentirem que devem dizer "amém", aquela pessoa deve ter falsidade nela.
Alguns irmãos e irmãs perturbam e sobrecarregam a igreja não apenas com seus pecados, mas também com "suas coisas boas" que brotam deles mesmos. O pecado é facilmente reconhecido, mas o "bem que procede do ego" não é tão facilmente detectado, mesmo estando tão longe de Deus e da realidade espiritual. . Causa grande preocupação contemplar quão frequentemente os cristãos estimam a si próprios, como tendo alcançado alguma coisa após terem trabalhado nela, quando, na verdade, ainda não tocaram sua realidade espiritual. . Cremos que quando alguém encontra a realidade, isso resultará em vida; quando isso não acontece, o resultado será morte. Um irmão realiza um ato particular diante de Deus; ele toca a vida e leva outros a tocarem a vida. Outro irmão também faz alguma coisa; ele sente que fez bem, mas os outros não encontra vida nele e não são edificados. Em vez de admirarem sua ação, eles a rejeitam. Isso porque a conduta desse irmão procedeu dele mesmo e o resultado é morte em vez de vida.
Devemos aprender a viver no Espírito Santo, senão poderemos exercitar "nossa boa conduta" sem tocar a realidade espiritual. Que significa viver no Espírito Santo? Significa não fazer coisa alguma por nós mesmo ou de nós mesmos. Tudo o que é feito pelo ego é da carne, e tudo que é da carne definitivamente não tem realidade espiritual. A realidade espiritual é espiritual, não carnal. Simplificando, realidade espiritual é aquilo que alguém toca pelo Espírito Santo, e porque é tocado é vivo e real. A conduta de um cristão não é real se não for no Espírito Santo. Sua conduta nunca pode substituir aquilo que é real diante de Deus, e não pode ajudar os outros nem edificar a própria pessoa. Que Deus tenha misericórdia de nós, a fim de entendermos que viver no Espírito Santo é viver em realidade espiritual.
SUPRIMENTO E REALIDADE
"De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida." (2Co 4:12). No versículo 10, Paulo fala da manifestação da vida; aqui ele fala do suprimento da vida. Aquilo que é manifestado em nós chamamos de vida, mas aquilo que é manifestado nos outros chamamos de suprimento. A fonte é a mesma, visto que tudo provém do morrer de Jesus. Consequentemente, a pregação sem realidade espiritual é vazia e inútil, pois não pode suprir o Corpo de Cristo. Só depois de o morrer de Jesus operar em nós, a vida de Jesus pode operar nos outros. De modo que isso é mais do que uma questão de pregação ou trabalho, mas é, antes, uma questão do suprimento de vida.
Sem dúvida, a pregação tem seu lugar adequado, mas se ela não estiver endossada pela realidade espiritual, não pode suprir vida. Quando levamos no corpo o morrer de Jesus, o Corpo de Cristo recebe o suprimento de vida. Onde há realidade espiritual, há suprimento de vida. Se não conhecemos "o morrer de Jesus" e não tivermos carregado sossegadamente a nossa cruz, então, não teremos suprimento de vida. Irmãos e irmãs, por favor, lembrem-se de que, no tocante à realidade espiritual, obra não é o que você faz, mas aquilo que você experimentou diante de Deus; é isso que automaticamente suprirá o Corpo de Cristo. Se, do seu lado, você conhece o que é o morrer de Jesus, a Igreja, do outro lado, receberá espontaneamente o suprimento de vida.
Por causa disso, não precisamos dizer às pessoas que perdoamos isso ou aquilo, nem tocar a trombeta para anunciar que temos amado nem atrair a atenção das pessoas para quando temos carregado a cruz. Se tocamos a realidade espiritual, supriremos vida a outras pessoas sem esforço. Não importa se temos consciência disso ou não. O fato permanece: "A morte opera em nós, mas em vós, a vida." (2Co 4:12).
Nossa dificuldade jaz em nosso demasiado conhecimento de ensinos. Agimos de acordo com o ensino, mas não existe suprimento prático. Lembremos que suprimento não é um ato exterior, e, sim, uma realidade interior. Se você tivesse conhecido diante de Deus o que é o morrer de Jesus, então, a vida de Jesus operaria espontaneamente na Igreja. Onde existe vida, existe suprimento, pois o suprimento interior são da vida, e, não, a exibição de trabalho com a fim de ser admirado. O suprimento de vida é para edificar as pessoas e não para edificar sua fama por ter tido determinada experiência. O que importa é se há ou não verdadeiro suprimento de vida. Cada vez que você passa pelo "morrer de Jesus", alguns irmãos e irmãs receberão de você o suprimento de vida. Não há necessidade de esperar até que você publique sua autobiografia.
No exato momento em que recebemos vida do Senhor, a Igreja já está sendo suprida com vida. Precisamos saber que muita ajuda que foi dada ultrapassa a consciência e o sentimento. Quando temos realidade, as pessoas serão supridas, tenhamos consciência disso ou não, pois a vida é um fato. Sempre que, verdadeiramente, carregamos a cruz, diante do Senhor, o Corpo de Cristo recebe o suprimento de vida.
Como poderemos entender o que Paulo diz: - "a morte opera em nós, mas em vós, a vida." -, se ignorarmos o que é o suprimento de vida? Paulo disse aos santos em Colossenses: "Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do Seu Corpo, que é a Igreja." (Cl 1:24). O que é isso? É o suprimento de vida. Tendo visto o Corpo de Cristo como um, haverá naturalmente o suprimento de vida. Por isso, Paulo foi capaz de sofrer por amor do Corpo de Cristo e preencher em sua carne aquilo que falta das aflições de Cristo. Você não pode entender como as aflições de Cristo podem ser preenchidas se você ainda não viu que o Corpo de Cristo é um.
Peçamos ao Senhor que abram nossos olhos espirituais para vermos que o Corpo é um. Quem sabe realmente que o Corpo é um, não pode falhar em ver 1ª Coríntios 4 versículo 7 que diz: "E que tens tu que não tenhas recebido?" Tudo o que temos foi recebido de Deus, e para o suprimento do Corpo. A realidade espiritual que pessoalmente tocamos diante de Deus se torna suprimento de vida para a Igreja.
O suprimento do Corpo excede as limitações físicas da comunicação. Paulo disse à igreja em Corinto: "Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito..." (1 Co 5.3). Por ter tocado a realidade espiritual do Corpo de Cristo, ele pôde dizer que seu espírito estava presente com eles, exatamente como seu corpo esteve presente com eles antes. Isso não é idealismo; é realidade espiritual. . Tendo entendido a unidade do Corpo de Cristo, nosso espírito invariavelmente é achado ali. Isso é chamado de suprimento de vida, e transcende palavras e obras, e ultrapassa as limitações da comunicação física. Se conhecemos o Senhor e estamos em contato com Ele, tudo o que experimentamos se torna automaticamente a riqueza do Corpo de Cristo.
Quão lamentável é que a maioria dos cristãos viva na esfera exterior! Quando trabalham, parece haver algum suprimento, mas quando não estão trabalhando não existe suprimento. Quando abrem a boca, parecem ser os servos escolhidos de Deus; quando a boca deles está fechada, não são mais os servos escolhidos de Deus. Eles podem suprir quando são apreciados, mas não podem suprir quando são mal-entendidos. Por não terem tocado a realidade espiritual diante de Deus, eles falham em suprir vida ao Corpo de Cristo. Todavia, existem aqueles que, quando as pessoas falam com eles por cinco minutos, elas recebem o suprimento de vida por meio deles. O Corpo de Cristo é um fato. O suprimento espiritual não depende de cumprimentos de mão nem de conversas. Se alguém tem passado por alguma experiência diante de Deus, tendo recebido das mãos de Deus "o morrer de Jesus", ele já supriu o Corpo de Cristo.
Nós suprimos a Igreja com o que conhecemos de Deus interiormente. Não é que tentemos suprir, ou propositadamente procuremos suprir o Corpo de Cristo, mas estamos espontaneamente suprindo a Igreja. O que tocou a realidade espiritual tem suprimento; quem não a tocou não tem suprimento. É algo que não pode ser forçado. Julgando da experiência de Paulo, podemos realmente dizer que suprir o Corpo de Cristo é uma realidade espiritual e não um ato. Se temos experimentado realidade espiritual diante de Deus, espontaneamente supriremos a Igreja com aquela realidade. Somente quando temos uma experiência real é que beneficiamos a Igreja.
As palavras que Paulo diz são singulares. Entendemos com facilidade quando ele diz: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo". Mas quando ele diz: “De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida", não entendemos tão facilmente o significado, não até que conheçamos a unidade do Corpo de Cristo. Visto que o Corpo é um, tudo o que é operado em mim será espontaneamente operado nos outros. Isso é vida e isso é suprimento. Depois de entender isso, ficamos extremamente felizes porque tudo o que o membro recebe do Cabeça é mantido no Corpo. E todos estamos desfrutando desse Corpo.
Se tocamos essa realidade espiritual, não lamentaremos a pobreza e a esterilidade da Igreja. É verdade que, no tocante à aparência, temos de reconhecer a condição de pobreza e degradação da Igreja. Temos de confessar que, na aparência exterior, os grupos cristãos e também os cristãos individualmente falharam. Mas sempre que tocamos a realidade espiritual da Igreja, imediatamente declaramos que a Igreja não está nem pobre nem degradada. Não é por causa dos fracassos dos cristãos individuais e dos grupos de cristãos que a riqueza da Igreja é diminuída, porque dia a dia tudo aquilo que os membros recebem do Cabeça está suprindo a Igreja. Paulo tocou nessa realidade espiritual, por isso podia reprovar a igreja em Corinto bem como suprir suas necessidades.
"...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo..." (Ef 4.13). Essa palavra é difícil de ser entendida exterior e mentalmente. Para a Igreja, alcançar a unidade da fé parece algo tão distante e fora das possibilidades quando contemplamos a aparência exterior. Quem sabe se a Igreja vai atingir esse ponto? Todavia, quando tocamos a realidade espiritual, não sentimos necessidade de fazer tal pergunta. Sabemos que a Igreja, diante de Deus, é uma e nunca foi dividida. Tão logo toquemos a realidade, todas as perguntas exteriores desaparecem. Como podemos suprir se não vimos essa realidade espiritual? Nosso suprimento começa no momento em que entendemos. De modo que a base do suprimento de vida é tocar a realidade espiritual do Corpo e também experimentar a cruz.
Devemos reconhecer que o suprimento de palavras também é baseado na vida que já demos à Igreja. O Espírito Santo dará testemunho daquilo que você expressa se o que você diz é o que já deu à Igreja em vida. Mas Ele não dará testemunho daquilo que você pronuncía se isso não representar o que você já recebeu diante de Deus. As pessoas recebem ajuda de suas palavras apenas se você primeiramente as supriu com sua vida. De outra forma, a ajuda que as palavras dão é somente um pouco de esclarecimento da mente, visto que tal ajuda é apenas o produto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O alimento da Igreja, entretanto, é vida. O suprimento de vida é o único e exclusivo alimento da Igreja. A questão não é o que você pode dar, mas o quanto você já tem dado à Igreja. O que você deu de realidade espiritual à Igreja? Quando você se levanta diante da Igreja, o que já supriu a ela? Se você não tocou a realidade espiritual, não terá nada para suprir às pessoas. Somente o que é espiritual, que tem a realidade por trás da palavra, pode suprir a Igreja.
Alguns cristãos consideram o Corpo de Cristo apenas como uma parábola. Eles não entenderam a realidade espiritual do Corpo e, portanto, não têm como supri-lo. Não existe possibilidade de alguém suprir o Corpo se ele não o entendeu. E com o corpo em vista que o comer com a boca é o comer do corpo, o ver dos olhos é o ver do corpo, e o ouvir dos ouvidos, o ouvir do corpo. Aquilo que um membro recebe, o Corpo recebe. Não importa quem seja o irmão ou irmã, tudo o que ele ou ela recebe também é recebido pelo Corpo. Precisamos compreender que a vida do Corpo é não apenas um viver corporativo, mas também uma vida corporativa. Se falhamos em tocar nessa realidade espiritual, a Igreja, em nossa mente, se torna uma doutrina, e o Corpo, uma parábola; consequentemente, não temos como suprir sua necessidade.
Não esqueça que você não é uma entidade independente, mas membro do Corpo. Disse Paulo: "De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam." (1 Co 12.26). Isso é uma palavra vazia ou um fato? Paulo foi um homem que tinha consciência do Corpo. Se ele não tivesse tocado a realidade espiritual do Corpo, não poderia fazer tal afirmação. Peçamos a Deus, portanto, para nos levar a tocar a raiz, que é a realidade espiritual, a fim de que possamos espontaneamente suprir a Igreja.
PERGUNTAS E REALIDADE
No tocante aos assuntos espirituais, podemos esclarecê-los até o ponto de remover qualquer dificuldade espiritual, mas não podemos torná-los claros a ponto de não mais apresentarem problemas para a mente humana. Tomemos, como exemplo, a pregação do evangelho: podemos pregar até as pessoas ficarem suficientemente esclarecidas para crer, mas não podemos pregar até satisfazer plenamente a mente do homem. O que disse Natanael quando Filipe lhe disse que haviam encontrado Aquele de Moisés, a quem a lei, e os profetas haviam escrito? Ele disse: "De Nazaré pode sair alguma coisa boa?". Todavia, mais tarde, quando o Senhor Jesus lhe disse: "Antes de Filipe te chamar, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira." Então, Natanael encontrou a realidade espiritual. Ao que ele, mais do que espontaneamente, confessou ao Senhor: “Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel!" (Jo 1.45-49). Ele havia tocado a realidade espiritual, por isso não tinha mais perguntas. As coisas espirituais são assim. Tão logo alguém toca a realidade espiritual, ele é interiormente iluminado. Ele conhece interiormente, quer seja capaz ou não de explicá-lo.
Algumas passagens da Bíblia parecem ser facilmente mal-entendidas. Mas se o Espírito Santo estiver presente, qualquer pessoa será capaz de contatar a realidade espiritual da passagem. Desse modo, não pode haver entendimento errado.
CAPÍTULO 3
COMO ENTRAR NA REALIDADE ESPIRITUAL?
Frequentemente, realidade espiritual nada é para nós além de meros termos, porque não entramos em sua realidade. Só depois que entramos nela é que podemos tocar aquilo que é real. Daí surge a pergunta: como podemos entrar na realidade espiritual? O Senhor Jesus disse: "... quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar." (Jo 16.13-14). Esses dois versículos nos falam que é o Espírito Santo quem nos anuncia a verdade e nos guia para dentro dela.
De todas as obras do Espírito Santo, duas são de primordial importância: a revelação do Espírito e a disciplina do Espírito. A primeira nos capacita a saber e a entender a realidade espiritual, enquanto a segunda nos conduz à experiência da realidade espiritual por intermédio de arranjos circunstanciais.
A revelação é o fundamento de todo progresso espiritual. Sem a revelação do Espírito Santo, não importando quão bom seja o conhecimento e quão excelente seja a conduta exterior de um cristão, ele permanece superficial diante de Deus e pode nunca ter dado um passo sequer à frente. Por outro lado, se alguém tem a revelação do Espírito Santo e carece da Sua disciplina adicional, a vida desse cristão é incompleta. Podemos dizer que a revelação do Espírito Santo é o alicerce, enquanto a Sua disciplina é a construção. Isso não significa que existe um período chamado “a revelação do Espírito Santo" e, então, outro período chamado "a disciplina do Espírito Santo" - os dois estão interligados. Quando Ele revela, também disciplina, e quando disciplina, também revela. Por essa razão, a revelação não abrange toda a vida cristã, pois se deve incluir também a disciplina.
Cremos que tudo o que o Pai confiou ao Filho, o Filho realizou (Jo 17:4). Também cremos que tudo aquilo que o Filho confiou ao Espírito Santo, o Espírito Santo realizará. Cremos que, a despeito de quão imensa seja a realidade espiritual, o Espírito Santo é capaz de nos guiar para dentro dela. Não existe absolutamente nada de Cristo que tenha sido negado à Igreja. Isso inclui não apenas nossa experiência, mas muito mais do que isso, pois inclui a questão sobre a obra do Espírito Santo ter sucesso ou não. Não esqueçamos que, assim como Cristo realizou tudo, assim também o Espírito Santo tudo realizará. Devemos crer na integridade do caráter do Espírito Santo e na perfeição da Sua obra.
O objetivo da obra do Espírito Santo é nos guiar dentro da veracidade, para dentro da realidade. Ele para nos dá revelação a fim de nos levar à presença da veracidade, para podermos ver o que somos em Cristo. Alguns cristãos têm uma deficiência: eles vivem como se o Espírito Santo tivesse pouca organização, pouca incorporação neles. Quando não têm o suficiente para ajudar a si mesmos, como podem esperar ajudar os outros? Mal conseguem suprir suas próprias necessidades; ajudar os outros para eles está fora de questão. Um cristão que deseja ajudar os outros deve ser levado, ele mesmo, pelo Espírito do Senhor, para dentro da realidade. A fim de conduzi-lo à realidade espiritual, o Espírito Santo precisa levá-lo a passar por muita disciplina e muitas provações.
“... ó Deus da minha justiça; na angústia me deste largueza..." (Sl 4.1 - ARC). Deus permitiu que Davi passasse por muitas aflições para que pudesse conduzi-lo à largueza. Em sua epístola, o apóstolo Tiago diz: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que Ele prometeu aos que o amam?" (Tg 2:5). Deus escolhe os pobres no mundo para que sejam ricos na fé. Deus não se diverte com a ideia de ter Seus filhos sempre na aflição e na pobreza; Seu alvo é levá-los da aflição para a largueza, da pobreza para a riqueza na fé.
Apocalipse capítulo 21, mostra qual será a condição da Igreja diante de Deus quando ela aparecer no futuro: ela “tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. A cidade é quadrangular, de comprimento e largura iguais. E mediu a cidade com a vara até doze mil estádios. O seu comprimento, largura e altura são iguais. A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido. Os fundamentos da muralha da cidade estão adornados de toda espécie de pedras preciosas." (Ap 21:11, 16, 18-19). Quão rica e quão ampliada a Igreja será quando aparecer, um dia, diante de Deus!
O que é largueza? A largueza da qual o salmista fala, é quando em aflição você é levado por Deus a um lugar amplo para desfrutar Dele, onde a angústia não é capaz de deprimir você. Aquele que desfruta da companhia da quarta pessoa na fornalha de fogo (Dn 3:25) é alguém que desfruta de Deus, e aquele que desfruta de Deus é uma pessoa alargada. Aquele que é lançado na prisão com os pés no tronco e ainda pode orar e cantar hinos a Deus (At 16:24-25) é alguém que desfruta de Deus; esse é, certamente, uma pessoa alargada. Uma pessoa presa atrás das grades que ainda desfruta da presença do Senhor deve ser, inevitavelmente, uma pessoa alargada.
O Espírito Santo aspira nos guiar para a largueza por intermédio da aflição, mas que tristeza termos de admitir que, algumas vezes, somos abatidos por ela. Vimos o fim ou o propósito de Deus no caso de Jó, de como Deus é cheio de piedade e misericórdia (Tg 5:11). Jó, de fato, compreendeu o objetivo de Deus, mas alguns chegam a um fim antes que o de Deus seja alcançado! Eles são pressionados pela aflição e falham em chegar a um lugar espaçoso. Tão logo sejam testados, eles murmuram e acusam a Deus de ser injusto; consequentemente, a aflição os faz capotar, nunca usando a oportunidade de serem levados à largueza.
Alguns cristãos podem não estar na angústia, mas na pobreza. Eles carecem de realidade espiritual. O que eles têm é insuficiente para suprir suas próprias necessidades; como podem falar em ajudar outras pessoas? Mas, graças a Deus, existem cristãos que são espiritualmente ricos. De pessoas assim você não consegue sondar a largura nem medir sua profundidade. Sempre que está em dificuldades, você vai a eles e é sempre ajudado. Parece que você não consegue encontrar um problema a respeito do qual eles não saibam algo e que as pessoas que chegam a eles nunca ficam sem ser ajudadas. Você tem de curvar a cabeça e dizer: "Deus, obrigado porque existem tais pessoas tão ricas na igreja". A riqueza que elas têm excede a pobreza que você tem; por isso elas роdem suprir as necessidades que você lhes apresenta. São ricas porque tocaram a realidade.
Se uma igreja pode ser um candelabro de ouro, isto é, se ela pode realmente testemunhar para o Senhor, depende de quantos cristãos alargados e quantos cristãos ricos na fé existem nela, e no quanto os cristãos podem suprir outras pessoas. E verdade que podemos ir e bater à porta de um amigo à meia-noite e pedir emprestado três pães, quando não temos nada para colocar diante de outro amigo que chegou a nós de uma viagem (Lc 11.5-6). Todavia, algumas vezes, quando as pessoas precisam de pão, o Senhor nos dirá: "Dai-lhes, vós mesmos, de comer" (Mt 14.16). Quantos pães realmente temos? Geralmente, podemos orar numa emergência e Deus é misericordioso para conosco. Entretanto, a oração de emergência não pode substituir a riqueza. Quão pobres somos se não existe aumento nos itens espirituais depois de, digamos, um ou cinco anos!
Qual é a causa da pobreza? É a falta da disciplina e da direção do Espírito Santo. Reconheçamos que todos os que são alargados e ricos diante de Deus são os que passaram por muitas situações e têm uma história com Deus. A experiência e a história deles tornam a Igreja rica. Muitas doenças são para a riqueza da Igreja; muitas dificuldades são para a riqueza da Igreja; muitos sofrimentos são para a riqueza da Igreja e muitas frustrações são para a riqueza da Igreja.
Contemple o número de cristãos que passam seus dias na tranquilidade e na facilidade. O resultado é pobreza espiritual. Quando outros irmãos e irmãs estão em dificuldade, aqueles não entendem nem são capazes de oferecer assistência espiritual. Não têm história diante de Deus. O Espírito Santo não tem oportunidade de manifestar a realidade de Cristo neles porque não tem chance de incorporar Cristo neles. Não obstante quanto possam ter ouvido a Palavra, o ouvir não pode substituir a obra do Espírito Santo. Aqueles que carecem da obra do Espírito em sua vida não podem ter como sua a riqueza de Cristo; por isso, nada têm com que suprir outras pessoas.
O que determina se somos úteis ou não nas mãos de Deus é a extensão da obra que o Espírito Santo tem operado em nós. Um cristão não pode ser caído a ponto de parecer que o Espírito Santo não o incomode. Sua pobreza parece predestinada, mas cremos que o Senhor não deixaria escapar de Suas mãos alguém que tivesse se colocado nelas. Cremos que cada provação tem o propósito de alargar e enriquecer. Cada provação produz mais riqueza. Cada dificuldade nos ajuda a conhecer melhor a Deus. E, assim, seremos capazes de suprir as necessidades dos filhos de Deus.
Uma irmã foi salva quando tinha treze anos; ela viveu cento e três anos. Um irmão a visitou quando ela completou cem anos e lhe perguntou por que Deus a havia conservado tanto tempo na terra. Ela tranquilamente respondeu: "Deus me conserva aqui para que eu possa orar mais, e mais e mais!". Oh, quão rica ela era! Outra irmã ficou acamada por mais de quarenta anos, trinta e cinco dos quais ela esteve surda. Quando um irmão foi visitá-la, ela lhe disse: "Antes eu era muito ativa, correndo para todo lado; eu não atendi às muitas obras de oração de que a igreja necessitava. Mas hoje eu fico na cama. Há quarenta anos faço diariamente a obra da oração". Ela não estava nem irada, nem ansiosa, nem murmurando por causa da sua doença; pelo contrário, ela fez uma grande obra. A aflição a havia alargado e a tornado rica, e sua riqueza se tornou a riqueza da Igreja.
Alguns irmãos e irmãs não são eloquentes nem têm muito conhecimento; entretanto, sabem como orar. Sempre que escutam algo, eles oram por aquilo; oram pelos doentes e pelos irmãos e irmãs em dificuldades; suprem a Igreja constantemente com suas orações. Outros irmãos e irmãs apenas se reúnem, mas nunca oram; eles ouvem as mensagens e, ainda assim, não oram; nada têm com que suprir a Igreja. São pobres porque não receberam a disciplina do Espírito Santo e não sabem o que é realidade espiritual. . Humanamente falando, alguns irmãos e irmãs deveriam ter caído há muito tempo, mas ainda estão de pé. Qual é a explicação? É que alguém os está suprindo. Por essa razão, a abundância da vida não está relacionada à palavra ou a doutrinas, mas, sim, a quanto você tem passado diante de Deus e, portanto, quanto você pode suprir a Igreja.
Dia após dia, o Espírito Santo busca oportunidades para nos guiar para dentro da realidade espiritual. Se recusarmos aceitar Sua direção e disciplina, negaremos a Ele a oportunidade de nos conduzir para a realidade espiritual. . Mui frequentemente, quando a dificuldade surge, alguns escolhem o caminho mais fácil para escapar. Quando chegam as provações, alguns a contornam e evitam dessa forma a dificuldade; mas a oportunidade de o Espírito Santo nos guiar para dentro da realidade espiritual também é perdida. E o Espírito do Senhor não tem chance de operar algo dentro deles, a fim de poderem repartir com a Igreja o que receberam. Se fugirmos da direção e disciplina do Espírito Santo, não poderemos esperar entrar na realidade espiritual e, consequentemente, perdemos a oportunidade de sermos alargados e enriquecidos.
Aceitemos a direção e a disciplina do Espírito Santo. Assim entraremos num lugar espaçoso e teremos algo para suprir a Igreja. Precisamos, uma vez mais, nos consagrar, mais completamente e mais perfeitamente, a fim de conceder ao Espírito do Senhor a chance de aperfeiçoar Sua obra e nos guiar para dentro da realidade espiritual. . Aprendamos diariamente diante de Deus, a fim de que nosso depósito possa se tornar a riqueza da Igreja. Tal riqueza, um dia, será manifestada no novo céu e na nova terra. Não existe ouro que não tenha passado pelo fogo, nem pedra preciosa que não tenha passado pelas trevas, nem pérola que não tenha experimentado o sofrimento. Peçamos ao Senhor que nos livre de toda conversa vã e de toda pobreza. Peçamos a Ele, por outro lado, que vejamos mais e mais o que é a realidade espiritual, para que sejamos guiados por Seu Espírito para dentro de toda realidade espiritual.
Jesus é o Senhor!