Evangelho de Marcos | Estudo 14
Leitura Bíblica: Marcos 14:1-72 e 15:1-47
Em Marcos 14:1-11 três questões se fundem: a conspiração dos opositores para matar o Salvador-Servo, o Senhor Jesus desfrutando do amor de Seus seguidores e o plano de Judas para traí-Lo. Enquanto “os principais sacerdotes e os escribas procuravam como O prenderiam por astúcia e O matariam.” (Mc 14:1), os seguidores do Senhor demonstravam seu amor por Ele. Simultaneamente, Judas Iscariotes “um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entregar Jesus.” (Mc 14:10).
PREFIGURAÇÃO DE CRISTO
Marcos 14:1 diz: “Dali a dois dias era a Páscoa e a festa dos Pães Asmas”. Embora os principais sacerdotes e os escribas quisessem matar o Senhor Jesus, eles disseram: “Não durante a festa, para que não haja tumulto da parte do povo.” (v. 2). Por fim, pela soberania de Deus, eles realmente mataram o Senhor Jesus durante a festa (Mt 27:15) para o cumprimento da prefiguração. A Páscoa prefigurava Cristo (1Co 5:7). Ele é o Cordeiro de Deus para que Deus possa passar por cima de nós, pecadores, como retrata a Páscoa em tipologia, em Êxodo 12. Assim era necessário que Cristo, como o Cordeiro Pascal, fosse morto no dia da Páscoa, para cumprir a prefiguração.
De acordo com o tipo, o cordeiro pascal tinha de ser examinado, para ver se tinha algum defeito, nos quatro dias que precediam a festa da Páscoa (Êx 12:3-6). Antes de Sua crucificação, Cristo foi a Jerusalém pela última vez, seis dias antes da Páscoa (Jo 12:1) e foi examinado pelos líderes judeus. Não se achou nenhuma falha Nele, e foi comprovado que Ele era perfeito e estava qualificado para ser o Cordeiro Pascal por nós.
A CASA DE SIMÃO, O LEPROSO
No capítulo 14 vemos que, depois de abandonar o templo, o Senhor Jesus foi à casa de um leproso purificado, em Betânia. Um leproso representa um pecador. Simão, como leproso, deve ter sido curado pelo Senhor Jesus. Por ser grato ao Senhor e amá-Lo, ele preparou uma festa em casa para o Senhor Jesus e os discípulos, a fim de desfrutar Sua presença. Um pecador salvo sempre faz isso. A casa de Deus hoje é composta de leprosos purificados. Como crentes em Cristo, todos somos leprosos purificados representados por Simão.
Simão amava o Senhor Jesus e preparou uma festa para Ele. “Estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa, na casa de Simão, o leproso, veio uma mulher, trazendo um vaso de alabastro com ungüento de nardo puro, caríssimo; quebrando o vaso, derramou-Lhe o ungüento sobre a cabeça.” (Mc 14:3). Essa mulher de fato amava o Senhor. A casa de Deus, a igreja, compõe-se dos que O amam. Sua casa é composta de leprosos purificados e dos que O ungem.
APROVEITAR A OPORTUNIDADE PARA AMAR O SENHOR
Alguns ali presentes, “indignados, diziam entre si: Para que se fez esse desperdício de ungüento? Pois esse ungüento poderia ser vendido por mais de trezentos denários, e dar-se aos pobres. E estavam furiosos com ela.” (Mc 14:4-5). Os que estavam indignados consideraram a oferta de amor da mulher como desperdício. Nos últimos dezenove séculos, milhares de preciosas vidas, tesouros do coração, altas posições e futuros brilhantes foram “desperdiçados” sobre o Senhor Jesus. Para os que O amam de tal maneira, Ele é totalmente amável e digno da oferta deles. O que eles derramaram sobre Ele não é uma perda, mas um testemunho fragrante de Seu dulçor.
De acordo com os versículos 6 e 7, o Senhor Jesus disse aos que repreendiam a mulher: “Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou uma nobre ação para Comigo. Porque os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; mas a Mim nem sempre Me tendes.” (Mc 14:6-7). A palavra do Senhor “a Mim nem sempre Me tendes” indica que devemos amar o Senhor e aproveitar a oportunidade para amá-Lo.
Hoje muitos cristãos se preocupam mais com obras de caridade do que com Cristo. A preocupação de fazer caridade aos pobres freqüentemente substitui Cristo. Mas em Marcos 14 o Senhor Jesus não deixou que a preocupação com os pobres se tornasse um substituto de Si mesmo. Aqui parece que Ele não se preocupa com os pobres, mas se preocupa apenas Consigo mesmo. Ele parece dizer: “Deixem em paz essa que Me ama. Ela praticou uma nobre ação para Comigo. Se querem cuidar dos pobres, esperem outra oportunidade e vão para outro lugar. Os pobres sempre estão com vocês, mas esse é o único tempo para que vocês Me tomem como seu substituto e derramem tudo sobre Mim”.
UNGIR O SENHOR PARA SEU SEPULTAMENTO
No versículo 9, o Senhor continua: “Em verdade vos digo: Onde for proclamado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua”. No versículo anterior Ele se referiu a Seu sepultamento. A palavra sepultamento implica Sua morte e ressurreição para nossa redenção. Assim o evangelho no versículo 9 deve referir-se ao evangelho da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo (1Co 15:1-4).
A história do evangelho é que o Senhor nos amou, e a história da mulher que O ungiu é que ela O amou. Devemos pregar ambas as coisas: o Senhor nos amando e nós amando o Senhor. Um visa nossa salvação e o outro, nossa consagração.
Em mensagens anteriores vimos que, quando o Senhor Jesus estava no Monte das Oliveiras com quatro dos discípulos, Ele lhes falou a respeito do princípio das dores de parto (Mc 13:8). Essas dores visam ao nascimento do novo homem, que envolve longo processo. Como pode esse homem nascer, ser gerado? Vimos que só pode ser por meio da morte e ressurreição de Cristo. Por meio de Sua morte e ressurreição, Ele se torna tudo no novo homem.
Depois que o Senhor Jesus falou aos discípulos a respeito das coisas por vir, especialmente as dores de parto, Ele entrou na casa de Simão em Betânia, onde Lhe fora preparada uma festa. Enquanto festejava, uma mulher que O amava derramou sobre Ele o melhor que tinha. Isso indica que Ele era tudo para ela. O Senhor disse que essa mulher fez o que pôde, ungindo Seu corpo antecipadamente para o sepultamento.
O que o Senhor Jesus diz no versículo 8 é crucial, pois indica que essa mulher certamente recebera Sua palavra a respeito da morte e ressurreição. Não creio que Pedro a tenha recebido, mas ela, sim. Ela sabia que Aquele que ela amava logo seria morto e ela não teria outra oportunidade de ungi-Lo. Por isso, enquanto Ele ainda estava presente, ela aproveitou a oportunidade de derramar seu ungüento sobre Ele. Ao fazê-lo, ela O ungiu para Seu sepultamento.
SER INTRODUZIDO NA MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO
Se tivéssemos apenas o Evangelho de Marcos, não seríamos capazes de entender adequadamente o que significa ser introduzido na morte e ressurreição de Cristo. Em Atos e nas Epístolas de Paulo vemos o desenvolvimento dessa questão. Quando estamos na morte e ressurreição de Cristo, podemos desfrutá-Lo ao máximo. Podemos ser como a mulher em Marcos 14, que entrou na morte e ressurreição do Senhor, e assim O desfrutou como seu pleno substituto. Em seu interior não havia interesse por nada ou nenhuma outra pessoa que não o Senhor. Nela não havia lugar para Moisés ou Elias, ou o templo, e não havia base para ela mesma. Ela fora substituída por esse Amado.
Essa mulher fora plenamente preparada para tomar o Senhor como seu substituto. Ela passara por todos os passos do processo com Ele. Enquanto Pedro era um tanto rude, ela era cuidadosa e refinada. Por isso, certamente foi introduzida na morte do Senhor. Ela percebeu que Ele seria morto, mas esse pensamento não entrou em Pedro. Por ter assimilado a palavra do Senhor a respeito de Sua morte, ela também aproveitou a oportunidade de ungi-Lo para Seu sepultamento. Com esse único passo ela tomou a morte do Senhor e trabalhava para Seu sepultamento. Essa foi a nobre ação que ela praticou para com Ele. Então, alguns dias depois, ela estava junto com os que entraram na ressurreição do Senhor. Assim foi uma precursora, uma das primeiras a desfrutar o Cristo ressurreto. Por meio da preparação do Senhor ela entrou em Sua morte e ressurreição.
CRISTO COMO NOSSO SUBSTITUTO NA VIDA DA IGREJA
Em Marcos 14 o Senhor continuou a preparar os discípulos desfrutando o amor deles. Entrando numa casa composta de leprosos purificados, Ele desfrutou a festa e também a unção. A festa representava satisfação interior e o ungir representava derramar sobre o Senhor Jesus algo com doce aroma. Portanto na casa de Simão em Betânia o Senhor estava satisfeito e ungido. Ele não fora ungido por Deus, e sim por uma dentre os que O amavam.
Na casa de Simão em Betânia, o Senhor era o substituto de tudo. Além Dele, os que O amavam não tinham nada nem ninguém entre eles ou em volta deles; só tinham essa Pessoa maravilhosa, que era tudo para eles.
Comentamos que em Marcos 14:1-11 temos uma miniatura da vida da igreja. Em especial, temos uma miniatura da experiência de tomar Cristo como substituto todo-inclusivo. Portanto na vida da igreja, como retrata essa miniatura, temos Cristo como nosso substituto. Na vida da igreja, somos leprosos purificados por Ele e em nosso coração há espaço apenas para Ele. Em nosso interior, à nossa volta e conosco não há nada além do Senhor. Nós O tomamos como tudo, por meio de Sua morte e ressurreição.
No início desta mensagem dissemos que em Marcos 14:1-11 temos a fusão da conspiração dos opositores, o amor dos seguidores do Senhor Jesus e a trama de Judas para traí-Lo. Quanto à trama de Judas, Marcos 14:10-11 diz: “E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entregar Jesus. Eles, ouvindo-o, alegraram -se e prometeram dar-lhe dinheiro. E buscava ele como O entregaria em ocasião oportuna”. O dinheiro prometido a Judas eram trinta peças de prata, o valor de um escravo (Mt 26:15; Êx 21:32). Enquanto uma dentre os seguidores do Salvador-Servo expressava ao extremo seu amor para com Ele, outro estava para traí-Lo. Uma O apreciava e, ao mesmo tempo, outro O entregava.
UM SUBSTITUTO PARA A PÁSCOA
Como veremos, o Senhor instituiu a ceia com o pão e o cálice, que indicam Sua morte, ressurreição, o próprio Senhor e Sua expansão, isto é, Seu Corpo. O Senhor, Sua morte e ressurreição, e Sua expansão, por fim, resultarão no reino de Deus.
Marcos 14:12 diz: “No primeiro dia da festa dos Pães Asmos, quando imolavam a páscoa, disseram-Lhe Seus discípulos: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a páscoa?”. No calendário judaico, que era segundo a Escritura dos judeus, o dia começava ao anoitecer (Gn 1:5). Ao anoitecer do dia da última Páscoa, o Salvador-Servo primeiro comeu a Páscoa com os discípulos e lhes instituiu Sua ceia (Mc 14:12-25); depois foi com eles ao Jardim do Getsêmani no monte das Oliveiras (Mc 14:26-42). Foi preso ali e levado ao sumo sacerdote, onde foi julgado pelo Sinédrio, tarde da noite (Mc 14:43-72). Pela manhã, foi entregue a Pilatos para ser julgado por ele, e foi sentenciado à morte (Mc 15:1-15). Foi então levado ao Gólgota e ali crucificado às nove horas da manhã, permanecendo na cruz até as três da tarde (Mc 15:16-41), para cumprir a prefiguração da Páscoa (Êx 12:6-11).
De acordo com Marcos 14:13-16, o Senhor Jesus enviou dois discípulos e lhes disse que entrassem na cidade, onde iriam encontrar um homem carregando um cântaro com água. Eles deveriam segui-lo e, onde ele entrasse, deveriam dizer ao dono da casa: “O Mestre pergunta: Onde é o Meu aposento de hóspedes no qual comerei a páscoa com os Meus discípulos?”. Então ele lhes mostraria uma grande sala no andar superior, mobiliada e pronta; e ali eles fariam os preparativos. “Saíram os discípulos e vieram à cidade, e acharam tudo como Jesus lhes havia dito, e prepararam a páscoa.” (Mc 14:16).
Esse relato sobre a preparação da páscoa é misterioso. Ele nos faz lembrar a palavra do Senhor a dois discípulos a respeito do jumentinho, sobre o qual Ele montou para entrar em Jerusalém (Mc 11:1-6). Quem providenciou a grande sala no andar superior, mobiliou-a e aprontou? Em nenhum lugar da Bíblia podemos achar a resposta a essa pergunta. Isso talvez indique que a instituição da ceia do Salvador-Servo era misteriosa.
JUDAS ISCARIOTES
Nos versículos 19 e 20 lemos: “Eles começaram a entristecer-se e a perguntar-Lhe, um após outro: Porventura sou eu? E Ele lhes respondeu: É um dos doze, o que mete Comigo a mão no prato.” (Mc 14:19-20). Após ter sido desmascarado, Judas saiu (Jo 13:21-30), antes da ceia do Salvador-Servo (Mt 26:20-26). Ele não participou do corpo e do sangue do Salvador-Servo, pois não era crente de verdade, e sim filho da perdição (Jo 17:12), considerado pelo Salvador-Servo como diabo (Jo 6:70-71). Lucas 22:21-23 parece indicar que Judas saiu depois da ceia do Senhor, o que é mencionado em Lucas 22:19-20. Entretanto o registro de Marcos, como o de Mateus, mostra que Judas Iscariotes foi identificado pelo Salvador-Servo como traidor (Mc 14:18-21), antes da instituição de Sua ceia (Mc 14:22-24). O registro de Marcos é segundo a seqüência histórica, ao passo que o de Lucas é segundo a moral. A seqüência do registro de Mateus combina com a de Marcos.
LEMBRAR-SE DO SALVADOR-SERVO
Essa nova festa do novo testamento visa à memória do Salvador-Servo, comendo-se o pão, que representa Seu corpo dado em favor dos crentes (1Co 11:24), e bebendo-se o cálice, que representa Seu sangue derramado em favor dos pecados deles (Mt 26:28). O pão denota vida (Jo 6:35), a vida de Deus, a vida eterna; e o cálice denota bênção (1Co 10:16), que é o próprio Deus como porção dos crentes (Sl 16:5). Como pecadores, os crentes deveriam ter tomado o cálice da ira de Deus como porção (Ap 14:10). Mas o Salvador-Servo o bebeu por eles (Jo 18:11) e Sua salvação tornou-se-lhes a porção, o cálice da salvação que transborda (Sl 116:13; 23:5), cujo conteúdo é Deus como bênção todo-inclusiva dos crentes. Esse pão e cálice são os elementos que constituem a ceia do Salvador-Servo, que é uma mesa (1Co 10:21), uma festa, preparada por Ele para que os crentes se lembrem Dele desfrutando-O como tal festa. Assim, à medida que se lembram Dele, exibem Sua morte redentora e transmissora de vida (1Co 11:26 — o sangue separado do corpo anuncia Sua morte), testificando a todo o universo Sua rica e maravilhosa salvação.
O SANGUE DA ALIANÇA
Em Marcos 14:25, o Senhor Jesus prosseguiu: “Em verdade vos digo que de nenhum modo beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beba, novo, no reino de Deus”. Aqui Ele fala da manifestação do reino, no qual irá beber conosco após Sua vinda.
O versículo 26 é a conclusão da seção sobre a instituição da ceia do Salvador-Servo: “E, tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras”. Esse hino foi um louvor do Senhor com os discípulos ao Pai, após a mesa do Senhor.
TORNAR-SE O CORPO MÍSTICO DE CRISTO
O pão da mesa do Senhor é um símbolo, que representa Seu corpo partido por nós na cruz, para liberar Sua vida, a fim de que participemos dela. Participando dela, tornamo-nos o Corpo místico de Cristo, também representado pelo pão da mesa (1Co 12:27; 10:17). Assim, participando desse pão, temos a comunhão do Corpo de Cristo (1Co 10:16).
O Senhor Jesus foi partido na cruz a fim de liberar Sua vida. A liberação da vida do Senhor ocorre em ressurreição. Portanto partir é morte e liberar é ressurreição. Depois de quebrado na cruz, o Senhor Jesus foi capaz de liberar a vida divina de Seu interior a fim de que participemos dela. Participando dela, ou seja, desfrutando o pão, tornamo-nos o Corpo místico de Cristo, Sua expansão.
Como expansão, o Corpo místico de Cristo também é representado pelo pão sobre a mesa, mostrado em 1 Coríntios 10:17. Assim, participando desse pão, temos a comunhão do Corpo de Cristo.
O SANGUE, A ALIANÇA E O CÁLICE
Marcos 14:25 fala do fruto da vide. O fruto da vide, no cálice da mesa do Senhor, também é um símbolo. Representa o sangue do Senhor derramado na cruz por nossos pecados. Seu sangue foi exigido pela justiça de Deus para o perdão de nossos pecados (Hb 9:22).
Marcos 14:24 diz que o sangue do Senhor é o sangue da aliança. O sangue do Senhor, havendo satisfeito a justiça de Deus, promulgou a nova aliança, na qual Deus nos dá perdão, vida, salvação e todas as bênçãos espirituais, celestiais e divinas. Quando essa nova aliança nos é dada, ela é um cálice (Lc 22:20), uma porção para nós. O Senhor Jesus derramou o sangue, Deus estabeleceu a aliança e nós desfrutamos o cálice, no qual Deus e tudo o que é Dele são nossa porção. O sangue é o preço que o Senhor Jesus pagou por nós, a aliança é o título de propriedade que Deus fez para nós e o cálice é a porção que recebemos de Deus.
Com respeito à mesa do Senhor, temos o sangue, a aliança e o cálice. Com relação à ceia do Senhor, vemos um cálice sobre a mesa. Esse cálice é uma aliança e também se relaciona com o sangue. Portanto o sangue, a aliança e o cálice são um. O sangue é o preço pago por Cristo, a aliança é o título de propriedade de nossa herança e o cálice é a porção que recebemos e desfrutamos. Cristo pagou o preço, Deus fez a aliança e nós desfrutamos a porção.
OS DISCÍPULOS DESFRUTAM A MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR, O PRÓPRIO SENHOR E SEU CORPO MÍSTICO
Duvido que os discípulos tivessem clareza a respeito do significado da ceia do Senhor quando Ele a instituiu. Eles ouviram as palavras faladas por Ele, mas provavelmente não as entenderam. Segundo o que o Senhor Jesus profetizou no Evangelho de João, quando o Espírito da realidade veio, Ele os guiou a toda a realidade (Jo 16:13), inclusive a realidade da ceia instituída pelo Senhor. Então, certamente, se lembraram das palavras Dele. Talvez tenham dito: “Na noite em que o Senhor foi preso, Ele instituiu uma mesa com o pão e o cálice. Não entendemos o significado disso naquele momento. Agora sabemos que a intenção Dele era introduzir-nos na percepção plena de Sua morte todo-inclusiva, de Sua maravilhosa ressurreição, de Si mesmo e de Seu Corpo místico como Sua expansão”.
A PRODUÇÃO DO NOVO HOMEM
Hoje o Senhor Jesus ainda nos introduz na realidade de Sua mesa. Antes de entrar na morte, Ele instituiu a mesa com Sua morte, ressurreição, Consigo mesmo e Sua expansão, representados pelo pão partido e o cálice. O pão representa Seu Corpo místico. O sangue se tornou um cálice, como nossa porção da aliança feita por Deus e paga por Cristo. Semana após semana revemos essa história à mesa do Senhor.
Quando chegamos à mesa do Senhor, não celebramos uma comunhão religiosa ou uma missa. Pelo contrário, na mesa do Senhor temos a revelação de Sua morte, ressurreição, do próprio Senhor e Seu Corpo místico como Sua expansão. Ao participar de Sua morte e ressurreição, ao tomá-Lo como nosso substituto todo-inclusivo, Ele se torna tudo para nós a fim de produzir o novo homem, que, por fim, se tornará o reino de Deus. Quando esse processo se completar, o Senhor Jesus voltará para receber esse novo homem e ter o reino. Que todos ganhemos essa visão maravilhosa!
VALORIZAR A PRECIOSIDADE DO SENHOR
Por séculos, muito tem sido dito a respeito da festa preparada por Simão para mostrar seu amor pelo Senhor Jesus. Nessa festa, uma mulher O ungiu para mostrar seu amor. Muitas mensagens foram dadas sobre esse fato em Marcos 14. Contudo é muito mais difícil penetrar nas profundezas do significado da mesa do Senhor. Essa questão é muito profunda, muito além do que a mente humana consegue entender. O significado da festa preparada por um discípulo é superficial, comparado ao significado da mesa do Senhor. Na festa preparada pelos discípulos, temos a valorização da preciosidade, dignidade e amabilidade do Senhor. Simão, o leproso, uma vez purificado pelo Senhor, preparou essa festa como expressão de seu apreço pela misericórdia, graça e preciosidade do Senhor. Ungir o Senhor também foi expressão do apreço por Sua amabilidade e dignidade. Contudo nessas questões pouco pode ser considerado profundo. Parece que nada que seja iniciado por nós tem muita profundidade.
UM SÍMBOLO DA ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
O Pão e o Cálice:
Quando instituiu Sua ceia, “tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, dizendo: Tomai; isto é o Meu corpo.” (Mc 14:22). Então tomou o cálice, deu-lhes e disse: “Isto é o Meu sangue da aliança, que é derramado por muitos.” (v. 24). Portanto a mesa do Senhor inclui um pão e um cálice. Segundo o uso bíblico, pão representa vida. O Senhor Jesus disse: “Eu sou o pão da vida.” (Jo 6:35). Isso indica que, na Bíblia, pão é vida. Além disso, segundo o uso bíblico, o cálice representa uma porção de bênção. Assim o cálice é chamado de o cálice da bênção. O pão é de vida e o cálice é de bênção.
Certamente a vida é a vida divina e a bênção é a bênção divina. Na verdade, tanto a vida como a bênção são o Deus Triúno, o próprio Deus em Cristo, mediante o Espírito. Você sabe o que é vida eterna? É o Deus Triúno. Você sabe o que é a bênção divina? Também é o Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito Santo). Assim tanto a vida divina como a bênção divina são, na verdade, o próprio Deus Triúno.
O Deus Triúno Torna-Se Nossa Vida e Bênção:
Como o Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito) pode tornar-Se nossa vida e bênção? Não é simples o fato de algo tornar-se nossa vida. Por exemplo, a comida que comemos e digerimos torna-se nosso suprimento de vida. Para que algo se tome nossa vida ou suprimento de vida, ele precisa ser orgânico. Se você engolir uma pedra, ela não poderá tornar-se seu suprimento de vida, pois não é viva nem orgânica. Somente algo orgânico pode ser digerido e então assimilado para se tornar nosso suprimento de vida. De forma similar, para que o Deus Triúno seja nosso suprimento de vida e até mesmo nossa vida, Ele deve entrar em nós a fim de ser digerido e assimilado. Por certo, o Deus Triúno é vivo e orgânico.
De acordo com o capítulo 6 do Evangelho de João, Cristo é o pão, o pão da vida, para que comamos. O Senhor Jesus disse: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá eternamente.” Então Ele prosseguiu: “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim, quem Me come, também viverá por causa de Mim.” (Jo 6:51, 57). Qualquer crente que coma o Senhor Jesus como pão da vida viverá por Ele. Quando comemos esse pão da vida, Ele entra em nós para ser digerido e assimilado organicamente. Essa é a única maneira pela qual o Deus Triúno pode tornar-se nossa vida. O Deus Triúno se torna nosso suprimento de vida e nossa vida, entrando em nós organicamente para ser assimilado nas próprias fibras de nosso ser espiritual.
Lembrar do Senhor Comendo-O:
De acordo com Lucas 22:19, o Senhor Jesus disse: “Isto é o Meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de Mim”. Esse versículo fala de nos lembrar do Senhor Jesus. Por anos eu me lembrei do Senhor à Sua mesa, apenas concentrando-me na Sua encarnação, vida de sofrimentos, morte e ressurreição. Ninguém me havia dito que a maneira adequada de se lembrar do Senhor Jesus é comê-Lo. O verdadeiro lembrar-se do Senhor é comer do pão e beber do cálice (1Co 11:24, 26), isto é, participar e desfrutar do Senhor que Se deu por nós mediante Sua morte redentora. Comer o pão e beber o cálice é ingerir o Senhor redentor como nossa porção, como nossa vida e bênção. Isso é lembrar-se Dele de forma autêntica.
O PROFUNDO SIGNIFICADO DE COMER O PÃO E BEBER O CÁLICE DA MESA DO SENHOR
O pão sobre a mesa não é para ser analisado, nem apenas para se pensar nele; é para ser ingerido, comido, como suprimento de vida. Esse pão deve ser digerido e assimilado para tornar-se nosso ser. Isso é de profundo significado.
Comer o pão da mesa do Senhor indica que o Senhor entra em nós como nosso suprimento de vida, e então verdadeiramente Ele se torna nossa Pessoa. Se considerarmos a questão do comer, perceberemos que a comida que ingerimos por fim se tornará nossa pessoa. Podemos dizer não apenas que a comida se torna nós, mas até mesmo que nós nos tornamos a comida. Não apenas há união orgânica entre nós e a comida que comemos, digerimos e assimilamos; como também somos mesclados com ela.
É um erro sério dizer que a mescla não é bíblica. Como é que alguém pode negar o fato de que somos mesclados com o que comemos, digerimos e assimilamos? Na verdade, assimilar comida em nosso ser vai além da mescla. Não temos palavras para descrever isso. Contudo realmente sabemos que somos mesclados de forma profunda com o que comemos. De forma semelhante, quando ingerimos o Deus Triúno (Pai, Filho e Espírito Santo) como nossa comida, somos de fato mesclados com Ele. Para que se torne nossa vida, o que comemos deve estar mesclado conosco. O princípio é o mesmo quando ingerimos o Deus Triúno como nosso alimento.
Já enfatizamos que ingerir envolve muito mais do que união orgânica entre nós e a comida. Na verdade comer, digerir e assimilar envolvem uma mescla intrínseca da comida com nosso ser. O que comemos, na verdade, torna-se parte de nós, portanto não é apenas uma mescla, mas também é um tornar-se. A comida que digerimos e assimilamos se torna parte de nosso ser. Por essa razão, depois de digerida totalmente e assimilada, é impossível localizá-la em nós, porque se tornou parte de nós. Usamos a assimilação da comida para ilustrar o profundo significado de comer o pão da mesa do Senhor.
Um Quadro do Senhor:
Vimos que o cálice da mesa do Senhor representa Seu sangue. No Antigo Testamento era proibido beber o sangue (Gn 9:4; Lv 17:10). Na economia de Deus só há um sangue bom para beber: o sangue do Senhor Jesus. Em princípio, beber o sangue é o mesmo que comer o pão; o que bebemos nos satura e se torna nosso ser.
Um Quadro do Sangue do Senhor Separado de Seu Corpo:
O corpo do Senhor Jesus é representado pelo pão e o Seu sangue é simbolizado pelo cálice com seu conteúdo. Aqui temos um quadro do sangue do Senhor separado de Seu corpo. Essa separação significa morte. Assim em 1ª Coríntios 11:26 Paulo diz: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”. A palavra grega traduzida como anunciar significa proclamar, declarar, demonstrar a morte do Senhor. Tomar a ceia do Senhor é anunciar e mostrar a morte do Senhor.
Para que o Senhor Jesus se tornasse nossa comida, entrando em nós como suprimento de vida, foi necessário Ele passar pela morte. Se não tivesse sido crucificado, Ele não poderia tornar-se nossa comida.
Muitos alimentos que comemos diariamente precisam primeiro ser levados à morte. Por exemplo, antes que se possa comer frango, ele precisa ser morto. Comer frango requer a morte dele. Da mesma maneira, a fim de que pudéssemos comê-Lo, o Senhor Jesus tinha de morrer. Sempre que comemos o pão e bebemos o cálice da mesa do Senhor, declaramos Sua morte.
EXPERIMENTAR A RESSURREIÇÃO INTERIOR
O PLENO CRESCIMENTO DO NOVO HOMEM
No capítulo 4 de Marcos temos a semente do reino, mas por fim teremos o pleno desenvolvimento do reino, sua manifestação. O pleno desenvolvimento do reino será o pleno crescimento do novo homem. Isso significa que, por fim, o novo homem será o reino de Deus.
Ademais, o reino de Deus certamente não é uma organização. Não! Em sua totalidade, o reino de Deus é um organismo, o novo homem, produzido por meio de Cristo substituindo-nos mediante Sua morte e ressurreição. Que maravilhoso! Se virmos isso, perceberemos que, ao instituir Sua ceia em Marcos 14, o Senhor Jesus estava preparando os discípulos para receber Sua morte e ressurreição.
O SENHOR ADVERTE OS DISCÍPULOS
Quando Pedro ouviu a palavra do Senhor Jesus a respeito de os discípulos tropeçarem, disse-Lhe: “Ainda que todos venham a tropeçar, eu não!” (Mc 14:29). Então, também como parte da preparação dos discípulos para Sua morte, Ele prosseguiu dizendo a Pedro: “Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu Me negarás três vezes”. No grego, o vocábulo traduzido como negar é um verbo composto que quer dizer negar completamente. Assim também nos versículos 31 e 72. Mas Pedro, sendo particularmente rude, confiante e ousado, disse enfaticamente: “Ainda que me seja necessário morrer Contigo, de nenhum modo Te negarei. E todos também diziam o mesmo.” (Mc 14:31).
OROU NO GETSÊMANI
O Senhor Jesus disse a Pedro, Tiago e João: “A minha alma está profundamente triste, até a morte. Ficai aqui e vigiai. E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra, e orava para que, se fosse possível, passasse Dele aquela hora”. A tristeza do Salvador-Servo e Sua oração no versículo 35 são iguais às de João 12:27. Ali Ele disse ter vindo para essa hora; isto é, sabia que a vontade do Pai era que Ele morresse na cruz para o cumprimento do plano eterno de Deus.
Segundo o versículo 36, o Senhor Jesus orou: “Aba, Pai, tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice; contudo, não seja o que Eu quero, e, sim, o que Tu queres”. Na eternidade passada, o Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) determinou em Seu plano divino que o Segundo da Trindade Divina se encarnaria e morreria na cruz para realizar Sua redenção eterna, cumprindo assim Seu eterno propósito (Ef 1:7-9). Portanto, antes da fundação do mundo, isto é, na eternidade passada (1Pe 1:19-20), foi determinado que o Segundo da Trindade Divina seria o Cordeiro de Deus (Jo 1:29); e aos olhos de Deus, Ele foi imolado como tal desde a fundação do mundo, ou seja, desde que Deus fez as criaturas, as quais se tornaram caídas (Ap 13:8). A partir da queda do homem, cordeiros, ovelhas, bezerros e touros foram usados como tipos em favor do povo escolhido de Deus (Gn 3:21; 4:4; 8:20; 22:13; Êx 12:3-8; Lv 1:2), apontando para Aquele que viria como o verdadeiro Cordeiro determinado de antemão por Deus. Na plenitude dos tempos, o Deus Triúno enviou o Segundo da Trindade, o Filho de Deus, que se encarnou, assumindo um corpo humano (Hb 10:5) para oferecer-Se a Deus na cruz (Hb 9:14; 10:12), a fim de fazer a vontade do Deus Triúno (Hb 10:7), a saber, substituir os sacrifícios e ofertas, que eram prefigurações, por Ele mesmo em Sua humanidade, como sacrifício e oferta singulares pela santificação dos escolhidos de Deus (Hb 10:9-10). Em Sua oração aqui, imediatamente anterior à Sua crucificação, Ele Se preparou para tomar o cálice da cruz (Mt 26:39, 42), disposto a fazer essa vontade singular do Pai para a consumação do plano eterno do Deus Triúno.
No versículo 38, o Senhor Jesus exortou os três discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito está disposto, mas a carne é fraca.” (Mc 14:38). A palavra grega traduzida por disposto, também pode ser traduzida por pronto. Em coisas espirituais o espírito sempre está pronto, disposto, mas a carne é fraca.
EXPÕE NOSSA SITUAÇÃO
A instituição da mesa do Senhor revela Sua morte, ressurreição, o próprio Senhor e Sua expansão, Seu Corpo místico. Logo após essa revelação, Pedro e os outros discípulos foram expostos. Seu homem natural, ego, teimosia, mente e pensamentos foram todos expostos. Embora tenham experimentado a instituição da mesa do Senhor, não perceberam quanto estavam em si mesmos e quanto agiam segundo o conceito natural. Assim o Senhor Jesus os expôs. Essa exposição é a prática de ser introduzido na morte do Senhor.
INTRODUZIDOS NA MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Embora tenha negado o Senhor, Pedro não desistiu; pelo contrário, prosseguiu para entrar na ressurreição do Senhor.
Talvez você se pergunte que indicação há no Evangelho de Marcos de que Pedro entrou na ressurreição de Cristo. Considere a palavra do anjo às mulheres que vieram ao túmulo na madrugada do dia da ressurreição do Senhor: “Não vos espanteis; buscais a Jesus, o Nazareno, o crucificado. Ele ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde O puseram. Mas ide, dizei aos Seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis, como Ele vos disse.” (Mc 16:6-7). Aqui vemos que o anjo especificamente cita Pedro. Isso indica que ele foi introduzido na ressurreição de Cristo.
Não devemos ler Marcos como um livro de histórias. Precisamos ganhar a revelação contida nele. Marcos revela que o Senhor Jesus não tinha a intenção de passar pela morte e ressurreição sozinho, pelo contrário, Sua intenção era introduzir Seus seguidores com Ele. Se ganharmos essa revelação, teremos a certeza de que, como O amamos, Ele nos fará passar por Sua morte e nos introduzirá em Sua ressurreição.
Quando chegamos ao final de Marcos, vemos que todos os seguidores do Senhor Jesus foram introduzidos não apenas em Sua morte e ressurreição, como também em Sua ascensão. Em ascensão foram enviados para pregar o evangelho aos confins da terra. Louvado seja o Senhor, os discípulos foram introduzidos em Sua morte, ressurreição e ascensão!
EXPOSIÇÃO E CRUCIFICAÇÃO
Após advertir os discípulos a respeito de tropeçar, o Senhor Jesus conduziu três deles (Pedro, Tiago e João) ao Getsêmani e lhes disse: “Ficai aqui e vigiai.” (Mc 14:34). Contudo, quando chegou até eles, achou-os dormindo e disse a Pedro: “Simão, tu dormes? não foste capaz de vigiar nem por uma hora?” (v. 37). Pedro, o líder dos discípulos, tomou a liderança em dormir; não tinha forças para nada, exceto dormir.
Pedro também se portou naturalmente quando o Senhor Jesus foi preso. Ele puxou da espada e “feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha.” (Mc 14:47). Pedro novamente causou problemas. Enquanto era preso, o Senhor ainda precisou fazer um milagre para curar a orelha do escravo do sumo sacerdote (Lc 22:50-51).
De acordo com Marcos 14:66-72 Pedro negou completamente o Senhor Jesus. Uma das criadas do sumo sacerdote lhe disse: “Tu também estavas com o nazareno, Jesus.” (v. 67). Pedro, porém, o negou, dizendo: “Não sei nem compreendo o que dizes.” (v. 68). Logo em seguida Pedro negou o Senhor Jesus mais duas vezes. Com essa exposição, Pedro foi posto na cruz. O Senhor Jesus foi crucificado e Pedro também. Sua exposição foi sua crucificação.
UMA REPRODUÇÃO DE CRISTO
O relato de Marcos mostra que Pedro passou por longo processo para se tornar uma reprodução de Cristo. Esse processo se iniciou no capítulo um, quando Pedro,, um pescador, foi chamado pelo Senhor Jesus. Depois de chamá-lo, o Senhor o introduziu num processo que durou mais de três anos. Como resultado, no dia de Pentecostes, ele era alguém introduzido na morte, ressurreição e ascensão de Cristo.
Talvez naquele momento Pedro pudesse entender o significado da mesa do Senhor. O Senhor tinha instituído a mesa como parte de Sua preparação dos discípulos, como parte do processo de introduzi-los na plena percepção de Sua morte e ressurreição.
Precisamos ver que a intenção do Senhor Jesus é introduzir-nos em Sua morte e ressurreição, por meio das quais podemos desfrutá-Lo como nosso substituto. Ao desfrutá-Lo como nosso substituto, Ele se torna a nossa Pessoa e nós nos tornamos um com Ele. O resultado é que nos tornamos Sua reprodução, Sua cópia. Essa é a visão que nos é transmitida no Evangelho de Marcos.
A ECONOMIA DE DEUS PARA PRODUZIR O NOVO HOMEM
Primeiro Cristo substitui todas as coisas velhas do judaísmo. Nos capítulos nove e treze vimos que Ele substitui Moisés e Elias e também o templo. Além disso, Ele substitui as coisas do mundo gentio: cultura, costumes, hábitos e a velha maneira de viver.
Por Cristo ser tal substituto, o conflito é inevitável. Contudo esse conflito tem um propósito positivo. Por meio dele somos levados à morte e introduzidos na ressurreição. Isso significa que, por fim, tudo o que o inimigo poderá fazer com perseguição e conflito apenas ajuda a liberar o fluir da vida de ressurreição. Aleluia pelo fluir que produz o novo homem, que se tornará o reino de Deus! Esse novo homem é produzido por meio da morte e ressurreição de Cristo. Por meio da morte e ressurreição do Senhor nós O desfrutamos como substituto todo-inclusivo e universal para produzir o novo homem.
CRISTO ESTAVA PREPARADO PARA MORRER
Enquanto ainda estava na Galiléia, o Senhor Jesus sabia que Lhe era necessário ir a Jerusalém a fim de ser morto no dia da Páscoa. Após ir a Jerusalém, Ele preparou o ambiente, os discípulos e até mesmo os opositores para Sua morte. Os opositores conspiravam para matá-Lo. Marcos 14:1 diz que os principais sacerdotes e os escribas procuravam como O prenderiam por astúcia e O matariam. Eles diziam: “Não durante a festa, para que não haja tumulto da parte do povo.” (v. 2). Contudo, para cumprir a prefiguração do cordeiro pascal, Ele foi crucificado no dia da Páscoa, embora os opositores procurassem evitá-Lo. O próprio Senhor preparou tudo o que foi necessário para ser morto no tempo certo. Na última festa da Páscoa, Ele disse aos discípulos que um deles iria traí-Lo: “Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come Comigo, Me trairá.” (v. 18). Então Judas foi exposto. A despeito de quão maligno Judas fosse, pois ainda era ser humano, ele tinha vergonha de permanecer com o Senhor e os discípulos. Depois que saiu, Judas foi ao sumo sacerdote e liderou uma multidão ao lugar onde prenderam o Senhor Jesus.
Uma vez que Judas tinha saído, o Senhor Jesus instituiu Sua ceia. Ele sabia que em poucas horas seria preso, julgado, sentenciado à morte e crucificado. Depois de instituir Sua ceia, o Senhor conduziu os discípulos para um jardim. Ele foi ao melhor lugar para ser preso. Isso mostra que Ele se apresentou aos que O prenderam.
CRISTO FEZ A VONTADE DE DEUS
Se quisermos saber qual é a vontade de Deus nesse versículo, precisamos considerar Hebreus 10, onde nos é dito que o Senhor Jesus veio para fazer a vontade de Deus. Geralmente as pessoas pensam que isso quer dizer que Ele veio para fazer todas as coisas de acordo com a vontade de Deus, de maneira geral. Mas, pelo contexto de Hebreus 10, vemos que a vontade específica de Deus é a substituição das ofertas. A vontade de Deus era enviar Cristo à terra para ser o substituto das ofertas.
No Antigo Testamento havia muitas ofertas ou sacrifícios. Deus enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para substituir todas elas. Essa era a vontade de Deus e o Senhor Jesus sabia disso. Por isso é que orou assim: “Não seja o que Eu quero, e, sim, o que Tu queres”. Depois da oração no Getsêmani, o Senhor Jesus estava pronto para ser preso, julgado, sentenciado e levado à morte. Tudo e todos tinham sido preparados, e Ele tinha feito uma oração completa ao Pai, por meio da qual tinha a confirmação de que era a vontade de Deus que Ele morresse, a fim de substituir todas as ofertas. Portanto, depois da oração, Ele estava pronto para ser preso pelos principais sacerdotes, anciãos e escribas.
PRESO E JULGADO
Marcos 14:53-15:15 descreve como o Salvador-Servo foi julgado. Primeiro foi julgado pelos líderes judeus, representando os judeus (Mc 14:53-64). Depois foi julgado pelo governo romano representando os gentios (Mc 15:1-15).
Marcos 14:53 diz: “E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas”. O Salvador-Servo foi preso como salteador (Mc 14:48) e levado ao matadouro como cordeiro (Is 53:7).
Em Marcos 14:55-60 vemos que o Senhor Jesus não disse nada em resposta aos que davam falso testemunho contra Ele. “Ele, porém, guardava silêncio, e nada respondeu. Tornou a interrogá-Lo o sumo sacerdote, e Lhe disse: És Tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” (Mc 14:61). O estonteado sumo sacerdote da religião tradicional, a qual abandonara a Deus e fora por Ele abandonada, chamou a Deus de “Bendito” para mostrar quanto O reverenciava e honrava. Com respeito à Sua conduta, o Salvador-Servo não quis responder às falsas acusações dos que procuravam Nele algum defeito; entretanto, em relação à Sua Pessoa divina, Sua deidade, Ele não ficou calado, mas no versículo 62 respondeu categórica e definitivamente, asseverando Sua deidade em Sua humanidade ao declarar que, como Filho do Homem, se assentaria à direita de Deus.
Os versículos 63 e 64 dizem: “E o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: Que necessidade ainda temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece? E todos O condenaram como réu de morte”. Quando o Salvador-Servo afirmou Sua, deidade, os opositores cegos O condenaram, considerando-O blasfemo, não percebendo que eles é que, na verdade, blasfemavam contra Deus, que era exatamente Aquele a quem difamavam e escarneciam naquele momento. O versículo 65 diz: “Alguns começaram a cuspir Nele, a cobrir-Lhe o rosto, a dar-Lhe murros e a dizer-Lhe: Profetiza! E os serventuários O tomaram a bofetadas”. Esse foi o extremo desprezo e rejeição que os judeus demonstraram para com o Salvador-Servo, como foi profetizado em Isaías 53:3.
ENTREGUE A PILATOS
SENTENCIADO PARA SER CRUCIFICADO
A pena de morte dos judeus era por apedrejamento (Lv 20:2, 27; 24:14; Dt 13:10; 17:5). A crucificação era uma prática pagã (Ed 6:11), adotada pelos romanos somente para a execução de escravos e criminosos atrozes. A crucificação do Senhor Jesus não foi apenas o cumprimento das profecias do Antigo Testamento (Dt 21:23; GI3:13; Nm 21:8-9), mas também da própria palavra do Senhor sobre a maneira como morreria (Jo 3:14; 8:28; 12:32). Nada disso poderia cumprir-se por apedrejamento.
Em Marcos 14:43-15:15 temos um relato da experiência do Senhor Jesus e da experiência de Pedro. Essas experiências aconteciam ao mesmo tempo. Enquanto o Senhor Jesus era julgado, Pedro também o era. O fato de o Senhor Jesus ter sido julgado tanto pelos líderes judeus como pelo governador romano é um categórico indício de que Ele foi posto à prova pelo mundo inteiro. Foi julgado pelos judeus de acordo com a lei deles e pelos gentios de acordo com a lei romana.
Naturalmente o Senhor Jesus não tinha motivo para ser julgado; Pedro, contudo, foi exposto como quem estava completamente errado. O relato no Evangelho de Marcos funde o julgamento do Senhor Jesus pelos judeus e gentios com a exposição e o julgamento de Pedro. Precisamos ver que tanto Pedro como o Senhor Jesus foram crucificados. Podemos dizer que Pedro foi ordenado e designado para ser nosso representante.
Tudo o que aconteceu relacionado com a crucificação de Jesus foi o cumprimento dos tipos ou profecias do Antigo Testamento. Já ressaltamos que, como cumprimento do tipo do cordeiro pascal, o Senhor Jesus foi crucificado no dia da Páscoa. Ele foi preso à noite. Segundo o calendário judaico, o dia não começa de manhã, mas à noite. O Senhor Jesus participou da festa da Páscoa ao entardecer do dia da Páscoa. Isso quer dizer que Ele a comeu no início do dia da Páscoa, e daí instituiu Sua ceia e foi ao Getsêmani para orar.
Tarde da noite, o Senhor Jesus foi preso, conduzido ao pátio do sumo sacerdote e julgado. Então pela manhã foi levado a Pilatos. Foi bem cedo pela manhã que Ele foi sentenciado à morte. Imediatamente depois de ter sido sentenciado, foi levado ao Gólgota e, a partir das nove horas da manhã, foi crucificado.
Os opositores do Senhor não deram ao povo nenhuma oportunidade de fazer nada contra eles. Eles O prenderam secretamente, e Ele cooperou com eles. Ele foi propositadamente ao Getsêmani, e Judas sabia que Ele estaria lá. Assim, tarde da noite, enquanto as pessoas dormiam, Judas liderou uma multidão para o Getsêmani a fim de prender o Senhor. De maneira rápida, sem que as pessoas soubessem de nada, o Senhor foi julgado pelos líderes judeus; depois foi julgado por Pilatos e sentenciado à morte. A fim de satisfazer a multidão, Pilatos rapidamente tomou a decisão de crucificá-Lo.
O FILHO DO HOMEM
Em Marcos 14:62, o Senhor Jesus parecia dizer aos líderes judeus: “Vocês Me perguntam se sou o Cristo, o Filho do Bendito; Eu digo: Sim, Sou. Também Sou o Filho do Homem, e vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Poder. Vocês falam do Bendito, mas Eu falo do Poder”.
Tanto “Bendito” no versículo 61, como “Poder” no versículo 62, referem-se ao Deus Todo-Poderoso. O fato de o Senhor usar a palavra “Poder”, indica que os líderes judeus não eram o governo, mas Ele é o governo. Ele ainda lhes mostrou que voltaria como o Filho do Homem. Ele também parecia dizer: “Vocês reverenciam Deus como Bendito, mas Eu lhes digo: Ele é o Poder para governar todas as coisas. Vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vindo com as nuvens do céu”.
Quando examinava o Senhor Jesus, Pilatos não se importou se Ele era ou não o Filho de Deus; antes, interrogou-O: “És Tu o Rei dos judeus?” (Mc 15:2). A essa pergunta o Senhor respondeu: “Tu o dizes”. Isso quer dizer que Ele admitiu para Pilatos ser o Rei dos judeus. Portanto Ele era tanto o Filho de Deus como o Rei dos judeus. Devido a isso, foi sentenciado à morte. Isso significa que foi crucificado como o Filho de Deus e como o Rei dos judeus.
PASSAR PELO PROCESSO DE MORTE
Não devemos pensar que o Senhor Jesus tenha cortado relações com Pedro devido à sua falha. Não, a falha de Pedro foi sua crucificação, e essa crucificação foi a entrada na morte do Senhor.
Pedro precisava ser crucificado, a fim de ser introduzido na morte de Cristo, porque era muito natural. Como alguém ousado, ele sempre tomava a liderança. Certamente é necessário que tal pessoa seja eliminada, e Pedro foi, de fato, eliminado. Embora não o percebesse naquele momento, ele entrou na morte do Senhor. Sem dúvida, mais tarde, após a ressurreição e ascensão do Senhor, Pedro se deu conta que entrara na crucificação do Senhor.
Por anos eu não entendia porque o registro do julgamento do Senhor se fundia com o relato da experiência de Pedro. Eu pensava que era apenas uma exposição de Pedro, mas agora vejo que Pedro não apenas estava sendo exposto, mas passava pelo processo de morte com o Senhor Jesus. Como Pedro é nosso representante, isso significa que todos entramos na morte do Senhor e com Ele. O Senhor Jesus passou pela morte de forma triunfante, mas Pedro, na forma de fracasso. Essa falha expôs seu ser natural e fez com que fosse crucificado.
O Senhor Jesus não foi o único que passou pelo processo de morte, mas todos nós, representados por Pedro, passamos por esse processo com Ele. Você não pensa que é um Pedro? Todos somos Pedros necessitando ser expostos, julgados e crucificados.
O ESCÁRNIO SOFRIDO PELO SALVADOR-SERVO
Marcos 15:16 diz: “E os soldados levaram Jesus para dentro do pátio, que é o pretório, e convocaram toda a coorte”. O pretório era a residência oficial do governador. O versículo 17 diz: “Vestiram-No de púrpura e, tecendo uma coroa espinhosa, puseram-Lha na cabeça.” (Mc 15:17). Espinhos são símbolo de maldição (Gn 3:17-18). O Senhor Jesus se tornou maldição por nós na cruz (Gl 3:13). Em Marcos 15:17 uma coroa espinhosa, que representa realeza, foi usada como escárnio do Salvador-Servo (Mc 15:20).
Nos versículos 18 e 19, os soldados continuaram o escárnio do Senhor Jesus: “E começaram a saudá-Lo: Salve, Rei dos judeus! Batiam-Lhe na cabeça com um caniço, cuspiam Nele e, pondo-se de joelhos, O adoravam”. Depois de a terem escarnecido, “despiram-Lhe a púrpura, vestiram-Lhe as Suas vestes e O levaram para fora a fim de crucificá-Lo.” (Mc 15:20). O Senhor aqui, como Cordeiro pascal que seria sacrificado por nossos pecados, foi levado como cordeiro ao matadouro, cumprindo a profecia de Isaías 53:7-8.
CRUCIFICADO NO GÓLGOTA
O versículo 21 diz: “E obrigaram a certo Simão, cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-Lhe a cruz.” (Mc 15:21). Cirene era uma cidade colonial grega, capital da Cirenaica, no norte da África. Parece que Simão era um judeu cireneu.
De acordo com o versículo 22, “levaram-No ao lugar chamado Gólgota, que, traduzido, significa: Lugar da Caveira”. Gólgota é uma palavra hebraica (Jo 19:17) que significa caveira. Seu equivalente em latim é Calvaria, donde vem a palavra Calvário [em português] (Lc 23:33). Não significa lugar de caveiras, mas simplesmente caveira.
O versículo 23 diz: “Davam-Lhe vinho misturado com mirra; mas Ele não o tomou”. Esse vinho misturado com mirra e também com fel (Mt 27:34) era usado como bebida de efeito estupefaciente. Mas o Senhor não queria ficar estupefeito; Ele queria beber o cálice amargo até o fim.
O versículo 24 diz: “Então O crucificaram, e repartiram entre si as Suas vestes, lançando a sorte sobre elas, para ver o que levaria cada um” (Mc 15:24). O Senhor foi roubado ao extremo pelos pecadores, cumprindo o Salmo 22:18. Isso também desmascarou as trevas da política romana.
O versículo 25 diz: “Era a hora terceira, e O crucificaram”. A hora terceira equivale às nove horas da manhã.
MALTRATADO PELO HOMEM E JULGADO POR DEUS
Marcos 15:29-31 nos diz que os que passavam por ali “blasfemavam do Senhor Jesus, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o templo e em três dias o reedificas, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz! De igual modo, também os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo entre si, diziam: Salvou a outros, a Si mesmo não pode salvar-Se”. Os que blasfemaram do Senhor Jesus mudaram a Sua palavra: “Destruí [vós] este templo.” (Jo 2:19). Eles também disseram que Ele salvou outros, mas não podia salvar a Si mesmo. Se Ele tivesse salvado a Si mesmo, não nos poderia salvar.
De acordo com o versículo 33: “Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona”. A hora sexta correspondia ao meio-dia e a hora nona, às três da tarde. O Senhor padeceu na cruz desde a hora terceira, das nove da manhã, até a hora nona, às três da tarde. Ele sofreu na cruz por seis horas. Nas primeiras três horas sofreu a perseguição dos homens por fazer a vontade de Deus; nas últimas três horas, foi julgado por Deus para consumar nossa redenção. Foi nessa hora que Deus O considerou como nosso Substituto, que sofreu por nosso pecado (Is 53:10). Houve trevas sobre toda a terra, pois nosso pecado e pecados e todas as coisas negativas eram julgados ali; e por causa de nosso pecado Deus O desamparou (Mc 15:34).
Em Marcos 15:16-32 vemos como o Salvador-Servo foi maltratado pelo homem. Ele foi escarnecido, batido, blasfemado e crucificado. Todas essas foram ações de Seus perseguidores.
O versículo 33 diz que na hora sexta houve trevas sobre toda a terra. Exatamente ao meio-dia houve trevas sobre toda a terra e permaneceram até a hora nona, às três da tarde. Essas trevas foram causadas por Deus e eram indício de que Ele viera julgar o que estava pendurado na cruz.
Vimos que o Salvador-Servo permaneceu na cruz por seis horas, das nove às quinze horas. As primeiras três horas foram o período da perseguição do homem. Podemos dizer que nessas horas o Senhor Jesus era mártir. Então, ao meio-dia, quando houve trevas sobre toda a terra, Deus interferiu. Essas trevas eram sinal do juízo de Deus sobre o pecado. Enquanto nas primeiras três horas de crucificação o homem perseguiu o Salvador-Servo, Deus entrou nas segundas três horas a fim de julgar Cristo como nosso Substituto. Foi nessas três horas que Deus pôs sobre Ele todos os nossos pecados e O considerou pecador como nosso Substituto. Portanto, nas primeiras três horas de crucificação, o Senhor Jesus foi mártir, mas, nas segundas três horas, Ele era o Redentor. Como mártir Ele sofreu perseguição sob a mão do homem e como nosso Redentor sofreu juízo por nós sob a mão de Deus. As trevas eram símbolo de que Deus interferiu para julgar Cristo como nosso Substituto por nossos pecados.
Marcos 15:34 diz: “À hora nona clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, significa: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”. Cristo foi desamparado por Deus na cruz porque tomou o lugar dos pecadores (1Pe 3:18), carregando nossos pecados (1Pe 2:24; Is 53:6) e sendo feito pecado por nós (2Co 5:21).
Os versículos 35 e 36 continuam: “E alguns dos que estavam presentes, ouvindo isso, diziam: Eis que chama por Elias. E um deles correu e molhou uma esponja em vinagre e, colocando-a num caniço, dava-Lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-Lo.” (Mc 15:35-36). Esse vinagre foi oferecido ao Senhor para matar Sua sede (Jo 19:28-30), mas foi oferecido de forma escarnecedora (Lc 23:36).
O vinho misturado com fel e mirra, em Mateus 27:34; Marcos 15:23, foi oferecido ao Senhor antes de Sua crucificação como bebida estupefaciente, que Ele não quis beber. Mas o vinagre em Marcos 15:36 foi-Lhe oferecido no fim da crucificação com escárnio.
O versículo 37 diz: “E Jesus, dando um grande brado, expirou.” (Mc 15:37). Isso quer dizer que o Senhor Jesus deixou de respirar. Mateus 27:50 nos diz que nesse momento o Senhor Jesus clamou em alta voz e “entregou o espírito”. Isso quer dizer que o Senhor Jesus rendeu Seu espírito (Jo 19:30), indicando que o Senhor Jesus voluntariamente entregou a vida.
O VÉU DO TEMPLO RASGOU-SE EM DUAS PARTES
Depois que o Senhor Jesus expirou: “O véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo.” (Mc 15:38). Isso significa que a separação entre Deus e o homem foi abolida, porque a carne do pecado (representada pelo véu) assumida por Cristo (Rm 8:3) foi crucificada (Hb 10:20). O fato de o véu se rasgar de alto a baixo indica que foi obra de Deus desde as alturas. O templo tinha vinte côvados (cerca de 9 metros) de altura, teria sido impossível ao homem rasgar o véu de alto a baixo, foi Deus que rasgou aquele véu.
O véu no templo era sinal da carne da qual Cristo se tinha revestido. O rasgar do véu indica que a humanidade tomada por Cristo fora crucificada. Se estudarmos a Bíblia cuidadosamente, perceberemos que no véu havia querubins bordados, que são símbolo das criaturas de Deus (Ez 1:4-14; Ap 4:6-9). Portanto os querubins sobre o véu indicam que as criaturas estavam relacionadas com a humanidade de Jesus. Quando o Senhor se revestiu da humanidade, Ele vestiu uma humanidade que continha as criaturas. Isso nos dá base para afirmar que, quando crucificou Sua humanidade, Cristo pôs fim às criaturas.
AS PESSOAS PRESENTES À CRUCIFICAÇÃO DO SENHOR
Marcos 15:39 diz: “O centurião que estava em frente Dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente este homem era Filho de Deus”. O centurião percebeu que esse homem não era comum, mas realmente era o Filho de Deus.
Marcos 15:40-41 nos fala a respeito das mulheres que estavam presentes: “Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé, as quais, quando Jesus estava na Galiléia, O seguiam e O serviam; e muitas outras que haviam subido com Ele para Jerusalém”. Maria Madalena era aquela da qual haviam sido expulsos sete demônios. Maria, mãe de Tiago, o menor, era a mãe do Salvador-Servo (Mt 13:55). A palavra menor aqui pode significar tanto pequeno em estatura como jovem em idade. Tiago, o menor, foi aquele que escreveu a Epístola de Tiago. Salomé era a esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e João (Mt 27:56).
No relato de Marcos sobre a crucificação não há menção de que algum irmão estivesse presente. Ele só fala a respeito das irmãs. Podemos dizer que essas irmãs são as nossas representantes. Quando Cristo foi crucificado, um grupo de irmãs estava ali.
SEPULTADO COM HONRA PARA DESFRUTAR SEU SÁBADO
Marcos 15:42-47 fala do sepultamento do Salvador-Servo. Em Marcos 15:42-43 diz: “E, já ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, vindo José, o ilustre membro do Conselho, de Arimatéia, que também esperava o reino de Deus, tomando coragem, entrou à presença de Pilatos e pediu o corpo de Jesus”. Depois que o Senhor Jesus realizou Sua morte redentora, a situação de sofrimento logo se transformou em situação de honra. José de Arimatéia, um homem rico (Mt 27:57), e Nicodemos, chefe dos judeus (Jo 19:39; 3:1), se encarregaram de Seu sepultamento, atando Seu corpo em panos de linho com mirra e aloés, sepultando-o num túmulo novo. E, com honra humana de alto padrão, o Senhor Jesus descansou no dia do sábado (Lc 23:55-56), esperando pela hora de ressuscitar dos mortos.
Em Marcos 15:43 José é chamado de o ilustre membro do Conselho, de Arimatéia. O artigo definido aqui denota alguém bem conhecido. Tendo comprado um pano de linho fino, José baixou-O da cruz, envolveu-O no pano e O depositou num túmulo que tinha sido talhado em rocha; e rolou uma Pedro contra a entrada do túmulo (Mc 15:46). Isso visava ao cumprimento da profecia de Isaías 53:9. Lendo Marcos 15:42-46, vemos que o Senhor Jesus recebeu um excelente sepultamento. Ele foi sepultado com vestes novas de linho e foi posto para descansar num túmulo novo. Ele foi posto em tal túmulo a fim de desfrutar Seu sábado.
Como já falamos, o Senhor criou a velha criação em seis dias e então descansou no sétimo. No Novo Testamento o Senhor realizou Sua plena redenção, Sua obra redentora, em seis dias e Ele descansou no sétimo dia, o sábado.
Marcos 15:47 diz: “Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Ele foi posto”. Isso indica que tanto Maria Madalena como Maria, mãe do Senhor Jesus, viram onde Ele foi posto.
Embora o Senhor pudesse descansar no sábado, tendo realizado a obra da redenção, os discípulos não conseguiram descansar. Também não creio que as duas Marias conseguiram descansar. Duvido que eles tivessem tido um bom descanso até que passassem pelo dia da ressurreição e chegassem ao dia de Pentecostes. No dia da ressurreição e no dia de Pentecostes receberam o Espírito todo-inclusivo, que aplicou ao viver deles a morte e ressurreição de Cristo. Então foram capazes de perceber o significado da morte, sepultamento e ressurreição do Senhor.
Vimos que o Senhor Jesus esteve na cruz por seis horas, das nove da manhã às três da tarde. Nas primeiras três horas, Ele foi perseguido pelo homem. Mas nas últimas três horas foi julgado por Deus como Substituto pelos nossos pecados. Marcos 15:33 indica que na sexta hora, ao meio-dia: “Houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona. À hora nona clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, significa: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mc 15:34). Nesta mensagem precisamos prestar especial atenção a esse versículo.
DEUS DESAMPARA O CRISTO CRUCIFICADO
Ao considerar o clamor do Senhor em Marcos 15:34, precisamos fazer uma pergunta importante: Deus abandonou Cristo? O Senhor Jesus disse que Deus O desamparou, e desamparar significa abandonar. Assim, de alguma forma, Deus O deixou.
O Senhor Jesus disse em João 5:43 que veio em nome do Pai: “Eu vim no nome de Meu Pai”. Além disso, o Pai sempre estava com Ele: “E Aquele que Me enviou está Comigo.” (Jo 8:29). Pouco antes de morrer, o Senhor novamente disse: “Não estou só, porque o Pai está Comigo.” (Jo 16:32). O Pai não estava apenas com Ele, mas também Nele, e Ele, no Pai: “Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? [...] Crede-Me que Eu estou no Pai, e o Pai em Mim.” (Jo 14:10, 11). Quanto a Seu relacionamento com o Pai, Ele também disse: “Eu e o Pai somos um.” (Jo 10:30). Ele e o Pai sempre foram um. Além disso, sempre que alguém O via, via o Pai. Por isso Ele podia dizer: “Quem Me vê a Mim, vê o Pai.” (Jo 14:9).
Desses versículos vemos que o Senhor Jesus veio no nome do Pai, o Pai estava com Ele, Ele estava no Pai e o Pai, Nele; Ele e o Pai são um e, quando alguém O via, via o Pai. Esses versículos provam que o Senhor Jesus nunca estava separado de Deus Pai. Contudo, à hora nona, Ele clamou: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”. Sem dúvida isso indica que Deus O deixou. Mas em que sentido Deus O deixou? Como podemos entender essa pergunta, visto que envolve uma questão maior relacionada com a Trindade? Será que o fato de Deus desamparar Cristo significa que Aquele que ficou na cruz era meramente homem e não tinha mais a natureza divina? Se isso fosse verdade, então o poder da redenção do Senhor não seria eterno, pois não haveria o elemento divino e eterno nela. Portanto devemos ser muito cuidadosos ao responder o que significa Deus desamparar o Cristo crucificado. É muito difícil explicar o fato de Deus desamparar o Senhor Jesus. Se quisermos entender isso adequadamente, precisamos de uma consideração cabal do que as Escrituras revelam a respeito da Trindade.
CONCEBIDO DO ESPÍRITO SANTO
Quando foi concebido, o Senhor Jesus foi concebido do Espírito Santo numa virgem (Mt 1:20). Sua concepção foi divina, pois foi do Espírito Santo, isto é, de Deus. Foi uma concepção de Deus no homem, que envolveu a divindade e a humanidade.
Diferentemente do Senhor Jesus, todos fomos concebidos de pai e mãe. O que estava envolvido em nossa concepção foi mera e unicamente humanidade. Mas a do Senhor Jesus foi a concepção de Deus numa virgem humana, o que envolveu tanto a divindade como a humanidade. Assim Ele nasceu como um homem de duas naturezas: a humana e a divina. Isso nos dá base para dizer que Ele era um Homem-Deus. Era nascido de Deus no homem. De Deus Ele recebeu o elemento divino, e de Maria, o elemento humano. Esses dois elementos (divindade e humanidade) constituem Jesus um Homem-Deus.
Aos trinta anos, Jesus foi batizado. Imediatamente após sair da água, uma voz do céu disse: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3:17). Ao mesmo tempo, o Espírito de Deus desceu sobre Ele como pomba e veio sobre Ele (Mt 3:16). O Senhor Jesus não nasceu do Espírito? O Espírito não era uma das essências de Seu ser? Será que antes de ser batizado Ele já não tinha o Espírito Santo em Seu interior? A resposta a todas essas perguntas é sim. O Senhor Jesus havia nascido do Espírito, o Espírito era uma das essências do Seu ser e Ele verdadeiramente tinha o Espírito Santo em Seu interior. Por ter sido concebido do Espírito Santo numa virgem, Seu ser era constituído de duas essências, divindade e humanidade. Por que, então, uma vez que Ele tinha o Espírito Santo no interior, foi necessário que o Espírito Santo descesse sobre Ele? Essa pergunta é crucial. O Espírito de Deus desceu sobre Jesus para o ministério da economia de Deus. Nesse momento Jesus começou Seu ministério.
O ESPÍRITO DESCEU SOBRE O SENHOR JESUS
Vemos no capítulo 3 de Mateus que o Espírito Santo desceu sobre o Senhor Jesus como uma unidade clara e distinta. Contudo não se pode negar de forma razoável que Ele já não tivesse o Espírito Santo no interior. Mateus 1:20 diz que: “O que nela [em Maria] foi gerado é do Espírito Santo”. O Espírito Santo não apenas estava no Senhor Jesus, mas era uma das essências de Seu ser. Portanto precisamos descobrir a maneira de conciliar dois fatos importantes: primeiro, que o Senhor Jesus tinha o Espírito Santo no interior como uma de Suas essências; segundo, que o Espírito Santo desceu sobre Ele depois que Ele foi batizado. Uma vez que já era parte de Seu ser, por que o Espírito de Deus desceu sobre Ele? Através da história do cristianismo, tem havido uma carência de entendimento adequado sobre a Trindade. Nesse capítulo temos o Filho em pé, o Pai falando dos céus e o Espírito Santo descendo como pomba. Esses Três (Filho, Pai, e Espírito) apresentados em Mateus 3, não apenas são distintos, como também parecem estar a certa distância um do outro.
Ao considerar a Trindade retratada em Mateus 3, precisamos perceber o que é dito a respeito do Espírito Santo e do Senhor Jesus em Mateus 1. Ressaltamos que Mateus 1:20 nos diz que Jesus foi concebido do Espírito Santo. Assim Mateus 1 equilibra Mateus 3. Se tivéssemos apenas a revelação da Trindade em Mateus 3, poderíamos pensar em triteísmo, isto é, três Deuses: um nos céus, um na terra e um no ar. Contudo o capítulo três de Mateus procede do capítulo um. Em Mateus 1 a ênfase não está no três, e sim no um. Portanto, quando colocamos juntos os capítulos 1 e 3 de Mateus, vemos que Deus é Triúno (Pai, Filho e Espírito Santo), Três-Um (Três Pessoas em só um Deus: O Pai, o Filho e o Espírito Santo é Deus).
Na realidade, não nos é possível conciliar plenamente os dois aspectos da Trindade, o aspecto de um em Mateus 1 e o aspecto de três em Mateus 3. A razão de não poder conciliá-los é que a Trindade é um mistério. Se pudéssemos entender plenamente o Deus Triúno, Ele não seria mais um mistério. Além disso, se pudéssemos entender plenamente o Deus Triúno, isso significaria que somos os mestres de Deus. O ponto crucial que devemos ver em Mateus 1 e 3 é que, quando o Espírito Santo desceu como pomba sobre o Senhor Jesus, Ele já era humano e divino. Ele tinha a natureza divina e a humana, pois o Espírito Santo era uma das essências do Seu ser.
CRISTO A SI MESMO SE OFERECEU PELO ESPÍRITO SANTO
O livro de Hebreus revela que, quando morreu, o Senhor Jesus a Si mesmo Se ofereceu como oferta todo-inclusiva para substituir todas as ofertas do Antigo Testamento. De acordo com Hebreus 9:14, Cristo, “pelo Espírito eterno, a Si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus”. Embora seja tanto humano como divino, Cristo a Si mesmo Se ofereceu a Deus como a oferta todo-inclusiva, não apenas por Si mesmo, Aquele que é divino-humano, mas também pelo Espírito eterno.
O fato de o Senhor Jesus Se oferecer a Deus pelo Espírito eterno pode ser comparado com Seu ministrar na terra pelo Espírito. Antes de o Espírito descer sobre Ele, Ele já era divino e humano; apesar disso, quando estava para iniciar Seu ministério, foi ungido por Deus com o Espírito. Isso foi o Espírito que desceu sobre Ele, mas antes disso, em Seu interior, Ele já tinha a essência da divindade de Deus. Contudo, para o ministério, Ele foi ungido com o Espírito Santo. Nos três anos e meio de Seu ministério, Ele não agiu meramente por Si mesmo, como Aquele que é tanto humano como divino, mas também pelo Espírito que unge. Ele se movia e ministrava por esse Espírito. Em especial, quando Se oferecia a Deus na cruz como a oferta todo-inclusiva, Ele o fez pelo Espírito eterno.
O ESPÍRITO QUE UNGE ABANDONA O SENHOR JESUS
O Senhor Jesus clamou “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”, no momento em que carregava nossos pecados (1Pe 2:24), tendo sido feito pecado por nós (2Co 5:21) e tomando o lugar dos pecadores (1Pe 3:18). Isso quer dizer que Deus O julgou como nosso Substituto por nossos pecados. Aos olhos de Deus, Cristo se tornou um grande pecador. Com respeito a isso, 2 Coríntios 5:21 diz: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós”. Quando é que Deus fez Cristo pecado por nós? Será que foi em todo o período de trinta e três anos e meio de Sua vida na terra? Não. Se Ele tivesse sido feito pecado durante toda a vida, então Deus não poderia estar com Ele e não poderia ter tido deleite Nele. Deus O fez pecado durante as três últimas horas em que esteve na cruz, das doze até às quinze horas, quando houve trevas sobre toda a terra. Deus não apenas O fez nosso Substituto; mas até mesmo O fez pecado por nós. Como Cristo era nosso Substituto e foi feito pecado aos olhos de Deus, Deus O julgou. Creio que foi nesse momento, em torno da hora nona, que o Espírito que unge O deixou.
Já falamos enfaticamente que antes de o Espírito Santo, o Espírito que unge, descer sobre o Senhor Jesus, Ele já tinha a essência divina no interior, como uma das duas essências de Seu ser. Agora precisamos ver que a essência divina nunca O deixou. Mesmo quando estava na cruz clamando: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”, Ele ainda tinha a essência divina. Então quem O deixou? O Espírito que unge, pelo qual Ele Se ofereceu a Deus. Depois que Deus aceitou Cristo como a oferta todo-inclusiva, o Espírito que unge O deixou, contudo Ele ainda tinha a essência divina.
A EFICÁCIA ETERNA DA MORTE DO SENHOR
A morte do Senhor Jesus não foi a mera morte de um homem; foi a morte de um Homem-Deus. Por isso Sua morte tem eficácia eterna, tem poder eterno para nossa redenção. De outra forma, não seria possível um homem morrer por tantas pessoas. Um indivíduo é limitado, porque o ser humano não é eterno. Se o Senhor Jesus tivesse morrido apenas como homem, Sua morte estaria limitada em eficácia. Ele poderia ter sido Substituto de uma pessoa, mas não de milhões. Contudo a morte do Senhor Jesus foi a morte do Homem-Deus e, portanto, foi eterna, realizando eterna redenção, com poder e eficácia eternos.
Antes de o Espírito Santo descer sobre Ele, o Senhor Jesus já tinha a essência divina. Quando foi batizado, foi batizado como Homem-Deus. Depois do batismo, o Espírito Santo desceu sobre Ele como o Homem-Deus a fim de ungi-Lo para o ministério. Por três anos e meio Ele ministrou por esse Espírito. Então, na cruz, Ele Se ofereceu como o Homem-Deus para ser o sacrifício todo-inclusivo pelo Espírito eterno. Deus O considerou pecador, para ser nosso Substituto, até mesmo fazendo-O pecado por nós, e aceitou Sua oferta. Depois disso, Deus, como Espírito Santo que viera sobre Ele, O desamparou. Contudo o Senhor Jesus ainda era um Homem-Deus e morreu como tal. Isso quer dizer que, apesar de Deus, como Espírito, tê-Lo abandonado, o Senhor Jesus não morreu meramente como homem, mas como Homem-Deus. Assim sendo, em Sua morte há um elemento divino e eterno. Sua morte realizou eterna redenção com poder e eficácia eternos.
O DEUS TRÊS-UM
No capítulo 3 de Mateus, vemos os três da Trindade como unidades distintas: o Pai nos céus, o Filho na terra e o Espírito descendo do ar como pomba. Mas no capítulo 1 de Mateus há indicação definitiva de que os Três são Um.
De acordo com Mateus 1, Cristo foi concebido do Espírito Santo. Isso corresponde a João 1:14, que nos diz que o Verbo tornou-se carne. Segundo o Evangelho de João, o Verbo é o Filho de Deus. Quando o Senhor Jesus foi concebido do Espírito no ventre de Maria, essa foi a encarnação do Filho de Deus, o Verbo que se fez carne. Portanto 1 Timóteo 3:16 fala da grandeza do mistério da piedade, que é Deus manifestado na carne.
Mateus 1:18, 20; João 1:14 e 1 Timóteo 3:16 todos se referem à mesma questão. A concepção do Senhor Jesus do Espírito Santo é a encarnação do Filho de Deus, e a encarnação do Filho de Deus é Deus manifestado na carne. Quando juntamos esses versículos, temos o Espírito Santo para a concepção de Jesus, o Filho para a encarnação e Deus para a manifestação. Isso mostra que o Espírito, o Filho de Deus e o próprio Deus são Um.
Por um lado os Três da Trindade são Três; por outro, são Um. E por isso que dizemos que Deus é Triúno, como Três-Um. O nosso Deus é o Deus Triúno, o Deus Três-Um.
Visto que foi concebido do Espírito Santo, Cristo é um Homem-Deus. Nele temos o mesclar da divindade com a humanidade. Portanto, quando foi batizado, Ele o foi como Homem-Deus. No mesmo princípio, quando morreu na cruz, foi como Homem-Deus.
O SANGUE DE JESUS, O FILHO DE DEUS
1 João 1:7 diz que o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado. O nome Jesus denota a humanidade do Senhor, necessária para o derramamento do sangue redentor, e o título Seu Filho denota Sua divindade necessária para a eficácia eterna do sangue redentor. Assim a frase: o sangue de Jesus, o Filho de Deus, indica que esse é o sangue adequado de um homem autêntico para redimir as criaturas caídas de Deus, com garantia divina quanto à sua eficácia eterna, uma eficácia todo-prevalecente no espaço e eterna no tempo.
Os pecados do homem necessitam de sangue humano para purificação. O sangue de Jesus é o sangue de um homem autêntico. Contudo o próprio Jesus que derramou o sangue para nossa redenção é o Filho de Deus. Ele tem tanto humanidade como divindade. Sua humanidade O qualificou para morrer por nós. Por ser homem, Ele tinha sangue para derramar para purificação de nossos pecados. Contudo Ele é também o Filho de Deus. Sua divindade garante a eficácia eterna de Seu sangue redentor. Assim Sua humanidade O qualifica a ser nosso Redentor e Substituto; Sua divindade confere poder eterno a essa qualificação. Se Cristo não fosse homem, não estaria qualificado para ser nosso Substituto. Louvado seja o Senhor, porque Ele estava qualificado por Sua humanidade para ser nosso Substituto, e Seu autêntico sangue humano tem a qualificação para purificar nossos pecados! Essa qualificação necessita de algo para garantir sua eficácia: a divindade do Senhor. Sua divindade garante a eficácia eterna de Sua qualificação.
1 João 1:7 mostra que Aquele que morreu na cruz e derramou o sangue era o homem Jesus, e é o Filho de Deus, o Ser divino. Aquele que possui tanto a natureza humana como a divina morreu na cruz como Homem-Deus. Como tal, Ele foi crucificado como nosso Redentor.
Isso que o Senhor nos mostrou na Palavra a respeito dessas questões é diferente dos ensinamentos tradicionais. Nossos ensinamentos são baseados na pura Palavra de Deus.
AS REALIZAÇÕES DA MORTE DE CRISTO
O Problema dos Pecados:
Vamos agora considerar as realizações da morte de Cristo. Primeiro, ela resolveu o problema de nossos pecados, o problema de nossas ofensas, delitos, transgressões e obras pecaminosas. Ela resolveu o problema de nossos pecados, e o resolveu eternamente. Com respeito a isso, Paulo diz em 1 Coríntios 15:3: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”. Ademais, 1 Pedro 2:24 diz que Cristo carregou “Ele mesmo em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”.
O Problema do Pecado:
Segundo, a morte de Cristo, uma morte todo-inclusiva, lidou com o pecado. Embora seja fácil explicar o que são pecados, é difícil definir o pecado. Os pecados se referem a atos, ofensas, transgressões. Mas que é o pecado? Romanos 8:3 diz que Deus enviou Seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e condenou na carne o pecado. Para condenar o pecado, Cristo veio em semelhança da carne pecaminosa. João 1:29 diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”.
De acordo com a Bíblia e também com nossa experiência, vimos que o pecado é na realidade a natureza pecaminosa de Satanás. Satanás é a fonte do pecado. O pecado é invenção dele, e ele mesmo é o elemento do pecado. Na verdade, aos olhos de Deus, o pecado é Satanás.
De acordo com Romanos, o pecado é algo vivo, algo que pode levar-nos a fazer o que não queremos, que pode habitar em nós, enganar-nos e até mesmo nos matar (Rm 6:14; 7:8, 11, 17). Que é isso que vive em nós e faz todas essas coisas? É Satanás. Quando o homem caiu, a natureza pecaminosa de Satanás foi injetada na humanidade. Isso quer dizer que, quando comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem ingeriu essa natureza pecaminosa.
No universo há algo que as Escrituras chamam de pecado: não é meramente objetivo, fora de nós; mas também é subjetivo, em nosso interior, na carne. Portanto exteriormente temos pecados, ofensas, delitos e transgressões. Interiormente temos o problema básico do pecado. Louvado seja o Senhor, porque a morte todo-inclusiva de Cristo não apenas resolveu o problema de nossos pecados, mas também julgou e condenou o pecado!
Romanos 8:3 revela que, quando Cristo morria na cruz, o pecado na carne foi condenado. Podemos usar a condenação de um prédio inseguro como ilustração. Quando um edifício está em situação lastimável, precisa ser demolido e o governo pode condenar esse prédio. De forma semelhante, o pecado na carne foi condenado mediante a morte todo-inclusiva de Cristo. Por Sua morte eterna, a morte de um Homem-Deus, o pecado foi condenado.
Nosso Velho Homem:
A terceira coisa com a qual a morte de Cristo lidou é nosso velho homem. Romanos 6:6 diz: “Foi crucificado com Ele o nosso velho homem”. Semelhante mente, Gálatas 2:19b diz: “Estou crucificado com Cristo”. Por ser todo-inclusiva, a maravilhosa morte do Homem-Deus nos incluiu. Fomos colocados em Cristo por Deus, e estávamos Nele quando foi crucificado, portanto estamos incluídos em Sua morte todo-inclusiva e eterna.
A Velha Criação:
Como nosso velho homem foi crucificado com Cristo, toda a velha criação também o foi. Como seres humanos, somos os líderes da velha criação e a representamos. Quando o homem, representante da velha criação, foi crucificado, toda a velha criação o foi.
Satanás:
Além disso, a morte eterna de Cristo destruiu Satanás. A esse respeito, Hebreus 2:14 diz: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também Ele, igualmente, participou, para que, por Sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Isso indica que, em Sua humanidade e por Sua morte na carne, Cristo destruiu Satanás, aquele que tem o poder da morte. Isso significa que Satanás foi crucificado. Pela morte de Cristo, Satanás foi crucificado; isto é um fato que independe se o entendemos ou não.
O Sistema do Mundo:
A Bíblia revela que Satanás formou um sistema satânico, chamado de o mundo. Por meio do mundo, o cosmos satânico, ele sistematizou a humanidade caída sob sua mão usurpadora. Mas esse sistema mundano maligno foi julgado.
Como o sistema do mundo está ligado a Satanás, quando ele, o governante do mundo, foi julgado, o mundo também foi julgado. A esse respeito o Senhor Jesus disse: “Agora é o juízo deste mundo; agora o príncipe deste mundo será expulso.” (Jo 12:31). O príncipe deste mundo foi expulso quando Satanás foi destruído na cruz. Simultaneamente, o sistema do mundo, relacionado com Satanás, foi julgado.
Esse juízo pode ser comparado com a crucificação da velha criação quando nosso velho homem foi crucificado. Quando o velho homem foi crucificado, toda a velha criação foi crucificada. Da mesma forma, quando Satanás foi destruído por meio da morte de Cristo, o mundo foi julgado.
As Ordenanças:
Outra questão com a qual a morte todo-inclusiva de Cristo lidou está mencionada em Efésios 2:15: “Aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz”. Aqui vemos que quando Cristo foi crucificado, Sua morte eterna aboliu e anulou as diversas ordenanças da vida humana e religião. Além disso, as diferenças entre raças e classes sociais foram abolidas pela morte eterna de Cristo.
O Liberar da Vida Divina:
Além de lidar com tantas coisas negativas, a morte de Cristo também tem um aspecto positivo. Em João 12:24 o Senhor Jesus fala a esse respeito: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto”. Isso se refere à morte de Cristo. Sua morte todo-inclusiva liberou a vida divina que estava em Seu interior e essa vida produziu muitos grãos.
Do lado negativo, a morte todo-inclusiva de Cristo resolveu os problemas dos pecados, do pecado, do velho homem, da velha criação, de Satanás, do mundo e das ordenanças. Do lado positivo, Sua morte eterna liberou a vida divina de Seu interior.
O DETERMINADO CONSELHO DE DEUS
Se virmos o significado da morte todo-inclusiva de Cristo, veremos que foi um evento maior do que o da criação do universo. A respeito dela, o Deus Triúno determinou em Seu plano divino na eternidade passada, que o Filho, o segundo da Trindade divina, deveria encarnar-se e morrer na cruz para consumar eterna redenção a fim de cumprir o propósito eterno de Deus. Nas palavras de Pedro, ditas no dia de Pentecostes: Cristo foi “Entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus.” (At 2:23).
Devido a esse determinado conselho de Deus, o Segundo da Trindade divina foi designado para ser o Cordeiro de Deus (Jo 1:29) antes da fundação do mundo, isto é, na eternidade passada (1Pe 1:19-20). Aos olhos de Deus, Ele, como Cordeiro de Deus, foi morto desde a fundação do mundo, isto é, desde a existência das criaturas caídas de Deus (Ap 13:8).
Desde a queda do homem, cordeiros, ovelhas e bois foram usados pelo povo escolhido de Deus como prefigurações (Gn 3:21; 4:4; 8:20; 22:13; Êx 12:3-8; Lv 1:2). Essas prefigurações apontam para Cristo, que viria como o verdadeiro Cordeiro predeterminado por Deus. Na plenitude dos tempos, o Deus Triúno enviou o Segundo da Trindade divina, o Filho de Deus, para passar pela encarnação, tornando um corpo humano (Hb 10:5), a fim de ser oferecido a Deus na cruz (Hb 9:14; 10:12) para fazer a vontade do Deus Triúno (Hb 10:7), isto é, substituir os sacrifícios e ofertas, que eram prefigurações, por Ele mesmo em Sua humanidade, como o único sacrifício e oferta para a santificação do povo escolhido de Deus. Portanto foi a vontade de Deus que Cristo sofresse uma morte todo-inclusiva e eterna.
Como é grandiosa a morte de Cristo! Ela eliminou todas as coisas negativas do universo e liberou a vida eterna, a fim de produzir o novo homem, que será a última consumação da semente do reino, o gene do reino, uma consumação final e máxima, que será o reino eterno de Deus.
A MORTE ETERNA DO HOMEM-DEUS
Precisamos ficar impressionados com o fato de que a morte de Cristo registrada em Marcos 15:16-41 é grandiosíssima. Precisamos perceber que ela foi a morte eterna do Homem-Deus. Aquele que morreu como nosso Substituto não era meramente homem; era o Homem-Deus. Portanto Sua morte é eterna. Essa morte eterna é maior do que a obra de criação de Deus.
Quando lemos o relato da morte de Cristo em Marcos, não devemos fazê-lo de maneira superficial; pelo contrário, precisamos perceber que Aquele que morreu, de acordo com o registro de Marcos, era o Homem-Deus e Sua morte não foi comum. Essa morte extraordinária, uma morte eterna, foi do Homem-Deus. Portanto ela eliminou todas as coisas negativas e liberou a vida divina para produzir o novo homem. Por fim, esse novo homem se tornará o reino eterno de Deus, como o pleno desenvolvimento do gene do reino.
Jesus é o Senhor!