A SALVAÇÃO DA ALMA - Parte 2 - A VIDA QUE VENCE | Watchman Nee
PARTE 2
A VIDA QUE VENCE
I. ESFERA DA SALVAÇÃO DE UM CRENTE
Nos últimos anos uma coisa me chamou a atenção: sinto que algo está errado em minha vida cristã pessoal, pois quando leio a Bíblia, devo reconhecer que não tenho o que ela disse que eu deveria ter. Embora haja de fato cristãos cuja vida é mais pobre do que a minha, e embora alguns que tiveram experiência profunda com o Senhor, tenham me assegurado que já possuo o que deveria ter, no entanto ainda estou ciente de não possuir tudo o que a Palavra de Deus diz que devo ter. . Graças a Deus, hoje sei que há realmente coisas ainda mais excelentes em Cristo para mim e que todas essas coisas são alcançáveis e podem ser obtidas agora.
Por isso o que eu gostaria de compartilhar o que diz respeito ao escopo da nossa herança em Cristo Jesus. Contudo, não falarei da questão da nossa herança no novo céu e nova terra que teremos na eternidade futura, nem na questão da vida eterna que já possuímos pela regeneração, nem sobre a glória do reino a qual desfrutaremos no milênio. Não, o que acentuarei aqui é a extensão do que Deus pode fazer por você e por mim na salvação hoje.
A seguir vou citar inúmeras passagens nas Escrituras e tecerei comentários sobre elas:
1) A Consciência:
"... muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb 9:14). Este verso nos diz até que ponto Cristo pode salvar a nossa consciência. O Seu sangue é capaz de purificá-la das obras mortas.
Deixe-me perguntar-lhe: a sua consciência está debaixo de acusação? Se ela está constantemente debaixo de acusação, você não possuiu plenamente o que Cristo realizou por nós. O Senhor nos salva, e o Seu sangue purifica a nossa consciência. Ela está tão purificada pelo Seu sangue que não há mais condenação. Quando nos reunimos, algumas vezes podemos dizer: “Oh Deus, agradecemos-Te por ter extinguido a má consciência do nosso coração." Contudo, em seguida somos frequentemente atribulados. Isso simplesmente indica que apenas tivemos a nossa consciência coberta ou que ela é de vez em quando negligenciada. Mas o sangue do Filho de Deus é capaz de nos purificar. Portanto, se a nossa consciência ainda estiver debaixo de acusação, não recebemos a plena salvação. Isso não é devido a alguma incapacidade da salvação de Deus, de modo nenhum. Ao contrário, vamos louvá-Lo e agradecer-Lhe porque Ele é capaz de nos salvar a ponto de termos a nossa consciência totalmente purificada. Ter a nossa consciência completamente purificada é possível.
2) O Coração:
"Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem" (Mc 7:21-23). “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5:8).
Essas duas passagens das Escrituras nos mostram a condição original impura do nosso coração bem como a pureza de coração alcançável pela salvação de Cristo.
O coração do qual Marcos fala é o nosso coração natural. Qual é a condição dele? "Todos estes males procedem de dentro do coração", diz o Senhor. Quanta maldade sai do coração! Mas no evangelho de Mateus encontramos o Senhor declarando: "Bem-aventurados os limpos de coração" – Ele é capaz de salvar o coração e convertê-lo da maldade para a pureza.
A forma de termos o nosso coração salvo não é suprimindo as maldades interiores para que não saiam; antes, é por uma purificação de dentro para fora. Se tentarmos cobri-lo ou selá-lo, afirmo que isso não é salvação, porque ainda não fomos salvos a ponto de alcançarmos a pureza de coração. Devemos questionar diante do Senhor a respeito de quantos maus pensamentos, astúcias e orgulho nós temos em nosso coração. Se estes foram apenas suprimidos, simplesmente os cobrimos e o nosso coração ainda não está salvo. Deus de fato não disse: "Bem-aventurados os puros de coração" (Mt 5:8)?
A nossa falta de testemunho hoje se deve ao nosso coração, que não é puro. Com muita frequência notamos o pecado nas pessoas e, contudo, nós mesmos não ousamos repreendê-las; a ação exterior delas é apenas o florescer do pecado, mas em nosso próprio coração também temos a mesma semente de tal florescência. Embora possamos não amar o mundo como os outros, no entanto o nosso coração é um tanto afetado também. Não há muita diferença entre nós e elas. Sem a pureza de coração, não pode haver nenhum testemunho.
Deus não deixará nenhuma impureza em nosso coração. Um coração tão mau como é descrito por Marcos pode se tornar puro. Deus pode nos salvar e nos dar um coração puro. Vamos, por isso, agradecer-Lhe e louvá-Lo porque Ele é capaz de nos salvar a tal ponto. Ele pode transformar um mau coração em um coração bom e puro.
3) Todo o Coração:
"Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mc 12:30-31a). Esse versículo nos diz como Deus é capaz de nos salvar para amá-Lo com todas as nossas faculdades e amar as pessoas com total desinteresse.
Quão difícil é para nós amar a Deus com essa intensidade! Frequentemente pensamos em amá-Lo assim como amamos o mundo secretamente, em servir a Deus assim como servimos a Mamom. Repetidas vezes, muitas pessoas e muitas coisas separam o nosso coração do amor a Deus! Contudo, Ele é bem capaz de nos salvar à magnitude desse "todo" – habilitando-nos a amá-Lo com todo o nosso coração, toda a nossa alma, toda a nossa mente e toda a nossa força. E, além disso, de nos salvar a ponto de amarmos as pessoas sem nenhuma inclinação para o egoísmo.
Se hoje ainda formos incapazes de amar totalmente a Deus (e em vez disso ter as pessoas, as coisas ou afazeres como o foco do nosso amor) e amar o nosso próximo como a nós mesmos, não conhecemos a salvação plena. Cristo pode nos salvar para amarmos a Deus com tal "totalidade" e amarmos o nosso próximo sem egoísmo. Isso é possível. Louve o Seu nome!
4) A Mente:
"Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente, e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo" (2 Co 11:3). Essa passagem nos mostra como a nossa mente pode ser salva até a completa simplicidade e pureza.
Muitas vezes achamos muito difícil nos submetermos ao Senhor e amá-Lo com simplicidade de mente. De fato, isso é muito difícil. Simplesmente não temos tal poder. Está além de nós. Quanto nós desejamos amar o Senhor com amor perfeito e em simplicidade, sem nenhuma fraude, mas com toda pureza. Isso, concordamos, seria tão bom! Nós esperamos por isso, embora aparentemente seja tão inalcançável, porém Deus é capaz de nos salvar a esse ponto. Não é apenas possível, mas também atingível.
A nossa mente deve ser pura. Se, contudo, formos inconstantes, vamos nos parecer com Eva. Por um lado ela viu que a árvore do conhecimento do bem e do mal era boa para comer, mas por outro raciocinou que Deus tinha ordenado que ela não comesse do seu fruto. Ela viu que o fruto era um prazer para os olhos e muito desejado, mas também se lembrou de que Deus tinha ordenado que não fosse comido. Porém, sendo assim provocada, Eva comeu do fruto proibido. Assim, desviando apenas um pouco a atenção, ela perdeu a simplicidade e pureza que são devidas ao Senhor.
Vamos nos perguntar: temos a simplicidade e pureza de coração devidas a Cristo? Nunca precisamos temer amá-Lo demasiadamente. Devemos amá-Lo sem nenhuma ponderação e sem nenhuma argumentação. Louve a Deus, pois Ele pode nos salvar a tal ponto! É completamente possível ter um coração simples e puro devidos ao Senhor.
"E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12:2). Aqui é-nos dito mais uma vez que Deus é capaz de salvar a nossa mente, renovando-a a ponto de podermos provar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Você já pensou alguma vez nisso? Com uma mente renovada podemos realmente provar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Quão frequentemente uma coisa parece ser a vontade de Deus, mas ela também parece ser a nossa vontade. Quão frequentemente confundimos uma com a outra. Mas uma mente renovada não cometerá esse erro acerca da vontade de Deus. A menos que a nossa mente seja renovada, não seremos capazes de provar qual é a vontade de Deus. E assim não teremos experimentado uma salvação plena. Contudo, Deus não apenas nos salvou até onde estamos hoje, Ele também nos salvará até chegarmos a uma posição perfeita. E é a essa posição que devemos aspirar e é por isso que devemos agradecer a Deus: porque isso não só é atingível como é possível.
5) Nosso Pensamento:
"... e toda a altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão" (2 Co 10:5-6). Esses dois versos nos mostram que Deus pode salvar o nosso pensamento e levá-lo à obediência a Cristo.
Que cada um de nós faça esta pergunta: "sou capaz de controlar os meus próprios pensamentos?" Sabemos muito bem que não conseguimos controlar muitos dos nossos pensamentos. Todavia, Deus nos ordena a não termos muitas ideias confusas. Ele levará todas elas cativas à obediência de Cristo.
Posso perguntar-lhe se os seus pensamentos são obedientes ao Senhor? Você não tem direito de nutrir pensamentos divagantes, sujos e um desejo secreto pelo mundo. Se houver tais pensamentos, eles são uma indicação segura de que você ainda não obteve uma salvação plena, pois a salvação do Senhor é perfeitamente capaz de levar todo pensamento de um crente à obediência de Cristo. Isso é atingível. Podemos confiar todos os nossos pensamentos e imaginações a Cristo para que eles se tornem submissos a Ele, porque isso está de acordo com a salvação preparada para nós em Cristo. Deus não apenas nos salvará para o novo céu e nova terra dando-nos vida eterna, mas também salvará todo o nosso ser por conduzir todos os nossos pensamentos à obediência de Cristo. Louve o Senhor porque isso não apenas é possível como também é atingível. Ele é capaz de nos salvar completamente.
"Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo" (1 Pe 1:13). Esse verso nos informa que Deus é capaz de salvar os nossos pensamentos dispersos e levá-los ao ponto da concentração.
Como a maior parte de nós deve saber, as vestes dos judeus nos tempos antigos pendiam um tanto livremente no corpo e não tinham nenhum botão. Toda vez que uma pessoa começava a trabalhar, tinha de cingir os lombos para facilitar seu movimento. Os nossos pensamentos dispersos se parecem com lombos não cingidos. Contudo, Deus pode reunir os nossos pensamentos dispersos como uma pessoa cinge seus lombos.
Quão frequentemente os nossos pensamentos, embora bastante puros, são dispersos e não focados. Na oração e no estudo da Palavra de Deus, a nossa mente se descontrolará. Os nossos pensamentos podem não ser maus, mas até os pensamentos bons e aceitáveis não são concebidos na hora certa. Isso é porque os lombos da nossa mente estão demasiado soltos e não concentrados. Contudo, Deus é perfeitamente capaz de refrear a nossa mente e levar os nossos pensamentos para o foco. Se a nossa mente precisa de poder de concentração, ainda temos de experimentar a salvação plena do Senhor. Graças a Deus, porque Ele pode nos livrar dos pensamentos dispersos e nos manter no lugar de concentração. Isso não só é possível como é atingível.
6) Nosso Coração e Nosso Pensamento:
"Não andeis ansiosos por coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus." (Fp 4:6-7).
A palavra “guardará" aqui é um termo militar especial. A melhor tradução seria "guarnição", que, por isso, dá a esse verso o seguinte significado: que a paz de Deus guarde o nosso coração e pensamentos assim como, sob lei marcial, os guardas fazem a guarnição de uma área tão efetivamente que ela permanece segura de qualquer incidente desfavorável. Pense nisso! A paz de Deus pode guardar o nosso coração e pensamento exatamente desta maneira: Deus é capaz para nos livrar de todas as inquietudes.
Raramente tenho visto cristãos sem inquietude. A vasta maioria está sobrecarregada com muitas preocupações. Certa vez, uma mãe que tinha sete filhos declarou: "Sou mortalmente preocupada com cada um dos meus filhos até que todos cheguem a ser salvos. Não tenho de me preocupar com dois deles porque já morreram. Mas ainda tenho cinco filhos para me preocupar com eles". Quando um irmão lhe disse que estava errado se preocupar - que na verdade era um pecado se preocupar, - ela replicou dizendo: “Uma mãe deveria estar preocupada com seus próprios filhos. Não se preocupar é pecado". Assim, esse irmão mostrou a ela as palavras em Filipenses 4 versículos 6 e 7. Contudo, ela considerou o que é dito ali provavelmente como não tendo referência ao seu tipo de inquietude, já que, segundo o seu pensamento, uma esposa deveria se preocupar com seu marido, os pais deveriam se preocupar com os seus filhos e os homens de negócios deveriam se preocupar com seu negócio. Vejamos claramente, entretanto, que a Bíblia afirma categoricamente: "Não andeis ansiosos por coisa alguma." – Ponto final!
Raramente encontrei irmãos ou irmãs que não estivessem inquietos com alguma coisa. Tal preocupação não é a salvação perfeita. Se alguém estiver preocupado com a sua família ou com tudo o que está a sua volta, como a paz de Deus será capaz de guardar o seu coração e pensamento? Tal pessoa não pode declarar que o seu Senhor leva a sua carga diariamente.
Estar se preocupando é pecado. Deus pode nos livrar de todas as inquietudes. Tanto nas questões grandes como nas pequenas, sérias ou leves, não deve haver nenhuma inquietude. Se alguém não estiver experimentando a guarnição do seu coração e pensamento pela paz de Deus, a salvação que ele obteve ainda não é completa. Se ele entendesse claramente a implicação de tal versículo, sem dúvida oraria: “Oh, Senhor, daquilo que Tu deste a mim recebi muito pouco!". Louvo e agradeço a Deus porque Ele é capaz de nos livrar de todas as inquietudes para que possamos viver sem qualquer preocupação. A Sua paz é muito capaz para guardar o nosso coração e pensamento. Isso é algo absolutamente possível, por isso O louvaremos continuamente.
7) Pensamento Para Padecer:
"Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus" (1 Pe 4.1-2). Esses dois versos dizem-nos como Deus é capaz de salvar a nossa mente para que estejamos dispostos a sofrer como Cristo.
Tememos o sofrimento? Certamente tememos. Como desejamos passar todos os dias confortavelmente e sem tribulação. Sempre que um pouco de privação cruza nosso caminho, imediatamente pedimos a Deus para retirá-la. Durante os momentos de verdadeira obediência a Deus somos ameaçados com a perspectiva do difícil e amargo futuro, e então pensamos em pedir a Deus que nos guarde desses aborrecimentos. Todavia, Deus pode nos salvar a tal ponto que nem tememos a dificuldade nem o sofrimento. Somos armados com o pensamento para padecer.
Que tipo de armamento é esse? Ele é o melhor armamento, pois é ser armado com o mesmo pensamento para sofrer que Cristo teve. Sempre que você for obediente a Deus, as pessoas lhe dirão quão difícil será a sua vida e como os homens cruéis o tratarão. Contudo, como resposta você pensará em Cristo, em como Ele sofreu na carne, e, por isso, você também deve sofrer. Esta é a forma de você ser armado: vou sofrer. O sofrimento não é apenas meu dever, mas também é meu ofício. O sofrimento é o meu negócio e o aceito muito prazerosamente. Armado com tal armamento você pode derrotar qualquer coisa. Não temerá o sofrimento, mas dará boas-vindas a ele. Não recuará diante do sofrimento, mas o deixará encontrá-lo. Se você temer quando pensar no sofrimento e tentar escapar, a salvação que você experimentou ainda não é completa, pois Deus é capaz de salvá-lo dando-lhe uma mentalidade para sofrer. Só assim você está capacitado a viver o "tempo que lhes resta na carne segundo a vontade de Deus". Agradecemos e louvamos a Deus, isso é possível!
8) A Língua:
"Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo" (Tg 1:26-27). “... a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar, é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim" (Tg 3:8-10).
Essas duas passagens bíblicas revelam que nenhum homem pode domar a língua, mas Deus é capaz de salvar esse nosso membro indomável e mantê-lo refreado.
Certa vez encontrei uma pessoa que disse: “Já que Tiago claramente afirma que nenhum homem pode domar a língua, é, portanto, desculpável para um cristão não refrear a sua língua". O que devemos saber é que Tiago também declara enfaticamente na mesma passagem que “não é conveniente que estas coisas sejam assim" (v. 10). Moisés foi incapaz de entrar em Canaã porque "falou irrefletidamente" (Sl 106:33). Ele falou como se estivesse sem instrução. Para saber como falar, nós precisamos de "língua instruída" (Is 50:4 – Darby) bem como ouvidos instruídos. Deus pode perfeitamente salvar não apenas o nosso coração, pensamento e mente, mas também a nossa língua. Se não podemos controlá-la, digo-lhe novamente que não somos possuidores de uma salvação perfeita. Que Deus seja louvado, Ele é capaz de salvar completamente a nossa língua. Isso não é apenas possível como também é atingível.
9) Concupiscências Carnais:
"Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne" (Rm 8:12). Esse versículo nos diz que Deus é suficientemente capaz de nos salvar das exigências naturais da carne e de vencer todas as concupiscências carnais.
Aqui eu particularmente mencionaria três tendências ou instintos básicos do nosso corpo humano: (1) nutrir-se para se sustentar; (2) reproduzir-se para prolongar a raça humana; e (3) proteger-se para se preservar. Antes da queda, essas três questões eram perfeitamente apropriadas, pois não havia o pecado misturado a elas. Mas depois que o homem pecou, o pecado encontrou o seu curso em todos os três, por isso tornaram-se catalisadores do pecado subsequente.
Valendo-se da necessidade de nutrição corpórea, o mundo como um sistema desde então usou a comida e a bebida para nos tentar. A primeira tentação do homem jaz na própria questão da nutrição. Como o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal foi usado pelo inimigo para tentar Eva, assim o excessivo festejar de hoje se torna um pecado carnal. Não vamos negligenciar a questão da comida, porque muitos crentes carnais falham neste mesmo ponto. Por causa da comida, o cristão carnal em Corinto fez muitos irmãos tropeçarem (ver 1 Coríntios 8). Por isso ninguém podia se tornar ancião ou diácono na Igreja primitiva a menos que tivesse superado a questão da comida e da bebida (ver 1 Timóteo 3:3, 8).
Na área da reprodução, vamos observar que depois da queda o homem também teve a capacidade de degenerar em paixão e concupiscência humana. A concupiscência e a carne humana estão especialmente conectadas nas Escrituras. Note que no Jardim do Éden o pecado da cobiça imediatamente despertou a concupiscência e provocou a vergonha. Em sua Primeira Carta aos Coríntios Paulo coloca essas duas coisas juntas (1Co 6:13). Ele também conecta os bêbados com os cobiçosos (1 Co 6:9-10 – Darby).
Se analisarmos muitos pecados do mundo, veremos o quanto estão relacionados com essas três tendências ou instintos do corpo quando forem mal utilizados pelo homem. E um cristão carnal é aquele que está sob o controle de todos os três ou de algum desses impulsos mal utilizados do corpo.
Ora, Paulo declara que não somos mais devedores à carne. Não devemos nada à carne, ele diz. Todos nós podemos viver sem obedecer à carne. Cristo é capaz de nos livrar de todas as paixões e desejos sensuais. O que é concupiscência? Nós seres humanos temos duas necessidades: (1) um conjunto de necessidades naturais, e (2) outros tipos de necessidades que provêm dessas mesmas necessidades naturais: – a necessidade de usar meios impróprios para satisfazer essas demandas naturais. Ora, esta segunda necessidade consiste no que é chamado uma concupiscência carnal. Mas o nosso Senhor Jesus Cristo pode nos livrar de tais concupiscências carnais.
O Senhor é capaz de nos salvar a ponto de não darmos terreno para qualquer concupiscência carnal. Ele também é capaz de nos salvar à posição de até mesmo superar todos os desejos naturais. Contudo, não vamos cometer o erro de pensar que Cristo nos livrará de termos qualquer desejo natural, pois isso não é garantido pelas Escrituras. O que a Bíblia diz é apenas que Cristo é capaz de nos fazer vencer os nossos desejos naturais. As Escrituras nunca ensinam que a carne desaparecerá. Ela apenas afirma que os cristãos não são mais devedores à carne, por isso não temos nenhuma obrigação de cumprir as exigências naturais da carne. A verdade é que toda dívida deve ser paga; mas agora, não devendo nada, somos, por isso, capazes de nos controlar.
Por exemplo, quando uma pessoa está com fome, ela deseja comer. Isso é um dos desejos naturais do homem. Mas se ela não tem nenhum dinheiro para comprar a comida e começa a usar um método impróprio (como roubar dinheiro) para satisfazer seu desejo natural, isso vem a ser uma satisfação não de um desejo natural, mas de uma concupiscência carnal. O homem deve apenas usar formas de satisfazer os seus desejos naturais que sejam segundo as Escrituras. Se ele estiver com fome e tiver dinheiro, pode comprar comida, e isso não é pecado. Todos os desejos naturais devem ser satisfeitos por meios que sejam segundo o ensino de Deus. Qualquer desvio torna o desejo natural em uma concupiscência carnal. Deus nos capacita para vencer os desejos naturais e sermos libertos das concupiscências da carne. Consequentemente, isso significa que quando estamos com fome e sem dinheiro, podemos vencer a ânsia da fome e recusar o uso de meios impróprios para sua satisfação. Ter fome é inevitável, mas não deve haver desejo ardente pelas concupiscências da carne.
A mesma regra se aplica à reprodução e preservação. Tudo o que se faz com o desejo natural nessas duas áreas deve ser feito apenas conforme os ensinamentos da Bíblia. Tudo o que ultrapassa o desejo natural dentro do contexto bíblico é pecado. Temos desejos naturais que não são pecaminosos em si mesmos. Contudo, não somos devedores à carne, não temos nenhuma obrigação de corresponder a ela. Assim, nessas duas áreas, Deus é capaz de nos salvar livrando-nos das demandas da concupiscência carnal e nos habilitando quando necessário para vencer o desejo natural.
Não sermos devedores à carne implica muito mais aqui. Mesmo quando estamos doentes, não devemos nada à carne. Nossos nervos podem ser fracos, porém não temos de perder a nossa paciência. Apesar da deficiência física ou psicológica, ainda podemos vencer. A Palavra de Deus nos diz que não somos devedores à carne. Será que por causa da imperfeição em certa parte da constituição física de um crente Deus não é capaz de salvar um cristão completamente? Longe esteja tal pensamento. Vamos continuamente nos lembrar de que não devemos nada à carne.
Posso lhe perguntar: você está preso a certa dificuldade física? Você está amarrado a algum problema relacionado à comida e bebida? Então você deveria saber que a salvação do Senhor é igual em todas as circunstâncias e problemas. Pois assim como são as suas dificuldades, assim é a salvação de Cristo. Suponha que um cristão passe fome por um dia, dois dias, até três dias. Você pode dizer-lhe que não deve roubar para satisfazer a ânsia da sua fome? Você deve. É correto que ele seja um ladrão porque está com fome? Não é assim, pois não há nenhuma situação na qual um cristão precise ser forçado a pecar. Deus pode salvar todo aquele que não vive segundo a carne. “... sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos..." (Rm 6:6). Por conseguinte, vamos estar diante Deus e dizer-Lhe: "Deus, agradeço-Te, pois tudo o que é do meu velho homem foi crucificado com Cristo na cruz! Seja o ciúme, o orgulho, os pensamentos imundos, uma mente divagante, a preocupação ou as concupiscências carnais, – Cristo pode me livrar de todos eles. Louvado seja o Senhor!".
10) Os Membros do nosso Corpo:
"...nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça" (Rm 6:13).
"...nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça" (Rm 6:13).
“Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem de justiça рara a santificaҫӑо" (Rm 6:19).
Estes dois versículos nos mostram como Deus é capaz de salvar os membros do nosso corpo para a santificação. Outrora os nossos membros serviram de escravos para pecar, sendo dados à impureza e iniquidade. E agora? Fomos libertos dos pecados de todos os membros do nosso corpo? Apresentamos os nossos membros para serem escravos da justiça? Se não os temos apresentado como tal, então ainda estamos servindo ao pecado e não obtivemos a completa salvação. Mas Cristo pode salvar todos os membros do nosso corpo para serem escravos da justiça em direção à santificação. Isso é possível e atingível. Louve o Seu nome!
11) O Eu:
"Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (GI 2:20).
Este é um versículo das Escrituras com o qual estamos mais familiarizados e que muitos de nós podemos recitar de memória. Esta palavra declara que Deus nos salva a ponto de não apenas estarmos crucificados com Cristo, mas agora Cristo vive em nós.
A palavra aqui não é que podemos nos parecer com Cristo ou que devemos imitar Cristo, mas ela diz que Cristo agora vive em nós. Assim Deus salvou Paulo, e de maneira parecida Ele nos salvou.
Se ainda não experimentamos Cristo vivendo em nós, a salvação que conhecemos ainda é incompleta. Agradecemos a Deus porque Ele nos salva à condição de que para mim o viver é Cristo. Isso é possível e atingível por todos os cristãos.
Nesta presente exposição, vimos quão imensa é a salvação de Deus! Quão grande é a esfera da nossa salvação! É como se os bens já tivessem sido selecionados; então, como iremos adquiri-los? Sabemos que precisamos pagar o preço. E em nossa próxima exposição falaremos da questão do preço a ser pago. Mas aqui gostaria que você fizesse uma coisa: convido-o a crer na Palavra de Deus. Já que a Palavra de Deus nos diz que Ele é capaz de nos salvar tão completamente, você terá a Sua plena salvação se apenas crer. Devemos crer que todas essas coisas que pertencem à Sua salvação são possíveis. O maior problema está no fato de que não conseguimos crer no que a Bíblia diz, pois Deus cumpre Sua palavra segundo a sua fé. Mas não a teremos se não crermos. Quão sério é isso! A Palavra de Deus já foi dita! E se você diz que é possível, é possível; mas se você diz que é impossível, será impossível. Você deve crer na Palavra de Deus, e então Ele a executa por você segundo a sua fé.
Andrew Murray foi um cristão profundamente espiritual. . Li os seus escritos com cuidado especial e descobri que cada vez que ele fala da vida que vence, ou da vida em santidade, ou vida de descanso, sempre dá aos leitores algumas condições. Em todas elas pode ser encontrado um fator comum: porque as pessoas devem crer que isso é possível. De fato, se os homens consideram que algo é impossível, Deus é incapaz de realizá-lo por eles. No entanto, se crerem que Deus assim o disse e que Ele é capaz de fazê-lo por eles, Deus cumprirá neles o que Ele diz.
Pergunte a você mesmo quanto ao que pensa da sua vida cristã. Se tiver de confessar que a sua situação atual é muito deficiente, então você deseja que Deus lhe dê a Sua plena salvação? Se você realmente quiser a plena salvação de Deus, então creia que isso é possível e alcançável. Permita que Ele cumpra a Sua obra em você.
II. A VIDA QUE VENCE
1) Que Tipo de Vida Cristo Viveu na Terra?
Sabemos que quando Cristo viveu na Terra Ele obedeceu inteiramente a Deus, não amando o mundo nem seguindo Sua própria vontade em palavras e feitos por um momento sequer. Ele nunca permitiu que a tentação O vencesse. Ele nunca pecou em momento algum, mas foi obediente a Deus até a morte. Assim foi a vida de Cristo na Terra.
E quanto a nós, que somos seguidores de Cristo? Obedecemos a Deus plenamente? Não, não obedecemos. Podemos dizer que não seguimos a nossa própria vontade, nem mesmo em uma ocasião? Impossível. Somos capazes de não pecar? Nós cometemos muitos pecados. Abstivemo-nos de amar o mundo, nem mesmo amá-lo um pouco? Podemos não amá-lo exteriormente, mas temo que em nosso coração secretamente o amemos. Quem dentre nós não é movido pela tentação? Não há ninguém. Contudo, como pode tudo isso ser verdade em nossa vida? Pois segundo o que a Bíblia diz, um cristão deveria obedecer completamente a Deus – não amar o mundo, nem seguir sua própria vontade, nem pecar, nem ser movido por qualquer tentação. Mas eu não o ouço dizer que isso é impossível? Eu também digo que impossível! Muitos de nós somos cristãos há pelo menos um ano ou dois; e a maioria de nós é cristão há três, cinco ou até mais anos. Durante esses anos, quanto realizamos? Quantas vezes tivemos de nos arrepender tristemente, até o ponto de chorar? Onde, então, está a vitória?
Realmente conhecemos o padrão estabelecido na Bíblia para um cristão. Como seguidores de Cristo não devemos seguir a nossa própria vontade, mas ser justo como Deus é justo e buscar com simplicidade de coração Seu reino. Mas somos realmente assim de fato? Quão frequentemente pecamos. Quão frequentemente o nosso coração é impuro e o nosso temperamento muitas vezes inflama. Secretamente amamos o mundo e somos controlados pelas concupiscências da carne. Não amamos a Bíblia nem desejamos orar. E às vezes somos tentados a dizer que é melhor para nós não sermos cristãos.
A Bíblia diz que deveríamos, e ainda dizemos que não podemos. Não podemos pedir a Deus que rebaixe um pouco a Sua verdade? Ele não pode concordar conosco que não é sério pecar de vez em quando? Não posso argumentar que algumas pessoas podem ser capazes de amar e obedecer a Deus, negar o ego e serem santas, mas tal padrão é para uma classe especial de pessoas e não para mim?
O que nós como crentes vemos que mesmo se não pudermos, há Alguém que pode, e que esse Alguém é Cristo. Sabemos que deveríamos ser perfeitos, mas não podemos. Todavia, Cristo já o fez, por isso Ele é perfeito. Aqui conseguimos saber três coisas:
1º. Que há uma qualidade de vida que Deus estabeleceu para todo cristão viver;
2º. Que somos incapazes de viver por ela; e
3º. Que por todos os séculos houve apenas Um que viveu assim, que é Cristo.
Em outras palavras, deveríamos, mas não podemos. No entanto, ao mesmo tempo reconhecemos que Cristo já alcançou a perfeição. E por essa razão isso demonstra o fato de que somente o próprio Deus pode cumprir a qualidade de vida que Ele estabeleceu. Colocando de outra forma, podemos dizer que Ele toma a mesma vida para viver o tipo comparável de vida. Por exemplo, só um pássaro pode viver a vida de um pássaro ou um animal a vida de um animal. Assim, pode-se afirmar com exatidão que só Deus pode viver a vida de Deus. E uma vez que Cristo é Deus, então somente Cristo pode viver o tipo de vida de Deus.
2) O Que a Bíblia Diz Sobre a Vida Cristã?
“... para mim, o viver é Cristo..." (Fp 1:21). Esse versículo diz, viver como Cristo? Não. Ele diz imitar Cristo? Mais uma vez, não. Ele diz tomar Cristo como modelo e segui-Lo? Novamente, não. Ele diz que para mim o viver é Cristo. É absolutamente impossível imitar e é completamente inútil tentar ser bom. Muito embora sejamos capazes de ler a Bíblia, orar e viver uma vida boa, se a nossa vida for errada, ela será do mesmo modo errada. Nada está errado com a nossa aspiração, choro e arrependimento diante de Deus e dizer: "Oh Deus, eu realmente quero obedecer-Lhe!" - não, o que está errado conosco é simplesmente que a nossa vida está errada.
Deus não apenas aponta Cristo para morrer no Calvário por nós, mas também O torna a nossa vida. Esteja muito claro sobre isso: Deus não o faz um cristão da mesma forma que uma pessoa ensina um macaco a se vestir, comer e se mover. Ensinar um macaco a viver como um homem seria um encargo tal para ele que é preferível permanecer como está a aprender a ser homem. Não, Deus não nos tratou dessa forma.
Podemos ler a Bíblia durante cinco minutos e achá-la insípida, mas ao lermos outros livros temos muito mais interesse. Podemos orar e não obtermos nada; contudo, se não orarmos, a nossa consciência nos acusará. Não podemos nos livrar de amar o mundo; não obstante, ao amarmos o mundo não temos paz interior. É extremamente difícil ser um cristão. Quão impossível é viver uma vida Divina. Somos realmente os mais miseráveis! Deixe-me acrescentar, entretanto, que embora nos sintamos miseráveis, há esperança, porque tal sentimento de miserabilidade é a prova de que ainda estamos no caminho. Se uma pessoa não se sentir mais miserável, eu devo me sentir miserável por ela porque já deixou o caminho certo.
Muitas vezes ficamos mudos quando testemunhamos a gravidade das tentações deste mundo. Então como podemos culpar outra pessoa quando também somos tocados interiormente? Com frequência desejamos nos parecer com outros que são tão obedientes a Deus que mostram as costas para o mundo e voltam a face para Ele. Nós mesmos tentamos e descobrimos quão difícil é. E quão miseráveis nos tornamos quando procuramos ser cristãos assim! Pois quem é capaz de cumprir um padrão tão elevado? Não é tal expectativa muito semelhante a pedir a uma criança de cinco anos que leve consigo alguns dólares? Quão cruel é isso! E é evidente que seria extremamente brutal forçar tal criança a levar consigo milhares de dólares. Contudo, pedir a um cristão que viva uma vida Divina é muito mais triste do que pedir a uma criança de cinco anos que leve consigo milhares ou mesmo alguns dólares.
Muitas vezes, porém, tentamos até medir tal vida. Admiramos tal caminhar e estamos dispostos a sofrer por ele. Mas o que acontece é que antes de um pecado ser limpo, outro apareceu em cena. Ou ainda antes que tenhamos terminado de nos arrepender de uma coisa, a mesma coisa ocorre mais uma vez. Antes que nossas lágrimas de arrependimento tenham até mesmo secado, a coisa deplorável volta a nos assombrar.
Deixe-me dizer que se pudermos apenas crer que realmente “não podemos", quão melhor seria! Deus não quer que você tente. A vida que Ele nos dá não é do tipo cair e se arrepender. Ele quer que vivamos como Cristo vive; porque é Cristo em nós que deseja viver o Seu estilo de vida.
Maria deu ao Senhor um corpo através do qual Ele pôde expor uma vida Divina. De forma semelhante, se nos dermos ao Senhor e aceitarmos este Cristo, Deus fará com que nós vivamos a vida que o próprio Cristo uma vez viveu.
Por favor, observe cuidadosamente que ser santo e não seguir a sua própria vontade, amar o Senhor com simplicidade de coração e obedecer-Lhe inteiramente não é algo que você pode tentar fazer ou imitar. Depende completamente do Cristo que Deus nos proveu. E isso é a salvação plena. Deus proveu Cristo com dois propósitos: por um lado, Cristo guarda a lei por nós; por outro lado, Ele vive em nós para que também possamos guardar a lei de Deus. Por um lado, Ele morreu por nós; por outro lado, Ele vive em nós. No Calvário Ele consumou a salvação por nós; agora Ele implementa a consumação em nós. No Calvário Ele nos justificou; vivendo em nós Ele agora nos torna justos. Ele não apenas obedeceu a Deus, mas vivendo em nós Ele faz com que nós obedeçamos a Deus também. Ele não apenas fez tudo por nós; Ele também faz todas as coisas em nós.
Aqui podemos perceber o significado da ressurreição. “E, se Cristo não ressuscitou", declarou Paulo, "ainda permaneceis nos vossos pecados" (1 Co 15:17). Note que o apóstolo não diz que a questão do pecado ainda permanece, já que pela morte de Cristo o caso legal do pecado foi posto de lado perante Deus, mas ele diz que se Cristo não tivesse ressuscitado dos mortos, estaríamos ainda em nossos pecados, por isso receberíamos somente a metade da salvação do Senhor. Na pregação do evangelho muitas vezes usamos uma parábola como esta: nós pecadores nos parecemos com uma pessoa endividada, Cristo se parece com um amigo rico e na Sua morte, como nosso amigo, Ele paga a nossa dívida. Ora, sem dúvida esta é uma boa notícia, contudo, infelizmente, essa é apenas uma meia-salvação.
De fato o Senhor Jesus pagou todas as dívidas que possuíamos. Mas poderíamos perguntar se Ele apenas paga as nossas dívidas. Se esse é o caso, tal ação limitada pode nos garantir que nunca novamente incorrerá dívida daqui por diante? Não estaremos em dívida novamente se Cristo tiver simplesmente pago a antiga dívida? É muito verdadeiro que o nosso amigo pagou o que devíamos antes; entretanto, daqui a pouco assumiremos novamente uma dívida pela qual o nosso amigo terá de pagar novamente. Tudo isso não evidencia o fato de que se Cristo apenas tiver morrido pelos nossos pecados, o que recebemos é apenas meia-salvação? Embora algum amigo terreno possa ter pago uma dívida por nós, contudo podemos continuar assumindo dívidas mais tarde. Embora Cristo, nosso amigo celestial, tenha morrido por nós, contudo estamos em pecado. Pode a salvação de Deus alguma vez se parecer com isso?
A salvação de Deus fez o Senhor Jesus viver em nós, assim como morrer no Calvário por nós. Ele não apenas paga todas as nossas dívidas, mas também vive em nós para que nunca tenhamos de incorrer em dívida novamente. Deus não nos salva simplesmente para escaparmos do inferno e entrarmos no céu; Ele nos salva a ponto de Cristo ser a nossa vida. Se você tiver apenas recebido meia-salvação, certamente será miserável e não conseguirá experimentar a plena alegria da salvação. Jesus Cristo é a nossa vida para fazer tudo em nós. Deus nunca exige que os cristãos façam isso ou façam aquilo. Pois Paulo diz: "Para mim o viver é Cristo." – e tendo Cristo nele e vivendo nele, Paulo é capaz de suportar açoites, perseguições, muitos perigos, prisão em Jerusalém e transferência para Roma. Não é por ser como Cristo nem imitar Cristo, mas por Cristo viver nele que encontra forças para todas essas coisas. Assim como um macaco não pode ser transformado em um homem, um cristão não pode imitar Cristo.
"... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:12b-13). Filipenses 1 versículo 21 fala da experiência pessoal de Paulo; esses dois versos do capítulo 2 demonstram o que todo cristão pode experimentar. "...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor..." Muitos que leem essas palavras imaginam que eles devem operar a sua própria salvação, portanto decidem se levantar cedo, ler a Bíblia e testemunhar com grande zelo. Surpreendentemente descobrem que não podem fazer essas coisas porque negligenciam as palavras do versículo seguinte, que diz: "...porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar..." (v. 13). A própria palavra "porque" indica ser esta uma "causa", enquanto o que o versículo 12 diz sobre o operar a sua própria salvação, é apenas um "efeito".
O que normalmente fazemos em nossa vida diária consiste principalmente nisto: (1) querer, que é uma decisão interior; e (2) fazer, que é um ato exterior. Sem dúvida, essas duas coisas resumem a nossa vida. Planejamos interiormente e atuamos exteriormente. Mas tanto o querer como o fazer são resultado da obra prévia de Deus em nós. As Escrituras aqui não dizem que você deveria fazer obra árida; em vez disso elas dizem que Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar. Primeiro Deus opera em você, habilitando-o assim a querer e fazer. Porque Deus operou, portanto você pode fazer. Sem a primeira operação não pode haver a segunda.
Repetidas vezes suplicamos a Deus dizendo: "Oh Deus, desejo obedecer-Lhe completamente, mas descubro que é muito difícil. Não quero amar o mundo, mas como é difícil. Não quero seguir a mim mesmo, mas parece impossível não fazê-lo." Contudo, aqui está o tipo de salvação que nos é apresentada: que Deus é capaz de operar em nós e nos fazer obedecer-Lhe completamente, não amar o mundo e não seguir a nós mesmos. Embora por nós mesmos não possamos, Deus pode operar tanto em nós que afinal podemos.
O que é a salvação plena? Ela não quer dizer que um cristão se livra de um pecado hoje e de outro amanhã. Uma salvação plena significa aceitar Cristo plenamente. E tendo tal Cristo, temos a salvação plena. O cristão mais difícil de ser ajudado é aquele cujos olhos não veem Cristo. O que ele vê é o seu próprio bem ou mal. A sua atenção está focada em certo pecado seu, ou no tormento que pode ser infligido a ele por certa pessoa, ou a atração por determinada coisa. Por isso ele se lamenta e se odeia, pensando em uma forma de vencer. Isso é um grande erro, mas Deus não nos chamou para vencer uma coisa após outra, para executar um ato bom após outro; em vez disso, Ele nos pede para aceitar um Cristo pleno.
Por exemplo, uma criança ama fruta. Hoje ela pensa em comer peras, por isso vai ao pomar para comprar algumas. Amanhã ela deseja comer uma maçã ou um pêssego, por isso irá novamente comprar algumas maçãs ou pêssegos. Mais tarde ela descobre que o seu pai é o proprietário do pomar e que ele também lhe dá esse pomar. Depois disso, toda a situação é mudada, já que agora todas as frutas pertencem a ela. Semelhantemente, os cristãos pensam em fazer uma coisa hoje e outra coisa no dia seguinte. Hoje precisamos de paciência, amanhã precisamos de amor. Somos como essa criança que compra peras hoje e maçãs ou pêssegos amanhã. Contudo, Deus nos convida a aceitar um Cristo pleno: o pomar “espiritual" pleno de Deus agora nos pertence, como um Cristo pleno. Mas comprando a varejo, a pessoa tem de ir comprar muitas vezes sempre que sinta falta de algo.
Não digo aqui que você e eu não precisamos de paciência ou amor. Certamente devemos expor essas virtudes. Contudo, quão impossível é fazer uma coisa após outra. Se você tentar e tentar, amará mais o mundo, tornar-se-á mais e mais orgulhoso e cada vez mais seguirá sua própria vontade enquanto os dias passam. Você deveria saber que todo o "pomar" é seu. Deus quer que você compartilhe um alvo, que é possuir o Cristo pleno. Cristo em você, e Cristo em mim, nos capacitará a querer, e fazer, para o próprio prazer de Deus.
Você pode ter ouvido anteriormente a verdade de que Cristo vive Sua vida em nós, mas quero perguntar-lhe: você tomou posse dessa verdade experimentalmente? Quão frequentemente sabemos e, embora tentemos, ainda assim falhamos.
"Mas vós sois Dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção..." (1 Co 1:30). Se lermos esse versículo mais cuidadosamente e lentamente, podemos ver sem hesitação que na época em que fomos salvos Deus fez Cristo ser a nossa justiça e santificação pessoal. A resposta é Cristo. O que é vitória? É Cristo. O que é a paciência e a humildade? É Cristo. Qualquer um que seja capaz de responder desse modo descobriu o segredo. Todo o meu ser é corrupto e carnal, mas Cristo é a minha santidade. Ele é a minha santificação. Não há ninguém que seja santo e vitorioso; mesmo assim, há uma forma pela qual podemos dizer a Deus: “Deus, eu aceito Seu Filho!". E esta será a nossa santidade e será a nossa vitória.
3) Quando é que Cristo Vive em mim?
Se for verdade que somente Cristo tem a vida que vence, então quando Ele começa a viver em nós? Vamos reconhecer que na época em que fomos salvos possuímos Cristo. “Aquele que tem o Filho tem a vida..." (1 Jo 5:12). "Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no Seu nome" (Jo 1:12). Quando cremos, já temos Cristo. "Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2 Co 13:5b). Quem são aqueles que não são considerados reprovados pelo Senhor? "...e o que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6:37b). Você foi ao Senhor? Se fomos a Ele, não somos reprovados. O que, então, temos? Temos Jesus Cristo em nós. Por essa razão, é uma séria asneira alguém dizer-lhe que, embora tenha crido no Senhor, você não tem Cristo em você. Se você não foi salvo, deve receber Cristo; mas se é salvo, Ele já está em você.
4) Como Deixar Cristo Viver a Sua Vida em mim?
Agora sabemos que somente Cristo é vitorioso. Também sabemos que Ele vive em nós. Pois quando cremos Nele, nós O temos. Contudo, dia após dia ainda sou eu mesmo, como se nada tivesse acontecido. O que devemos fazer para que Cristo possa viver Sua vida em nós? Há dois caminhos, ou podemos dizer que há duas condições.
Primeira, rendição. Sim, Cristo está de fato em mim, mas Ele não pode fazer nada se eu não O deixar fazer. Você e eu devemos obedecer a Deus. O que precisamente é rendição? A rendição não é uma promessa a Deus de fazer a Sua vontade nem uma aliança com Deus para fazer o que não pode ser feito. Render-se é eu tirar as minhas mãos da minha própria vida. É transferir para a mão de Deus o meu bem e o meu mal, a minha força e a minha fraqueza, o meu passado e o meu futuro, a minha própria vida e próprio ser para que somente Deus possa operar em mim.
Se não retirarmos as nossas mãos de nossa vida, Deus não tem nenhuma forma de viver a Sua vida através de nós. Suponha que você dê um livro a alguém, contudo sua mão não se solta do livro; seu amigo será capaz de recebê-lo? Quando vamos a Deus, devemos dizer-Lhe: "Senhor, entrego a Ti todo o meu bem e o meu mal, o meu gostar e não gostar, o meu desejo e não desejo, o meu fazer e não fazer". Estamos dispostos a fazer isso? Se não estivermos, não há nada que Deus possa fazer por nós. É nossa responsabilidade entregar o nosso derrotado ego. Deus está sempre pronto, esperando que você e eu façamos esta única coisa: estarmos dispostos a entregar esse mesmo ego.
A rendição não é pedirmos para fazer o que não podemos fazer. É necessário apenas que nós entreguemos o nosso bem e o nosso mal, a nossa força e a nossa fraqueza, até mesmo o nosso tudo. Certa vez li uma história sobre um jovem que declarou que estava disposto a tudo, exceto isto: se Deus lhe pedisse para pregar para o povo católico, estava determinado a não ir. . Deixe-me perguntar: você está disposto a entregar um coração indisposto ao Senhor?
A rendição implica dois aspectos: um é oferecer-se para ser usado por Deus, o outro é oferecer-se para deixar Deus fazer a sua obra. Contudo, quantos há que pensam na rendição somente quanto ao oferecer-se para ser usado por Deus, e negligenciam o outro aspecto. Na realidade, Deus lhe pede para fazer apenas uma coisa, que é dar a si mesmo a Ele, de agora em diante. E isso constitui uma morte para o ego. É ser liberto da sua própria carne. Você deve entregar-se. Você está disposto a fazer isso? É bom se você o fizer.
Quão difícil é para você tirar a sua mão da pessoa ou da coisa que você ama. Digo que é muito difícil. Pois você sente que tem de pagar um preço tão alto, e por isso está mostrando mais relutância em deixar. Por exemplo, você sabe que muitas vezes é derrotado na questão da amizade. É muito difícil para você dizer a Deus: “Sejam os meus amigos bons ou maus, dou todos eles a Ti, Senhor. Peço-Te que me liberte". Ou se você ora por alguém por quem não tem nenhum profundo interesse, pode crer facilmente que Deus o ajudará. E se ele é ou não ajudado ou curado, não há problema para você. Mas se os seus pais, esposa, marido ou amigo muito chegado ficarem doentes, você descobrirá quão difícil é confiá-los a Deus. Se eles não forem ajudados ou curados, você teme que algum deles possa morrer. Isso prova que quanto mais você ama, mais difícil é retirar a sua mão.
O que Deus requer hoje não é a quantidade de bem que você deve fazer. Ele só lhe pede que entregue o seu tudo para Ele. Encontramos tanta derrota na nossa vida para nos desencorajar. Há alguns meses tinha um pecado que não podia superar e não tinha fé para confiá-lo a Deus. Uma vez, duas vezes, muitas vezes tentei superar, mas nada aconteceu. Finalmente fui capaz de entregá-lo a Deus. Por isso a questão hoje está em, se você está disposto a se colocar inteiramente na mão de Deus. Independentemente das pessoas, do mundo, do pecado, ou de qualquer coisa, se você estiver em sua própria força não pode deixá-los, então percebe que pode superar se estiver disposto a dizer a Deus: "Oh Deus, confio a Ti o que não posso deixar ir. Por favor, opere em mim até que eu esteja disposto a deixar".
Deixe-me dizer-lhe que não temo se você não puder deixá-los, nem temo se a sua fraqueza aumentar uma centena de vezes, nem se você cometer mais pecados; temo apenas que não esteja disposto a entregar-se a Deus para que Ele opere em você. Você está disposto a entregar-Lhe aquela pessoa, ou amigo que você ama, aquele seu pecado especial, algum problema particular que o tem infectado incessantemente, ou aquelas coisas que tiram o lugar Dele? O ponto crucial da questão não está nas dezenas de milhares de fraquezas e derrotas que você tem, mas em se você está disposto a dizer a Deus: “Oh Deus, entrego-me totalmente a Ti.".
O ato de rendição não se destina a fazê-lo sofrer; ao contrário, está destinado a expressar o seu desejo de deixar que Deus opere em você até que esteja perfeitamente disposto a obedecer-Lhe.
Para render-se não é necessário que você faça o que não pode fazer. Isso simplesmente requer que você se ponha na mão de Deus e O deixe operar até que esteja pronto para obedecer-Lhe e disposto a deixar todas as coisas. Se você estiver disposto, Deus então tem uma forma, pois Ele não está assustado com a imensidão de pecado ou a depravação dos homens. Ele apenas está assombrado com a falha dos homens de colocarem o seu coração em Sua mão.
Para resumir, render-se então significa a entrega da nossa vontade, que é colocar-nos na mão de Deus, e deixá-Lo operar até que Ele esteja bem satisfeito.
A segunda forma ou condição de Cristo ser capaz de viver a Sua vida em nós é crer. Já que nos rendemos, devemos agora crer que Deus nos libertará do que amamos, do que não podemos e não queremos abandonar. "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o mais ele fará" (SI 37:5). Confiar é render-se; confiar é crer. E o resultado é que "Ele o fará". Sabendo que não temos jeito, rendemo-nos a Deus e cremos que o Senhor que vive em nós realizará a obra.
Você pode dizer que é vitorioso em Cristo? Aleluia, eu posso dizer que sou vitorioso em Cristo, porque a Bíblia assim me diz. Quão lamentável que a nossa fé seja menor que o tamanho de um grão de mostarda, – não, até menor que uma partícula de poeira! Se tivermos fé, Deus começará a operar. Quando o Senhor criou os céus e a Terra, Ele simplesmente usou a Sua boca, pois quando Ele disse: "Haja luz", houve luz! Se tivermos fé, Ele muito certamente começará a operar porque está ansioso por fazer a Sua obra.
Há algumas semanas um irmão veio falar comigo. Ele disse que tinha três ou quatro pecados que não podia superar, por isso às vezes tinha vontade de suicidar-se. Perguntei-lhe: "Você crê que Cristo pode livrá-lo do seu pecado?". "Creio", ele respondeu, “mas continuo pecando muitas e muitas vezes. Outros pecados eu superei, mas esses poucos ainda permanecem." Assim, li com ele Romanos 8 versículo 1: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Expliquei-lhe dizendo: “A Bíblia nos fala de uma condição para a libertação, que é estarmos em Cristo Jesus. Você está em Cristo Jesus?". "Sim", ele respondeu, "eu estou em Cristo Jesus". "Então olhe para o que a Bíblia diz", respondi e li para ele esta seguinte passagem do versículo 2: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte". “A Bíblia diz que você está livre da lei do pecado e da morte. Você está livre agora?", perguntei-lhe. Ele respondeu: “Não ouso dizer isso". Perguntei-lhe: “Então onde está a sua fé?".
Digo novamente que não receio a fraqueza, a corrupção e a pecaminosidade dos homens; receio apenas um tipo de pessoa: aquele que não crê na Palavra de Deus. Quão preciosas são as palavras “te livrou"! A Palavra de Deus diz: “te livrou" e não "irá te livrar". Cremos realmente nisso? Cristo morreu por você. Se você simplesmente crer, tem a vida eterna. Que prova você tem disso? Porque a Bíblia assim o diz. Mas note que a Bíblia também declara que "a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte", portanto já estou livre, fui livrado da lei do pecado e da morte. Mesmo se houver centenas, milhares, sim, dezenas de milhares de pecados, eu fui liberto de todos eles! Fui liberto até da morte espiritual em Adão.
Você crê em tal palavra? Você crê que já foi liberto da lei do pecado e da morte? A Bíblia declara que você foi liberto. Se você realmente crê, gritará: "Aleluia, louvado seja Deus! Estou liberto da lei do pecado e da morte porque a Palavra de Deus assim o diz!". Você tem algum pecado particular ou algum pensamento sujo que não pode superar? Nesse caso saiba, e perceba, que um evangelho lhe é pregado hoje, que declara que a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus, o livrou de tal pecado.
Precisamos entender que a rendição e a fé estão intimamente relacionadas. Quando essas duas ações estão juntas, há vitória e não derrota. Não teremos vitória se simplesmente acreditarmos e ainda não estivermos querendo dar a nossa vida a Deus em troca da vida de Cristo. Embora no momento da regeneração já tenhamos entrado na posse dessa vida de Cristo, Deus não nos força a viver pela vida de Cristo se a nossa vontade não for rendida a Ele para deixar Cristo viver em nós e por nós. E justamente por isso, se apenas rendermos, mas não crermos, tal rendição será reduzida a um tipo de obra morta; pois embora estejamos preparados para dar a Deus o direito de operar, não demos a Ele a oportunidade de entrar.
Por isso devemos (1) levantar a nossa cabeça para olhar para Deus e dizer: "Senhor, entrego-me totalmente a Ti, estou disposto a deixá-Lo operar"; e (2) crer que Deus já operou segundo a Sua Palavra.
Cristo cuidou de todos os conflitos, pois o governo divino está sobre os Seus ombros. Vamos crer Nele dia após dia, porque a fé precisa ser contínua, ao passo que a rendição é feita uma vez para sempre. Podemos nos render a Deus em um instante e nunca mais necessitarmos fazê-lo novamente; embora algumas pessoas se rendam gradual e lentamente, isso é desnecessário. Tendo nos confiado a Deus na rendição, cremos que Ele fará com que Cristo viva a Sua santidade e vitória em nós e por nós. Outrora fomos salvos da punição do inferno; agora somos salvos do poder do pecado. Não há nada a ser feito exceto render-se e crer. Possamos nós provar que somos realmente vitoriosos em Cristo.
É bastante simples: apenas creia. Sem fé nada é possível, mas com fé haverá transformação, pois Deus o disse. Louve e agradeça a Ele! Creia com fé simples, independentemente de sentimentos. Tudo o que Deus diz é assim. Não vimos o céu e o inferno, contudo cremos no céu e no inferno por causa da Palavra de Deus. Para crer não necessitamos de nenhuma evidência. Precisamos apenas de uma prova, e essa prova é a Palavra de Deus. Somos transformados não porque vemos, mas porque cremos no que o Senhor disse. Crendo, somos mudados; não crendo, não somos mudados.
Certa vez perguntei a um irmão se ele cria em Romanos 8 versículo 2. Ele respondeu que sim. Prossegui mais no assunto perguntando o que ele faria se se levantasse no dia seguinte e cometesse o mesmo pecado novamente. Ele não sabia como responder. Deixe-me observar que o maior perigo está na primeira e básica tentação, pois Satanás sugerirá que o render-se e crer são em vão porque você pecou novamente. "Em que você está diferente do que era antes?", ele perguntará. “Você não é o mesmo?" Mas digo novamente que a fé é duradoura. O que é de curta duração não é fé. De tudo o que existe no mundo, a fé é a mais duradoura. A tentação pode vir, mas Deus diz que em Cristo somos mais do que vencedores. Por isso, em Cristo venceremos, e a tentação falhará. A forma como tratamos com esta tentação básica revela se temos a verdadeira fé.
Em certa ocasião o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “Passemos para o outro lado" do lago da Galiléia; mas repentinamente se ergueu uma grande tempestade, com as ondas batendo tanto no barco que ele começava a se encher. Os discípulos, então, despertaram Jesus, que dormia, e gritaram: “Mestre, não se importa que pereçamos?". Ele se levantou e repreendeu o vento e a tempestade. E o vento cessou, e houve uma grande calmaria. Mas o Senhor repreendeu os discípulos dizendo: “Ainda não tendes fé?" (Mc 4:35-40). Vamos realmente ver que uma vez que o Senhor tinha ordenado que todos eles fossem para o outro lado, nada poderia impedir. O vento poderia soprar mais duramente e as ondas poderiam se levantar mais alto; contudo, nada poderia impedi-los de alcançar a outra costa porque o Senhor tinha dito diferente. Consequentemente, o que é de máxima importância é crer na Palavra de Deus. Se Deus assim o disser, então isso é suficiente e nada mais importa.
"O Meu justo viverá pela fé." (Hb 10:38)
Encontrei muitos crentes e diversas vezes discuti com eles vários problemas espirituais. Dentre estes, uma dificuldade parece ser bastante comum para a maioria das pessoas, e a qual muitos acham difícil de superar: por que em certos momentos a vida espiritual deles parece ser árida e desanimada enquanto em outros parece jubilosa e excitante? Embora possam não ter uma experiência de "terceiro céu", todavia tiveram o que pode ser chamado de uma experiência culminante. Eles se perguntam como podem superar os períodos áridos e manterem-se em uma posição continuamente alegre e inspirada. Como gostariam de contar com uma vida vivida em um constante fluir e até mesmo num estado de transbordamento. E assim seriam capazes de cantar aleluias em todas as situações da sua vida. Tal, então, é o problema que muitos crentes desejam resolver.
Esse tipo de vida que vacila entre aridez e alegria é o que é comumente chamado pelos crentes de uma vida parecida com uma onda ou uma existência espiritual inconstante. De acordo com as tendências dos seus sentimentos, muitos cristãos vivem de vez em quando sobre topos de montanha e em outras vezes nos vales profundos. Ás vezes são jogados de lá para cá pelas ondas, outras vezes andam sobre a água. Ás vezes estão nas alturas, outras vezes estão abatidos.
Quase todos os cristãos estão conscientes de que sua vida é invadida por um súbito sobe e desce. Em certos dias, sentem-se tão animados que podem orar por horas sem o mais leve cansaço. Quando testemunham do Senhor, podem falar sem cessar. Quanto mais falam, mais podem falar. Se estiverem ouvindo a Palavra de Deus, acham-na tão interessante que poderiam continuar escutando infinitamente. Ou se estão lendo a Bíblia, o gosto dela é tão doce, como o mel. Em outros dias, entretanto, tudo parece ter piorado. Eles não podem achar nenhuma diferença entre orar e não orar. Eles acham a leitura da Bíblia seca e insípida como se ela fosse apenas tinta preta sobre um papel branco. Quando encontram as pessoas, ficam preocupados se não testemunharem, por isso se esforçam para dizer algumas palavras como "creia no Senhor Jesus e terá vida eterna", mas em seu coração sentem tal desalento como se não houvesse realmente nada para dizer. Durante tal período tão árido, todas as coisas são feitas por compulsão. Eles não experimentam nenhuma alegria ao se aproximar de Deus, contudo sabem que devem ir a Ele. Como resultado, forçam-se em se aproximar do Senhor.
Esse tipo de vida cristã parece encontrar seu correlato no reino natural. Se há um pico de montanha, também deve haver um vale profundo. Depois das ondas tempestuosas haverá uma superfície calma. Tendo se acostumado a tais experiências, muitos cristãos concluem que é impossível aos crentes superar uma existência tão vacilante e alcançar um estado espiritual tranquilo e confiante. Estamos destinados, tais cristãos acreditam, a essas experiências de sobe e desce por toda nossa vida.
No entanto, há outro grupo que declara que não temos de passar por tal existência de cume e vale, mas que a experiência cristã pode muito bem ser firme e tão constante como uma linha reta. Deixe-me sugerir, porém, que nem levamos uma vida cristã de sobe e desce, nem o crente que espera ter uma experiência contínua está cem por cento correto.
Se desejarmos descobrir o princípio em certa questão, devemos juntar primeiro as experiências espirituais de vários grupos de pessoas e então tentar descobrir uma regra que seja comum a todos. Por exemplo, para chegar a uma conclusão acerca de certa doença temos de examinar os seus sintomas e efeitos em centenas ou até milhares de pessoas com a mesma enfermidade. Se a investigação de todos os doentes revelar o mesmo começo e o mesmo fim, então podemos chegar a um julgamento comum sobre ela. Vamos, portanto, investigar a origem do tipo de vida de sobe e desce na experiência do cristão mediano e aprender dela alguma regra definida.
Sabemos que a vida de um crente começa com sua salvação. Quando uma pessoa nasce de novo, ela fica triste? Ao contrário, fica muito feliz, porque no primeiro dia em que um homem encontra um tesouro normalmente fica exultante. O mesmo é verdadeiro com respeito ao recém-salvo. O dia em que é dito a uma pessoa que por crer em Jesus Cristo ela recebeu a vida eterna, – tendo passado da morte para a vida e por isso não está mais condenada, – é o dia mais feliz da sua vida. Porém, posso perguntar: essa felicidade dura para sempre? Não, ela dura apenas algum tempo. Tal sentimento de felicidade finalmente passará. Quanto tempo, entretanto, ele durará? Varia de acordo com as diferentes pessoas. Pelo que sou capaz de observar, uma sensação tão exuberante de felicidade raramente continua além de alguns meses. Normalmente permanece durante um mês ou dois; e para alguns indivíduos pode durar apenas uma ou duas semanas. Mais cedo ou mais tarde a sensação de júbilo pela sua salvação vai se desvanecer.
Suponha que desenhemos uma linha horizontal para representar a nossa experiência de vida cristã. O que está acima da linha pode ser qualificado como alegria, o que está abaixo da linha como aridez marcante. E vamos dizer que aqui está um homem que teve alegria por vários meses depois de ser salvo. Mas em certa manhã, lendo a Bíblia, orando e tendo comunhão com Deus, como é a sua prática habitual, nota que a sua alegria não é a mesma como era ontem. De alguma maneira ela diminuiu. Ora, é bem verdade que depois de serem salvos alguns crentes são submetidos a perseguição e tratamento cruel, outros têm de tratar com pecados e fazer a restituição e pedir desculpas, mas eles possuem inexprimível alegria que compensa todas essas perdas. Sem nenhuma dúvida todos deveriam ficar jubilosos por serem salvos; até Deus se alegra pela salvação de cada pessoa. Mas não foi verdadeiro em sua própria experiência que alguns meses depois da sua conversão, a sua alegria gradualmente se desvaneceu? Você nunca mais se sentiu tão feliz quanto antes. Quando você foi salvo, seu prazer estava na leitura da Bíblia. Embora possa não ter entendido o seu pleno significado, todavia gostava de ler as suas páginas. Naquele tempo não era demais para você ter lido dezenas de capítulos num dia. O mesmo se aplica à oração. Você ficava muito feliz com a oração. Se as suas orações eram respondidas ou não, você ainda gostava de orar. Você podia se fechar em uma sala durante várias horas e ter comunhão com Deus. Algumas vezes você podia até mesmo pular de alegria. Mas tudo isso agora está no passado; hoje você não se sente mais jubiloso. Você está triste.
Nessa conjuntura da sua experiência espiritual duas tentações podem vir a você: uma pode vir do inimigo, e nela Satanás pode acusá-lo dizendo que você caiu e até mesmo que não foi salvo, e a outra pode vir de você mesmo, porque você pode concluir que já que caiu deve ter cometido algum pecado, porém, ao procurar em que pode ter pecado, pode não ter encontrado nada em particular. Todavia, o estado de aridez e esterilidade continua.
Contudo, tal aridez muitas vezes não durará muito tempo. Algumas vezes se acaba em uma ou duas semanas ou pode durar apenas três ou quatro dias. E logo que o período seco passa, sua alegria volta. Durante o período de aridez a sua leitura da Bíblia e a sua oração pareciam ter sido alongadas à força, como se você tivesse tentado simplesmente recitar algo que não podia se lembrar. Mas agora você sente que a sua comunhão com Deus está renovada e reavivada. Porém, como esta restauração se sucedeu é um mistério para você. E por isso você logo resolve ter mais cuidado em manter a sua alegria. Você agora deve aplicar toda a sua força para conservar esse sentimento de exultação. Você será mais diligente na leitura da Palavra de Deus, na oração e no testemunho.
Surpreendentemente, entretanto, não muito tempo depois a sua alegria desaparece novamente. Você se recorda de como leu a Bíblia, orou e testemunhou hoje tanto quanto o fez ontem, – sim, até mais; por que então há esta tão vasta diferença entre os dois dias? Por que, você se pergunta, teve alegria ontem, mas não a teve hoje? Em tal situação você agora não está seguro de si mesmo, - nem mesmo seguro de que é de Deus e de Jesus Cristo. E então você comete um dos maiores erros da sua vida: pensa que perdeu seu poder espiritual e caiu. Embora você ainda ore, faz isso sem fé; embora leia a Bíblia, faz isso brevemente; e embora testemunhe, faz isso forçosamente.
O que é admirável para você é que depois de alguns dias ou algumas semanas a alegria inicial mais uma vez volta. Mais uma vez você tem prazer em fazer todas as coisas. Embora ela possa não ser uma experiência de terceiro céu, você tem a experiência de estar num topo de montanha. Contudo, o que se torna ainda mais embaraçoso é que daqui a pouco você cai em uma condição seca e insípida por outro tempo ainda. Por essa razão, você não pode evitar conjeturar que a vida é realmente cheia de declínios e abundâncias. Se alguém fosse questionado sobre o seu estado espiritual, muito provavelmente ele responderia que a sua vida é definitivamente cheia de altos e baixos. O que você considera ser alto é quando lê a Bíblia, ora e testemunha com alegria e prazer. O que você considera ser baixo é quando se sente insípido e seco na realização das mesmas coisas. Isso é o que você chama uma vida de altos e baixos.
Vamos então revisar desde o começo como um crente entra nessas situações de altos e baixos. Se pudermos descobrir a causa, obteremos a cura. E pesquisando as experiências de muitas pessoas nascidas de novo, acredito que descobrimos uma lei básica: a alegria diminui de muita para pouca, enquanto a aridez aumenta de menos para mais. A intensidade da alegria gradualmente se dissipa (embora fique cada vez mais e mais profunda), e além do mais o período dessa alegria se torna mais e mais curto, ao passo que a intensidade da aridez aumenta com o tempo e sua duração se torna mais e mais longa (embora fique cada vez mais superficial). Possivelmente a primeira aridez dura por apenas três ou quatro dias; a segunda, uma semana; a terceira, duas semanas; e a quarta, por um mês inteiro. Em outras palavras, a segunda alegria é mais curta e menos intensa do que a primeira, mas a segunda aridez dura mais e é mais concentrada do que a primeira. Os períodos de aridez se tornam mais longos, e a intensidade da aridez aumenta com o tempo. Todos os crentes têm esse tipo de experiência. Em resumo, os cristãos se deparam mais com aridez do que com alegria.
Há algum cristão hoje em dia que pode dizer que a sua alegria excede aquela do primeiro dia em que foi salvo? Como nós crentes somos transtornados em nosso coração! Sentimos que pecamos e somos derrotados. Não temos tanta alegria quanto no momento da nossa salvação. Quando fomos salvos, sentimo-nos como se andássemos nas nuvens e saltássemos por cima das montanhas. Quão corajosos fomos no testemunhar, testemunhando até mesmo na rua. Podíamos ler 50 ou 60 capítulos da Bíblia um dia e ainda considerar isso insuficiente. Mas atualmente o nosso sentimento é bastante diferente. Tudo é feito sem entusiasmo e por compulsão.
Deixe-me observar que cometemos um erro básico aqui. Quão seriamente entendemos mal a experiência espiritual, pois, com raras exceções, inferimos que a sensação de alegria representa enlevo espiritual, mas na verdade a aridez de coração não necessariamente significa o declínio espiritual. . Permita-me ilustrar este ponto da seguinte forma: quando encontro o meu relógio perdido, sinto-me muito feliz. Alguns dias depois, contudo, a minha alegria não será tão intensa como quando encontrei o meu relógio. E possivelmente dentro de mais alguns dias terá se desvanecido completamente. Mas naquele momento o meu relógio não foi perdido novamente. O que aconteceu? Simplesmente isto: não perdi meu relógio outra vez, mas sim a alegria que senti quando o encontrei!
Acontece o mesmo com a nossa experiência espiritual. Quando uma pessoa encontra o Salvador e é salva, não pode deixar de rejubilar-se (se alguém não se alegrar no momento da salvação, eu devo me perguntar se ele encontrou de fato o Salvador). Mais tarde, entretanto, quando ela perde seu sentimento de alegria, pode pensar que também perdeu o objeto pelo qual tinha se alegrado antes. Aqui está o que todos temos de reconhecer: embora o sentimento de alegria do crente tenha se perdido, o objeto daquela alegria não foi perdido.
Deixe-me perguntar-lhe: o Senhor Jesus mudou? De modo nenhum. Deus mudou? Não, Ele não mudou. Deus retomou a vida eterna que uma vez lhe deu? Certamente não, pois tanto quando você se sente animado como quando se sente seco, ainda tem a mesma vida eterna. Independentemente de estar animado ou sem inspiração, a sua situação permanece a mesma, porque aquilo que você recebeu de Deus nunca é perdido. Por isso, posso dizer que realmente não há algo como uma situação alta e uma baixa na vida e na experiência de um cristão (isso não pode se aplicar, naturalmente, àqueles cristãos que realmente pecaram e apostataram. Eles são a exceção. O que é mencionado aqui é aplicável somente para cristãos de uma forma geral).
Deus nunca muda nem faz a obra do Senhor Jesus experimentar qualquer mudança, nem o Espírito Santo jamais muda. A vida eterna que você recebeu ainda está ali. O que posteriormente muda ou é perdido é a sensação de alegria que você experimentou no momento da salvação. Por exemplo, uma criança, em sua ignorância, pensa que o sol desapareceu em um dia chuvoso. Então ela pergunta a seu pai para onde foi o sol. Ela sobe na escada para ter uma visão mais próxima do sol, mas não pode encontrá-lo. Ela pode até mesmo subir em uma torre, mas mesmo assim não pode encontrar o sol. Na realidade, nós os mais velhos sabemos que o sol não mudou; ele simplesmente foi escondido da nossa visão pelas escuras nuvens. Ora, justamente do mesmo modo, o Sol do crente não mudou, mas apenas o seu sentimento: há escuras nuvens em seu céu pessoal para que a luz do seu Sol esteja escondida da visão. Se um crente viver em seus sentimentos, o seu céu muitas vezes vai mudar e será frequentemente obscurecido por nuvens. Mas se ele não viver segundo o sentimento, o seu céu não sofrerá nenhuma mudança. Deveríamos viver acima das escuras nuvens do sentimento.
Já dissemos que a intensidade da alegria diminui e sua duração encurta à medida que o tempo passa, enquanto a intensidade da aridez aumenta com o tempo e a sua duração se alonga. É um fenômeno comum compartilhado por todos os cristãos. Não há nada acidental a respeito dele. Muitos santos têm a mesma experiência. Já que isso não é algo acidental, deve haver uma mão por trás dele que o controla. De quem é essa mão? É a mão de Deus. É Deus que faz com que a intensidade da nossa alegria diminua e se encurte com o tempo. E é Ele que faz a intensidade da nossa aridez aumentar e alongar-se com o tempo.
Quanto aos cristãos anormais, isto é, quanto àqueles que pecaram e se apostataram, eles naturalmente não têm nenhuma alegria. Os cristãos excelentes, que buscam a Deus com simplicidade desde o começo e se rendem incondicionalmente, experimentam a especial alegria depois de cada novo empenho. Toda vez que veem a obra de Deus, sentem especial alegria. Tanto os anormais quanto os excelentes são a exceção. Falo aqui somente para cristãos em geral.
Quais são os objetivos de Deus ao criar tais condições em nossa experiência cristã?
(1) Mostrar-lhe que você não deve fazer nada por causa de você mesmo. Quando você está animado e alegre, lê a Bíblia com gosto. Você a está lendo porque ela é a Palavra de Deus ou porque é um deleite para você? Qual é o objetivo da sua oração? De estar diante de Deus e buscá-Lo por causa Dele mesmo ou para obter prazer? Você ora por amor a Deus ou para fugir do seu dever de orar? Se tudo o que você faz for motivado pelas últimas razões, então faz isso para satisfazer-se. Seu objetivo não é para a glória de Deus.
Em seu zelo você pode não sentir que está empreendendo uma coisa para você mesmo, mas pensa que está fazendo para Deus. Entretanto, você deve se lembrar de que no momento de grande excitação, como se estivesse nas nuvens, talvez possa estar mais na carne! Por essa razão Deus tira a sua alegria e o coloca em um estado de aridez. Como então você se sente? A sua oração, a leitura da Bíblia e o testemunho agora parecem ser um tanto forçados. Deus o coloca em tal situação para ensinar-lhe uma lição, para que você perceba que a experiência culminante que considera como a mais espiritual é, no fundo, automotivada. O que você considera ser a mais espiritual das experiências resulta ser de fato algo carnal.
Outrora você expôs o lado mau da sua carne para o mundo; agora você está expondo o lado bom da mesma carne. Deus deseja mostrar-lhe se você ainda orará, ou lerá a Bíblia, ou testemunhará quando não há nenhuma alegria, mas apenas aridez. Mesmo assim, Ele não quer que você seja demasiadamente oprimido pela aridez, por isso mais uma vez lhe dá alegria. E mais uma vez você considera que a sua vida espiritual está tocando o pico, com a consequência de que Ele leva embora a sua alegria uma segunda vez. Mas depois de um curto espaço de tempo, Deus lhe devolve um pouco da alegria para que você não fique desanimado pelo seu estado ressecado e insípido e esteja pronto para desistir de ser um cristão.
Quando o segundo período seco vier, Deus pode lhe perguntar se descobriu algo, e você pensa que isso é novamente devido ao seu próprio erro. Mas na verdade esse não é o objetivo de Deus em tudo isso. O que Ele objetiva é ajudá-lo a determinar se está fazendo essas coisas por obrigação cristã ou com alegria. Para algumas pessoas isso pode acontecer por cinco ou seis vezes, ou até sete ou oito, ou podem ser necessários ciclos repetidos de alegria e de aridez antes que Deus seja capaz de alcançar Seu objetivo nelas. Ele quer que elas saibam que normalmente procuram alegria por causa delas mesmas, e não por causa Dele. Essa é a primeira razão por que o Senhor nos dá esse tratamento de alegria e aridez.
(2) Treinar o poder da nossa vontade. Quando você está tendo experiências culminantes, acha muito difícil fazer coisas? Muito certamente você não acha. Não é preciso nenhum esforço para ler a Bíblia, orar ou testemunhar. Por exemplo, suponha que você é naturalmente falante. Quando está muito extasiado, – sentindo a proximidade de Deus como se pudesse tocar o próprio Senhor Jesus, - você reflete que seria melhor se trancar em uma sala e não ver ninguém desde a alvorada até o crepúsculo. Durante tal tempo, é quase instintivo para você vencer a sua fraqueza natural de ser falante. Ou suponha que você seja uma pessoa temperamental e em geral é facilmente provocado na raiva. Em um momento de alegria, você pode desculpar as pessoas sem muita dificuldade. Contudo, logo que a sua alegria se desvaneça, você reage como um porco-espinho. Você explode sempre que as pessoas o tocam. Ou durante um período de excitação você não experimenta nenhuma dificuldade de viver e trabalhar, mas assim que se encontra em um período de aridez descobrirá que enfrenta tremenda pressão em ambas as áreas e precisa de força de vontade para ler a Bíblia, orar e testemunhar; de fato, você tem de se lembrar constantemente de que é seu dever executar tais atos. Outrora, inspirado pela intensidade do seu sentimento arrebatador, você poderia falar durante cinco horas sem parar. Agora, no entanto, você se sente tão indiferente que não tem uma palavra para dizer. Você parece estar atado quando tenta dizer às pessoas como crer no Senhor Jesus e ser salvo. Você precisa se esforçar para falar. A menos que realmente queira fazer as coisas, é incapaz de fazê-las.
Aqui devo levantar esta importante questão: quando é o tempo em que realmente passamos pela experiência espiritual? No momento de grande alegria no lugar elevado ou durante o período de aridez no vale? Não é quando estamos em um período de aridez? Pois no momento de excitação somos arrastados pela correnteza da nossa emoção; isso não pode ser visto como uma experiência espiritual. Mas quando nos sentimos secos, devemos exercitar a nossa vontade; por isso, tudo o que fazemos em tal situação é da verdadeira personalidade, do verdadeiro eu, que o faço. A razão por que Deus dá a você e a mim um período de aridez é para nos fazer exercitar o poder da nossa vontade.
Se, por exemplo, embarcarmos num veleiro para ir a certo lugar, normalmente chegaremos em algumas horas. Quando partirmos, é provável que o vento esteja soprando bem vigorosamente. Por isso nós alegremente navegamos para o nosso destino. Dentro em pouco, contudo, o vento pode parar sem que alcancemos o lugar desejado, - restaram ainda algumas horas de navegação. O que devemos fazer? Devemos remar ou lançar âncora e esperar pelo vento novamente? Bem, se contamos com uma chegada antecipada, devemos remar com toda a nossa força. E durante tal tempo estaremos usando a nossa verdadeira força. Isso é apenas uma ilustração desse segundo objetivo de Deus.
Quando as nossas emoções estão agitadas, é como um barco navegando a favor do vento - os seus marinheiros não precisam fazer nenhum esforço. Quanto nós crentes antecipamos a ajuda de tal vento em toda a nossa vida. Mas em um veleiro tal ação reduziria o capitão e os os seus marinheiros à inutilidade. Se eles decidissem navegar somente com o vento ou não fazer nada, quem jamais empregaria tais marinheiros? Nós agradecemos a Deus quando Ele nos dá os enérgicos ventos da nossa emoção de vez em quando para irmos em frente. Mas Deus também deseja nos estimular para exercitarmos o poder de ressurreição que Ele nos deu. De outra forma, não nos moveremos se não tivermos nenhum sentimento de alegria. Por conseguinte, Deus dá a aridez para que possamos usar a força que recebemos na regeneração e irmos em frente até sem a ajuda do sentimento de alegria arrebatadora. E assim seremos capazes de navegar até o fim da nossa vida cristã, mesmo se ali não houver nenhum vento, pois o poder de ressurreição se torna mais manifesto em meio à privação e morte.
A ajuda da emoção pode nos ser concedida, entretanto esse não é o objetivo de Deus. Ela é simplesmente parte do processo pelo qual Ele trata conosco. O que Deus visa é treinar a nossa vontade para que na hora mais escura sejamos capazes de exercer o nosso poder. Quando nos sentimos secos, podemos usar a nossa vontade para ler a Bíblia, orar e testemunhar. Por meio de repetidos exercícios o poder da vontade ficará mais e mais forte. Se apenas prosseguirmos com o poder emocional por toda a nossa vida, nunca faremos muito progresso. A razão por que Deus nos dá os sentimentos jubilosos é para nos impedir de ficarmos tão desencorajados a ponto de desistirmos de sermos cristãos. Mas então Ele reduzirá gradualmente e encurtará a nossa alegria e também aumentará e alongará a nossa aridez para que possamos exercer o nosso poder até que nós mesmos fiquemos fortes.
Quando revemos a nossa experiência passada, notamos que a nossa alegria e aridez vieram a nós como ondas. Também descobrimos que não fazemos muito progresso no tempo de alegria, ao passo que fazemos mais progresso no tempo de aridez. Na verdade, vemo-nos avançar durante aquela semana árida. Como costumamos pensar que teríamos caído se diariamente a nossa vida fosse tão dissonante e insípida! Mas quando honestamente comparamos as nossas experiências, entenderemos que fazemos progressos quando nos sentimos fracos, mas fazemos pouco progresso quando estamos jubilosos.
Quando navegamos com o vento a favor, ele nos ajudará a usar a força do nosso braço? Certamente não, pois não é necessário. Sempre devemos usar mais a força do braço quando não há nenhum vento ou quando navegamos contra ele. O nosso progresso depende muito de como exercemos o nosso poder. Quando nos sentimos áridos, vamos usar o nosso poder declarando "quero avançar" – e avançaremos de fato. Quão triste é que os olhos de muitos crentes estejam fixos neste centro de alegria, considerando-o ser o pico da experiência espiritual; mas eles não conseguem entender que o cristão faz verdadeiro progresso espiritual quando se move no poder da sua vontade.
(3) Fazer com que nós dominemos o ambiente. Se você puder superar a sensação de aridez, será capaz de dominar o seu ambiente, já que a sensação de aridez e desatenção é a mais difícil de superar. Superando-o, você pode superar muito naturalmente outros ambientes. O mais profundo de todos os ambientes é a sua emoção. Se você for capaz de conquistar a sua emoção, será vitorioso sobre outros ambientes também. Você deveria exercer o poder da vontade dizendo: "lerei a Bíblia, orarei e testemunharei". Embora você esteja vivendo na aridez sem nenhum sentimento de unção, todavia descobrirá o poder de superar algo em seu ambiente, por maior que possa ser. Posso falar francamente e dizer que quem não puder superar o ambiente não superou a emoção. Aquele que conquista o ambiente conquistou primeiro as suas próprias emoções.
(4) Fazer-nos viver pela fé. Os períodos de alegria tornam-se mais curtos e os de aridez ficam mais longos. A intensidade da alegria gradualmente diminui enquanto aumenta o de aridez – até que chega um dia em que ambos se encontram como a confluência de duas correntes de água, para que todas as distinções desapareçam. Eles finalmente fluem juntos e se tornam um, indistinguíveis um do outro. O objetivo de Deus de nos conduzir dessa forma é nos mostrar que na verdade eles não são diferentes. Em outras palavras, a nossa alegria e aridez fundem-se e se tornam uma. Hoje Deus tem esse propósito para que o justo possa viver pela fé e não pelo sentimento. Por mais que possamos sentir, isso não nos proporciona nada. Deus tem de treinar alguns crentes dez ou até vinte vezes para fazê-los não viver pela sua força emocional. Ele permite que a aridez deles se torne mais longa e a intensifica mais profundamente para conduzi-los ao lugar onde possam viver pela fé. Se você nunca tiver sido treinado, logo descobrirá quão completamente fraca é a sua força emocional, pois o justo viverá somente pela fé.
Finalmente, se você realmente aprende a viver pela fé, pode viver a vida mais jubilosa em meio à aridez e a vida mais insípida em meio à bem-aventurança. Isso pode soar paradoxal, contudo é uma verdade na vida espiritual. . Deus nos conduzirá para vivermos a vida de fé.
O que significa viver pela fé? É-nos apresentado muito claramente pelas palavras ditas pelos hebreus, Sadraque, Mesaque e Abednego, a Nabucodonosor: "Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste" (Dn 3:17-18). O que eles quiseram dizer foi que mesmo se Deus não os salvasse, eles não seriam afetados pela idolatria, não adoraria a imagem. Isso é o que significa viver pela fé!
Os cristãos hoje em dia inclinam-se demasiadamente em direção a uma vida sentimental. Se Deus tivesse de tirar o sentimento jubiloso deles, perderiam tudo. Contudo, Deus não nos diz para vivermos por sentimento, mas para vivermos pela fé. Depois de anos de experiência você perceberá que a alegria e a aridez são realmente iguais. Nenhuma grande irrupção de alegria o afetará nem qualquer momento de aridez o influenciará. Você vive a mesma vida atravessando uma profunda aridez bem como uma grande alegria.
Que possamos não agir como aqueles que possuem uma pequena capacidade, – na alegria eles dançam na casa, na aridez ensopam o muro com lágrimas. Se vivermos pela fé, não seremos agitados por nenhum deles. Mesmo assim, que fique claramente entendido que não somos pessoas sem emoção. Realmente temos sentimento de alegria bem como de aridez, mas não deveríamos permitir que esses sentimentos externos tocassem nosso homem interior, pois o que estivemos enfatizando nesta mensagem é que a alegria que o homem exterior sente não é a que o homem interior desfruta no Senhor, porque esta última é mais profunda e inabalável. Porém, essa alegria profunda e inabalável não é experimentada plenamente até que sejamos capazes de controlar completamente a alegria exterior. Possa o Senhor ser capaz de realizar Seus objetivos em nós para que possamos viver pela fé e não pelo sentimento.
O que é a salvação plena? Ela não quer dizer que um cristão se livra de um pecado hoje e de outro amanhã. Uma salvação plena significa aceitar Cristo plenamente. E tendo tal Cristo, temos a salvação plena. O cristão mais difícil de ser ajudado é aquele cujos olhos não veem Cristo. O que ele vê é o seu próprio bem ou mal. A sua atenção está focada em certo pecado seu, ou no tormento que pode ser infligido a ele por certa pessoa, ou a atração por determinada coisa. Por isso ele se lamenta e se odeia, pensando em uma forma de vencer. Isso é um grande erro, mas Deus não nos chamou para vencer uma coisa após outra, para executar um ato bom após outro; em vez disso, Ele nos pede para aceitar um Cristo pleno.
Por exemplo, uma criança ama fruta. Hoje ela pensa em comer peras, por isso vai ao pomar para comprar algumas. Amanhã ela deseja comer uma maçã ou um pêssego, por isso irá novamente comprar algumas maçãs ou pêssegos. Mais tarde ela descobre que o seu pai é o proprietário do pomar e que ele também lhe dá esse pomar. Depois disso, toda a situação é mudada, já que agora todas as frutas pertencem a ela. Semelhantemente, os cristãos pensam em fazer uma coisa hoje e outra coisa no dia seguinte. Hoje precisamos de paciência, amanhã precisamos de amor. Somos como essa criança que compra peras hoje e maçãs ou pêssegos amanhã. Contudo, Deus nos convida a aceitar um Cristo pleno: o pomar “espiritual" pleno de Deus agora nos pertence, como um Cristo pleno. Mas comprando a varejo, a pessoa tem de ir comprar muitas vezes sempre que sinta falta de algo.
Não digo aqui que você e eu não precisamos de paciência ou amor. Certamente devemos expor essas virtudes. Contudo, quão impossível é fazer uma coisa após outra. Se você tentar e tentar, amará mais o mundo, tornar-se-á mais e mais orgulhoso e cada vez mais seguirá sua própria vontade enquanto os dias passam. Você deveria saber que todo o "pomar" é seu. Deus quer que você compartilhe um alvo, que é possuir o Cristo pleno. Cristo em você, e Cristo em mim, nos capacitará a querer, e fazer, para o próprio prazer de Deus.
Você pode ter ouvido anteriormente a verdade de que Cristo vive Sua vida em nós, mas quero perguntar-lhe: você tomou posse dessa verdade experimentalmente? Quão frequentemente sabemos e, embora tentemos, ainda assim falhamos.
"Mas vós sois Dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção..." (1 Co 1:30). Se lermos esse versículo mais cuidadosamente e lentamente, podemos ver sem hesitação que na época em que fomos salvos Deus fez Cristo ser a nossa justiça e santificação pessoal. A resposta é Cristo. O que é vitória? É Cristo. O que é a paciência e a humildade? É Cristo. Qualquer um que seja capaz de responder desse modo descobriu o segredo. Todo o meu ser é corrupto e carnal, mas Cristo é a minha santidade. Ele é a minha santificação. Não há ninguém que seja santo e vitorioso; mesmo assim, há uma forma pela qual podemos dizer a Deus: “Deus, eu aceito Seu Filho!". E esta será a nossa santidade e será a nossa vitória.
3) Quando é que Cristo Vive em mim?
Se for verdade que somente Cristo tem a vida que vence, então quando Ele começa a viver em nós? Vamos reconhecer que na época em que fomos salvos possuímos Cristo. “Aquele que tem o Filho tem a vida..." (1 Jo 5:12). "Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no Seu nome" (Jo 1:12). Quando cremos, já temos Cristo. "Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2 Co 13:5b). Quem são aqueles que não são considerados reprovados pelo Senhor? "...e o que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6:37b). Você foi ao Senhor? Se fomos a Ele, não somos reprovados. O que, então, temos? Temos Jesus Cristo em nós. Por essa razão, é uma séria asneira alguém dizer-lhe que, embora tenha crido no Senhor, você não tem Cristo em você. Se você não foi salvo, deve receber Cristo; mas se é salvo, Ele já está em você.
4) Como Deixar Cristo Viver a Sua Vida em mim?
Agora sabemos que somente Cristo é vitorioso. Também sabemos que Ele vive em nós. Pois quando cremos Nele, nós O temos. Contudo, dia após dia ainda sou eu mesmo, como se nada tivesse acontecido. O que devemos fazer para que Cristo possa viver Sua vida em nós? Há dois caminhos, ou podemos dizer que há duas condições.
Primeira, rendição. Sim, Cristo está de fato em mim, mas Ele não pode fazer nada se eu não O deixar fazer. Você e eu devemos obedecer a Deus. O que precisamente é rendição? A rendição não é uma promessa a Deus de fazer a Sua vontade nem uma aliança com Deus para fazer o que não pode ser feito. Render-se é eu tirar as minhas mãos da minha própria vida. É transferir para a mão de Deus o meu bem e o meu mal, a minha força e a minha fraqueza, o meu passado e o meu futuro, a minha própria vida e próprio ser para que somente Deus possa operar em mim.
Se não retirarmos as nossas mãos de nossa vida, Deus não tem nenhuma forma de viver a Sua vida através de nós. Suponha que você dê um livro a alguém, contudo sua mão não se solta do livro; seu amigo será capaz de recebê-lo? Quando vamos a Deus, devemos dizer-Lhe: "Senhor, entrego a Ti todo o meu bem e o meu mal, o meu gostar e não gostar, o meu desejo e não desejo, o meu fazer e não fazer". Estamos dispostos a fazer isso? Se não estivermos, não há nada que Deus possa fazer por nós. É nossa responsabilidade entregar o nosso derrotado ego. Deus está sempre pronto, esperando que você e eu façamos esta única coisa: estarmos dispostos a entregar esse mesmo ego.
A rendição não é pedirmos para fazer o que não podemos fazer. É necessário apenas que nós entreguemos o nosso bem e o nosso mal, a nossa força e a nossa fraqueza, até mesmo o nosso tudo. Certa vez li uma história sobre um jovem que declarou que estava disposto a tudo, exceto isto: se Deus lhe pedisse para pregar para o povo católico, estava determinado a não ir. . Deixe-me perguntar: você está disposto a entregar um coração indisposto ao Senhor?
A rendição implica dois aspectos: um é oferecer-se para ser usado por Deus, o outro é oferecer-se para deixar Deus fazer a sua obra. Contudo, quantos há que pensam na rendição somente quanto ao oferecer-se para ser usado por Deus, e negligenciam o outro aspecto. Na realidade, Deus lhe pede para fazer apenas uma coisa, que é dar a si mesmo a Ele, de agora em diante. E isso constitui uma morte para o ego. É ser liberto da sua própria carne. Você deve entregar-se. Você está disposto a fazer isso? É bom se você o fizer.
Quão difícil é para você tirar a sua mão da pessoa ou da coisa que você ama. Digo que é muito difícil. Pois você sente que tem de pagar um preço tão alto, e por isso está mostrando mais relutância em deixar. Por exemplo, você sabe que muitas vezes é derrotado na questão da amizade. É muito difícil para você dizer a Deus: “Sejam os meus amigos bons ou maus, dou todos eles a Ti, Senhor. Peço-Te que me liberte". Ou se você ora por alguém por quem não tem nenhum profundo interesse, pode crer facilmente que Deus o ajudará. E se ele é ou não ajudado ou curado, não há problema para você. Mas se os seus pais, esposa, marido ou amigo muito chegado ficarem doentes, você descobrirá quão difícil é confiá-los a Deus. Se eles não forem ajudados ou curados, você teme que algum deles possa morrer. Isso prova que quanto mais você ama, mais difícil é retirar a sua mão.
O que Deus requer hoje não é a quantidade de bem que você deve fazer. Ele só lhe pede que entregue o seu tudo para Ele. Encontramos tanta derrota na nossa vida para nos desencorajar. Há alguns meses tinha um pecado que não podia superar e não tinha fé para confiá-lo a Deus. Uma vez, duas vezes, muitas vezes tentei superar, mas nada aconteceu. Finalmente fui capaz de entregá-lo a Deus. Por isso a questão hoje está em, se você está disposto a se colocar inteiramente na mão de Deus. Independentemente das pessoas, do mundo, do pecado, ou de qualquer coisa, se você estiver em sua própria força não pode deixá-los, então percebe que pode superar se estiver disposto a dizer a Deus: "Oh Deus, confio a Ti o que não posso deixar ir. Por favor, opere em mim até que eu esteja disposto a deixar".
Deixe-me dizer-lhe que não temo se você não puder deixá-los, nem temo se a sua fraqueza aumentar uma centena de vezes, nem se você cometer mais pecados; temo apenas que não esteja disposto a entregar-se a Deus para que Ele opere em você. Você está disposto a entregar-Lhe aquela pessoa, ou amigo que você ama, aquele seu pecado especial, algum problema particular que o tem infectado incessantemente, ou aquelas coisas que tiram o lugar Dele? O ponto crucial da questão não está nas dezenas de milhares de fraquezas e derrotas que você tem, mas em se você está disposto a dizer a Deus: “Oh Deus, entrego-me totalmente a Ti.".
O ato de rendição não se destina a fazê-lo sofrer; ao contrário, está destinado a expressar o seu desejo de deixar que Deus opere em você até que esteja perfeitamente disposto a obedecer-Lhe.
Para render-se não é necessário que você faça o que não pode fazer. Isso simplesmente requer que você se ponha na mão de Deus e O deixe operar até que esteja pronto para obedecer-Lhe e disposto a deixar todas as coisas. Se você estiver disposto, Deus então tem uma forma, pois Ele não está assustado com a imensidão de pecado ou a depravação dos homens. Ele apenas está assombrado com a falha dos homens de colocarem o seu coração em Sua mão.
Para resumir, render-se então significa a entrega da nossa vontade, que é colocar-nos na mão de Deus, e deixá-Lo operar até que Ele esteja bem satisfeito.
A segunda forma ou condição de Cristo ser capaz de viver a Sua vida em nós é crer. Já que nos rendemos, devemos agora crer que Deus nos libertará do que amamos, do que não podemos e não queremos abandonar. "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o mais ele fará" (SI 37:5). Confiar é render-se; confiar é crer. E o resultado é que "Ele o fará". Sabendo que não temos jeito, rendemo-nos a Deus e cremos que o Senhor que vive em nós realizará a obra.
Você pode dizer que é vitorioso em Cristo? Aleluia, eu posso dizer que sou vitorioso em Cristo, porque a Bíblia assim me diz. Quão lamentável que a nossa fé seja menor que o tamanho de um grão de mostarda, – não, até menor que uma partícula de poeira! Se tivermos fé, Deus começará a operar. Quando o Senhor criou os céus e a Terra, Ele simplesmente usou a Sua boca, pois quando Ele disse: "Haja luz", houve luz! Se tivermos fé, Ele muito certamente começará a operar porque está ansioso por fazer a Sua obra.
Há algumas semanas um irmão veio falar comigo. Ele disse que tinha três ou quatro pecados que não podia superar, por isso às vezes tinha vontade de suicidar-se. Perguntei-lhe: "Você crê que Cristo pode livrá-lo do seu pecado?". "Creio", ele respondeu, “mas continuo pecando muitas e muitas vezes. Outros pecados eu superei, mas esses poucos ainda permanecem." Assim, li com ele Romanos 8 versículo 1: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Expliquei-lhe dizendo: “A Bíblia nos fala de uma condição para a libertação, que é estarmos em Cristo Jesus. Você está em Cristo Jesus?". "Sim", ele respondeu, "eu estou em Cristo Jesus". "Então olhe para o que a Bíblia diz", respondi e li para ele esta seguinte passagem do versículo 2: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte". “A Bíblia diz que você está livre da lei do pecado e da morte. Você está livre agora?", perguntei-lhe. Ele respondeu: “Não ouso dizer isso". Perguntei-lhe: “Então onde está a sua fé?".
Digo novamente que não receio a fraqueza, a corrupção e a pecaminosidade dos homens; receio apenas um tipo de pessoa: aquele que não crê na Palavra de Deus. Quão preciosas são as palavras “te livrou"! A Palavra de Deus diz: “te livrou" e não "irá te livrar". Cremos realmente nisso? Cristo morreu por você. Se você simplesmente crer, tem a vida eterna. Que prova você tem disso? Porque a Bíblia assim o diz. Mas note que a Bíblia também declara que "a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte", portanto já estou livre, fui livrado da lei do pecado e da morte. Mesmo se houver centenas, milhares, sim, dezenas de milhares de pecados, eu fui liberto de todos eles! Fui liberto até da morte espiritual em Adão.
Você crê em tal palavra? Você crê que já foi liberto da lei do pecado e da morte? A Bíblia declara que você foi liberto. Se você realmente crê, gritará: "Aleluia, louvado seja Deus! Estou liberto da lei do pecado e da morte porque a Palavra de Deus assim o diz!". Você tem algum pecado particular ou algum pensamento sujo que não pode superar? Nesse caso saiba, e perceba, que um evangelho lhe é pregado hoje, que declara que a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus, o livrou de tal pecado.
Precisamos entender que a rendição e a fé estão intimamente relacionadas. Quando essas duas ações estão juntas, há vitória e não derrota. Não teremos vitória se simplesmente acreditarmos e ainda não estivermos querendo dar a nossa vida a Deus em troca da vida de Cristo. Embora no momento da regeneração já tenhamos entrado na posse dessa vida de Cristo, Deus não nos força a viver pela vida de Cristo se a nossa vontade não for rendida a Ele para deixar Cristo viver em nós e por nós. E justamente por isso, se apenas rendermos, mas não crermos, tal rendição será reduzida a um tipo de obra morta; pois embora estejamos preparados para dar a Deus o direito de operar, não demos a Ele a oportunidade de entrar.
Por isso devemos (1) levantar a nossa cabeça para olhar para Deus e dizer: "Senhor, entrego-me totalmente a Ti, estou disposto a deixá-Lo operar"; e (2) crer que Deus já operou segundo a Sua Palavra.
Cristo cuidou de todos os conflitos, pois o governo divino está sobre os Seus ombros. Vamos crer Nele dia após dia, porque a fé precisa ser contínua, ao passo que a rendição é feita uma vez para sempre. Podemos nos render a Deus em um instante e nunca mais necessitarmos fazê-lo novamente; embora algumas pessoas se rendam gradual e lentamente, isso é desnecessário. Tendo nos confiado a Deus na rendição, cremos que Ele fará com que Cristo viva a Sua santidade e vitória em nós e por nós. Outrora fomos salvos da punição do inferno; agora somos salvos do poder do pecado. Não há nada a ser feito exceto render-se e crer. Possamos nós provar que somos realmente vitoriosos em Cristo.
É bastante simples: apenas creia. Sem fé nada é possível, mas com fé haverá transformação, pois Deus o disse. Louve e agradeça a Ele! Creia com fé simples, independentemente de sentimentos. Tudo o que Deus diz é assim. Não vimos o céu e o inferno, contudo cremos no céu e no inferno por causa da Palavra de Deus. Para crer não necessitamos de nenhuma evidência. Precisamos apenas de uma prova, e essa prova é a Palavra de Deus. Somos transformados não porque vemos, mas porque cremos no que o Senhor disse. Crendo, somos mudados; não crendo, não somos mudados.
Certa vez perguntei a um irmão se ele cria em Romanos 8 versículo 2. Ele respondeu que sim. Prossegui mais no assunto perguntando o que ele faria se se levantasse no dia seguinte e cometesse o mesmo pecado novamente. Ele não sabia como responder. Deixe-me observar que o maior perigo está na primeira e básica tentação, pois Satanás sugerirá que o render-se e crer são em vão porque você pecou novamente. "Em que você está diferente do que era antes?", ele perguntará. “Você não é o mesmo?" Mas digo novamente que a fé é duradoura. O que é de curta duração não é fé. De tudo o que existe no mundo, a fé é a mais duradoura. A tentação pode vir, mas Deus diz que em Cristo somos mais do que vencedores. Por isso, em Cristo venceremos, e a tentação falhará. A forma como tratamos com esta tentação básica revela se temos a verdadeira fé.
Em certa ocasião o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “Passemos para o outro lado" do lago da Galiléia; mas repentinamente se ergueu uma grande tempestade, com as ondas batendo tanto no barco que ele começava a se encher. Os discípulos, então, despertaram Jesus, que dormia, e gritaram: “Mestre, não se importa que pereçamos?". Ele se levantou e repreendeu o vento e a tempestade. E o vento cessou, e houve uma grande calmaria. Mas o Senhor repreendeu os discípulos dizendo: “Ainda não tendes fé?" (Mc 4:35-40). Vamos realmente ver que uma vez que o Senhor tinha ordenado que todos eles fossem para o outro lado, nada poderia impedir. O vento poderia soprar mais duramente e as ondas poderiam se levantar mais alto; contudo, nada poderia impedi-los de alcançar a outra costa porque o Senhor tinha dito diferente. Consequentemente, o que é de máxima importância é crer na Palavra de Deus. Se Deus assim o disser, então isso é suficiente e nada mais importa.
III. VIVENDO PELA FÉ
Encontrei muitos crentes e diversas vezes discuti com eles vários problemas espirituais. Dentre estes, uma dificuldade parece ser bastante comum para a maioria das pessoas, e a qual muitos acham difícil de superar: por que em certos momentos a vida espiritual deles parece ser árida e desanimada enquanto em outros parece jubilosa e excitante? Embora possam não ter uma experiência de "terceiro céu", todavia tiveram o que pode ser chamado de uma experiência culminante. Eles se perguntam como podem superar os períodos áridos e manterem-se em uma posição continuamente alegre e inspirada. Como gostariam de contar com uma vida vivida em um constante fluir e até mesmo num estado de transbordamento. E assim seriam capazes de cantar aleluias em todas as situações da sua vida. Tal, então, é o problema que muitos crentes desejam resolver.
Esse tipo de vida que vacila entre aridez e alegria é o que é comumente chamado pelos crentes de uma vida parecida com uma onda ou uma existência espiritual inconstante. De acordo com as tendências dos seus sentimentos, muitos cristãos vivem de vez em quando sobre topos de montanha e em outras vezes nos vales profundos. Ás vezes são jogados de lá para cá pelas ondas, outras vezes andam sobre a água. Ás vezes estão nas alturas, outras vezes estão abatidos.
Quase todos os cristãos estão conscientes de que sua vida é invadida por um súbito sobe e desce. Em certos dias, sentem-se tão animados que podem orar por horas sem o mais leve cansaço. Quando testemunham do Senhor, podem falar sem cessar. Quanto mais falam, mais podem falar. Se estiverem ouvindo a Palavra de Deus, acham-na tão interessante que poderiam continuar escutando infinitamente. Ou se estão lendo a Bíblia, o gosto dela é tão doce, como o mel. Em outros dias, entretanto, tudo parece ter piorado. Eles não podem achar nenhuma diferença entre orar e não orar. Eles acham a leitura da Bíblia seca e insípida como se ela fosse apenas tinta preta sobre um papel branco. Quando encontram as pessoas, ficam preocupados se não testemunharem, por isso se esforçam para dizer algumas palavras como "creia no Senhor Jesus e terá vida eterna", mas em seu coração sentem tal desalento como se não houvesse realmente nada para dizer. Durante tal período tão árido, todas as coisas são feitas por compulsão. Eles não experimentam nenhuma alegria ao se aproximar de Deus, contudo sabem que devem ir a Ele. Como resultado, forçam-se em se aproximar do Senhor.
Esse tipo de vida cristã parece encontrar seu correlato no reino natural. Se há um pico de montanha, também deve haver um vale profundo. Depois das ondas tempestuosas haverá uma superfície calma. Tendo se acostumado a tais experiências, muitos cristãos concluem que é impossível aos crentes superar uma existência tão vacilante e alcançar um estado espiritual tranquilo e confiante. Estamos destinados, tais cristãos acreditam, a essas experiências de sobe e desce por toda nossa vida.
No entanto, há outro grupo que declara que não temos de passar por tal existência de cume e vale, mas que a experiência cristã pode muito bem ser firme e tão constante como uma linha reta. Deixe-me sugerir, porém, que nem levamos uma vida cristã de sobe e desce, nem o crente que espera ter uma experiência contínua está cem por cento correto.
Se desejarmos descobrir o princípio em certa questão, devemos juntar primeiro as experiências espirituais de vários grupos de pessoas e então tentar descobrir uma regra que seja comum a todos. Por exemplo, para chegar a uma conclusão acerca de certa doença temos de examinar os seus sintomas e efeitos em centenas ou até milhares de pessoas com a mesma enfermidade. Se a investigação de todos os doentes revelar o mesmo começo e o mesmo fim, então podemos chegar a um julgamento comum sobre ela. Vamos, portanto, investigar a origem do tipo de vida de sobe e desce na experiência do cristão mediano e aprender dela alguma regra definida.
Sabemos que a vida de um crente começa com sua salvação. Quando uma pessoa nasce de novo, ela fica triste? Ao contrário, fica muito feliz, porque no primeiro dia em que um homem encontra um tesouro normalmente fica exultante. O mesmo é verdadeiro com respeito ao recém-salvo. O dia em que é dito a uma pessoa que por crer em Jesus Cristo ela recebeu a vida eterna, – tendo passado da morte para a vida e por isso não está mais condenada, – é o dia mais feliz da sua vida. Porém, posso perguntar: essa felicidade dura para sempre? Não, ela dura apenas algum tempo. Tal sentimento de felicidade finalmente passará. Quanto tempo, entretanto, ele durará? Varia de acordo com as diferentes pessoas. Pelo que sou capaz de observar, uma sensação tão exuberante de felicidade raramente continua além de alguns meses. Normalmente permanece durante um mês ou dois; e para alguns indivíduos pode durar apenas uma ou duas semanas. Mais cedo ou mais tarde a sensação de júbilo pela sua salvação vai se desvanecer.
Suponha que desenhemos uma linha horizontal para representar a nossa experiência de vida cristã. O que está acima da linha pode ser qualificado como alegria, o que está abaixo da linha como aridez marcante. E vamos dizer que aqui está um homem que teve alegria por vários meses depois de ser salvo. Mas em certa manhã, lendo a Bíblia, orando e tendo comunhão com Deus, como é a sua prática habitual, nota que a sua alegria não é a mesma como era ontem. De alguma maneira ela diminuiu. Ora, é bem verdade que depois de serem salvos alguns crentes são submetidos a perseguição e tratamento cruel, outros têm de tratar com pecados e fazer a restituição e pedir desculpas, mas eles possuem inexprimível alegria que compensa todas essas perdas. Sem nenhuma dúvida todos deveriam ficar jubilosos por serem salvos; até Deus se alegra pela salvação de cada pessoa. Mas não foi verdadeiro em sua própria experiência que alguns meses depois da sua conversão, a sua alegria gradualmente se desvaneceu? Você nunca mais se sentiu tão feliz quanto antes. Quando você foi salvo, seu prazer estava na leitura da Bíblia. Embora possa não ter entendido o seu pleno significado, todavia gostava de ler as suas páginas. Naquele tempo não era demais para você ter lido dezenas de capítulos num dia. O mesmo se aplica à oração. Você ficava muito feliz com a oração. Se as suas orações eram respondidas ou não, você ainda gostava de orar. Você podia se fechar em uma sala durante várias horas e ter comunhão com Deus. Algumas vezes você podia até mesmo pular de alegria. Mas tudo isso agora está no passado; hoje você não se sente mais jubiloso. Você está triste.
Nessa conjuntura da sua experiência espiritual duas tentações podem vir a você: uma pode vir do inimigo, e nela Satanás pode acusá-lo dizendo que você caiu e até mesmo que não foi salvo, e a outra pode vir de você mesmo, porque você pode concluir que já que caiu deve ter cometido algum pecado, porém, ao procurar em que pode ter pecado, pode não ter encontrado nada em particular. Todavia, o estado de aridez e esterilidade continua.
Contudo, tal aridez muitas vezes não durará muito tempo. Algumas vezes se acaba em uma ou duas semanas ou pode durar apenas três ou quatro dias. E logo que o período seco passa, sua alegria volta. Durante o período de aridez a sua leitura da Bíblia e a sua oração pareciam ter sido alongadas à força, como se você tivesse tentado simplesmente recitar algo que não podia se lembrar. Mas agora você sente que a sua comunhão com Deus está renovada e reavivada. Porém, como esta restauração se sucedeu é um mistério para você. E por isso você logo resolve ter mais cuidado em manter a sua alegria. Você agora deve aplicar toda a sua força para conservar esse sentimento de exultação. Você será mais diligente na leitura da Palavra de Deus, na oração e no testemunho.
Surpreendentemente, entretanto, não muito tempo depois a sua alegria desaparece novamente. Você se recorda de como leu a Bíblia, orou e testemunhou hoje tanto quanto o fez ontem, – sim, até mais; por que então há esta tão vasta diferença entre os dois dias? Por que, você se pergunta, teve alegria ontem, mas não a teve hoje? Em tal situação você agora não está seguro de si mesmo, - nem mesmo seguro de que é de Deus e de Jesus Cristo. E então você comete um dos maiores erros da sua vida: pensa que perdeu seu poder espiritual e caiu. Embora você ainda ore, faz isso sem fé; embora leia a Bíblia, faz isso brevemente; e embora testemunhe, faz isso forçosamente.
O que é admirável para você é que depois de alguns dias ou algumas semanas a alegria inicial mais uma vez volta. Mais uma vez você tem prazer em fazer todas as coisas. Embora ela possa não ser uma experiência de terceiro céu, você tem a experiência de estar num topo de montanha. Contudo, o que se torna ainda mais embaraçoso é que daqui a pouco você cai em uma condição seca e insípida por outro tempo ainda. Por essa razão, você não pode evitar conjeturar que a vida é realmente cheia de declínios e abundâncias. Se alguém fosse questionado sobre o seu estado espiritual, muito provavelmente ele responderia que a sua vida é definitivamente cheia de altos e baixos. O que você considera ser alto é quando lê a Bíblia, ora e testemunha com alegria e prazer. O que você considera ser baixo é quando se sente insípido e seco na realização das mesmas coisas. Isso é o que você chama uma vida de altos e baixos.
Vamos então revisar desde o começo como um crente entra nessas situações de altos e baixos. Se pudermos descobrir a causa, obteremos a cura. E pesquisando as experiências de muitas pessoas nascidas de novo, acredito que descobrimos uma lei básica: a alegria diminui de muita para pouca, enquanto a aridez aumenta de menos para mais. A intensidade da alegria gradualmente se dissipa (embora fique cada vez mais e mais profunda), e além do mais o período dessa alegria se torna mais e mais curto, ao passo que a intensidade da aridez aumenta com o tempo e sua duração se torna mais e mais longa (embora fique cada vez mais superficial). Possivelmente a primeira aridez dura por apenas três ou quatro dias; a segunda, uma semana; a terceira, duas semanas; e a quarta, por um mês inteiro. Em outras palavras, a segunda alegria é mais curta e menos intensa do que a primeira, mas a segunda aridez dura mais e é mais concentrada do que a primeira. Os períodos de aridez se tornam mais longos, e a intensidade da aridez aumenta com o tempo. Todos os crentes têm esse tipo de experiência. Em resumo, os cristãos se deparam mais com aridez do que com alegria.
Há algum cristão hoje em dia que pode dizer que a sua alegria excede aquela do primeiro dia em que foi salvo? Como nós crentes somos transtornados em nosso coração! Sentimos que pecamos e somos derrotados. Não temos tanta alegria quanto no momento da nossa salvação. Quando fomos salvos, sentimo-nos como se andássemos nas nuvens e saltássemos por cima das montanhas. Quão corajosos fomos no testemunhar, testemunhando até mesmo na rua. Podíamos ler 50 ou 60 capítulos da Bíblia um dia e ainda considerar isso insuficiente. Mas atualmente o nosso sentimento é bastante diferente. Tudo é feito sem entusiasmo e por compulsão.
Deixe-me observar que cometemos um erro básico aqui. Quão seriamente entendemos mal a experiência espiritual, pois, com raras exceções, inferimos que a sensação de alegria representa enlevo espiritual, mas na verdade a aridez de coração não necessariamente significa o declínio espiritual. . Permita-me ilustrar este ponto da seguinte forma: quando encontro o meu relógio perdido, sinto-me muito feliz. Alguns dias depois, contudo, a minha alegria não será tão intensa como quando encontrei o meu relógio. E possivelmente dentro de mais alguns dias terá se desvanecido completamente. Mas naquele momento o meu relógio não foi perdido novamente. O que aconteceu? Simplesmente isto: não perdi meu relógio outra vez, mas sim a alegria que senti quando o encontrei!
Acontece o mesmo com a nossa experiência espiritual. Quando uma pessoa encontra o Salvador e é salva, não pode deixar de rejubilar-se (se alguém não se alegrar no momento da salvação, eu devo me perguntar se ele encontrou de fato o Salvador). Mais tarde, entretanto, quando ela perde seu sentimento de alegria, pode pensar que também perdeu o objeto pelo qual tinha se alegrado antes. Aqui está o que todos temos de reconhecer: embora o sentimento de alegria do crente tenha se perdido, o objeto daquela alegria não foi perdido.
Deixe-me perguntar-lhe: o Senhor Jesus mudou? De modo nenhum. Deus mudou? Não, Ele não mudou. Deus retomou a vida eterna que uma vez lhe deu? Certamente não, pois tanto quando você se sente animado como quando se sente seco, ainda tem a mesma vida eterna. Independentemente de estar animado ou sem inspiração, a sua situação permanece a mesma, porque aquilo que você recebeu de Deus nunca é perdido. Por isso, posso dizer que realmente não há algo como uma situação alta e uma baixa na vida e na experiência de um cristão (isso não pode se aplicar, naturalmente, àqueles cristãos que realmente pecaram e apostataram. Eles são a exceção. O que é mencionado aqui é aplicável somente para cristãos de uma forma geral).
Deus nunca muda nem faz a obra do Senhor Jesus experimentar qualquer mudança, nem o Espírito Santo jamais muda. A vida eterna que você recebeu ainda está ali. O que posteriormente muda ou é perdido é a sensação de alegria que você experimentou no momento da salvação. Por exemplo, uma criança, em sua ignorância, pensa que o sol desapareceu em um dia chuvoso. Então ela pergunta a seu pai para onde foi o sol. Ela sobe na escada para ter uma visão mais próxima do sol, mas não pode encontrá-lo. Ela pode até mesmo subir em uma torre, mas mesmo assim não pode encontrar o sol. Na realidade, nós os mais velhos sabemos que o sol não mudou; ele simplesmente foi escondido da nossa visão pelas escuras nuvens. Ora, justamente do mesmo modo, o Sol do crente não mudou, mas apenas o seu sentimento: há escuras nuvens em seu céu pessoal para que a luz do seu Sol esteja escondida da visão. Se um crente viver em seus sentimentos, o seu céu muitas vezes vai mudar e será frequentemente obscurecido por nuvens. Mas se ele não viver segundo o sentimento, o seu céu não sofrerá nenhuma mudança. Deveríamos viver acima das escuras nuvens do sentimento.
Já dissemos que a intensidade da alegria diminui e sua duração encurta à medida que o tempo passa, enquanto a intensidade da aridez aumenta com o tempo e a sua duração se alonga. É um fenômeno comum compartilhado por todos os cristãos. Não há nada acidental a respeito dele. Muitos santos têm a mesma experiência. Já que isso não é algo acidental, deve haver uma mão por trás dele que o controla. De quem é essa mão? É a mão de Deus. É Deus que faz com que a intensidade da nossa alegria diminua e se encurte com o tempo. E é Ele que faz a intensidade da nossa aridez aumentar e alongar-se com o tempo.
Quanto aos cristãos anormais, isto é, quanto àqueles que pecaram e se apostataram, eles naturalmente não têm nenhuma alegria. Os cristãos excelentes, que buscam a Deus com simplicidade desde o começo e se rendem incondicionalmente, experimentam a especial alegria depois de cada novo empenho. Toda vez que veem a obra de Deus, sentem especial alegria. Tanto os anormais quanto os excelentes são a exceção. Falo aqui somente para cristãos em geral.
IV. OS OBJETIVOS DE DEUS
Quais são os objetivos de Deus ao criar tais condições em nossa experiência cristã?
(1) Mostrar-lhe que você não deve fazer nada por causa de você mesmo. Quando você está animado e alegre, lê a Bíblia com gosto. Você a está lendo porque ela é a Palavra de Deus ou porque é um deleite para você? Qual é o objetivo da sua oração? De estar diante de Deus e buscá-Lo por causa Dele mesmo ou para obter prazer? Você ora por amor a Deus ou para fugir do seu dever de orar? Se tudo o que você faz for motivado pelas últimas razões, então faz isso para satisfazer-se. Seu objetivo não é para a glória de Deus.
Em seu zelo você pode não sentir que está empreendendo uma coisa para você mesmo, mas pensa que está fazendo para Deus. Entretanto, você deve se lembrar de que no momento de grande excitação, como se estivesse nas nuvens, talvez possa estar mais na carne! Por essa razão Deus tira a sua alegria e o coloca em um estado de aridez. Como então você se sente? A sua oração, a leitura da Bíblia e o testemunho agora parecem ser um tanto forçados. Deus o coloca em tal situação para ensinar-lhe uma lição, para que você perceba que a experiência culminante que considera como a mais espiritual é, no fundo, automotivada. O que você considera ser a mais espiritual das experiências resulta ser de fato algo carnal.
Outrora você expôs o lado mau da sua carne para o mundo; agora você está expondo o lado bom da mesma carne. Deus deseja mostrar-lhe se você ainda orará, ou lerá a Bíblia, ou testemunhará quando não há nenhuma alegria, mas apenas aridez. Mesmo assim, Ele não quer que você seja demasiadamente oprimido pela aridez, por isso mais uma vez lhe dá alegria. E mais uma vez você considera que a sua vida espiritual está tocando o pico, com a consequência de que Ele leva embora a sua alegria uma segunda vez. Mas depois de um curto espaço de tempo, Deus lhe devolve um pouco da alegria para que você não fique desanimado pelo seu estado ressecado e insípido e esteja pronto para desistir de ser um cristão.
Quando o segundo período seco vier, Deus pode lhe perguntar se descobriu algo, e você pensa que isso é novamente devido ao seu próprio erro. Mas na verdade esse não é o objetivo de Deus em tudo isso. O que Ele objetiva é ajudá-lo a determinar se está fazendo essas coisas por obrigação cristã ou com alegria. Para algumas pessoas isso pode acontecer por cinco ou seis vezes, ou até sete ou oito, ou podem ser necessários ciclos repetidos de alegria e de aridez antes que Deus seja capaz de alcançar Seu objetivo nelas. Ele quer que elas saibam que normalmente procuram alegria por causa delas mesmas, e não por causa Dele. Essa é a primeira razão por que o Senhor nos dá esse tratamento de alegria e aridez.
(2) Treinar o poder da nossa vontade. Quando você está tendo experiências culminantes, acha muito difícil fazer coisas? Muito certamente você não acha. Não é preciso nenhum esforço para ler a Bíblia, orar ou testemunhar. Por exemplo, suponha que você é naturalmente falante. Quando está muito extasiado, – sentindo a proximidade de Deus como se pudesse tocar o próprio Senhor Jesus, - você reflete que seria melhor se trancar em uma sala e não ver ninguém desde a alvorada até o crepúsculo. Durante tal tempo, é quase instintivo para você vencer a sua fraqueza natural de ser falante. Ou suponha que você seja uma pessoa temperamental e em geral é facilmente provocado na raiva. Em um momento de alegria, você pode desculpar as pessoas sem muita dificuldade. Contudo, logo que a sua alegria se desvaneça, você reage como um porco-espinho. Você explode sempre que as pessoas o tocam. Ou durante um período de excitação você não experimenta nenhuma dificuldade de viver e trabalhar, mas assim que se encontra em um período de aridez descobrirá que enfrenta tremenda pressão em ambas as áreas e precisa de força de vontade para ler a Bíblia, orar e testemunhar; de fato, você tem de se lembrar constantemente de que é seu dever executar tais atos. Outrora, inspirado pela intensidade do seu sentimento arrebatador, você poderia falar durante cinco horas sem parar. Agora, no entanto, você se sente tão indiferente que não tem uma palavra para dizer. Você parece estar atado quando tenta dizer às pessoas como crer no Senhor Jesus e ser salvo. Você precisa se esforçar para falar. A menos que realmente queira fazer as coisas, é incapaz de fazê-las.
Aqui devo levantar esta importante questão: quando é o tempo em que realmente passamos pela experiência espiritual? No momento de grande alegria no lugar elevado ou durante o período de aridez no vale? Não é quando estamos em um período de aridez? Pois no momento de excitação somos arrastados pela correnteza da nossa emoção; isso não pode ser visto como uma experiência espiritual. Mas quando nos sentimos secos, devemos exercitar a nossa vontade; por isso, tudo o que fazemos em tal situação é da verdadeira personalidade, do verdadeiro eu, que o faço. A razão por que Deus dá a você e a mim um período de aridez é para nos fazer exercitar o poder da nossa vontade.
Se, por exemplo, embarcarmos num veleiro para ir a certo lugar, normalmente chegaremos em algumas horas. Quando partirmos, é provável que o vento esteja soprando bem vigorosamente. Por isso nós alegremente navegamos para o nosso destino. Dentro em pouco, contudo, o vento pode parar sem que alcancemos o lugar desejado, - restaram ainda algumas horas de navegação. O que devemos fazer? Devemos remar ou lançar âncora e esperar pelo vento novamente? Bem, se contamos com uma chegada antecipada, devemos remar com toda a nossa força. E durante tal tempo estaremos usando a nossa verdadeira força. Isso é apenas uma ilustração desse segundo objetivo de Deus.
Quando as nossas emoções estão agitadas, é como um barco navegando a favor do vento - os seus marinheiros não precisam fazer nenhum esforço. Quanto nós crentes antecipamos a ajuda de tal vento em toda a nossa vida. Mas em um veleiro tal ação reduziria o capitão e os os seus marinheiros à inutilidade. Se eles decidissem navegar somente com o vento ou não fazer nada, quem jamais empregaria tais marinheiros? Nós agradecemos a Deus quando Ele nos dá os enérgicos ventos da nossa emoção de vez em quando para irmos em frente. Mas Deus também deseja nos estimular para exercitarmos o poder de ressurreição que Ele nos deu. De outra forma, não nos moveremos se não tivermos nenhum sentimento de alegria. Por conseguinte, Deus dá a aridez para que possamos usar a força que recebemos na regeneração e irmos em frente até sem a ajuda do sentimento de alegria arrebatadora. E assim seremos capazes de navegar até o fim da nossa vida cristã, mesmo se ali não houver nenhum vento, pois o poder de ressurreição se torna mais manifesto em meio à privação e morte.
A ajuda da emoção pode nos ser concedida, entretanto esse não é o objetivo de Deus. Ela é simplesmente parte do processo pelo qual Ele trata conosco. O que Deus visa é treinar a nossa vontade para que na hora mais escura sejamos capazes de exercer o nosso poder. Quando nos sentimos secos, podemos usar a nossa vontade para ler a Bíblia, orar e testemunhar. Por meio de repetidos exercícios o poder da vontade ficará mais e mais forte. Se apenas prosseguirmos com o poder emocional por toda a nossa vida, nunca faremos muito progresso. A razão por que Deus nos dá os sentimentos jubilosos é para nos impedir de ficarmos tão desencorajados a ponto de desistirmos de sermos cristãos. Mas então Ele reduzirá gradualmente e encurtará a nossa alegria e também aumentará e alongará a nossa aridez para que possamos exercer o nosso poder até que nós mesmos fiquemos fortes.
Quando revemos a nossa experiência passada, notamos que a nossa alegria e aridez vieram a nós como ondas. Também descobrimos que não fazemos muito progresso no tempo de alegria, ao passo que fazemos mais progresso no tempo de aridez. Na verdade, vemo-nos avançar durante aquela semana árida. Como costumamos pensar que teríamos caído se diariamente a nossa vida fosse tão dissonante e insípida! Mas quando honestamente comparamos as nossas experiências, entenderemos que fazemos progressos quando nos sentimos fracos, mas fazemos pouco progresso quando estamos jubilosos.
Quando navegamos com o vento a favor, ele nos ajudará a usar a força do nosso braço? Certamente não, pois não é necessário. Sempre devemos usar mais a força do braço quando não há nenhum vento ou quando navegamos contra ele. O nosso progresso depende muito de como exercemos o nosso poder. Quando nos sentimos áridos, vamos usar o nosso poder declarando "quero avançar" – e avançaremos de fato. Quão triste é que os olhos de muitos crentes estejam fixos neste centro de alegria, considerando-o ser o pico da experiência espiritual; mas eles não conseguem entender que o cristão faz verdadeiro progresso espiritual quando se move no poder da sua vontade.
(3) Fazer com que nós dominemos o ambiente. Se você puder superar a sensação de aridez, será capaz de dominar o seu ambiente, já que a sensação de aridez e desatenção é a mais difícil de superar. Superando-o, você pode superar muito naturalmente outros ambientes. O mais profundo de todos os ambientes é a sua emoção. Se você for capaz de conquistar a sua emoção, será vitorioso sobre outros ambientes também. Você deveria exercer o poder da vontade dizendo: "lerei a Bíblia, orarei e testemunharei". Embora você esteja vivendo na aridez sem nenhum sentimento de unção, todavia descobrirá o poder de superar algo em seu ambiente, por maior que possa ser. Posso falar francamente e dizer que quem não puder superar o ambiente não superou a emoção. Aquele que conquista o ambiente conquistou primeiro as suas próprias emoções.
(4) Fazer-nos viver pela fé. Os períodos de alegria tornam-se mais curtos e os de aridez ficam mais longos. A intensidade da alegria gradualmente diminui enquanto aumenta o de aridez – até que chega um dia em que ambos se encontram como a confluência de duas correntes de água, para que todas as distinções desapareçam. Eles finalmente fluem juntos e se tornam um, indistinguíveis um do outro. O objetivo de Deus de nos conduzir dessa forma é nos mostrar que na verdade eles não são diferentes. Em outras palavras, a nossa alegria e aridez fundem-se e se tornam uma. Hoje Deus tem esse propósito para que o justo possa viver pela fé e não pelo sentimento. Por mais que possamos sentir, isso não nos proporciona nada. Deus tem de treinar alguns crentes dez ou até vinte vezes para fazê-los não viver pela sua força emocional. Ele permite que a aridez deles se torne mais longa e a intensifica mais profundamente para conduzi-los ao lugar onde possam viver pela fé. Se você nunca tiver sido treinado, logo descobrirá quão completamente fraca é a sua força emocional, pois o justo viverá somente pela fé.
Finalmente, se você realmente aprende a viver pela fé, pode viver a vida mais jubilosa em meio à aridez e a vida mais insípida em meio à bem-aventurança. Isso pode soar paradoxal, contudo é uma verdade na vida espiritual. . Deus nos conduzirá para vivermos a vida de fé.
O que significa viver pela fé? É-nos apresentado muito claramente pelas palavras ditas pelos hebreus, Sadraque, Mesaque e Abednego, a Nabucodonosor: "Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste" (Dn 3:17-18). O que eles quiseram dizer foi que mesmo se Deus não os salvasse, eles não seriam afetados pela idolatria, não adoraria a imagem. Isso é o que significa viver pela fé!
Os cristãos hoje em dia inclinam-se demasiadamente em direção a uma vida sentimental. Se Deus tivesse de tirar o sentimento jubiloso deles, perderiam tudo. Contudo, Deus não nos diz para vivermos por sentimento, mas para vivermos pela fé. Depois de anos de experiência você perceberá que a alegria e a aridez são realmente iguais. Nenhuma grande irrupção de alegria o afetará nem qualquer momento de aridez o influenciará. Você vive a mesma vida atravessando uma profunda aridez bem como uma grande alegria.
Que possamos não agir como aqueles que possuem uma pequena capacidade, – na alegria eles dançam na casa, na aridez ensopam o muro com lágrimas. Se vivermos pela fé, não seremos agitados por nenhum deles. Mesmo assim, que fique claramente entendido que não somos pessoas sem emoção. Realmente temos sentimento de alegria bem como de aridez, mas não deveríamos permitir que esses sentimentos externos tocassem nosso homem interior, pois o que estivemos enfatizando nesta mensagem é que a alegria que o homem exterior sente não é a que o homem interior desfruta no Senhor, porque esta última é mais profunda e inabalável. Porém, essa alegria profunda e inabalável não é experimentada plenamente até que sejamos capazes de controlar completamente a alegria exterior. Possa o Senhor ser capaz de realizar Seus objetivos em nós para que possamos viver pela fé e não pelo sentimento.
Jesus é o Senhor!