Estudo-Vida de Atos 3 - A Propagação do Cristo Ressurreto e Acendido em Jerusalém, Judéia e Samaria | W. Lee
MENSAGEM 1
Em Atos 3:1-26 temos a segunda mensagem de Pedro aos judeus. Os versículos 1 a 10 descrevem a cura de um coxo, e 11 a 26 registram a própria mensagem dada por Pedro.
Atos 3:1 diz: “Pedro e João subiam ao templo para a oração da hora nona”. Já comentamos que no início da economia neotestamentária de Deus, os crentes primitivos, e até mesmo o primeiro grupo de apóstolos, não tinham clareza de que Deus abandonara o judaísmo com suas práticas e instalações, inclusive o templo. Por isso, seguindo a sua tradição e hábito, eles ainda iam ao templo.
Os crentes primitivos não tinham clareza com respeito à economia neotestamentária de Deus no que diz respeito ao templo judaico. Nem mesmo os primeiros apóstolos tinham uma visão clara com respeito a Deus ter abandonado as coisas judaicas. Assim, mesmo depois de Deus ter derramado o Espírito sobre eles no dia de Pentecostes para iniciar uma nova dispensação, eles ainda não se separaram do templo judaico. No estágio inicial Deus tolerou a ignorância deles nessa questão. Mas isso conduziu a uma mistura da vida da igreja com o judaísmo, mistura essa que não foi condenada pela igreja primitiva em Jerusalém (ver Atos 21:20-26). Por fim o templo foi destruído por Tito com o seu exército romano em 70 d.C., como foi profetizado pelo Senhor em Mateus 23:38 e 24:2. Essa destruição acabou com a mistura religiosa.
Quando Pedro e João, que estavam para entrar no templo, viram um coxo de nascença, eles fixaram os olhos nele e disseram: “Olha para nós. O homem os olhava atentamente, esperando receber alguma cousa. Pedro, porém, lhe disse: Não possuo prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda! E, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram” (At 3:2-7). Pedro não possuía prata nem ouro, mas a Catedral de São Pedro em Roma foi construída com uma superabundância de ouro. Ele não tinha prata nem ouro, mas tinha o nome, a Pessoa, de Jesus Cristo. Era pobre em ouro e prata, mas era rico em Cristo. A Igreja Romana é cheia de ouro, mas não da Pessoa de Cristo. É rica de ouro, mas pobre de Cristo.
Ao falar ao coxo, Pedro lhe disse que andasse, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno. Nazareno indica Aquele que era desprezado pelos líderes judeus (Jo 1:45-46; At 22:8; 24:5).
Pedro e João fizeram um milagre, e as pessoas prestaram atenção a isso. Mas, ao falar, Pedro voltou a atenção das pessoas do milagre para uma Pessoa, para o Senhor Jesus. Embora Pedro e João tenham feito um milagre, Pedro não falou sobre o milagre. Pelo contrário, usou o milagre como base para fazer com que os ouvintes se voltassem para Cristo. Ele voltou a atenção das pessoas da cura para Aquele que cura.
A mensagem de Pedro baseava-se no milagre da cura do coxo. Contudo, o encargo dele não era falar sobre cura divina. Antes, era propagar Cristo. Ele tinha encargo de falá-Lo e declará-Lo em seu falar.
O encargo de Pedro era que, ao falar, Cristo fosse infundido nos outros, a fim de que se tornassem a propagação de Cristo, e os Seus membros vivos para que Cristo tivesse um Corpo na terra. O Pentecostes visa à propagação de Cristo, e não milagres, prodígios, sinais e cura divina. Todas essas coisas são secundárias. Embora um coxo tivesse sido curado por meio de Pedro e João, a ênfase de Pedro não era a cura, e, sim, o nome do Senhor Jesus. Primeiramente, ele disse ao coxo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” Depois, em sua mensagem ele prosseguiu: “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis” (At 3:16). Assim, Pedro não pregou cura divina nem milagres; pregou a Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Embora Pedro tenha voltado a atenção das pessoas da cura para Aquele que cura, hoje os cristãos que enfatizam as curas freqüentemente voltam a atenção das pessoas Daquele que cura para as curas, até mesmo para falsas curas. Muitas curas nas reuniões pentecostais não são autênticas. Depois que foi curado, o coxo “de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou com eles no templo, saltando e louvando a Deus” (At 3:8). Essa foi uma cura autêntica. Mesmo assim, Pedro fez as pessoas se voltarem para Aquele que cura, para o Senhor Jesus. Nós também devemos voltar a atenção das curas para Aquele que cura.
O Deus da Ressurreição Glorificou o Seu Servo Jesus Quando todo o povo correu atônito para junto de Pedro, João e o coxo, Pedro lhes disse: “Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo (At 3:12-13). Alguns manuscritos acrescentam “o Deus de” antes de Isaque e de Jacó. Por que, no versículo 13, Pedro fala de Deus como o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó? Por que não falou simplesmente de Deus? Esse título se refere ao Deus Triúno, Jeová, o grande Eu Sou (Êx 3:14-15). De acordo com a palavra do Senhor em Mateus 22, esse título divino implica ressurreição: “E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que vos foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos” (Mt 22:31-32). Pedro se referiu a Deus como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó porque isso indica que Ele é o Deus de ressurreição.
Pedro disse às pessoas que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó “glorificou a seu Servo Jesus”. Deus O glorificou por meio da Sua ressurreição e em Sua ascensão (Lc 24:26; Hb 2:9; Ef 1:20-22; Fp 2:9-11).
Em Atos 3:14 Pedro disse às pessoas: “Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida”. Que significa dizer que o Senhor é o Santo? Nesse versículo Santo indica que Jesus, o Nazareno, desprezado pelos líderes judeus, era absolutamente para Deus e separado para Ele. Ademais, era absolutamente um com Deus. Segundo a conotação da palavra na Bíblia, santo significa alguém que visa absolutamente a Deus, é para Deus, é um com Deus. Em toda história da humanidade, somente o Senhor Jesus foi tal Pessoa. Davi era bom, mas pelo menos em uma situação foi para si mesmo e não para Deus. O Senhor Jesus, porém, em toda a Sua vida foi absolutamente separado para Deus, foi por Deus e um com Deus. Não houve um instante em que não ti vesse sido absoluto para Deus e um com Ele. Portanto, é chamado de o Santo. Apenas Ele merece esse título.
De acordo com Atos 3:14, Pedro não apenas chamou o Senhor Jesus de o Santo, mas também de o Justo. Ser justo é ser correto com Deus, com todos e com tudo. Somente o Senhor Jesus pode ser chamado de o Justo. Nós, em nós mesmos, não somos corretos com Deus, com os outros e nem mesmo com as coisas. Por exemplo, de raiva podemos chutar uma porta ou derrubar uma cadeira. Isso é estar errado com a porta ou com a cadeira. Assim, nós não conseguimos ser o Justo.
Como o Justo, o Senhor Jesus é o Correto. Ele nunca esteve errado com Deus, com as pessoas nem com as coisas. Considere a situação quando purificou o templo: “E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e os cambistas assentados. Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou o dinheiro dos cambistas e virou as mesas. E disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui essas coisas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio” (Jo 2:14-16). Ele certamente estava correto ao fazer isso. Se não o tivesse feito, teria agido como um político. Ele viu a situação pecaminosa e estava indignado. Contudo, suponha que tivesse dito a Si mesmo: “Não devo fazer nada por causa da minha indignação. Se o fizer, haverá um registro de que uma vez fiz algo quando estava zangado. Preciso ter consideração por Mim mesmo e agir com cuidado”. Contudo, como o Justo, o Senhor purificou o templo de forma justa. Ele nunca estava errado, pois sempre foi o Justo.
Na segunda mensagem aos judeus, Pedro chamou Aquele que curou o coxo de o Servo, o Santo e o Justo. Como é que Pedro, não havendo estudado, podia dar tais palavras? Como veremos, quando as pessoas do Sinédrio perceberam que Pedro e João “eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (At 4:13). Embora fosse iletrado e inculto, Pedro pôde dar a mensagem registrada em Atos 3 por meio do Espírito que dá vida que estava nele. Aqui o Espírito não falou diretamente por Si mesmo, mas, segundo o princípio da encarnação, o Espírito falou por meio de Pedro, uma pessoa inculta. Assim, os tópicos com respeito ao Senhor Jesus são divinos, mas o falar ainda é o de um pescador inculto. Em Atos 3 o Espírito falou por meio de um pescador. Em seu falar, Pedro declarou que o Senhor Jesus é o Santo, alguém absolutamente separado para Deus, que é por Deus e é um com Deus; e também o Justo, alguém correto com Deus, com as pessoas e com todas as coisas.
Em Atos 3:15 Pedro prosseguiu dizendo: “Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas”. Aqui a palavra grega traduzida como Autor é archegós, que significa autor, origem, originador, líder principal, capitão. Denota Cristo como origem ou Originador da vida, portanto, Autor da vida, em contraste com homicida no versículo anterior.
Nesse versículo a Versão Revista e Corrigida de Almeida traz “o Príncipe da vida”. Essa não é uma boa tradução. Em Atos 3:15 archegós não denota um príncipe; e, sim, a própria fonte, a origem, até mesmo o originador, da vida, o Autor da vida. Aqui Pedro está dizendo que o que curou era a origem da vida, o Originador da vida; Ele é o Autor, o Líder Principal, na vida. Pedro indicava que o que curou não é meramente alguém que cura, mas é a fonte, a origem e o Iniciador da vida.
No capítulo três de Atos não temos meramente uma questão de cura. Aqui vemos a vida sendo infundida nas pessoas. Isso é propagar Cristo. Para essa propagação precisamos do Senhor como Autor da vida, como fonte originadora da vida.
Muitos cristãos, seguindo a teologia tradicional, lêem a Bíblia de forma superficial. Por essa razão, encorajo os santos a deixar de lado a teologia tradicional e voltar à Bíblia. Na Bíblia há muitas “minas” profundas, que precisamos escavar. Uma dessas minas profundas é a palavra grega archegós em Atos 3:15.
Precisamos ver onde está a vida, de onde ela vem. A palavra Autor no versículo 15 indica que a vida vem do que curou, que é o Santo e Justo. O que curou não apenas tem o poder para curar, mas Ele mesmo é a fonte, a origem da vida, pois é o Autor, o Originador da vida. Quando temos vida, também temos cura. O motivo pelo qual as pessoas ficam doentes é que são fracas na vida. Os médicos sabem que quando estamos fracos em vida, podemos facilmente ficar doentes. Mas se formos fortes em vida, a vida irá engolir a morte.
Pedro queria que as pessoas percebessem que Aquele que elas mataram é o Autor da vida. Não é apenas o que cura, mas é o Autor da ~ida. E, embora tivesse sido morto, Deus o ressuscitou dos mortos. Conforme falamos, considerando o Senhor como homem, o Novo Testamento diz que Deus O ressuscitou dos mortos. Mas, considerando-O como Deus, o Novo Testamento nos diz que Ele mesmo ressurgiu dos mortos (Rm 14:9). Ademais, os apóstolos eram testemunhas do Cristo ressurreto, dando o testemunho da Sua ressurreição, que é a ênfase crucial ao se levar a cabo a economia neotestamentária de Deus.
Em Atos 3:16 Pedro diz: “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós”. As palavras gregas traduzidas como pela fé em o nome de Jesus literalmente significam sobre a fé do nome de Jesus, isto é, com base na fé em o nome de Jesus. O nome denota a pessoa, e a pessoa dá respaldo ao nome; assim, o nome é poderoso.
Em Atos 3:17-18, Pedro prossegue: “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades; mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer”. A morte redentora de Cristo foi primeiramente determinada por Deus na eternidade passada (At 2:23) e anunciada de antemão pelos profetas nos tempos do Antigo Testamento. Isso prova novamente que a morte de Cristo não foi um acidente histórico, mas um ato planejado por Deus segundo o propósito do Seu bom prazer e anunciado de antemão pelos profetas.
Em Atos 3:22-23 Pedro indica que o Senhor Jesus é o Profeta: “Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo”. Assim, nesse capítulo vemos que o Senhor Jesus é o Servo, o Santo, o Justo, o Autor da vida e o Profeta.
Em Atos 3:19-26 Pedro exorta os judeus a se arrepender e se converter para ter parte no Cristo ascendido e vindouro e desfrutá-Lo. Aqui Pedro parece estar dizendo: “Vocês fizeram algo muito tolo, mas agora precisam arrepender-se e converter-se para ter parte no Cristo ascendido e vindouro e desfrutá-Lo. Cristo é o Servo de Deus, o Santo, o Justo e o Autor da vida. Ele fez tudo, e atingiu e obteve todas as coisas. Ele agora está nos céus, mas voltará. Esse Cristo é a nossa porção. Arrependam-se, convertam-se e venham participar Dele e desfrutá-Lo. Se vierem a Ele vocês O desfrutarão”. Essa foi a ênfase da segunda mensagem de Pedro aos judeus.
Em Atos 3:19-20a Pedro disse aos judeus: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério”. Literalmente a palavra grega para refrigério significa refrescar, reavivar; daí, alívio, refrigério. Os tempos de refrigério denotam um tempo de reavivamento de todas as coisas com alegria e descanso. Referem-se aos tempos da restauração de todas as coisas mencionados em Atos 3:21. Os tempos da restauração serão introduzidos pela vinda do Messias em Sua glória, como foi ensinado e profetizado pelo Salvador em Mateus 19:28.
A palavra de Pedro em Atos 3:20 parece omitir a era da igreja e ir diretamente do tempo de Pentecostes para o milênio. Isso indica que Pedro provavelmente não tinha visão clara com respeito à era da igreja na economia neotestamentária de Deus, como o Novo Testamento em sua totalidade nos revela. Ou seja, que antes dos tempos de refrigério, a igreja ocupa um tempo considerável na dispensação de Deus.
Já falamos que os tempos de refrigério são tempos refrescantes, de reavivamento e alívio. Você alguma vez já entrou em tais tempos? já experimentou tal tempo de gozo e descanso? Na verdade, toda conversão adequada é um tempo de refrigério. Toda regeneração autêntica, é um tempo de desfrute. Ao ser salvos, tivemos um tempo de desfrute, no qual tivemos gozo e paz. Desfrutamos do próprio Cristo como nosso gozo e paz. Até certo ponto, todos experimentamos isso.
Na verdade, o tempo de refrigério é o próprio Cristo. Quando O temos, nós O temos como nosso refrigério. Ele é nosso desfrute e paz.
Em Atos 3:20-21 Pedro diz: “E que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade”. Os tempos da restauração de todas as coisas são os tempos da restauração no milênio, como foi profetizado em Isaías 11:1-10; 65:18-25, e mencionado por Cristo em Mateus 17:11; 19:28. Os tempos da restauração de todas as coisas serão introduzidos pela Sua volta.
Ao ler a Bíblia, ainda podemos ser inconscientemente influenciados pela teologia tradicional. Precisamos abandonar essa teologia e voltar para a Bíblia de maneira nova e cheia de frescor. Se lermos Atos 3 dessa forma, veremos que o Senhor é o Servo de Deus, o Santo, o Justo e o Autor da vida. Também daremos atenção aos tempos de refrigério mencionados no versículo 20. Como já comentamos, em nossa experiência o próprio Cristo é o tempo de refrigério, pois Ele é o nosso desfrute, descanso e paz.
Você já ouviu falar que pode desfrutar o Senhor? Alguma vez já ouviu algum preletor usar a palavra desfrutar com respeito ao seu relacionamento com o Senhor? Muitos crentes nunca ouviram falar disso. Hoje na religião há pouco desfrute do Senhor, se é que há algum. Contudo, pela misericórdia do Senhor posso testificar que h. á anos tenho encorajado o povo do Senhor a desfrutá-Lo.
Em 1965 tivemos uma conferência em Los Angeles a respeito de comer Jesus. Naquela conferência abordamos a questão de comer como está em diversos lugares na Bíblia: a árvore da vida, o cordeiro pascal com os pães asmos e as ervas amargas, o maná e o produto da boa terra. Consideramos a palavra do Senhor em João 6 com respeito a comê-Lo e a ordem dada por Ele de comer o Seu corpo quando estabeleceu a Sua mesa. Ademais, consideramos a promessa do Senhor em Apocalipse 2:7 de que os vencedores comerão da árvore da vida. Também vimos a promessa em Apocalipse 22:14, de que os que lavam as suas vestes têm direito à árvore da vida.
Um pregador participou dessa conferência e, depois, comentou que nunca tinha ouvido falar sobre desfrutar o Senhor comendo-O. Ele queria saber onde que eu tinha aprendido todas aquelas coisas com respeito a comer o Senhor e desfrutá-Lo. Uso isso como ilustração da necessidade que temos de perceber que o Senhor Jesus é desfrutável.
Alguns crentes podem não perceber que Cristo pode ser o desfrute deles, por estarem debaixo da influência do ensinamento teológico tradicional ao ler a Bíblia. Sempre que vão a Bíblia eles usam os “óculos coloridos” da tradição. Precisamos tirar qualquer tipo de “óculos” e ler a Bíblia segundo a sua própria cor. Se o fizermos, prestaremos atenção ao Autor da vida e aos tempos de refrigério mencionados em Atos 3.
Se desfrutarmos Cristo teremos tempos de refrigério. Podemos desfrutar um tempo de refrigério simplesmente invocando o nome do Senhor. Invoque: “Ó Senhor Jesus!” e você terá um tempo de refrigério.
Precisamos desfrutar tempos de refrigério em nossa vida conjugal. Por exemplo, uma irmã pode ficar zangada com o marido. Como resultado, ela ficará oprimida como a mulher encurvada e prisioneira de Satanás em Lucas 13:10-17. É freqüente a mulher ficar “encurvada” por estar presa pela ira que sente pelo marido. Como é que uma irmã pode ser liberta de tal prisão? Simplesmente invocando: “Ó Senhor Jesus!”
Sempre que estivermos presos precisamos invocar o Senhor. Então, poderemos dizer: “Amém, Senhor Jesus! Agora estou num tempo de refrigério”. Encorajo você a desfrutar um tempo de refrigério invocando o nome do Senhor.
Alguns que têm bastante conhecimento teológico podem não querer invocar o nome do Senhor. Talvez tenham medo de perder prestígio. Mas talvez precisemos perder “prestígio” a fim de ganhar o Senhor Jesus. Que desfrute é invocar o Seu nome. Às vezes fico fora de mim de tanto gozo no Senhor quando O invoco e desfruto tempos de refrigério. Dia a dia, e o dia todo, podemos desfrutar tempos de refrigério simplesmente invocando o Senhor.
Alguns criticam a prática de invocar o nome do Senhor Jesus e alegam que isso é algo que nós inventamos. Invocar o Senhor é uma prática bíblica, certamente não é algo inventado por nós. Não é uma prática nova no Novo Testamento. Começou com Enos, a terceira geração da humanidade (Gn 4:26) e continuou com muitos outros (ver nota em At 2:21).
Quando alguns ouvem que invocar o nome do Senhor começou com Enos, eles alegam que Enos não invocava como nós hoje. A isso eu responderia: “Como é então, que Enos invocava o nome do Senhor? Será que dizia: 'Ó Senhor, tenha misericórdia de mim. Senhor, estou numa situação miserável e tenho muitos problemas. Senhor, que posso fazer?”
Não podemos entender a maneira de invocar o Senhor lendo apenas um versículo. É preciso considerar essa questão em toda a Bíblia. Se lermos o Antigo Testamento, de Gênesis 4 a Isaías 12, descobriremos a maneira de invocar o Senhor. Isaías, em especial, indica que precisamos invocar o Senhor com gozo: “Y ós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação. Direis naquele dia: Dai graças ao SENHOR, invocai o seu nome, tornai manifestos os seus feitos entre os povos, relembrai que é excelso o seu nome” (Is 12:3-4). Nós tiramos água das fontes da salvação invocando o nome do Senhor com alegria.
Suponha que determinado irmão tenha vários problemas. A esposa está no hospital, o filho mais velho perdeu o emprego e o filho mais novo não está bem nos estudos. Esse irmão não deveria dizer: “Senhor, preciso que tenhas misericórdia de mim, pois estou em grande necessidade. Senhor, minha esposa está no hospital, meu filho mais velho perdeu o emprego e meu filho mais novo está indo mal na escola. Senhor, por favor, ajude-me”. Em vez de orar dessa forma, o irmão deveria invocar o Senhor e dizer: “Senhor Jesus, Tu és o Senhor! Tu és soberano. Senhor Jesus, eu Te agradeço pois sabes da minha situação. Tu sabes, Senhor, que minha esposa está no hospital, meu filho mais velho perdeu o emprego e o mais novo está mal na escola. Ó Senhor Jesus!” Isso é invocar o Senhor fortemente e com alegria. Certamente essa é a maneira que os santos do Antigo e do Novo Testamento invocavam o nome do Senhor.
A palavra grega para invocar em Atos 2:21 é epikaléo, composta de epi, que quer dizer sobre, e kaléo, que significa chamar (pelo nome); assim é chamar audivelmente, até mesmo em alta voz, como o fez Estêvão (At 7:59-60). Portanto, vemos que invocar o nome do Senhor é chamá-Lo audivelmente. Isso não é um ensinamento ou prática inventada por nós, mas é um fato bíblico. Se você ler aquele longo trecho sobre invocar na mensagem 9, verá quão bíblica é essa prática. Invocar o Senhor tem muita base na revelação do Antigo e do Novo Testamento. Ademais, a partir da nossa experiência sabemos que quando O invocamos, desfrutamos um tempo de refrigério. Sempre que O invocarmos estaremos num tempo de refrigério. Esse é um fato na Palavra e na nossa experiência, e eu o encorajo a experimentá-lo.
Em Atos 3:22-23 Pedro mostra que o Senhor Jesus é um Profeta: “Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo”. Como o Profeta, Cristo fala por Deus e declara Deus ao falar.
Em Atos 3:25 vemos que o Senhor Jesus também é a descendência de Abraão: “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”. Nesse versículo a “descendência” se refere a Cristo (Gl 3:16). Aqui Pedro parece estar dizendo: “O homem Jesus, o Nazareno, Aquele que foi desprezado pelos líderes judeus, é a descendência de Abraão, na qual todas as nações da terra serão abençoadas. Não apenas é Ele o Servo de Deus, o Santo, o Justo, o Autor da vida e o Profeta; é também a descendência de Abraão, na qual toda a terra será abençoada”.
Aquele que cura em Atos 3 é maravilhoso. Devemos nos voltar da cura e dar atenção ao que cura. Gostamos da cura, mas apreciamos muito mais o que cura. Esse que cura é Aquele em quem todas as famílias da terra, todas as raças, cores e nacionalidades, serão abençoadas.
Ao ler o capítulo três de Atos precisamos prestar atenção a todos os tópicos relacionados a Cristo como Aquele que cura. Ele é o Servo de Deus, o Santo, Aquele que era absolutamente para Deus. Como o Justo, Ele é correto com Deus, com o homem e com todas as coisas nos céus e na terra. Ademais, Ele é o Autor da vida. Ele não é apenas vida; é o Originador, a fonte e a origem da vida. Também traz tempos de refrigério. Quando O contatamos, estamos num tempo de refrigério. Esse que cura também é o Profeta, falando Deus e declarando Deus ao falar. Finalmente também é a descendência, no qual todas as famílias da terra serão abençoadas.
Podemos ler Atos 3 sem prestar atenção aos aspectos de Cristo como Aquele que cura revelado nesse capítulo. Como podemos ler esse capítulo sem ver essas coisas? É devido à influência da teologia tradicional. Em nossa leitura de Atos 3, essa influência pode fazer com que não vejamos todas as várias questões relacionadas com Cristo como Aquele que cura. Precisamos ver que Aquele que cura é o Servo, o Santo, o Justo, o Autor da vida, o Profeta e a descendência no qual todas as famílias da terra serão abençoadas. Que Pessoa Ele é! Em vez de nos preocupar com curas, precisamos desfrutar Aquele que cura. Desde que O tenhamos, teremos os tempos de refrigério.
Depois de apresentar Cristo como Aquele que cura em diferentes aspectos, Pedro conclui no versículo 26: “Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar, no sentido de que cada um se aparte das suas perversidades”. Deus enviou o Cristo ascendido de volta aos judeus primeiramente derramando o Seu Espírito no dia de Pentecostes. Portanto, o Espírito de Deus derramado é o próprio Cristo que Deus ressuscitou e exaltou aos céus. Quando os apóstolos pregavam e ministravam esse Cristo, o Espírito era ministrado às pessoas.
Quando Pedro falava as palavras registradas no versículo 26, o Servo de Deus havia ascendido aos céus e ainda estava lá. Contudo Pedro disse às pessoas que Deus havia enviado Cristo para abençoá-los. Que significa isso? Na verdade Deus recebeu Cristo nos céus. Mas aqui Pedro diz que Deus O enviou ao povo. De que forma Deus enviou o Cristo ascendido aos judeus? Foi derramando o Espírito. Essa foi a maneira de Deus enviar o Cristo ascendido ao povo. Isso implica que o Espírito derramado é na verdade o próprio Cristo ascendido. Quando o Espírito derramado veio às pessoas, era Cristo, o que ascendera, enviado por Deus a eles. Com isso vemos que o Espírito derramado é idêntico ao Cristo ascendido. Na economia de Deus para a experiência do Seu povo, o Cristo ascendido e o Espírito derramado são um. Na economia de Deus, Cristo e o Espírito são um para o nosso desfrute.
Ao apresentar Cristo às pessoas, Pedro falou Dele como o Servo de Deus, o Santo, o Justo, o Autor da vida, o Profeta e a descendência na qual recebemos a bênção de Deus. Então, Pedro conclui: “Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar”. Aqui ele parece estar dizendo: “Deus O enviou primeiramente a vocês para abençoá-los. Como Deus O enviou? Foi derramando o Seu Espírito para vocês a fim de abençoá-los, Agora vocês precisam recebê-Lo, Ele não está longe de vocês. Embora esteja nos céus, economicamente Ele está entre vocês como o Espírito derramado para abençoá-los. Se invocarem o Seu nome, vocês receberão a Sua Pessoa: o Espírito Santo. O nome é 'Jesus' mas a pessoa é o Espírito. Invoquem o nome do Senhor Jesus e recebam o Espírito. Então, vocês terão a bênção de Deus”. Essa é a maneira de receber a bênção que Deus nos quer dar enviando o Cristo ascendido de volta a nós como o Espírito que dá vida.
A CURA DE UM COXO
Os crentes primitivos não tinham clareza com respeito à economia neotestamentária de Deus no que diz respeito ao templo judaico. Nem mesmo os primeiros apóstolos tinham uma visão clara com respeito a Deus ter abandonado as coisas judaicas. Assim, mesmo depois de Deus ter derramado o Espírito sobre eles no dia de Pentecostes para iniciar uma nova dispensação, eles ainda não se separaram do templo judaico. No estágio inicial Deus tolerou a ignorância deles nessa questão. Mas isso conduziu a uma mistura da vida da igreja com o judaísmo, mistura essa que não foi condenada pela igreja primitiva em Jerusalém (ver Atos 21:20-26). Por fim o templo foi destruído por Tito com o seu exército romano em 70 d.C., como foi profetizado pelo Senhor em Mateus 23:38 e 24:2. Essa destruição acabou com a mistura religiosa.
Quando Pedro e João, que estavam para entrar no templo, viram um coxo de nascença, eles fixaram os olhos nele e disseram: “Olha para nós. O homem os olhava atentamente, esperando receber alguma cousa. Pedro, porém, lhe disse: Não possuo prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda! E, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram” (At 3:2-7). Pedro não possuía prata nem ouro, mas a Catedral de São Pedro em Roma foi construída com uma superabundância de ouro. Ele não tinha prata nem ouro, mas tinha o nome, a Pessoa, de Jesus Cristo. Era pobre em ouro e prata, mas era rico em Cristo. A Igreja Romana é cheia de ouro, mas não da Pessoa de Cristo. É rica de ouro, mas pobre de Cristo.
Ao falar ao coxo, Pedro lhe disse que andasse, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno. Nazareno indica Aquele que era desprezado pelos líderes judeus (Jo 1:45-46; At 22:8; 24:5).
A MENSAGEM DE PEDRO
Pedro Voltou a Atenção das Pessoas de Milagres para a Pessoa do Senhor Jesus
Pedro e João fizeram um milagre, e as pessoas prestaram atenção a isso. Mas, ao falar, Pedro voltou a atenção das pessoas do milagre para uma Pessoa, para o Senhor Jesus. Embora Pedro e João tenham feito um milagre, Pedro não falou sobre o milagre. Pelo contrário, usou o milagre como base para fazer com que os ouvintes se voltassem para Cristo. Ele voltou a atenção das pessoas da cura para Aquele que cura.
A mensagem de Pedro baseava-se no milagre da cura do coxo. Contudo, o encargo dele não era falar sobre cura divina. Antes, era propagar Cristo. Ele tinha encargo de falá-Lo e declará-Lo em seu falar.
O encargo de Pedro era que, ao falar, Cristo fosse infundido nos outros, a fim de que se tornassem a propagação de Cristo, e os Seus membros vivos para que Cristo tivesse um Corpo na terra. O Pentecostes visa à propagação de Cristo, e não milagres, prodígios, sinais e cura divina. Todas essas coisas são secundárias. Embora um coxo tivesse sido curado por meio de Pedro e João, a ênfase de Pedro não era a cura, e, sim, o nome do Senhor Jesus. Primeiramente, ele disse ao coxo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” Depois, em sua mensagem ele prosseguiu: “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis” (At 3:16). Assim, Pedro não pregou cura divina nem milagres; pregou a Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Embora Pedro tenha voltado a atenção das pessoas da cura para Aquele que cura, hoje os cristãos que enfatizam as curas freqüentemente voltam a atenção das pessoas Daquele que cura para as curas, até mesmo para falsas curas. Muitas curas nas reuniões pentecostais não são autênticas. Depois que foi curado, o coxo “de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou com eles no templo, saltando e louvando a Deus” (At 3:8). Essa foi uma cura autêntica. Mesmo assim, Pedro fez as pessoas se voltarem para Aquele que cura, para o Senhor Jesus. Nós também devemos voltar a atenção das curas para Aquele que cura.
Testificou de Jesus em Sua Morte e Ressurreição
Pedro disse às pessoas que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó “glorificou a seu Servo Jesus”. Deus O glorificou por meio da Sua ressurreição e em Sua ascensão (Lc 24:26; Hb 2:9; Ef 1:20-22; Fp 2:9-11).
O Santo
O Justo
Como o Justo, o Senhor Jesus é o Correto. Ele nunca esteve errado com Deus, com as pessoas nem com as coisas. Considere a situação quando purificou o templo: “E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e os cambistas assentados. Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou o dinheiro dos cambistas e virou as mesas. E disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui essas coisas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio” (Jo 2:14-16). Ele certamente estava correto ao fazer isso. Se não o tivesse feito, teria agido como um político. Ele viu a situação pecaminosa e estava indignado. Contudo, suponha que tivesse dito a Si mesmo: “Não devo fazer nada por causa da minha indignação. Se o fizer, haverá um registro de que uma vez fiz algo quando estava zangado. Preciso ter consideração por Mim mesmo e agir com cuidado”. Contudo, como o Justo, o Senhor purificou o templo de forma justa. Ele nunca estava errado, pois sempre foi o Justo.
Na segunda mensagem aos judeus, Pedro chamou Aquele que curou o coxo de o Servo, o Santo e o Justo. Como é que Pedro, não havendo estudado, podia dar tais palavras? Como veremos, quando as pessoas do Sinédrio perceberam que Pedro e João “eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (At 4:13). Embora fosse iletrado e inculto, Pedro pôde dar a mensagem registrada em Atos 3 por meio do Espírito que dá vida que estava nele. Aqui o Espírito não falou diretamente por Si mesmo, mas, segundo o princípio da encarnação, o Espírito falou por meio de Pedro, uma pessoa inculta. Assim, os tópicos com respeito ao Senhor Jesus são divinos, mas o falar ainda é o de um pescador inculto. Em Atos 3 o Espírito falou por meio de um pescador. Em seu falar, Pedro declarou que o Senhor Jesus é o Santo, alguém absolutamente separado para Deus, que é por Deus e é um com Deus; e também o Justo, alguém correto com Deus, com as pessoas e com todas as coisas.
O Autor da Vida
Nesse versículo a Versão Revista e Corrigida de Almeida traz “o Príncipe da vida”. Essa não é uma boa tradução. Em Atos 3:15 archegós não denota um príncipe; e, sim, a própria fonte, a origem, até mesmo o originador, da vida, o Autor da vida. Aqui Pedro está dizendo que o que curou era a origem da vida, o Originador da vida; Ele é o Autor, o Líder Principal, na vida. Pedro indicava que o que curou não é meramente alguém que cura, mas é a fonte, a origem e o Iniciador da vida.
No capítulo três de Atos não temos meramente uma questão de cura. Aqui vemos a vida sendo infundida nas pessoas. Isso é propagar Cristo. Para essa propagação precisamos do Senhor como Autor da vida, como fonte originadora da vida.
Muitos cristãos, seguindo a teologia tradicional, lêem a Bíblia de forma superficial. Por essa razão, encorajo os santos a deixar de lado a teologia tradicional e voltar à Bíblia. Na Bíblia há muitas “minas” profundas, que precisamos escavar. Uma dessas minas profundas é a palavra grega archegós em Atos 3:15.
Precisamos ver onde está a vida, de onde ela vem. A palavra Autor no versículo 15 indica que a vida vem do que curou, que é o Santo e Justo. O que curou não apenas tem o poder para curar, mas Ele mesmo é a fonte, a origem da vida, pois é o Autor, o Originador da vida. Quando temos vida, também temos cura. O motivo pelo qual as pessoas ficam doentes é que são fracas na vida. Os médicos sabem que quando estamos fracos em vida, podemos facilmente ficar doentes. Mas se formos fortes em vida, a vida irá engolir a morte.
Pedro queria que as pessoas percebessem que Aquele que elas mataram é o Autor da vida. Não é apenas o que cura, mas é o Autor da ~ida. E, embora tivesse sido morto, Deus o ressuscitou dos mortos. Conforme falamos, considerando o Senhor como homem, o Novo Testamento diz que Deus O ressuscitou dos mortos. Mas, considerando-O como Deus, o Novo Testamento nos diz que Ele mesmo ressurgiu dos mortos (Rm 14:9). Ademais, os apóstolos eram testemunhas do Cristo ressurreto, dando o testemunho da Sua ressurreição, que é a ênfase crucial ao se levar a cabo a economia neotestamentária de Deus.
Em Atos 3:16 Pedro diz: “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós”. As palavras gregas traduzidas como pela fé em o nome de Jesus literalmente significam sobre a fé do nome de Jesus, isto é, com base na fé em o nome de Jesus. O nome denota a pessoa, e a pessoa dá respaldo ao nome; assim, o nome é poderoso.
Em Atos 3:17-18, Pedro prossegue: “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades; mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer”. A morte redentora de Cristo foi primeiramente determinada por Deus na eternidade passada (At 2:23) e anunciada de antemão pelos profetas nos tempos do Antigo Testamento. Isso prova novamente que a morte de Cristo não foi um acidente histórico, mas um ato planejado por Deus segundo o propósito do Seu bom prazer e anunciado de antemão pelos profetas.
O Profeta
Exortou os Judeus a se Arrepender e se Converter para Ter Parte no Cristo Ascendido e Vindouro e Desfrutá-Lo
Tempos de Refrigério
A palavra de Pedro em Atos 3:20 parece omitir a era da igreja e ir diretamente do tempo de Pentecostes para o milênio. Isso indica que Pedro provavelmente não tinha visão clara com respeito à era da igreja na economia neotestamentária de Deus, como o Novo Testamento em sua totalidade nos revela. Ou seja, que antes dos tempos de refrigério, a igreja ocupa um tempo considerável na dispensação de Deus.
Já falamos que os tempos de refrigério são tempos refrescantes, de reavivamento e alívio. Você alguma vez já entrou em tais tempos? já experimentou tal tempo de gozo e descanso? Na verdade, toda conversão adequada é um tempo de refrigério. Toda regeneração autêntica, é um tempo de desfrute. Ao ser salvos, tivemos um tempo de desfrute, no qual tivemos gozo e paz. Desfrutamos do próprio Cristo como nosso gozo e paz. Até certo ponto, todos experimentamos isso.
Na verdade, o tempo de refrigério é o próprio Cristo. Quando O temos, nós O temos como nosso refrigério. Ele é nosso desfrute e paz.
A Restauração de Todas as Coisas
MENSAGEM 2
SABER QUE PODEMOS DESFRUTAR O SENHOR
Em 1965 tivemos uma conferência em Los Angeles a respeito de comer Jesus. Naquela conferência abordamos a questão de comer como está em diversos lugares na Bíblia: a árvore da vida, o cordeiro pascal com os pães asmos e as ervas amargas, o maná e o produto da boa terra. Consideramos a palavra do Senhor em João 6 com respeito a comê-Lo e a ordem dada por Ele de comer o Seu corpo quando estabeleceu a Sua mesa. Ademais, consideramos a promessa do Senhor em Apocalipse 2:7 de que os vencedores comerão da árvore da vida. Também vimos a promessa em Apocalipse 22:14, de que os que lavam as suas vestes têm direito à árvore da vida.
Um pregador participou dessa conferência e, depois, comentou que nunca tinha ouvido falar sobre desfrutar o Senhor comendo-O. Ele queria saber onde que eu tinha aprendido todas aquelas coisas com respeito a comer o Senhor e desfrutá-Lo. Uso isso como ilustração da necessidade que temos de perceber que o Senhor Jesus é desfrutável.
Alguns crentes podem não perceber que Cristo pode ser o desfrute deles, por estarem debaixo da influência do ensinamento teológico tradicional ao ler a Bíblia. Sempre que vão a Bíblia eles usam os “óculos coloridos” da tradição. Precisamos tirar qualquer tipo de “óculos” e ler a Bíblia segundo a sua própria cor. Se o fizermos, prestaremos atenção ao Autor da vida e aos tempos de refrigério mencionados em Atos 3.
DESFRUTAR TEMPOS DE REFRIGÉRIO INVOCANDO O NOME DO SENHOR
Precisamos desfrutar tempos de refrigério em nossa vida conjugal. Por exemplo, uma irmã pode ficar zangada com o marido. Como resultado, ela ficará oprimida como a mulher encurvada e prisioneira de Satanás em Lucas 13:10-17. É freqüente a mulher ficar “encurvada” por estar presa pela ira que sente pelo marido. Como é que uma irmã pode ser liberta de tal prisão? Simplesmente invocando: “Ó Senhor Jesus!”
Sempre que estivermos presos precisamos invocar o Senhor. Então, poderemos dizer: “Amém, Senhor Jesus! Agora estou num tempo de refrigério”. Encorajo você a desfrutar um tempo de refrigério invocando o nome do Senhor.
Alguns que têm bastante conhecimento teológico podem não querer invocar o nome do Senhor. Talvez tenham medo de perder prestígio. Mas talvez precisemos perder “prestígio” a fim de ganhar o Senhor Jesus. Que desfrute é invocar o Seu nome. Às vezes fico fora de mim de tanto gozo no Senhor quando O invoco e desfruto tempos de refrigério. Dia a dia, e o dia todo, podemos desfrutar tempos de refrigério simplesmente invocando o Senhor.
Alguns criticam a prática de invocar o nome do Senhor Jesus e alegam que isso é algo que nós inventamos. Invocar o Senhor é uma prática bíblica, certamente não é algo inventado por nós. Não é uma prática nova no Novo Testamento. Começou com Enos, a terceira geração da humanidade (Gn 4:26) e continuou com muitos outros (ver nota em At 2:21).
Quando alguns ouvem que invocar o nome do Senhor começou com Enos, eles alegam que Enos não invocava como nós hoje. A isso eu responderia: “Como é então, que Enos invocava o nome do Senhor? Será que dizia: 'Ó Senhor, tenha misericórdia de mim. Senhor, estou numa situação miserável e tenho muitos problemas. Senhor, que posso fazer?”
Não podemos entender a maneira de invocar o Senhor lendo apenas um versículo. É preciso considerar essa questão em toda a Bíblia. Se lermos o Antigo Testamento, de Gênesis 4 a Isaías 12, descobriremos a maneira de invocar o Senhor. Isaías, em especial, indica que precisamos invocar o Senhor com gozo: “Y ós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação. Direis naquele dia: Dai graças ao SENHOR, invocai o seu nome, tornai manifestos os seus feitos entre os povos, relembrai que é excelso o seu nome” (Is 12:3-4). Nós tiramos água das fontes da salvação invocando o nome do Senhor com alegria.
Suponha que determinado irmão tenha vários problemas. A esposa está no hospital, o filho mais velho perdeu o emprego e o filho mais novo não está bem nos estudos. Esse irmão não deveria dizer: “Senhor, preciso que tenhas misericórdia de mim, pois estou em grande necessidade. Senhor, minha esposa está no hospital, meu filho mais velho perdeu o emprego e meu filho mais novo está indo mal na escola. Senhor, por favor, ajude-me”. Em vez de orar dessa forma, o irmão deveria invocar o Senhor e dizer: “Senhor Jesus, Tu és o Senhor! Tu és soberano. Senhor Jesus, eu Te agradeço pois sabes da minha situação. Tu sabes, Senhor, que minha esposa está no hospital, meu filho mais velho perdeu o emprego e o mais novo está mal na escola. Ó Senhor Jesus!” Isso é invocar o Senhor fortemente e com alegria. Certamente essa é a maneira que os santos do Antigo e do Novo Testamento invocavam o nome do Senhor.
A palavra grega para invocar em Atos 2:21 é epikaléo, composta de epi, que quer dizer sobre, e kaléo, que significa chamar (pelo nome); assim é chamar audivelmente, até mesmo em alta voz, como o fez Estêvão (At 7:59-60). Portanto, vemos que invocar o nome do Senhor é chamá-Lo audivelmente. Isso não é um ensinamento ou prática inventada por nós, mas é um fato bíblico. Se você ler aquele longo trecho sobre invocar na mensagem 9, verá quão bíblica é essa prática. Invocar o Senhor tem muita base na revelação do Antigo e do Novo Testamento. Ademais, a partir da nossa experiência sabemos que quando O invocamos, desfrutamos um tempo de refrigério. Sempre que O invocarmos estaremos num tempo de refrigério. Esse é um fato na Palavra e na nossa experiência, e eu o encorajo a experimentá-lo.
ASPECTOS DE CRISTO COMO AQUELE QUE CURA
Em Atos 3:25 vemos que o Senhor Jesus também é a descendência de Abraão: “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”. Nesse versículo a “descendência” se refere a Cristo (Gl 3:16). Aqui Pedro parece estar dizendo: “O homem Jesus, o Nazareno, Aquele que foi desprezado pelos líderes judeus, é a descendência de Abraão, na qual todas as nações da terra serão abençoadas. Não apenas é Ele o Servo de Deus, o Santo, o Justo, o Autor da vida e o Profeta; é também a descendência de Abraão, na qual toda a terra será abençoada”.
Aquele que cura em Atos 3 é maravilhoso. Devemos nos voltar da cura e dar atenção ao que cura. Gostamos da cura, mas apreciamos muito mais o que cura. Esse que cura é Aquele em quem todas as famílias da terra, todas as raças, cores e nacionalidades, serão abençoadas.
Ao ler o capítulo três de Atos precisamos prestar atenção a todos os tópicos relacionados a Cristo como Aquele que cura. Ele é o Servo de Deus, o Santo, Aquele que era absolutamente para Deus. Como o Justo, Ele é correto com Deus, com o homem e com todas as coisas nos céus e na terra. Ademais, Ele é o Autor da vida. Ele não é apenas vida; é o Originador, a fonte e a origem da vida. Também traz tempos de refrigério. Quando O contatamos, estamos num tempo de refrigério. Esse que cura também é o Profeta, falando Deus e declarando Deus ao falar. Finalmente também é a descendência, no qual todas as famílias da terra serão abençoadas.
Podemos ler Atos 3 sem prestar atenção aos aspectos de Cristo como Aquele que cura revelado nesse capítulo. Como podemos ler esse capítulo sem ver essas coisas? É devido à influência da teologia tradicional. Em nossa leitura de Atos 3, essa influência pode fazer com que não vejamos todas as várias questões relacionadas com Cristo como Aquele que cura. Precisamos ver que Aquele que cura é o Servo, o Santo, o Justo, o Autor da vida, o Profeta e a descendência no qual todas as famílias da terra serão abençoadas. Que Pessoa Ele é! Em vez de nos preocupar com curas, precisamos desfrutar Aquele que cura. Desde que O tenhamos, teremos os tempos de refrigério.
DEUS ENVIA O CRISTO ASCENDIDO
Quando Pedro falava as palavras registradas no versículo 26, o Servo de Deus havia ascendido aos céus e ainda estava lá. Contudo Pedro disse às pessoas que Deus havia enviado Cristo para abençoá-los. Que significa isso? Na verdade Deus recebeu Cristo nos céus. Mas aqui Pedro diz que Deus O enviou ao povo. De que forma Deus enviou o Cristo ascendido aos judeus? Foi derramando o Espírito. Essa foi a maneira de Deus enviar o Cristo ascendido ao povo. Isso implica que o Espírito derramado é na verdade o próprio Cristo ascendido. Quando o Espírito derramado veio às pessoas, era Cristo, o que ascendera, enviado por Deus a eles. Com isso vemos que o Espírito derramado é idêntico ao Cristo ascendido. Na economia de Deus para a experiência do Seu povo, o Cristo ascendido e o Espírito derramado são um. Na economia de Deus, Cristo e o Espírito são um para o nosso desfrute.
Ao apresentar Cristo às pessoas, Pedro falou Dele como o Servo de Deus, o Santo, o Justo, o Autor da vida, o Profeta e a descendência na qual recebemos a bênção de Deus. Então, Pedro conclui: “Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar”. Aqui ele parece estar dizendo: “Deus O enviou primeiramente a vocês para abençoá-los. Como Deus O enviou? Foi derramando o Seu Espírito para vocês a fim de abençoá-los, Agora vocês precisam recebê-Lo, Ele não está longe de vocês. Embora esteja nos céus, economicamente Ele está entre vocês como o Espírito derramado para abençoá-los. Se invocarem o Seu nome, vocês receberão a Sua Pessoa: o Espírito Santo. O nome é 'Jesus' mas a pessoa é o Espírito. Invoquem o nome do Senhor Jesus e recebam o Espírito. Então, vocês terão a bênção de Deus”. Essa é a maneira de receber a bênção que Deus nos quer dar enviando o Cristo ascendido de volta a nós como o Espírito que dá vida.
Jesus é o Senhor!