O DIA DO SENHOR VIRÁ COMO LADRÃO - 2 Pedro 3:1-12
Leitura Bíblica: 2 Pedro 3:1-12
Em 2 Pedro 3:1-9 vemos o juízo de Deus sobre os escarnecedores hereges. Nessa epístola temos não somente falsos mestres, mas também escarnecedores, que podem ser os próprios falsos mestres ou pessoas influenciadas pelos seus ensinamentos. Tanto os falsos mestres como os escarnecedores hereges serão julgados pelo Senhor. Consideremos agora 2 Pedro 3:1-9 versículo por versículo.
2 Pedro 3:1 diz: “Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida”. [O termo esclarecida também pode ser traduzido por sincera, pura]. Vemos aqui que o objetivo de Pedro era despertar a mente esclarecida dos santos. Para compreender a disciplina governamental de Deus precisamos ter nossa mente pura e sincera.
2 Pedro 3:2 continua: “Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos”. As palavras ditas pelos profetas são o conteúdo do Antigo Testamento, as Escrituras (2Pe 3:16; 1:20), e os mandamentos ensinados pelos apóstolos são o conteúdo do Novo Testamento, o ensinamento dos apóstolos (At 2:42). Pedro usa ambos para confirmar e fortalecer seus escritos como imunização contra os ensinamentos heréticos da apostasia. Em sua primeira epístola, sobre a salvação completa de Deus, ele se refere aos profetas e também aos apóstolos (1Pe 1:9-12). Então, na segunda epístola, que é sobre o resplandecer da verdade divina, mais uma vez ele se refere a ambos (2Pe 1:12-21). Aqui, no versículo 2, ele faz isso pela terceira vez. Portanto seu ensinamento é baseado nos profetas do Antigo Testamento e nos apóstolos do Novo Testamento, as duas seções da Palavra Sagrada. Isso indica que o que Pedro diz aqui refere-se, na verdade, a toda a Bíblia. Quando desperta a lembrança dos irmãos, ele o faz com base nas profecias do Antigo Testamento e nos ensinamentos do Novo Testamento.
OS ESCARNECEDORES NOS ÚLTIMOS DIAS
2 Pedro 3:3 diz: “Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões”. Os “últimos dias” denotam o desfecho desta era atual (2Tm 3:1; Jd 1:18). Esse período começou no final da assim chamada era apostólica, na última parte do primeiro século, e durará até a segunda vinda de Cristo. 2 Pedro 3:3 nos diz que nos últimos dias virão escarnecedores; esses podem ser os falsos mestres em 2 Pedro 2:1. Seu escárnio é parte da apostasia e é segundo suas paixões.
De acordo com 2 Pedro 3:4, esses escarnecedores dizem: “Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”. A promessa da vinda do Senhor foi dada aos pais pelos santos profetas do Antigo Testamento (Sl 72:6-17; 110:1-3; 118:26; Dn 7:13-14; Zc 14:3-9; Mt 14:1-3). Mas os escarnecedores dizem, em tom de escárnio: “Onde está a promessa da Sua vinda?”. É possível que tenham usado o pronome “Sua” com desprezo. Os escarnecedores dizem que todas as coisas permanecem como eram no princípio da criação.
IGNORAM POR COMPLETO A PALAVRA DE DEUS
2 Pedro 3:5-6 responde aos escarnecedores: “Deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água”. Aqui Pedro diz que os escarnecedores, de modo deliberado, ignoram o registro do Antigo Testamento sobre o juízo de Deus pelo dilúvio. O dilúvio foi um sério juízo; contudo eles ignoraram de forma intencional o registro bíblico sobre ele. As palavras gregas traduzidas por “deliberadamente esquecem” significam “não notam pela própria vontade”, ou seja, eles ignoram intencionalmente essas coisas; portanto não as percebem. Os escarnecedores hereges ignoram deliberadamente e negam intencionalmente a palavra de Deus falada pelos profetas nas Escrituras. Portanto Pedro lembra os irmãos das santas palavras faladas pelos profetas do Antigo Testamento e pelos apóstolos do Novo Testamento (2Pe 3:1-2).
A promessa sobre a vinda do Senhor (2Pe 3:4) é a palavra de Deus. Os escarnecedores não devem ignorar que foi pela palavra de Deus que os céus e a terra vieram a existir (Hb 11:3), e é pela mesma palavra que os céus e a terra são guardados (Hb 1:3) para o dia do juízo e da destruição dos homens ímpios (2Pe 3:7). Portanto eles deveriam saber que, pela palavra de Deus, todo o universo material, inclusive eles próprios, serão julgados pela vinda do Senhor.
2 Pedro 3:5 diz que, pela palavra de Deus, os céus existem há muito tempo. As palavras “de longo tempo” significam que existem desde os tempos antigos. No princípio, ou seja, há muito tempo, os céus e a terra foram criados por Deus (Gn 1:1). Pela palavra de Deus (Sl 33:6) vieram a existir primeiro os céus e depois a terra (Jó 38:4-7).
2 Pedro 3:5 fala da terra “que surgiu da água e através da água”. Uma possível tradução seria a terra “que subsistia a partir da água e através da água”, pois o verbo grego aqui é o mesmo usado em Colossenses 1:17; literalmente esse verbo significa permanecer junto, permanecer com (em justaposição, lado a lado). Primeiro a terra veio a existir em Gênesis 1:1; então a partir de Gênesis 1:9, também pela palavra (o falar) de Deus (Sl 33:9), a terra começou a subsistir da água e através da água, ou seja, a permanecer junto com a água, em justaposição, parcialmente emergindo dela e parcialmente submersa nela. Foi dessa maneira que a terra veio a existir.
O pronome relativo “qual” escrito em 2 Pedro 3:6 refere-se à água no versículo 5. A terra subsistiu a partir da água e através da água numa condição ordenada, em ordem. Mas através da mesma água ela foi julgada e destruída pelo dilúvio na época de Noé (Gn 7:17-24). Isso indica que as coisas não permaneceram como eram no princípio da criação.
OS JUÍZOS PELA ÁGUA E PELO FOGO
A palavra grega para mundo, kósmos, denota ordem, um sistema, o mundo com seus habitantes. A terra no versículo anterior tornou-se o mundo nesse versículo, não meramente a terra, mas a terra e seus habitantes como um sistema. Isso se refere ao mundo na era de Noé, que foi julgado por Deus com o dilúvio devido à pecaminosidade e impiedade daquela era (Gn 6:5-7, 11-13, 17). Esse livro diz respeito principalmente ao governo divino e a todos os Seus juízos. O primeiro juízo sobre o mundo foi o executado pelo dilúvio nos dias de Noé, o qual limpou aquele mundo ímpio. Pedro deve ter tido isso em mente quando escreveu esse versículo. Esse conceito implica que esta era de apostasia também será julgada no dia da manifestação do Senhor, assim como foi julgada nos dias de Noé (Mt 24:37-39). As palavras “daquele tempo” escrito em 2 Pedro 3:6 referem-se à era de Noé.
A palavra “afogado” escrito em 2 Pedro 3:6 refere-se ao dilúvio da época de Noé, o dilúvio que destruiu a terra. A palavra “perecer” significa ser destruído, demolido, assolado (Gn 6:13, 17). A terra, portanto, não permaneceu a mesma, mas teve uma mudança, um cataclismo, foi afogada em água e destruída. Vemos aqui o forte argumento de Pedro contra os escarnecedores hereges. Eles dizem que “todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”. Mas na verdade houve um cataclismo na terra por causa da impiedade de seus habitantes. Isso implica que o mundo atual não permanecerá como está, mas também sofrerá um cataclismo na vinda do Senhor com Seu juízo sobre os rebeldes, inclusive os falsos mestres e os escarnecedores hereges em apostasia.
2 Pedro 3:7 prossegue: “Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios”. A palavra “agora” nesse versículo forma um contraste com as palavras “daquele tempo” no versículo 6; refere-se aos céus e à terra atuais, que permanecem pela palavra de Deus (Gn 8:22), e não serão mais destruídos por água (Gn 9:11), mas consumidos pelo fogo no Dia do juízo e destruição dos homens ímpios.
2 Pedro 3:7 fala da “mesma palavra”. Os ensinamentos falsos e heréticos da apostasia são um desvio da palavra de Deus falada pelos profetas no Antigo Testamento e pelos apóstolos no Novo Testamento. Portanto o antídoto que Pedro administrou a fim de imunizar contra o veneno dos ensinamentos apóstatas foi a palavra santa com a revelação divina, que ele enfatiza várias vezes.
De acordo com as palavras de Pedro, os céus e a terra “têm sido entesourados para fogo”. O termo “entesourados” significa guardados. O fogo aqui é o fogo que consumirá os céus e a terra (2Pe 3:10) no final do milênio, quando vier o juízo do grande trono branco (Ap 20:11). O juízo inicial de Deus sobre o mundo foi pela água (2Pe 3:6), mas Seu juízo final será pelo fogo. A água somente remove a sujeira da superfície, mas o fogo muda a natureza de toda a substância. Isso também indica que os céus e a terra não permanecerão como são agora, mas serão purificados pelo fogo, e os falsos mestres ímpios e os escarnecedores serão julgados e destruídos sob o governo divino.
"O juízo" descrito em 2 Pedro 3:7 denota o juízo do grande trono branco, que virá após o milênio, mas será antes do novo céu e da nova terra (Ap 20:11-21:1). Por meio desse juízo, todos os ímpios serão lançados no lago de fogo para ser destruídos. Visto que esse será o juízo final sobre homens e demônios, ele é de grande importância para o governo de Deus no universo.
MIL ANOS PARA O SENHOR SÃO COMO UM DIA
Aqui Pedro pula o milênio, o período entre a vinda do Senhor e o juízo do grande trono branco. Para Pedro, assim como para o Senhor, esses mil anos serão como um dia (2Pe 3:8), um período curto. Aqui Pedro fala do juízo governamental de Deus; o milênio não terá esse propósito na dispensação divina.
Aqui Pedro fala sobre os “picos” da vinda do Senhor e do juízo final de Deus, mas não fala da “planície” do reino milenar que se estende entre os dois “picos”. Nessa epístola o interesse de Pedro está no juízo de Deus, e não no reino de paz de mil anos. Por essa razão, ele pula a questão do reino milenar.
Em 2 Pedro 3:8 ele diz: “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”. A palavra grega traduzida por “esquecer” significa escapar ao alcance, ou seja, passar despercebido.
Para o Senhor Deus, que é eterno, o sentido de tempo é bem diferente do que é para o homem; portanto para o cumprimento de Sua palavra, em especial a palavra de Sua promessa, o tempo não é crucial. O que é crucial é o fato. Tudo o que Deus prometeu se tornará, por fim, um fato. Não fiquemos preocupados por sentir algum atraso segundo nossa contagem do tempo.
2 Pedro 3:9 diz: “Não retarda o Senhor a Sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”. Aqui Pedro diz que o Senhor não tarda, ou não é tardio, em relação à promessa, como alguns O acham demorado, tardio. Provavelmente os escarnecedores é que consideravam a espera do Senhor uma demora; talvez tenham acusado o Senhor de estar ocioso, já que o atraso é uma demora relacionada à ociosidade.
2 Pedro 3:9 diz que o Senhor é longânimo para conosco. O coração do Senhor não está no tempo do cumprimento de Sua promessa, e sim em Seu povo, que é Sua propriedade particular, como tesouro (1Pe 2:9; Tt 2:14), para que nenhum de nós, Seus preciosos redimidos, seja punido por Seu juízo governamental, mas tenha amplo tempo para arrepender-se a fim de ser poupado de Sua punição.
O verbo "perecer" no versículo 9 significa "ser destruído". Visto que o termo “convosco” nesse versículo refere-se aos que crêem em Cristo, “não querendo que nenhum pereça” não se refere à perdição eterna dos incrédulos, e sim à punição da disciplina governamental de Deus sobre os cristãos (1Pe 4:17-18; 1Ts 5:3, 8). Do mesmo modo, a palavra “todos” refere-se aos cristãos. Além disso, “arrependimento” aqui é para salvação da alma (2Pe 3:15), arrependimento por não ser vigilante pelo dia da vinda do Senhor (2Pe 3:10) e por não ter uma vida de modo santo e em piedade (2Pe 3:11).
Precisamos perceber que o coração do Senhor não está voltado para o tempo do cumprimento de Sua promessa, e sim para Seu povo. Se necessário, o Senhor pode esperar outro dia, outros mil anos, para cumprir Sua promessa. Hoje muitos cristãos dizem que o Senhor Jesus voltará logo. No entanto a vinda do Senhor pode não ocorrer tão cedo como se pensa. Em Apocalipse 22 o Senhor disse: “Venho sem demora”. Contudo quase dois mil anos se passaram desde que falou essas palavras. Para Ele isso é somente dois dias, pois para o Senhor mil anos são como um dia.
Não dê ouvidos aos que estabelecem data para a volta do Senhor. No passado alguns predisseram quando o Senhor viria; no século dezenove um grupo de pessoas cria que o Senhor Jesus viria num dia específico; eles se prepararam e até vestiram túnicas brancas. É claro que nada aconteceu. Depois da Primeira Guerra Mundial, vários livros foram escritos sobre as profecias a respeito da vinda do Senhor. Alguns mestres da Bíblia afirmavam que, de acordo com sua visão da situação mundial, a vinda do Senhor estava próxima. Porém mais de cinqüenta anos se passaram desde que esses livros surgiram, e o Senhor Jesus ainda não voltou. Precisamos ser lembrados, portanto, do que Pedro diz: mil anos são como um dia para o Senhor.
Quando o Senhor Jesus voltar, não só julgará as coisas negativas, mas também receberá Sua noiva. Isso significa que virá como o Juiz e como o Noivo. Portanto a noiva deve estar preparada para o Senhor, para que Ele venha como o Noivo. Porventura a noiva está preparada para a vinda do Noivo? Acaso pode o Senhor vir hoje como o Noivo? Uma vez que a noiva ainda não está preparada, podemos dizer que é possível que a vinda do Senhor não ocorra tão cedo como alguns imaginam. A noiva só pode ser preparada por meio do crescimento em vida, e isso leva tempo. Formas superiores de vida levam mais tempo para se desenvolver do que formas inferiores. Quanto mais elevada for a vida, mais tempo levará para crescer. Visto que a noiva deve estar preparada para o Noivo, e devido ao fato de essa preparação ocorrer pelo crescimento em vida, um crescimento que requer tempo, não é provável que o Senhor Jesus volte nesse instante.
O que quero dizer aqui é que não devemos ficar preocupados ou surpresos com a demora da vinda do Senhor. Não culpe o Senhor, dizendo: “Senhor, Tu disseste em Apocalipse 22 que viria sem demora. Por que, então, essa demora?”. Em vez de culpar o Senhor por atrasar Sua vinda, devemos ser diligentes em nos preparar a fim de encontrá-Lo. Também devemos ministrar vida aos outros para que cresçam e estejam preparados. Essa é a única maneira de apressar a volta do Senhor.
2 PEDRO 3:10-12
Agora consideraremos 2 Pedro 3:10-12, em que Pedro fala a respeito do juízo de Deus sobre os céus e a terra. Isso, naturalmente, é parte de Sua disciplina governamental. Embora esses versículos não estejam diretamente relacionados com o crescimento em vida, podem ajudar-nos a buscar esse crescimento. Além disso, será útil entender adequadamente o que Pedro escreveu aqui.
O DIA DO SENHOR VIRÁ COMO LADRÃO
Em 2 Pedro 3:10 diz: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas”. O Dia do Senhor virá principalmente no aspecto de juízo (1Ts 5:2) para o governo de Deus. As palavras de Pedro sobre o dia do Senhor são, em primeiro lugar, uma advertência. No Novo Testamento o Dia do Senhor é mencionado principalmente em relação a Seu juízo (1Co 1:8; 3:13; 5:5; 2Co 1:14; 2Tm 4:8). O Dia do Senhor para Seu juízo (1Ts 5:3-4) virá antes do milênio (Ap 18:1; 19:11; 20:4-6).
No Dia do Senhor os céus passarão com um estrondo, os elementos se desfarão e a terra e as obras que nela existem serão queimadas. Isso ocorrerá no final do milênio (Ap 20:7, 11). As palavras de Pedro a respeito do Dia do Senhor em "2 Pedro 3:10" indicam que novamente ele deixou de considerar o milênio, assim como fez anteriormente nesse capítulo quando falou da vinda do Senhor no versículo 4 e do juízo no trono branco no versículo 7. A palavra “estrondo” indica som ou barulho impetuoso. Isso pode ser a proclamação de grande mudança no universo, do velho para o novo. Os “elementos” aqui são os elementos físicos que compõem os céus.
Podemos comparar as palavras “se desfarão” e “serão atingidas” nesse versículo com “os enrolarás” e “serão mudados” em Hebreus 1:12, “fugiram” e “não se achou lugar para eles” em Apocalipse 20:11 e “passaram” em Apocalipse 21:1. “Os elementos se desfarão abrasados” implica calor intenso usado para desfazer os céus e a terra, que será o meio usado por Deus para enrolá-los e colocá-los de lado, para que sejam mudados do velho para o novo (2Pe 3:13; Ap 21:1). Esse será o procedimento mal e consumado de Deus em relação à criação em Seu governo. Todas as coisas materiais no procedimento mal de Deus passarão, mas Sua palavra eterna permanecerá para sempre (Mt 24:35; 1Pe 1:25). A palavra de Sua profecia permanecerá e será cumprida no tempo designado por Ele para que Sua vontade eterna se realize, a despeito das mudanças que ocorram no universo físico.
As “obras” em 2 Pedro 3:10 podem incluir tanto as obras de Deus na natureza como as obras de arte do homem.
Já ressaltamos que o termo “o Dia do Senhor” refere-se principalmente ao juízo; portanto o dia do Senhor equivale a Seu juízo. Esse dia de juízo virá como ladrão de noite.
Pedro diz, no versículo 10, que no Dia do Senhor os céus passarão. Assim como em 2 Pedro 3:7, ele não menciona o milênio, porque fala do juízo governamental de Deus, e esse não é o propósito do milênio na dispensação divina.
Esse período equivale aproximadamente ao tempo da última das setenta semanas mencionadas em Daniel 9:24-27. As primeiras sessenta e nove semanas (483 anos) terminaram quando o Senhor Jesus foi crucificado, quando Ele, o Messias, Ungido, foi morto. Agora há um intervalo entre a sexagésima nona semana e o começo da septuagésima semana, e a Bíblia não nos diz quanto tempo durará esse intervalo. Mas sabemos que, após o intervalo, haverá um período de sete anos, o qual será a septuagésima semana, que ocorrerá antes do milênio. A vinda do Senhor acontecerá durante esses anos.
A VINDA DO SENHOR
De acordo com 2 Pedro 3:4, os escarnecedores diziam: “Onde está a promessa da sua vinda?”. A palavra grega para “vinda” é parousía, que literalmente significa presença. Segundo o Novo Testamento, a parousía do Senhor, Sua vinda, não durará apenas uma hora ou um dia; durará um período. Estudando em detalhes as Escrituras, vimos que a parousía do Senhor talvez comece no meio da septuagésima semana, ou seja, no meio dos últimos sete anos antes do milênio. Além disso, começará provavelmente a partir do momento em que o Senhor deixar o trono de Deus no terceiro céu e descer ao ar envolto numa nuvem (Ap 10). Isso significa que a parousía do Senhor ocorrerá nos 'últimos três anos e meio desta era'.
De acordo com o capítulo 12 de Apocalipse, o filho varão será arrebatado ao trono de Deus. Apocalipse 12:5 diz: “Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono”. O filho varão será arrebatado ao trono de Deus, e esse arrebatamento ocorrerá antes dos mil duzentos e sessenta dias (v. 6), que será o período de três anos e meio da grande tribulação (42 meses — Ap 12:14; 13:5; 11:2). Após o arrebatamento do filho varão haverá um período de três anos e meio, ou quarenta e dois meses. Precisamos atentar ao fato de que o filho varão será arrebatado não ao ar, mas ao trono de Deus, onde o Senhor Jesus está hoje. Portanto esse arrebatamento significa que o filho varão estará na presença do Senhor, na parousía do Senhor. Isso prova que, no meio da septuagésima semana, o Senhor Jesus ainda estará no trono de Deus no terceiro céu.
O capítulo 14 de Apocalipse fala dos cento e quarenta e quatro mil, que são as primícias. Apocalipse 14:1 diz: “Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o Seu nome e o nome de Seu Pai”. Esses cento e quarenta e quatro mil “que foram comprados da terra” (Ap 14:3) foram “redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro” (Ap 14:4). Eles serão os primeiros frutos maduros no campo de Deus, e serão colhidos antes da ceifa, como primícias para Deus e para o Cordeiro. A seara será colhida depois, nos versículos 14 a 16. Isso significa que os cento e quarenta e quatro mil serão arrebatados aos céus antes da ceifa, assim como as primícias da boa terra eram colhidas e levadas ao templo de Deus antes da colheita (Lv 23:10-11; Êx 23:19). Os eventos registrados em Apocalipse 14:6-13, que ocorrerão durante a grande tribulação (Mt 24:21), indicam claramente e provam categoricamente que as primícias em Apocalipse 14:1-5 serão arrebatadas antes da grande tribulação, e a seara nos versículos 14 a 16, que inclui a maioria dos cristãos, será arrebatada depois da grande tribulação. As primícias serão arrebatadas aos céus e estarão lá com Cristo. Após esse arrebatamento haverá um período de três anos e meio, a segunda metade da septuagésima semana da profecia de Daniel 9.
Apocalipse 12 e 14 falam do mesmo período de tempo. Esses capítulos nos dão a base para dizer que, no mínimo, a parousía do Senhor começará na metade da septuagésima semana. Depois do arrebatamento do filho varão e das cento e quarenta e quatro mil primícias, o Senhor Jesus deixará o terceiro céu com esses santos vencedores e descerá ao ar. Em vez de vir diretamente à terra, Ele permanecerá no ar envolto numa nuvem. Em Apocalipse 10:1 Cristo está envolto numa nuvem, mas em Apocalipse 14:14 Ele está sobre a nuvem. Esse último versículo corresponde a 1 Tessalonicenses 4:17 e indica que a volta do Senhor então se tornará pública. Isso significa que primeiro a parousía do Senhor será oculta. Então, de acordo com 2 Tessalonicenses 2:8, haverá a manifestação de Sua parousía. A vinda do Senhor, portanto, será oculta antes de se manifestar abertamente. Sua vinda envolve um período de tempo; primeiro será secreta e depois aparecerá em público. Provavelmente ela aparecerá no final da septuagésima semana da profecia de Daniel 9. Nesse momento o Senhor não estará mais envolto pela nuvem, como em Apocalipse 10, e sim assentado sobre ela, visto publicamente, como em Apocalipse 14. Essa será a manifestação de Sua parousía, de Sua vinda. A melhor maneira de traduzir 2 Tessalonicenses 2:8 é seguir uma tradução literal e falar da manifestação de Sua vinda.
Se tivermos pelo menos uma idéia geral a respeito da vinda do Senhor, saberemos por que Pedro diz que o Dia do Senhor virá como ladrão. Não somente o Senhor virá como ladrão; até mesmo o Dia do Senhor virá dessa maneira. A vinda desse Dia será oculta, não pública.
Já ressaltamos que em 2 Pedro 3:10 diz que no Dia do Senhor os céus serão queimados. Isso ocorrerá após o milênio. O Dia do Senhor virá antes do milênio, mas os céus serão queimados após o milênio. É por isso que dizemos que aqui Pedro não menciona o milênio e considera a queima dos céus e da terra como a última coisa que ocorrerá no Dia do Senhor.
A esta altura eu gostaria de lhe pedir que veja o quadro do diagrama. Nesse quadro vemos um diagrama das setenta semanas de Daniel 9:24-27. Primeiro temos um período de sete semanas, depois um período de sessenta e duas semanas e finalmente, após um intervalo indeterminado, a última semana, a septuagésima. A septuagésima semana será seguida pelos mil anos do reino milenar. No final do milênio ocorrerão dois eventos, talvez ao mesmo tempo: a queima dos céus e da terra e o juízo no trono branco. De acordo com o diagrama, o Dia do Senhor começará preliminarmente no início dos últimos sete anos, e Sua parousia começará na metade desses anos. Antes da metade da septuagésima semana ocorrerão certas calamidades naturais, como no sexto selo. O Dia do Senhor, como podemos ver pelo diagrama, estará aberto e não se completará até o final do milênio, quando haverá o juízo de Gogue e Magogue de acordo com o que está escrito em Apocalipse 20:7-11.
Agora podemos entender que o Dia do Senhor é um dia de juízo, que começará no início da última semana da profecia de Daniel 9, a septuagésima semana. Nesse período Deus julgará o céu, a terra e os que vivem sobre a terra, segundo o que está escrito no livro de Apocalipse. Então, na metade da septuagésima semana, o filho varão e os cento e quarenta e quatro mil serão arrebatados ao terceiro céu. Em seguida começará a parousia do Senhor. Ele trará Sua presença aos ares e Se ocultará por algum tempo na nuvem. Essa será a parte oculta de Sua parousia. Então, ao final dos sete anos, a parousia do Senhor se tornará pública, e o próprio Senhor descerá à terra para exercer o juízo sobre o Anticristo e seu exército. O Senhor também fará com que Satanás seja amarrado e lançado no abismo, onde será mantido por mil anos. Além disso, o Senhor se assentará em Seu trono em Jerusalém para julgar as nações. Por meio desse juízo, será resolvida a situação dos que habitam sobre a terra. Os cristãos terão sido julgados no tribunal de Cristo, os judeus terão sido julgados e as nações terão sido julgadas no trono da glória de Cristo. Como resultado, tudo estará preparado para o reino de paz que durará mil anos em toda a terra. Mas no fim do milênio Satanás será solto de sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, a rebelião de Gogue e Magogue. Cristo então julgará Gogue e Magogue, e Satanás será lançado no lago de fogo. Isso ocorrerá no final do milênio (Ap 20:7-11). Então haverá o juízo no trono branco e os céus e a terra serão queimados. Depois disso o Dia do Senhor estará completo, e terá início a eternidade com o novo céu e a nova terra.
PROCEDIMENTO SANTO E PIEDADE
2 Pedro 3:11 prossegue: “Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade”. Todas as coisas, no céu e na terra, foram contaminadas pela rebelião de Satanás e pela queda do homem. Embora todas as coisas, tanto na terra como nos céus, tenham sido reconciliadas com Deus por meio de Cristo, por Seu sangue (Cl 1:20), as coisas celestiais, tendo sido purificadas pelo sangue de Cristo (Hb 9:23), ainda precisam ser limpas, sendo queimadas na disciplina governamental de Deus para que se tornem novas em natureza e em aparência no novo universo de Deus (2Pe 3:13). Assim, que tipo de pessoas devemos ser em santo procedimento e piedade, nós, os filhos do Deus santo? Ou seja, que tipo de transformação devemos ter para viver uma vida segundo a natureza santa e a piedade de Deus, para expressá-Lo a fim de ser qualificados a corresponder ao Seu santo governo? Como é maravilhoso o fato de o divino poder nos ter provido todas as coisas necessárias para viver essa vida em santo procedimento e piedade (2Pe 1:3)!
ESPERAR E APRESSAR O DIA DE DEUS
2 Pedro 3:12 diz: “Esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão”. Enquanto vivemos uma vida transformada de maneira santa e piedosa, esperamos e apressamos a vinda do Dia de Deus. Sabendo que Deus é tão Santo a ponto de dissolver todas as coisas, devemos ter um santo procedimento e piedade, enquanto aguardamos e apressamos a vinda do Dia de Deus. Não somente esperamos o Dia de Deus — também devemos apressá-lo.
O DIA DE DEUS
O Dia de Deus é o Dia do Senhor (2Pe 3:10), e o Dia do Senhor é o Dia de Jeová para os filhos de Israel no Antigo Testamento (Is 2:12; Joel 1:15; 2:11, 31; 3:14; Am 5:18, 20; Ob 1:15; Sf 1:7, 14, 18; 2:2-3; Zc 14:1; Ml 4:1, 5). O “Dia” em tais termos é usado principalmente no sentido de juízo para disciplina governamental. Antes da vinda do Senhor, ele é o “dia do homem”, no qual o homem julga até que o Senhor venha (1Co 4:3-5, lit.). Então será o “Dia do Senhor”, que começará com Sua parousia (e todos os Seus juízos) e terminará com o juízo sobre os homens e os demônios no grande trono branco (Ap 20:11-15). A parousia do Senhor começará quando os santos vencedores forem arrebatados ao trono de Deus nos céus, antes da grande tribulação de três anos e meio (Ap 12:5-6; 14:1). Então, com os vencedores, Sua parousia virá ao ar (Ap 10:1). Juntamente com isso, todas as calamidades naturais do sexto selo e das quatro primeiras trombetas serão aplicadas para ferir os céus e seus corpos celestes, e a terra com o que nela há (Ap 6:12-17; 8:7-12).
Então começará a grande tribulação, que durará três anos e meio, com os ais e as pragas das últimas três trombetas e das sete taças (Mt 24:21-22, 29; Ap 8:13-9:21; 11:14; 15:5; 16:21). Esse será um período de provação para os habitantes de toda a terra (Ap 3:10), inclusive para os judeus (Is 2:12; Zc 14:1-2; Ml 4:1, 5; Joel 1:15-20; 2:1, 11, 31) e para os cristãos que serão deixados na tribulação (Ap 12:17). Antes do fim da grande tribulação, os santos mortos serão ressuscitados e arrebatados juntamente com a maioria dos cristãos que estiverem vivos, os quais terão passado pela maior parte da tribulação, para encontrar-se com o Senhor nos ares (1Co 15:52; 1Ts 4:16-17; Ap 14:14-16). Em seguida todos os cristãos serão julgados pelo Senhor em Seu tribunal nos ares (2Co 5:10).
Por volta dessa época, a grande Babilônia será destruída na terra (Ap 17:1-19:3). Então o Senhor terá Suas bodas com os santos vencedores (Ap 19:7-8). Logo depois o Senhor com Sua noiva, composta dos santos vencedores como Seu exército, combaterá e derrotará o Anticristo e seu exército, o exército de Satanás; o Anticristo e seu falso profeta serão aprisionados e lançados vivos no lago de fogo (Ap 19:11-21). Em seguida Satanás será amarrado e lançado no abismo (Ap 20:1-3). Então o Senhor virá com Seus santos à terra (Zc 14:4-5; Jd 1:14; 1Ts 3:13) e julgará os povos (os que estiverem vivos — Mt 25:31-46; Joel 3:2). Depois disso virá o reino milenar (Ap 20:4-6).
Após os mil anos, Satanás será solto do abismo para instigar parte das nações, Gogue e Magogue, no norte do hemisfério oriental, a se rebelar pela última vez contra Deus. Eles serão subjugados e queimados, e o diabo, o enganador, será lançado no lago de fogo (Ap 20:7-10). Em seguida os céus e a terra serão queimados e, assim, purificados por completo (2Pe 3:7, 10). Então virá o juízo final sobre os homens (os mortos) e os demônios, e provavelmente também sobre os anjos caídos, no grande trono branco (Ap 20:11-15). Essa será a disciplina final de Deus sobre Sua velha criação em Seu governo universal, além dos diversos juízos e disciplinas aplicados durante o Dia do Senhor para limpar o velho universo. Então [após o milênio] começará um novo universo, com o novo céu e a nova terra por toda a eternidade (Ap 21:1), onde não haverá mais juízo nenhum da disciplina governamental de Deus, pois já não haverá injustiça.
Não é correto considerar o Dia de Deus e o Dia do Senhor como dois dias distintos, e dizer que o Dia do Senhor termina com o reino milenar e o Dia de Deus começa com a queima dos céus e da terra, seguida pelo juízo do grande trono branco. Na verdade, visto que o juízo do grande trono branco ainda será executado pelo Senhor Jesus (At 10:42; 17:31; 2Tm 4:1), ele será também no Dia do Senhor. "Deus não julga ninguém; Ele deu todo o juízo ao Seu Filho, Jesus Cristo" (Jo 5:22).
Em 2 Pedro 3:12 o pronome relativo “qual” refere-se à vinda do Dia de Deus, a qual visa exercer juízo sobre toda a velha criação a fim de limpá-la. Por causa da vinda desse Dia, os céus não serão mais capazes de permanecer como são e serão desfeitos, pois seus elementos se derreterão no intenso calor do fogo. Portanto Pedro diz que “os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão” (2Pe 3:12b).
(Estudo-Vida de 2 Pedro)
Jesus é o Senhor!