Evangelho de Marcos | Estudo 1
Leitura Bíblica:
Isaías 42:1-4, 6-7; 49:5-7; 50:4-7; 52:13-53:12; Marcos 10:45
No primeiro capítulo do evangelho de João temos um relato de questões profundas relacionadas com a encarnação de Cristo. Os versículos 1 e 14 revelam que no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e era Deus, e que o Verbo tornou-se carne e armou tabernáculo entre nós. De acordo com João capítulo 1 versículo 14, os discípulos também viram a glória do Senhor Jesus, glória como do Unigênito do Pai. No versículo 17 do primeiro capítulo de seu evangelho, João ainda diz que a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a realidade vieram por meio de Jesus Cristo. No versículo 18, João diz: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O deu a conhecer”. Além disso, no versículo 4, João nos diz que no Verbo estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Todas essas questões são muito profundas.
Em contraste com as questões profundas reveladas no evangelho de João, o evangelho de Marcos mostra o Senhor Jesus como o Salvador-Servo. Esse livro não traz o Salvador-Deus, como João, ou o Salvador-Rei, como Mateus, ou o Salvador-Homem, como Lucas, mas apresenta um aspecto especial de Cristo: o Salvador-Servo. Em João temos Deus; em Mateus, o Rei; em Lucas, o Homem e em Marcos, o Servo.
No livro de Tiago há contraste entre os escritos de Paulo: os de Paulo são muito mais elevados do que os de Tiago. Os escritos de Paulo estão no nível divino, o nível de Deus, e revelam o dispensar divino para o cumprimento de Seu propósito eterno. Portanto, nas Epístolas de Paulo temos uma revelação da economia divina. O livro de Tiago está em plano inferior; enquanto os escritos de Paulo estão no nível divino; o livro de Tiago está no nível humano e ressalta a perfeição cristã prática. Em sua Epístola, Tiago lida com questões de piedade e caráter. As diferenças entre a Epístola de Tiago e os escritos de Paulo são, na verdade, muito grandes. Como se pode comparar algo do nível humano com algo do nível divino? Como se pode comparar a perfeição cristã prática com a economia divina, ou comparar um viver cheio de ética com um viver cheio de Cristo? Não há comparação.
Se quisermos saber o significado da perfeição cristã prática, precisamos ir à Epístola de Tiago, pois sobre esse assunto nada é melhor do que esse livro. Considere por exemplo o que Tiago capítulo 3 versículo 17, diz acerca da sabedoria: “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. No versículo 18, ele diz também: “Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz”. Esse ensinamento certamente é muito mais elevado do que o de Confúcio. No que tange à perfeição cristã e à ética humana, o livro de Tiago é excelente. Nesses aspectos, todos precisamos respeitá-lo. Não obstante, não importa quão excelente sejam seus escritos no que diz respeito à perfeição cristã, ele permanece no nível humano, e o nível humano não pode ser comparado com o divino.
Até certo ponto, podemos usar o contraste entre o nível dos escritos de Paulo e dos de Tiago como ilustração do contraste entre Marcos e os demais evangelhos. Como, por exemplo, podemos comparar um servo com Deus? Além disso, como podemos comparar um servo com um rei? Aparentemente, o evangelho de Marcos está num nível bem inferior do que o de João, Mateus e Lucas. João capítulos 14 versículo 6; 8 versículo 12; 11 versículo 25, registra que o Senhor Jesus disse coisas profundas como: “Eu Sou [...] a vida”; “Eu Sou a luz do mundo” , e: “Eu Sou a ressurreição”. Essas palavras não se encontram no evangelho de Marcos, mas nele temos o excelente registro do maravilhoso Servo. No evangelho de Marcos temos algo que não pode ser encontrado em João, Mateus ou Lucas.
O Senhor Jesus é maravilhoso e Todo-Inclusivo. Isaías 9 versículo 6, diz que Seu nome é Maravilhoso. O Senhor é maravilhoso não apenas em Sua divindade, mas também em Sua humanidade. Onde podemos ver um retrato de Sua humanidade? É correto dizer que o evangelho de Lucas ressalta a humanidade do Senhor Jesus. Em seu evangelho, Lucas apresenta o Senhor Jesus como homem normal, que atinge plenamente o padrão, no qual vemos virtude, excelência e beleza humana. Entretanto, nem mesmo tudo isso pode ser comparado com o aspecto da humanidade do Senhor Jesus vista no evangelho de Marcos. No evangelho de Marcos vemos uma bela expressão das virtudes de Cristo em Sua humanidade. Creio que mais virtudes excelentes do Senhor podem ser vistas em Sua humanidade no evangelho de Marcos do que no evangelho de Lucas.
Dentre os quatro Evangelhos, somente o de João fala da divindade do Senhor Jesus. Os outros três, chamados sinóticos, falam de Sua humanidade. O termo “sinótico” indica que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas têm o mesmo ponto de vista: a humanidade do Senhor Jesus. Neles vemos diferentes aspectos de Cristo em Sua humanidade: Sua humanidade em ser Rei (evangelho de Mateus), em ser homem (evangelho de Lucas) e em ser Servo (evangelho de Marcos).
Suponha que o presidente dos Estados Unidos, após completar o mandato, trabalhe como faxineiro; depois de ser presidente, ele voluntariamente se rebaixe ao posto de faxineiro para servir outros. Não seria excelente? A excelência desse homem na presidência não se compara com sua excelência no fato de ser faxineiro. Creio que a maioria da população gostaria mais dele como faxineiro do que como presidente. No presidente não vemos muito da beleza em sua humanidade. Se ele, porém, se tornasse faxineiro a fim de servir os outros, veríamos a beleza, a virtude, em sua humanidade. Que bonito seria se uma pessoa, depois de ocupar um alto posto de presidente da nação, se tornasse faxineiro! Duvido que algum de nós se sentiria à vontade na presença do presidente da nação, mas todos ficaríamos à vontade com um faxineiro. Seria excelente ver um ex-presidente trabalhar como faxineiro, pois o veríamos em sua virtude humana excelente!
Que tipo de pessoa você prefere: um presidente ou um faxineiro? Eu prefiro estar com um faxineiro a estar com um presidente. Se um presidente me convidasse para passar a noite na Casa Branca, eu não me sentiria em casa. Mas se um ex-presidente se tornasse faxineiro e me convidasse a passar a noite em sua casa, eu me sentiria muito bem.
Uso essa ilustração para nos ajudar a ver a posição do evangelho de Marcos em relação aos demais. No evangelho de Mateus vemos o Senhor Jesus em Sua realeza, mas no evangelho de Marcos nós O vemos em Sua servidão. Qual você prefere: o Senhor Jesus como Rei ou como Servo? Você prefere o Rei Jesus ou o Servo Jesus? Naturalmente, podemos estar inclinados a gostar do Senhor Jesus como Rei mais do que como Servo. Mas todos precisamos apreciá-Lo como Salvador-Servo revelado no evangelho de Marcos. Se O apreciarmos desse modo, entenderemos o valor desse evangelho.
No evangelho de Marcos temos um registro vivido da humanidade do Senhor Jesus como Servo. Os seus últimos capítulos são especialmente longos e detalhados, e o motivo disso é que o propósito do autor é fornecer um registro detalhado a fim de mostrar a beleza do Senhor como Servo em Suas virtudes humanas.
UM REGISTRO DOS ATOS DO SENHOR E UMA DESCRIÇÃO DE SUAS VIRTUDES HUMANAS
A chave para entender o evangelho de Marcos é que nele vemos muito mais dos atos do Senhor Jesus do que de Suas palavras. O autor não registra muito do que o Senhor Jesus ensinou. Por exemplo, ele não inclui a mensagem que o Senhor deu no monte (registrada no evangelho de Mateus capítulos 5 ao 7), nem as longas profecias e muitas parábolas encontradas nos evangelhos de Mateus e Lucas. Em sua maioria, Marcos dá um registro detalhado dos atos do Senhor. Ele inclui muitos pormenores a fim de apresentar um retrato da beleza e excelência da humanidade de Cristo como Salvador-Servo. Se virmos isso, amaremos o evangelho de Marcos.
O segredo para entender o evangelho de Marcos é ver que esse livro descreve o modo vivido e detalhado das excelentes e maravilhosas virtudes humanas do Senhor Jesus. Na verdade, é muito difícil falar desse evangelho. Seriam necessárias mais de vinte mensagens para abordar apenas os primeiros três capítulos, pois o registro da humanidade do Senhor nesse evangelho é muito vívido e detalhado. Que maravilhoso é o quadro das virtudes da humanidade do Senhor no evangelho de Marcos! O Senhor precisa conceder-nos vocabulário especial a fim de falar dessas questões. Através dos anos, eu me acostumei a falar do Cristo todo-inclusivo, da igreja e do Espírito composto e processado que habita em nós, mas, quando chegamos ao evangelho de Marcos, sinto que preciso de outro vocabulário, e busco o Senhor por isso.
ASPECTOS DO EVANGELHO DE MARCOS
Desde os primórdios da igreja, o evangelho de Marcos tem sido considerado um relato escrito da apresentação oral de Pedro, que acompanhou o Salvador em Seu serviço evangélico desde o início até o fim (Marcos 1 versículos 16 ao 18; 14 versículos 54, 66 ao 72). O registro é segundo a seqüência histórica e fornece mais detalhes de fatos históricos do que os demais evangelhos. O livro todo é resumido nas palavras de Pedro em Atos capítulo 10 versículos 36 ao 42.
Com relação ao Evangelho de Marcos, precisamos ter três questões em mente:
1) é o relato escrito da apresentação de Pedro da história de Jesus Cristo, o Filho de Deus;
2) foi escrito segundo a seqüência histórica;
3) fornece mais detalhes de fatos históricos do que os demais evangelhos.
Esse livro pode ser de fato considerado o evangelho de Pedro, que apresentou a história do Senhor Jesus oralmente a Marcos, e este a escreveu. Esse evangelho também fornece uma biografia do Senhor em ordem cronológica. O registro de Mateus, pelo contrário, fornece um registro de acordo com a doutrina. Se quisermos saber a seqüência histórica dos acontecimentos da vida do Senhor, precisamos do evangelho de Marcos. Além disso, ele nos dá mais detalhes dos fatos históricos do que os outros evangelhos. Como já ressaltamos, Marcos dá muito mais atenção às ações do Senhor Jesus do que ao que Ele falou. Isso se encaixa ao propósito de Marcos de retratar o Senhor como Servo. Um servo trabalha; não é alguém que fala muito. Portanto, Marcos apresenta os detalhes das ações do Senhor Jesus.
O evangelho de João apresenta o Salvador-Deus, ressaltando Sua deidade em Sua humanidade. O evangelho de Mateus apresenta o Salvador-Rei. O evangelho de Marcos apresenta o Salvador-Servo. E o evangelho de Lucas apresenta o Salvador-Homem. Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são sinóticos no que tange à humanidade do Salvador, em diferentes aspectos, com Sua deidade. Uma vez que o evangelho de Marcos apresenta o Salvador como Servo, ele não mostra Sua genealogia e status, pois os ancestrais de um Servo não são dignos de nota. Marcos também não quer impressionar-nos com as palavras maravilhosas do Servo (como o faz Mateus com Seus ensinamentos e parábolas maravilhosos acerca do reino dos céus, e como o faz João com Suas revelações profundas das verdades divinas), mas nos impressiona com os feitos excelentes do Senhor Jesus em Seu serviço evangélico, fornecendo mais detalhes que os outros evangelistas, a fim de retratar a diligência, a fidelidade e outras virtudes do Salvador-Servo em Seu serviço salvador que da parte de Deus prestou aos pecadores. No evangelho de Marcos há o cumprimento da profecia acerca de Cristo como o Servo de Jeová registrada em Isaías capítulo 42 versículos 1 ao 4 e 6 ao 7; capítulo 49 versículos 5 ao 7; capítulo 50 versículos 4 ao 7; capítulo 52 versículos 13 ao 15; capítulo 53 versículos 1 ao 12, e os detalhes do ensinamento acerca de Cristo como Servo de Deus em Filipenses capítulo 2 versículos 5 ao 11. Sua diligência no trabalho, Sua necessidade de alimento e descanso (Marcos capítulo 3 versículos 20 e 21; e capítulo 6 versículo 31), Sua ira (capítulo 3 versículo 5), Seu gemido (capítulo 7 versículo 34), e Sua afeição (capítulo 10 versículo 21) demonstram com beleza Sua humanidade em virtude e perfeição. Seu Senhorio (capítulo 2 versículo 28), onisciência (capítulo 2 versículo 8), poder miraculoso e autoridade para expulsar demônios (capítulo 1 versículo 27; e capítulo 3 versículo 15), perdoar pecados (capítulo 2 versículos 7 e 10) e fazer calar o vento e o mar (capítulo 4 versículo 39) manifestam plenamente Sua deidade em glória e honra. Que Servo de Deus! Quão amável e admirável! Esse Servo serviu aos pecadores como Salvador-Servo, dando a vida em resgate por eles (Marcos 10 versículo 45), a fim de cumprir o propósito eterno de Deus, de quem era Servo.
SERVO DE DEUS - Como Profetizou Isaías
Vamos agora concentrar-nos na profecia de Isaías acerca do Servo de Jeová:
Isaías capítulo 42 versículo 1 diz: “Eis aqui o Meu servo, a quem sustenho; o Meu escolhido, em quem a minha alma se compraz”. Jesus Cristo, o Servo de Deus, foi escolhido por Deus entre bilhões de seres humanos. Por ser Ele a escolha de Deus, Deus se comprazia Nele, por isso Ele se tornou o deleite do coração divino.
Isaías capítulo 53 versículos 2 e 3 diz: “Porque foi subindo como renovo perante Ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-Lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e Dele não fizemos caso”. Se você ler o capítulo dois do Evangelho de Lucas, verá que Cristo subiu (ou cresceu) como renovo e como raiz duma terra seca. Ele foi criado no lar de um carpinteiro pobre na cidade desprezada de Nazaré e na província depreciada da Galiléia. Esse foi o cumprimento da terra seca em Isaías.
O Senhor Jesus não tinha beleza nem formosura; antes, era desprezado e rejeitado pelos homens, homem de dores, que sabia o que era sofrer. A vida do Senhor foi uma vida de dores e sofrimento.
Acerca do Senhor Jesus, Isaías capítulo 52 versículo 14 profetizou: “Como pasmaram muitos à vista Dele (pois o Seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens)”. Isso indica que a aparência do Senhor, Seu semblante, era desfigurada. O termo desfigurado é enfático e indica que a aparência do Senhor era até certo ponto danificada e arruinada.
Muitos anos atrás, certo artista pintou um quadro que retrata Jesus como um homem bonito. Essa figura é totalmente falsa, contudo a maioria dos cristãos tem uma cópia dela em casa. Enquanto eu viajava no centro da China em 1936, fazendo a obra de pregação do evangelho, encontrei um caso de possessão demoníaca ligada a essa figura. Uma jovem ficara endemoninhada e os que a tentavam ajudar contaram-me o acontecido. Eu lhes disse que, na maioria das vezes, a possessão demoníaca se dá por causa da adoração de ídolos, e perguntei se havia algum ídolo na casa. Eles me disseram que não havia ídolos, mas havia uma cópia dessa figura bem conhecida de Jesus. Eu lhes disse que a figura era um ídolo e que deveriam tirá-la e queimá-la. Depois que fizeram isso, o demônio saiu da jovem. Ter essa figura de Jesus é totalmente contrário às Escrituras. Meu propósito em contar essa história é ressaltar esse fato. De acordo com a Bíblia, o Senhor Jesus não tinha rosto bonito; antes, Sua aparência era desfigurada, arruinada.
Isaías capítulo 49 versículo 7 diz: “Assim diz o SENHOR, o Redentor e Santo de Israel, ao que é desprezado, ao aborrecido das nações, ao ervo dos tiranos: os reis o verão, e os príncipes se levantarão; e eles te adorarão por amor do SENHOR, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu”. De acordo com esse versículo o Senhor Jesus era desprezado pelos homens, odiado pelas nações e era servo dos tiranos. Em hebraico a expressão servo dos tiranos quer dizer escravizado pelos tiranos. O Senhor era servo mantido em escravidão pelos tiranos.
Isaías capítulo 50 versículo 6 diz: “Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam”. Essa é uma boa descrição de como o Senhor Jesus se comportava como Servo. Ele voltou o rosto aos que O perseguiam e não ocultou a face da vergonha.
Isaías capítulo 42 versículo 2 indica que o Senhor Jesus não clamou nem ergueu a voz: “Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça”. Isso quer dizer que o Senhor Jesus não gritou nem fez estardalhaço. Em vez de gritar para manifestar a voz nas ruas, Ele era calmo e sossegado.
Isaías capítulo 42 versículos 3 e 4 diz: “Não quebrará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega; com verdade fará sair o juízo. Não se apagará nem será quebrado, até que estabeleça o juízo na terra; e as ilhas esperarão a sua lei”. Segundo esses versículos, o Senhor não quebraria a cana rachada nem apagaria o pavio que fumegava. Os judeus costumavam fazer flautas de cana. Quando uma cana rachava, eles a quebravam. Também faziam pavios para queimar com azeite. Quando o azeite acabava, o pavio produzia fumaça, e eles a apagavam. Alguns do povo do Senhor são como cana rachada que não produz som musical; outros são como pavio fumegante que não fornece luz. Contudo o Senhor não “quebra” os “rachados”, que não conseguem produzir som musical, tampouco “apaga” os “fumegantes”, que não conseguem emitir luz. Por um lado, Ele não quebra a cana rachada nem apaga o pavio que fumega; por outro, de acordo com esses versículos, Ele mesmo não se apaga como o pavio que fumega nem pode ser quebrado como a cana rachada.
Em Isaías capítulo 50 versículo 4 vemos que, como Servo de Deus, o Senhor tinha língua de eruditos: “O SENHOR Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos”. Embora, como Servo, o Senhor não instruísse, Ele tinha língua de eruditos. Ele foi instruído por Deus em como dar apoio ao cansado com boa palavra. Visto que fora instruído por Deus, podia sustentar o cansado com boa palavra. Essa palavra pode ministrar vida mais do que uma longa mensagem.
Isaías capítulo 50 versículo 7 diz: “Porque o SENHOR Deus me ajudou, pelo que não me senti envergonhado; por isso, fiz o meu rosto como um seixo e sei que não serei envergonhado”. Aqui vemos que o Senhor Jesus confiava em Deus Pai e fez Seu rosto como um seixo, uma rocha dura. Enquanto andava no caminho de Deus Pai para cumprir a vontade divina, o Senhor Jesus tinha o rosto como rocha dura. Na questão de cumprir a vontade de Deus Pai, Ele era extremamente rígido.
Em Isaías capítulo 53 versículos 4 e 5, temos esta palavra acerca do Senhor Jesus: “Certamente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. O que esses versículos descrevem está relacionado com a morte do Senhor Jesus na cruz. Ele tomou nossas enfermidades e levou nossas dores. Foi traspassado por nossas transgressões e moído por nossas iniqüidades. O castigo que nos traz a paz, isto é, o castigo que produz nossa paz, estava sobre Ele e por Suas pisaduras fomos sarados.
De acordo com Isaías capítulo 53 versículo 7, o Senhor Jesus não abriu a boca quando foi oprimido e afligido: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca”. Isso quer dize que quando foi levado à cruz, o Senhor era como ovelha muda perante os tosquiadores. Quando foi oprimido e humilhado, não disse uma só palavra.
Isaías capítulo 53 versículo 6 diz: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos”. E o versículo dez continua: “Todavia, ao SENHOR agradou moê-Lo, fazendo-O enfermar; quando der Ele a Sua alma como oferta pelo pecado, verá a Sua posteridade e prolongará os Seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas Suas mãos”. Nesse trecho podemos ver que Deus fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos nós, moeu-O, fê-Lo enfermar e fez de Sua alma uma oferta pelo pecado.
Isaías capítulo 53 versículo 12 diz: “Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu”. O Senhor Jesus derramou a alma ao morrer na cruz. Foi crucificado entre dois malfeitores e assim contado com os transgressores. O fato de Ele ter levado sobre Si o pecado de muitos e intercedido pelos transgressores foi cumprido pela oração do Senhor na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23 versículo 34).
De acordo com Isaías capítulo 53 versículo 8, o Senhor Jesus “foi cortado da terra dos viventes”. Isso quer dizer que foi morto.
O versículo 11 de Isaías 53 revela que o Senhor Jesus foi ressuscitado para ver o fruto de Seu penoso trabalho: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si”. É em ressurreição que o Senhor vê o fruto de Seu trabalho. Agora, após ressuscitar, como Servo justo de Deus, Ele justifica muitos, pois levou sobre Si as iniqüidades deles.
Isaías capítulo 52 versículo 13 fala sobre a exaltação do Senhor Jesus: “Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime”. Depois da ressurreição, o Senhor Jesus foi exaltado e elevado às alturas.
Isaías capítulo 42 versículo 6 diz: “Eu, O SENHOR, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios”. Após ascender, o Senhor Jesus se tornou aliança com os judeus e luz para os gentios. Isso quer dizer que em ascensão Ele mesmo se tornou a nova aliança, o novo testamento, para o povo de Deus. Também se tornou luz para os gentios, para os ímpios, por meio da pregação do evangelho realizada pelos discípulos.
Em Isaías capítulo 49 versículo 6, vemos que o Senhor Jesus é a salvação de Deus até a extremidade da terra: “Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra”. Cristo em ascensão é agora a salvação de Deus até a extremidade da terra. Essa profecia acerca do Senhor Jesus foi falada por Isaías setecentos anos antes de Seu nascimento.
No livro de Isaías temos profecias detalhadas acerca do Senhor Jesus como Servo de Deus. Nem mesmo no Novo Testamento podemos encontrar um registro como esse. Ao considerar as profecias de Isaías acerca de Cristo como Servo de Deus, podemos entender mais plenamente o que se encontra no evangelho de Marcos acerca do Senhor Jesus como Servo.
Em Filipenses capítulo 2 versículos 5 ao 11, temos o que o apóstolo Paulo disse acerca de Cristo como Servo:
Em Filipenses capítulo 2 versículos 5 e 6, Paulo diz: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus”. Aqui vemos que o Senhor não somente existia com Deus, mas subsistia em forma de Deus.
O termo grego traduzido por “subsistir” denota “existir desde o princípio”. Isso implica a pré-existência eterna do Senhor Jesus. Dizer que Cristo existia em forma de Deus quer dizer que Ele subsistia na expressão do ser divino (Hebreus capítulo 1 versículo 3), que era identificado com a essência e natureza da Pessoa divina. Isso se refere à deidade de Cristo.
De acordo com Filipenses capítulo 2 versículo 6, embora Cristo subsistisse em forma de Deus, Ele não considerou que o ser igual a Deus fosse coisa que devesse usurpar e reter; antes, estava disposto a vir à terra como homem.
No versículo 7, Paulo prossegue: “Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana”. O Senhor Se esvaziou de Sua posição e glória e de outras questões relacionadas com Sua Deidade. Naturalmente, Ele não Se esvaziou da Deidade em si. Uma vez que Se esvaziou a Si mesmo, Ele veio como homem, assumindo a forma de Servo e tornando-se em semelhança de homens.
Em Lucas capítulo 2 podemos ver o Senhor como homem. Quando foi a Jerusalém com Seus pais, Ele era um ser humano, um menino. Ali não vemos o Senhor como Servo. Só O vemos como Servo quando Ele saiu a ministrar. Enquanto ministrava, Ele era Servo. Por exemplo, quando lavou os pés dos discípulos, estava na forma de Servo (João capítulo 13 versículos 4 e 5). Primeiro Ele se tornou homem na semelhança de homens; depois procedeu como Servo na forma de Servo.
Se um irmão se levanta para falar na reunião da igreja, certamente tem a forma de homem. Entretanto, se esse mesmo irmão puser roupas de trabalho e começar a aspirar o pó do carpete, diremos que tem a forma de faxineiro. Primeiro ele é homem e depois tem a forma de faxineiro. Essa ilustração simples talvez ajude a entender como o Senhor se tornou homem e por fim ministrou na forma de Servo.
Quando os discípulos discutiam acerca de quem seria o maior entre eles, o Senhor Jesus lhes disse que Ele veio para servir como Servo: “Pois até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10 versículo 45). Aqui o Senhor parece dizer: “Olhem para Mim. Vim para servir como Servo, disposto até a dar a vida. Estou pronto para dar a vida como resgate”. Por meio disso vemos que em Seu ministério o Senhor serviu na forma de Servo.
Em Filipenses capítulo 2 versículo 8 Paulo diz: “A Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz”. O fato de o Senhor Se humilhar foi um passo além em relação a Se esvaziar. Humilhar-Se manifesta Seu esvaziar-Se. Ele foi obediente até a morte, e morte de cruz. A morte do Senhor na cruz foi o clímax de Sua humilhação. Para os judeus a morte na cruz era uma maldição (Deuteronômio 21 versículos 22 e 23), e para os gentios era uma sentença de morte imposta a malfeitores e escravos (Mateus 27 versículos 16, 17, e 20 ao 23). Portanto, era algo vergonhoso (Hb 12:2).
Em Filipenses capítulo 2 versículo 9 Paulo diz: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e Lhe deu o Nome que está acima de todo nome”. O Senhor Se humilhou ao máximo, mas Deus O exaltou ao ponto mais elevado. Desde a ascensão do Senhor, não há na terra nome mais elevado do que o de Jesus. A palavra de Paulo nesse versículo acerca da exaltação do Senhor Jesus é semelhante à que foi profetizada em Isaías capítulo 52 versículo 13: "Eis que o meu Servo há de prosperar em sabedoria; será engrandecido, elevado às alturas, e muitíssimo exaltado."
No evangelho de Marcos não há registro da genealogia do Senhor Jesus nem de Seu status. Visto que Marcos apresenta o Salvador como Servo, ele não nos relata Sua genealogia nem status, já que os ancestrais de um servo não são dignos de nota.
O registro acerca de Cristo como Servo de Deus no evangelho de Marcos não é principalmente sobre Suas palavras maravilhosas. Antes, é um registro dos feitos excelentes do Senhor Jesus, que manifestaram tanto Sua humanidade maravilhosa em virtude e perfeição como Sua deidade em glória e honra. Precisamos ser impressionados com o fato de que em Marcos vemos um Servo com humanidade maravilhosa em virtude e perfeição e com deidade em glória e honra.
O SALVADOR-SERVO DOS PECADORES
O evangelho de Marcos apresenta o Senhor Jesus como Servo de Deus e como Salvador-Servo dos pecadores. Como tal, Ele serviu pecadores e por eles deu a vida em resgate (Marcos 10 versículo 45). Ao dar a vida em resgate pelos pecadores, como Salvador-Servo, Ele realizou o propósito eterno de Deus, a quem serviu como Servo.
Jesus é o Senhor!