Evangelho de Marcos | Estudo 2
Leitura Bíblica: Marcos 1:1-45
No evangelho de Marcos, Cristo é apresentado como o Salvador-Servo. Nesse evangelho o Salvador-Servo tem as características da humanidade mesclada com a deidade. A humanidade do Senhor é amável em virtude e perfeição, e Sua deidade é magnificente em glória e honra. Ao ler o evangelho de Marcos podemos ver esses aspectos de Cristo. A humanidade do Senhor Jesus é revelada em virtude e perfeição e Sua deidade, em glória e honra. Precisamos ser impressionados por esses aspectos do Senhor Jesus. Assim, ao estudar Marcos, veremos que maravilhoso Salvador-Servo é o Senhor Jesus. Ele é o próprio Deus que se fez servo para nos servir dando a vida em resgate por nós. Nesta mensagem abordaremos o princípio do evangelho e a iniciação do Salvador-Servo (Mc 1:1-13).
Marcos 1:1 diz: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. A palavra 'evangelho' significa 'boa notícia, boa-nova' (Rm 10:15). O evangelho é o serviço, o ministério, do Salvador-Servo como servo de Deus para servir Seu povo. O evangelho de Mateus inicia com a genealogia real do Rei, Cristo (Mt 1:1-17), o evangelho de Lucas com a genealogia humana do Homem, Jesus (Lc 3:23-28), e o evangelho de João, com a origem eterna do Filho de Deus (Jo 1:1-2). O evangelho de Marcos inicia com o princípio do evangelho, o serviço de Jesus como humilde servo de Deus (Fp 2:7; Mt 20:27-28), e não com a origem de Sua Pessoa. Geralmente é o serviço, e não a pessoa de um servo, que importa.
O EVANGELHO DE JESUS CRISTO
De acordo com Marcos 1:1, o evangelho é o evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Esse evangelho é uma biografia do Salvador-Servo, que era Deus encarnado como servo a fim de salvar os pecadores. No título composto “Jesus Cristo, Filho de Deus”, Jesus Cristo denota a humanidade do Senhor, e Filho de Deus, Sua deidade. Tanto Sua humanidade como Sua deidade foram adequadamente expressas por Suas virtudes humanas e atributos divinos em Seu ministério e mover para Seu serviço evangélico, como relata o evangelho de Marcos.
Embora reconheçamos que a palavra evangelho significa boa-nova, precisamos considerar mais profundamente o que na realidade é o evangelho. Alguns dentre nós, que têm sido cristãos há anos, talvez não percebam o que é o evangelho. O evangelho é o cumprimento de todo o Antigo Testamento. Assim, a fim de saber o que é o evangelho, precisamos ler os trinta e nove livros do Antigo Testamento e ser iluminados a respeito da revelação dada ali.
A DISPENSAÇÃO NAS ESCRITURAS
Os mestres da Bíblia têm dito que nas Escrituras há sete dispensações (alguns as reduzem a quatro), que abrangem desde Gênesis 1 até Apocalipse 20. A primeira delas é a dispensação da inocência, na qual não havia pecado, e abrange apenas os dois primeiros capítulos de Gênesis.
Após a dispensação da inocência, temos a dispensação da consciência, que vai desde a queda do homem, em Gênesis 3, até o dilúvio. Depois da queda, a exigência era que o homem vivesse de acordo com sua consciência. Mas, como o homem fracassou nisso, a terceira dispensação (o governo humano) veio substituir a segunda. Depois do dilúvio, Deus exigiu que o homem se submetesse ao controle do governo humano, porque havia fracassado em viver de acordo com a consciência. Nessa dispensação, diversas nações se formaram e diversos governos se estabeleceram. Essa dispensação também fracassou.
A quarta dispensação iniciou quando Deus chamou Abraão da raça humana caída, corrupta e rebelde. Ao chamá-Lo, Deus lhe deu uma promessa. Por isso, a quarta dispensação é conhecida como a dispensação da promessa.
Vimos que as primeiras quatro dispensações foram: inocência, consciência, governo humano e promessa. Não era a intenção de Deus cumprir imediatamente a promessa feita a Abraão. Assim, enquanto a promessa não se cumpria, Deus decretou a lei por meio de Moisés, com a intenção de que fosse usada como aprisco para manter Seu povo sob custódia a fim de que fosse preservado. A lei pode ser comparada a um aprisco, onde as ovelhas estão seguras durante a noite. A lei dada por meio de Moisés era esse aprisco, a fim de guardar o povo escolhido de Deus. Assim, a quinta dispensação é a dispensação da lei. Depois dela, Cristo veio. A respeito da vinda de Cristo, João 1:17 diz: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a realidade vieram por meio de Jesus Cristo”. Como a graça veio por meio de Jesus Cristo, a sexta dispensação é chamada de dispensação da graça.
A dispensação da graça irá durar até a segunda vinda do Senhor, quando Ele estabelecerá o reino na terra que durará mil anos. O reino durará mil anos e esse período é chamado de milênio. A sétima dispensação, portanto, é a dispensação do reino milenar.
Por meio dessas sete dispensações, Deus irá cumprir plenamente Seu propósito. Depois do milênio, tudo será renovado. Então haverá um novo universo com novo céu e nova terra, com a Nova Jerusalém como centro na eternidade. Na Nova Jerusalém, Deus e Seus redimidos desfrutarão a vida eterna.
Como mencionamos, alguns mestres da Bíblia preferem dizer que nas Escrituras há quatro dispensações principais. Romanos 5 diz que de Adão até Moisés não havia lei. Esse longo período, que inclui as dispensações da inocência, da consciência, do governo humano e da promessa, pode ser considerado como uma única dispensação, a dispensação anterior à lei. Assim, de acordo com esse entendimento, a segunda dispensação, que vai desde Moisés até Cristo, é a dispensação da lei. A terceira dispensação é a dispensação da graça, que vai desde a primeira vinda de Cristo até Sua segunda vinda. Finalmente temos a quarta dispensação, a dispensação do reino milenar, que vai desde a segunda vinda do Senhor até o fim dos mil anos. Esse entendimento das dispensações é fácil de lembrar. Nessa abordagem há quatro dispensações: a dispensação anterior à lei, a dispensação da lei, a dispensação da graça e a dispensação do reino milenar.
O CONTEÚDO DO ANTIGO TESTAMENTO
Dissemos que o evangelho é o cumprimento do Antigo Testamento. Agora, precisamos perguntar qual é o conteúdo do Antigo Testamento. Podemos usar três palavras para expressá-lo: promessa, lei e profecia.
As Promessas:
A promessa certamente abrange as dispensações da inocência, da consciência, do governo humano e da promessa. Isso vai desde Adão até a lei ser dada a Moisés. Gênesis, particularmente, é um livro sobre a promessa de Deus.
Você se lembra qual foi a primeira promessa dada por Deus em Gênesis? Está registrada em Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Essa promessa foi dada logo depois da queda do homem. Provavelmente Adão e Eva temiam e tremiam devido a sua desobediência, mas Deus lhes deu maravilhosa promessa: o descendente da mulher viria para ferir a cabeça da serpente. O calcanhar do descendente da mulher iria ser ferido, mas ele mesmo iria esmagar a cabeça da serpente. Que promessa grandiosa!
O evangelho é o cumprimento da promessa de que o descendente da mulher iria esmagar a cabeça da serpente. Sabemos que Cristo, o descendente da mulher, veio. Ele nasceu de uma virgem, como cumprimento da promessa em Gênesis 3:15. Esse é o Salvador-Servo apresentado no evangelho de Marcos.
Outra promessa, também a respeito do descendente, foi dada a Abraão. De acordo com Gênesis 22:17-18 o Senhor prometeu a Abraão: “Deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz”. Aqui temos a promessa de que a descendência de Abraão seria grande bênção para toda a humanidade, pois todas as nações seriam abençoadas por meio dela. Novamente, essa descendência se refere ao Senhor Jesus.
A respeito disso Paulo disse em Gálatas 3:16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”. Cristo nasceu como descendente de Abraão, na raça chamada, assim, era a descendência de Abraão.
Como descendente da mulher, Cristo destruiu Satanás e dessa forma solucionou o problema do universo. O universo tem sofrido uma só perturbação: a serpente. Na Bíblia podemos ver a linha ou o desenvolvimento da serpente. Ela primeiramente apareceu em Gênesis 3. Em Apocalipse 12:9, chamada de “a antiga serpente”, ela se tornou um grande dragão. Segundo o livro de Apocalipse, essa serpente, o diabo, Satanás, será amarrada e lançada no abismo durante o milênio (Ap 20:2-3), depois será solta e se rebelará novamente. Então será lançada no lago de fogo (Ap 20:10).
O item crucial aqui é que o descendente da mulher, prometido em Gênesis 3:15, visa a lidar com essa serpente. Devemos proclamar isso ao pregar o evangelho. Porém, raramente hoje os evangelistas ressaltam que o descendente da mulher em Gênesis 3:15 visa a destruição da serpente.
Com respeito ao Senhor como descendente da mulher para destruir a serpente, Hebreus 2:14 diz: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por Sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Em João 3:14 o Senhor disse que, assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do Homem seria levantado. A serpente de bronze levantada por Moisés representava o julgamento da antiga serpente. Quando foi levantado na cruz, o Senhor a destruiu. Assim, como descendente da mulher, o Senhor cumpriu a destruição da serpente venenosa pela qual a humanidade foi mordida e envenenada. Fomos envenenados pela serpente, por isso sua natureza serpentina foi injetada em nós. Mas o descendente da mulher se tornou carne e sangue a fim de destruir essa serpente por meio da morte na cruz. Essa parte do evangelho é grandiosa.
Enquanto o descendente da mulher visa à destruição da serpente, o descendente de Abraão visa a que a bênção de Deus chegue a nós. O descendente da mulher acaba com a serpente e o descendente de Abraão traz a bênção do Deus Triúno. Em Gálatas 3:14, Paulo fala a respeito dessa bênção: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. De acordo com esse versículo, a bênção é o Espírito. Que é o Espírito? É a consumação do Deus Triúno. Quando recebemos o Espírito, recebemos o Deus Triúno e O temos como nossa bênção. Além disso, essa bênção é nossa vida eterna. O Espírito é igual ao Deus Triúno, o Deus Triúno é a vida eterna e a vida eterna é a bênção que recebemos.
Agora podemos ver mais plenamente o que é o evangelho; é o cumprimento de duas grandes promessas: a promessa do descendente da mulher para a destruição da serpente e a promessa do descendente de Abraão para trazer a bênção do Espírito, que é a consumação do Deus Triúno como vida eterna, a fim de ser nossa bênção.
A Lei e os Profetas:
Antes de essas promessas se terem cumprido, Deus deu a lei a fim de manter o povo escolhido sob custódia. No tempo em que o povo de Deus foi mantido no aprisco da lei, Deus levantou profetas. Isso significa que após as promessas temos a custódia da lei e que, no período dessa custódia, Deus deu profecias a fim de confirmar as promessas.
Já enfatizamos que em Gênesis 3:15 temos a promessa a respeito do descendente da mulher. Em Isaías 7:14 temos uma profecia que confirma essa promessa: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel, Deus conosco!”. Outras profecias também são confirmações das promessas dadas por Deus na dispensação da promessa.
O CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS E PROFECIAS E A REMOÇÃO DA LEI
Vimos que primeiro Deus deu promessas. Depois, decretou a lei, para a preservação de Seu povo escolhido e então enviou profetas que profetizassem a fim de confirmar as promessas. Finalmente, veio Jesus Cristo que fora prometido, Ele é o descendente da mulher e descendente de Abraão. Não apenas veio, como também teve Sua iniciação. Aqui usamos a palavra “iniciação” não no sentido de originar algo, mas de conduzir alguém a uma nova esfera. Assim, em nosso uso particular, iniciação equivale a inauguração, posse. Podemos usar a posse de um presidente como ilustração. Após a eleição, o presidente é conhecido como o presidente eleito. Mais tarde, no dia da posse, ele é empossado no cargo de presidente. Essa posse é sua iniciação na presidência. Isso ilustra como o Senhor Jesus tem a iniciação em Seu ministério.
O Senhor Jesus nasceu como descendente da mulher e descendente de Abraão a fim de ser nosso Salvador-Servo para destruir a serpente e trazer o Deus Triúno como bênção de vida eterna. Mas aos trinta anos era necessário que fosse iniciado no ministério. Os sacerdotes do Antigo Testamento tinham a iniciação no sacerdócio aos trinta anos. Semelhantemente, o Senhor Jesus, também aos trinta anos, teve a iniciação de Seu ministério. Assim, como cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento, o Senhor Jesus nasceu como descendente da mulher e descendente de Abraão e, mais tarde, teve a iniciação no ministério.
Agora, abordadas essas questões, podemos dizer que o evangelho é o cumprimento das promessas e profecias e também a remoção da custódia da lei. Isso significa que é o cumprimento das promessas e profecias a respeito do descendente único, descendente da mulher e descendente de Abraão. O evangelho também cancela, anula e remove a custódia da lei. Agora não somos mais dependentes das promessas, da lei ou das profecias do Antigo Testamento, pois chegou Cristo, o descendente único. Esse descendente é o cumprimento de todas as preciosas promessas. Nós O temos, por isso todas as promessas são cumpridas. Como o cumprimento das promessas, Ele também é o cumprimento das profecias, dadas para confirmar as promessas. Além disso, com Ele está a remoção da custódia da lei. Assim, o singular descendente é o cumprimento das promessas e profecias e a remoção da custódia da lei.
A vinda de Cristo representou o cumprimento das promessas e profecias e o cancelamento da lei. A lei foi removida e o povo escolhido de Deus não está mais sob sua custódia. Ressaltamos que a lei pode ser comparada a um aprisco, um lugar onde as ovelhas passam a noite. Quando o dia amanhece elas podem sair. Assim também, uma vez que Cristo veio como cumprimento das promessas e profecias, não é mais necessário que os escolhidos de Deus estejam debaixo da custódia da lei. No sentido positivo a lei era uma custódia, mas no sentido negativo era uma prisão, uma escravidão. Mas agora alei já passou, juntamente com as promessas e profecias. O descendente da mulher destruiu a serpente e o descendente de Abraão trouxe a bênção do Deus Triúno. Mais que isso, também removeu a lei. Agora não estamos mais na dispensação da lei, promessas ou profecias, pois temos Cristo.
Se virmos isso, entenderemos o que aconteceu no monte da transfiguração quando Pedro propôs que se fizessem três tendas: uma para Moisés, uma para Elias e uma para o Senhor Jesus. Essa sugestão era uma ofensa aos céus. Por isso, Mateus 17:5 diz: “Falava Pedro ainda, quando uma nuvem luminosa os cobriu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouvi”. Então o versículo 8 prossegue: “E, levantando os olhos, a ninguém viram, senão só a Jesus”. Moisés representava a lei e Elias, os profetas. Cristo, o singular, é tudo. É o cumprimento das promessas e profecias e também a remoção da lei. Isso significa que Ele é o substituto pleno de todo o Antigo Testamento. Isso é o evangelho, a boa-nova, a boa notícia. Louvado seja o Senhor pelo evangelho! Louvamos a Deus porque Cristo é o cumprimento das promessas e profecias, e também a remoção da lei!
Se entendermos o que é o evangelho, veremos que Tiago cometeu um grande deslize, em Atos 21 e em sua epístola, ao levar os crentes de volta para a lei. Por um lado, Tiago pregava a Cristo, por outro lado, ainda mantinha os crentes debaixo da lei, no velho aprisco, que Deus abandonara. Exatamente o item que Deus havia removido, Tiago trouxe de volta. Precisamos ser impressionados com o fato de que, no evangelho, não temos mais a dispensação da lei, as promessas e as profecias; em vez disso, temos o cumprimento das promessas e profecias, e também a remoção da lei.
Hoje, muitos cristãos têm apenas um entendimento superficial das Escrituras. Eles podem saber os termos da Bíblia, mas não tocam as profundezas de suas riquezas. Vamos tomar a palavra “evangelho” como exemplo. Em vez de entender essa questão de modo superficial, precisamos ver que o evangelho é o cumprimento de todas as promessas e profecias, e também a remoção da lei. Por esse motivo, os três discípulos no monte da transfiguração, no fim, não viram ninguém, senão só a Jesus. Eles não tinham mais as promessas, as profecias nem a lei, mas tinham o Senhor Jesus como descendente da mulher e descendente de Abraão. Ele é o nosso Salvador-Servo e na, realidade, Ele mesmo é o evangelho.
O CUMPRIMENTO DAS PREFIGURAÇÕES
O evangelho é também o cumprimento de algo mais, é o cumprimento dos tipos, ou prefigurações, do Antigo Testamento. Assim, no evangelho temos o cumprimento das promessas, das profecias e dos tipos.
Na palavra do Senhor em Gênesis 3:15 a respeito do descendente da mulher temos uma promessa, mas no fato de o Senhor ter feito roupas de peles e ter vestido Adão e sua mulher temos um tipo, ou prefiguração (Gn 3:21). O sacrifício de Abel, sacrifício aceito por Deus, é outro tipo; o cordeiro oferecido por Abraão em lugar de seu filho também. Outros tipos do Antigo Testamento são: o cordeiro pascal, o maná no deserto, a rocha fendida com as muitas águas fluindo e o tabernáculo. Além disso, pessoas como Davi e Salomão também são tipos. O evangelho é o cumprimento desses tipos. João Batista, o precursor do Senhor Jesus, apontou para Ele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29). Assim, Cristo é o cumprimento da prefiguração do cordeiro. Em João 1:14 temos esta palavra: “E o Verbo tornou-se carne, e armou tabernáculo entre nós”. Isso indica que Cristo é o cumprimento do tabernáculo. O evangelho, então, não é apenas o cumprimento das promessas e profecias, mas também dos tipos. Além disso, o evangelho também é a remoção da lei. Essa é uma definição completa do evangelho.
TÉRMINO E GERMINAÇÃO
Marcos 1:1-2 diz: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no profeta Isaías: 'Eis que Eu envio diante da Tua fáce o Meu mensageiro, o qual preparará o Teu caminho”'.
O princípio do evangelho do Salvador-Servo é até mesmo escrito em Isaías acerca do ministério de João Batista. Isso indica que a pregação que João fazia do batismo de arrependimento também era parte do evangelho do Senhor Jesus. Essa pregação pôs fim à dispensação da lei e a substituiu com a dispensação da graça. Portanto a dispensação da graça teve início com o ministério de João antes do ministério do Salvador-Servo.
O princípio do evangelho é o término da lei e a germinação da graça. O princípio do evangelho pôs fim à dispensação da lei e não só iniciou a da graça, como também a germinou. Começar é algo exterior, mas germinar é fazer ter um princípio interior de vida.
O princípio do evangelho é o término de toda a dispensação antiga, a da lei, porém, para que um término seja chamado de princípio, ele deve ser seguido de germinação. Essa germinação envolve a injeção divina, e essa injeção foi a iniciação do Salvador-Servo.
O MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA NO DESERTO
Marcos 1:3 fala de uma “voz do que clama no deserto”. O princípio do ministério do evangelho do Salvador Servo foi apenas uma voz, e não um grande movimento. Além disso, a pregação do evangelho do Salvador-Servo não começou no centro da civilização, mas no deserto, longe da influência da cultura humana.
Foi segundo profecia que João Batista começou seu ministério no deserto, o que indica que a introdução da economia neotestamentária de Deus não foi acidental, mas planejada e predita por Deus mediante o profeta Isaías. Isso implica que Deus queria que Sua economia neotestamentária começasse de modo absolutamente novo. João Batista não pregou no templo santo na cidade santa, onde os cultos e os religiosos adoravam a Deus segundo as ordenanças das Escrituras, e sim no deserto, sem guardar nenhum regulamento da antiga maneira. Isso indica que a antiga maneira de adorar a Deus segundo o Antigo Testamento fora repudiada, e uma nova maneira seria produzida. O deserto é um lugar sem cultura, religião ou coisa alguma da sociedade ou civilização humana. O uso do termo “deserto” aqui indica que a nova maneira da economia neotestamentária de Deus é totalmente contrária a religião e cultura humana.
O versículo 4 diz: “Apareceu João batizando no deserto e pregando batismo de arrependimento para perdão de pecados”. João nasceu sacerdote (Lc 1:8-13, 57-63); por isso, deveria ter um viver sacerdotal no templo a fim de realizar o serviço sacerdotal. Mas ele foi ao deserto e pregou o evangelho, o que indica que a era do sacerdócio de oferecer sacrifícios a Deus fora substituída pela era do evangelho a fim de conduzir pecadores a Deus para que Ele os ganhe e eles ganhem Deus.
Marcos 1:6 diz: “João se vestia de pêlos de camelo, trazia um cinto de couro à cintura, e comia gafanhotos e mel silvestre”. O modo de viver de João quer dizer que sua vida e obra estavam totalmente numa nova dispensação, e não eram segundo o modo da antiga religião, cultura e tradição. Como sacerdote, segundo os regulamentos da lei, João deveria usar vestimenta sacerdotal, feita principalmente de linho fino (Êx 28:4, 40-41; Lv 6:10; Ez 44:17-18). Também deveria comer a comida dos sacerdotes, composta principalmente da fina for de farinha e da carne dos sacrifícios oferecidos a Deus pelo povo (Lv 2:1-3; 6:16-18, 25-26; 7:31-4). Entretanto, ele fazia o contrário: vestia-se de pêlos de camelo, usava cinto de couro e comia gafanhotos e mel silvestre. Esses itens não são civilizados e cultos nem estão de acordo com os regulamentos religiosos. Para um sacerdote, usar pêlos de camelo era um golpe drástico na mente religiosa, pois o camelo era considerado impuro nos regulamentos levíticos (Lv 11:4). Além disso, João não vivia em lugar civilizado, e sim no deserto (Lc 3:2). Tudo isso indica que ele havia abandonado completamente a dispensação do Antigo Testamento, a qual caíra numa espécie de religião misturada com cultura humana. Seu comissionamento era introduzir a economia neotestamentária de Deus, constituída somente de Cristo e o Espírito da vida.
O BATISMO DE ARREPENDIMENTO
Como quem representava o término da antiga dispensação com a antiga cultura e religião, João Batista pregava batismo de arrependimento para perdão de pecados. Arrepender-se é mudar de parecer, de modo de pensar, voltando-a para o Salvador-Servo; batizar é sepultar os arrependidos, pondo fim a eles, para que o Salvador-Servo os faça germinar por meio da regeneração (Jo 3:3, 5-6). O termo grego traduzido por “para” nesse versículo [Mc 1:4], também quer dizer com “vistas a”. O arrependimento com o batismo visa ao perdão de pecados, resulta nesse perdão, para que o obstáculo da queda do homem seja removido e o homem se reconcilie com Deus.
Ao pregar, João Batista enfatizava o arrependimento. Arrepender-se é mudar de parecer, tirar a mente de tudo o que não é Deus, inclusive cultura, religião, conhecimento, educação e vida social, e voltá-la para Deus. Religião, cultura, civilização, sociedade, conhecimento e educação distraem as pessoas e as afastam de Deus. Agora que a antiga dispensação passou, devemos arrepender-nos e voltar a mente para Deus.
De acordo com o evangelho de Marcos, João Batista não ensinava aos que se arrependiam o que deveriam fazer; antes, simplesmente os sepultava. Esse sepultamento representa término. No deserto, João pregava o arrependimento e terminação para todos os que se arrependiam. Isso é parte do princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O EVANGELHO DE JESUS CRISTO, O FILHO DE DEUS
Marcos 1:1 fala do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus. O termo “Jesus Cristo” denota a humanidade do Senhor. O evangelho é de um homem chamado Jesus Cristo, e esse Jesus Cristo é o filho de Deus. Marcos 1:1 não diz “Jesus Cristo e o Filho de Deus”; mas “Jesus Cristo, o Filho de Deus”, o que indica que a expressão “Filho de Deus” é aposto de “Jesus Cristo”. Isso quer dizer que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Filho de Deus denota Jesus Cristo. O título “Filho de Deus” denota a deidade do Senhor. Por isso, o fato de o evangelho ser de Jesus Cristo, o Filho de Deus, quer dizer que é de humanidade e de deidade. Esse evangelho é pleno de humanidade e também pleno da deidade. Esse título duplo usado em relação ao evangelho revela que nele estão tanto as virtudes humanas como os atributos divinos. Ele é pleno da humanidade do Senhor em virtude e perfeição e também pleno de Sua deidade em glória e honra. Portanto, o evangelho é da humanidade plena de virtude e perfeição e da deidade repleta de glória e honra. Todos esses aspectos podem ser vistos nos dezesseis capítulos do Evangelho de Marcos.
UM PONTO DE REFERÊNCIA
Se lermos os versículos 1 e 2 do capítulo 1 de Marcos com cuidado, veremos que o princípio do evangelho foi a vinda de João Batista a pregar o batismo de arrependimento para perdão de pecados. Quando João saiu de modo não civilizado nem religioso, anunciando arrependimento, esse foi o princípio do evangelho. Como já vimos, o princípio do evangelho envolve o término da dispensação da lei e a germinação da dispensação da graça. A dispensação da lei terminou com a vinda de João Batista e a da graça começou também com ele.
Entre os teólogos há debate acerca do início da dispensação da graça. Alguns dizem que começou no dia de Pentecostes, e outros alegam que começou com a crucificação e ressurreição de Cristo. Outros têm ainda opiniões distintas. Segundo a Bíblia, o princípio do evangelho, que é o princípio da dispensação da graça, foi a saída de João Batista; por isso, a vinda dele é um pondo de referência, um divisor de águas, e o início da dispensação da graça.
O CAMINHO E AS VEREDAS
Marcos 1:2 indica que João Batista veio preparar o caminho do Senhor e o versículo 3 diz: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas”. Nesses versículos temos o caminho e as veredas. Preparar o caminho do Senhor é mudar o parecer das pessoas; é fazê-las voltar o pensamento para o Salvador-Servo e tornar o coração delas reto, endireitando cada parte dele por meio do arrependimento, para que o Salvador-Servo entre nelas, seja sua vida e tome posse delas (Lc 1:17).
Precisamos entender a diferença entre caminho e veredas. Preparar o caminho do Senhor é arrepender-se. Já vimos que arrepender-se é mudar de parecer, de modo de pensar. Mudar de parecer é preparar o caminho para o Senhor entrar. Esse caminho no versículo 3 refere-se à nossa mente. Precisamos preparar o caminho, deixá-lo pronto para o Senhor, por meio do arrependimento. João Batista fez um excelente trabalho de preparação da mente dos que se arrependiam para a entrada do Senhor. As veredas são menores, são seções interiores de nosso ser: pensamentos, gostos e preferências, intenções, desejos, decisões. Se compararmos a mente com uma rodovia, podemos comparar as veredas com ruas e estradas secundárias. A rodovia e todas as estradas de nosso ser devem ser preparadas para o Senhor.
Como seres humanos não somos simples; pelo contrário, somos interiormente muito complicados. Considerem quantas “ruas” e “avenidas” temos em nós. Considere também como a mente das pessoas está distante de Deus e ocupada com filosofias e culturas. Como Cristo pode, então, entrar nelas? Para que Ele entre em alguém, o caminho e as veredas interiores devem ser preparados.
O evangelho não é mera questão objetiva, pois é na verdade o próprio Jesus Cristo como a corporificação do Deus vivo. Como tal, o Senhor Jesus espera que as pessoas se abram a Ele para que entre nelas. Entretanto, elas têm a mente ocupada e cheia de muitas coisas. Por isso os melhores evangelistas são os que conseguem abrir caminho na mente delas e assim prepará-lo para a entrada do Senhor. Se pregarmos o evangelho adequadamente, por fim o caminho será preparado para Cristo entrar nas pessoas e ocupá-las.
OS QUE SE ARREPENDERAM FORAM APRESENTADOS AO SALVADOR-SERVO
Marcos 1:5 diz: “Saíam a ter com ele toda a região da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão”. A Judéia era a região da cidade santa, do templo santo e da cultura elevada; por isso, era uma região honrada. Não obstante, o versículo 5 diz que toda a região da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém saíam a ter com João Batista. Quando se arrependiam por meio da pregação dele, ele os imergia na água de morte a fim de sepultá-los, pôr fim a eles. Desse modo ele os preparava para ser ressuscitados pela germinação do Salvador-Servo com o Espírito Santo, por meio da confissão dos pecados.
Batizar alguém é imergi-lo, sepultá-lo na água. Assim o batismo representa a morte. João Batista batizava as pessoas para indicar que esses que se arrependeram só serviam para o sepultamento. Esse batismo também representa o término da velha pessoa e indica que um novo começo pode ser percebido na ressurreição por meio de Cristo, como Aquele que dá vida. Portanto, depois do ministério de João, Cristo veio. O batismo de João não somente punha fim aos que se arrependiam, mas também os apresentava a Cristo para obter vida. O batismo na Bíblia implica morte e ressurreição. Ser batizado na água é ser morto e sepultado, e sair da água significa ser ressuscitado da morte.
Marcos 1:7 fala que João Batista “pregava, dizendo: Depois de mim vem Aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar-Lhe a correia das sandálias”. Embora ele pregasse o batismo de arrependimento, a meta de seu ministério era uma Pessoa maravilhosa, Jesus Cristo, o Filho de Deus. João não fez de si mesmo o centro do ministério; não tentou atrair os outros a si como um ímã. Ele percebia que era apenas um mensageiro enviado por Jeová dos Exércitos para conduzir as pessoas ao Seu Filho Jesus Cristo e exaltá-Lo como o alvo do seu ministério.
João Batista pregava arrependimento e batizava os que se arrependiam. Por meio do batismo a velha vida dos que se arrependiam tinha fim. Esse término preparava o caminho e endireitava as veredas para o Salvador-Servo entrar neles. Em seu ministério João apresentava as pessoas ao Salvador-Servo. Por isso, ele disse a elas que seu ministério não era para ele mesmo, mas para Outro, alguém Maior, que viria. Ele até disse que não era digno de, abaixando-se, desatar-Lhe a correia das sandálias.
BATISMO NA ÁGUA E NO ESPÍRITO SANTO
De acordo com Marcos 1:8, João Batista disse: “Eu vos tenho batizado em água; Ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”. A água representa morte e sepultura para pôr fim aos que se arrependem. O Espírito Santo é o Espírito da vida e ressurreição para fazer germinar as pessoas que tiveram fim. A água é sinal do ministério de arrependimento de João; o Espírito é sinal do ministério de vida do Salvador-Servo. João sepultava na água de morte os que se arrependiam; o Salvador-Servo as ressuscitava para que obtivessem regeneração no Espírito de Sua vida de ressurreição. A água de morte, que indicava e representava a morte todo-inclusiva de Cristo, na qual os Seus crentes são batizados (Rm 6:3), sepultava não somente as pessoas mas também seus pecados, o mundo e toda a sua vida e história pregressa (assim como o Mar Vermelho sepultou Faraó e o exército egípcio para os filhos de Israel-Êx 14:26-28; 1Co 10:2), e os separava do mundo abandonado por Deus e sua corrupção (assim como o dilúvio separou Noé e sua família do mundo e sua corrupção — 1Pe 3:20-21). O Espírito Santo, no qual o Salvador-Servo batizou os que Nele creram, é o Espírito de Cristo e o Espírito de Deus (Rm 8:9). Portanto, ser batizado no Espírito Santo é ser batizado em Cristo (Rm 6:3), no Deus Triúno (Mt 28:19) e até mesmo no Corpo de Cristo (1Co 12:13), que está unido a Cristo em um só Espírito (1Co 6:17). É mediante esse batismo nessa água e nesse Espírito que os crentes em Cristo são regenerados e entram no reino de Deus, na esfera da vida divina e do governo divino (Jo 3:3, 5), para que vivam pela vida eterna de Deus em Seu reino eterno.
A INICIAÇÃO DO SALVADOR-SERVO
Batizado:
Marcos 1:9 diz: “E aconteceu naqueles dias que veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão”. A Galiléia era chamada de “Galiléia dos gentios”, uma região sem honra; portanto, desprezada (Jo 7:52). Nazaré era uma cidade desprezada dessa região desprezada (Jo 1:46). O humilde Servo de Deus procedeu desse lugar e cresceu nele. Como Servo de Deus, o Salvador-Servo foi batizado, o que representa que estava disposto a servir a Deus e não o faria de modo natural, mas serviria mediante a morte e a ressurreição. Esse batismo foi a iniciação do Seu serviço.
O Senhor Jesus foi batizado a fim de permitir que Ele mesmo fosse morto e ressuscitado para ministrar não de modo natural, mas em ressurreição. Sendo batizado, Ele viveu e ministrou em ressurreição mesmo antes de Sua morte e ressurreição, que ocorreram de fato três anos e meio depois.
Desde que o batismo de João era de arrependimento, alguns podem imaginar por que era necessário que o Senhor Jesus fosse batizado por ele. Talvez digam: “Esse era um batismo de arrependimento. Será que o Salvador-Servo precisava arrepender-Se? Certamente não!”. Se tivermos esse conceito, não veremos o significado real do arrependimento. Arrepender-se é pôr fim ao velho pensamento, conceito, filosofia e maneira de fazer as coisas. Portanto, arrepender-se não é mera lamentação pelo que se fez de errado. Essa compreensão de arrependimento é muito superficial. Mesmo que alguém não erre, ainda precisa arrepender-se, mudar de parecer e deixar de fazer as coisas por si mesmo ou ser alguém em si mesmo. Arrepender-se quer dizer que deixamos de viver, trabalhar e existir em nós mesmos e para nós mesmos. Se percebermos isso, veremos que a ida do Senhor Jesus para ser batizado indica que Ele não queria viver, agir, falar ou fazer a obra por Si mesmo. O Senhor Jesus queria pôr fim a Si mesmo e ser sepultado. Portanto, o batismo do Senhor Jesus indica que Ele não queria viver, falar ou fazer nada por Si próprio, mas viver, andar e ministrar por Deus. Ele queria ser um Servo de Deus e para Deus. É por isso que foi batizado. Seu batismo foi o primeiro passo da Sua iniciação no serviço evangélico, que é o ministério do evangelho.
Em Marcos 1:10-11 está escrito acerca do Senhor Jesus: “E imediatamente, ao subir da água, viu os céus se rasgarem e o Espírito, como pomba, descendo sobre Ele. E ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o Meu Filho amado, em Ti me comprazo.” Ao relatar a vida do Salvador-Servo, Marcos não reflete o esplendor da condição social de Sua pessoa, mas a diligência de Seu serviço. Isso se nota pelo fato de o termo imediatamente e seus sinônimos logo e no mesmo instante serem usados quarenta e duas vezes neste Evangelho (alguns manuscritos alternativos trazem uma vez mais).
O fato de os céus se abrirem para o Salvador-Servo demonstra que Sua oferta voluntária de Si mesmo como Servo de Deus foi bem aceita por Deus, e o fato de o Espírito como pomba descer sobre Ele significa que Deus O ungiu com o Espírito para Seu serviço a Ele (Lc 4:18-19) uma pomba é dócil e seus olhos só conseguem ver uma coisa de cada vez. Por isso, ela representa docilidade e singeleza no olhar e no propósito. Pelo fato de o Espírito de Deus descer sobre Ele como pomba, o Senhor Jesus ministrou em gentileza e singeleza, com olhos apenas para a vontade de Deus.
Nos versículos 10 e 11, temos o Deus Triúno. Enquanto a descida do Espírito é a unção de Cristo, a fala do Pai é um testemunho Dele como o Filho amado. Aqui temos um quadro da Trindade divina: o Filho subiu da água, o Espírito desceu sobre o Filho e o Pai falou acerca do Filho. Isso prova que o Pai, o Filho e o Espírito existem simultaneamente. Isso visa ao cumprimento da economia divina.
Posto à Prova:
Já vimos que o primeiro passo na iniciação do Senhor no Seu ministério foi o batismo. Agora precisamos ver também que o segundo passo foi o fato de ser posto à prova. Depois de batizado, Ele precisava ser posto à prova a fim de que Sua integridade fosse testada.
A esse respeito, o versículo 12 diz: “E imediatamente o Espírito O impeliu para o deserto”. Após Deus aceitar e ungir o Salvador-Servo, a primeira coisa que o Espírito fez com Ele foi impeli-Lo ao deserto para pôr à prova Sua integridade. o verbo impelir é enfático. Indica que, depois do batismo, o Senhor estava totalmente sob a mão de Deus. Visto que não vivia nem se movia por Si só, o Espírito de Deus podia impeli-Lo ao deserto, e o Senhor foi submisso a Ele. Se tivesse vontade forte para resistir a isso, o Senhor não poderia ser impelido pelo Espírito. Como o Jesus batizado era submisso, o Espírito Santo pôde impeli-Lo para o deserto. Sua submissão ao Espírito prova que Ele era completamente fiel a Seu batismo. Para o Senhor, já não era “eu” mas Deus.
O versículo 13 diz: “E esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, e os anjos O serviam”. O número quarenta representa período de prova e sofrimento (Dt 9:9, 18; 1Rs 19:8). Satanás, o inimigo de Deus, foi usado para pôr à prova o Servo de Deus. Os animais da terra, no sentido negativo, e os anjos do céu, no sentido positivo, também foram usados nessa prova. Louvado seja o Senhor que passou na prova do deserto!
Por meio desses dois passos de Sua iniciação (batismo e prova), o Senhor foi introduzido no serviço. Depois de ser posto à prova e ficar provado que Ele era a pessoa certa para levar a cabo esse serviço, Ele podia então entrar no Seu serviço a Deus.
A Continuação do Evangelho:
Se o evangelho de Marcos é o princípio do evangelho, onde está a continuação? É vista no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos escolhidos e preparados. Pedro, Tiago, João e os demais tinham sido escolhidos por Deus e pessoalmente chamados por Jesus Cristo. Depois de chamados, foram preparados pelo Senhor. Nos dez dias que antecederam Pentecostes, os cento e vinte estiveram orando. Você sabe onde eles estavam naqueles dias? Nos céus, na ascensão do Senhor. Eles haviam sido introduzidos na morte, ressurreição e ascensão de Cristo. No dia de Pentecostes receberam o derramamento exterior do Espírito Santo. Portanto naquele dia houve a continuação do evangelho. Assim o evangelho de Marcos é o princípio do evangelho e Atos é a continuação. Essa continuação ainda não acabou. Isso significa que nós hoje ainda estamos na continuação do evangelho.
O Término das Coisas Velhas:
A palavra princípio em Marcos 1:1 implica o término de muitas coisas. Considere o que estava presente ao tempo de Marcos 1:1 era a cultura, as nações gentias, o povo escolhido de Deus, a promessa, a lei, o Antigo Testamento, o templo, o sistema de serviço sacerdotal, a maneira adequada de adorar a Deus segundo Suas ordenanças. Por meio disso vemos que havia muitas coisas boas e positivas, até mesmo várias coisas ordenadas por Deus. O Antigo Testamento foi dado por Deus. Todas as leis, ordenanças, rituais, formas, práticas, regras e serviços no Antigo Testamento haviam sido ordenados por Deus. O templo, o sacerdócio e o sistema de adoração certamente haviam sido sancionados por Deus. Agora, em Marcos 1:1, entre todas essas coisas boas e positivas, lemos sobre o princípio de algo mais: o princípio do evangelho de Jesus Cristo.
O princípio do evangelho de Jesus Cristo implica o término de muitas coisas que já existiam há milhares de anos. Na verdade, esse princípio implica o término de tudo que não é o próprio Deus. Certas coisas aconteciam por centenas e até mesmo milhares de anos. Agora, de repente, houve novo início, um princípio que pôs fim a todas as coisas diferentes de Deus.
Há muitas opiniões entre os expositores da Bíblia a respeito do tempo do princípio do evangelho. Alguns dizem que foi quando João Batista saiu a ministrar. Outros dizem que foi quando Jesus começou a pregar. E há ainda outros que afirmam que foi no dia de Pentecostes.
Para os leitores do Novo Testamento é difícil entender que o princípio do evangelho de Jesus Cristo envolve o término absoluto das coisas velhas. Ao considerar essa questão, precisamos lembrar-nos que Marcos revela Jesus Cristo como o substituto completo, universal e todo-inclusivo.
Considere o que aconteceu no monte da transfiguração (Mc 9:2-13). O Senhor Jesus tomou Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte. “E foi transfigurado diante deles; as Suas vestes tornaram-se resplandecentes, sobremodo brancas, tais como nenhum lavandeiro na terra as poderia alvejar” (Mc 9:23). Então Elias e Moisés apareceram a eles (Mc 9:4). Estando muito empolgado, até mesmo fora de si, Pedro disse a Jesus: “Rabi, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Mc 9:5). Em certo sentido, as palavras de Pedro eram razoáveis, pois o Senhor Jesus e dois grandes homens do Antigo Testamento estavam presentes no monte. Na realidade o que Pedro disse não fazia sentido. De repente “veio uma nuvem que os cobriu; e da nuvem saiu uma voz dizendo: “Este é o Meu Filho amado; a Ele ouvi” (Mc 9:7). Quando os discípulos olharam em volta: “A ninguém mais viram, senão só a Jesus com eles” (Mc 9:8).
Podemos dizer que tanto Moisés, que representa a lei do Antigo Testamento, como Elias, que representa os profetas do Antigo Testamento, foram substituídos por Cristo. Segundo o costume judaico, o povo de Deus considerava que o Antigo Testamento tinha duas seções principais: a lei e os profetas. Assim o fato de Moisés e Elias, os representantes do Antigo Testamento, serem substituídos, na verdade, significa que todas as coisas do Antigo Testamento foram substituídas por Cristo.
Do lado negativo, o princípio do evangelho significa término e esse término nos inclui. Esse término todo-inclusivo inclui a cultura, as nações, Israel, a lei, os profetas, as práticas e a maneira de adoração do Antigo Testamento, o templo, o altar, o sacerdócio e o sistema de ofertas. Agora quando lemos Marcos 1:1 precisamos ter o entendimento de que o princípio do evangelho significa o término das coisas velhas.
O DEUS TRIÚNO INFUDINDO-SE EM NÓS COMO VIDA
O capítulo 1 de Marcos indica que cultura, religião, ética e esforço humano para ser moral, santo, bíblico e vitorioso precisam ter fim. Contudo, nos mais de dezenove séculos desde o tempo em que o Senhor Jesus esteve na terra, a situação entre os cristãos sempre esteve cheia desses itens. Na verdade, na experiência dos santos tem havido muito pouco de Cristo. Porém muitos livros foram escritos a respeito de santidade, espiritualidade e vitória.
Não podemos negar que a Epístola de Tiago seja um bom livro. Ela nos ajuda a ser pacientes e ter perseverança. Tiago fala da paciência dos profetas e da tolerância de Jó. Ele nos ensina a orar como Elias. Os escritos de Tiago contêm uma sabedoria semelhante à que é encontrada nos provérbios de Salomão. Tudo isso é muito bom. Contudo para a economia neotestamentária de Deus tudo isso precisa ter fim e ser substituído por Cristo. Como já enfatizamos nesta mensagem, o princípio em Marcos 1:1 implica tal término.
Se o irmão Tiago estivesse hoje conosco, deveríamos perguntar-lhe se ele percebeu que as coisas do Antigo Testamento deviam ter fim. Como o presbítero líder em Jerusalém, ele dirigiu sua epístola não à igreja nem aos santos do Novo Testamento, e sim às doze tribos. Também nos perguntamos por que, em sua epístola, ele não nos ensinou a orar à maneira do Novo Testamento.
Tiago tem sido um padrão de piedade, devoção, santidade, ética, espiritualidade e vitória. Muitos crentes através dos séculos o tomaram como padrão para essas coisas.
Gostaria de lhe pedir que considerasse se ainda mantém o conceito de que, como cristão, você em si mesmo precisa tentar melhorar, amar mais a Deus e agir de forma que glorifique a Deus. Quando menciono essas coisas, alguns podem dizer no coração: “Que há de errado em tentar melhorar e buscar amar mais a Deus e viver para a Sua glória? Você se opõe à melhoria do caráter? Você não se importa se os irmãos amam a Deus e O glorificam? Você nos está ensinando a não nos importar com a ética? Que tipo de ensinamento você promove?”. Naturalmente, não negamos a importância de um bom caráter e bom comportamento, tampouco dizemos que não devemos ser éticos ou morais, ou que não devemos amar a Deus e glorificá-Lo. No que diz respeito ao viver humano em sociedade, todos devemos cuidar da moralidade, ética, comportamento e caráter. Mas o ponto crucial é que a economia neotestamentária de Deus envolve algo muito maior do que isso. Trata-se do Deus Triúno infundindo-Se em nós como vida, a fim de que O vivamos e assim nos tomemos membros do Corpo de Cristo para Sua expressão.
AS VIRTUDES CRISTÃS COMO PRODUTO DA VIDA DIVINA
Talvez eu consiga ilustrar a diferença entre a ética humana e uma vida segundo a economia neotestamentária de Deus, falando a respeito do ensinamento de alguns missionários na China, anos atrás. Eles disseram claramente que a Bíblia e Confúcio ensinam a mesma coisa. Eles disseram que ambos ensinam a honrar os pais e a submissão da esposa ao marido, e ambos ensinam humildade, honestidade, integridade, fidelidade e virtudes assim. A primeira vez que ouvi isso, eu estava no ensino fundamental. Mais tarde, como adolescente, comecei a me perguntar: “Já que a Bíblia e Confúcio ensinam a mesma coisa, por que foi necessário que os missionários viessem à China? Se não há diferença entre os ensinamentos dos dois, então não há necessidade de que os missionários nos ensinem a Bíblia”. Pela misericórdia do Senhor fui salvo com dezenove anos. Eu ainda estava intrigado com essa questão a respeito da diferença, se é que havia, entre os ensinamentos da Bíblia e os de Confúcio. Eu ainda queria saber a diferença entre as virtudes humanas ensinadas por Confúcio e as virtudes dos cristãos ensinadas na Bíblia. Por vários anos fiquei sem saber a diferença. Depois de estudar a Bíblia por aproximadamente dez anos, meus olhos foram abertos e então vi o Cristo todo-inclusivo. Comecei a vê-Lo como o centro e a circunferência da economia neotestamentária de Deus. Então passei a ver a diferença entre as virtudes humanas ensinadas por Confúcio e as virtudes cristãs ensinadas pela Bíblia. Percebi que as virtudes ensinadas por Confúcio são o produto do esforço humano. Elas, essencialmente, não têm nada de Deus. Mas as virtudes cristãs autênticas ensinadas pela Bíblia não são o resultado do esforço humano. Pelo contrário, são o produto da vida divina vivida pelos crentes. Além disso, estão relacionadas essencialmente com a natureza divina. Há grande diferença entre as virtudes humanas como produto do esforço humano e como produto da vida e natureza divina em nós!
Podemos ilustrar a diferença entre as virtudes humanas ensinadas por Confúcio e as virtudes cristãs ensinadas pela Bíblia, comparando um tijolo com ouro. Ao examinar o tijolo não achamos nada de errado nele, mas, se o comparamos com ouro, vemos que há enorme diferença entre os dois. Semelhantemente, há grande diferença entre as virtudes humanas e as virtudes cristãs produzidas pela vida e natureza divina.
É trágico que a maioria dos cristãos, incluindo os mestres cristãos, não tenha clareza da diferença entre meras virtudes humanas e as virtudes cristãs autênticas. As virtudes ensinadas por Confúcio e outros filósofos são apenas humanas. Não têm nada da essência divina; não têm nada a ver com a vida e natureza de Deus, muito menos com o próprio Deus.
As virtudes cristãs ensinadas pela Bíblia são bem diferentes de meras virtudes humanas. A diferença é que a natureza das virtudes cristãs é a natureza de Deus. A esse respeito, Pedro diz em sua segunda Epístola que nos tornamos participantes da natureza divina (2Pe 1:4). Portanto as virtudes cristãs não são o produto de esforço exterior, mas de natureza interior, a natureza divina que recebemos por meio da regeneração. As virtudes cristãs estão relacionadas essencialmente com a vida divina, a natureza divina e o próprio Deus.
Humanamente falando, para o bem da sociedade, todos devemos preocupar-nos com ética, moral, comportamento e caráter. Com vistas ao viver humano adequado em sociedade, devemos enfatizar essas coisas. Contudo, com respeito a viver Deus e expressá-Lo, meras virtudes humanas não servem para nada; pelo contrário, tornam-se obstáculo.
Se quisermos viver Deus e expressá-Lo precisamos ver que é necessário até mesmo que nossas virtudes humanas naturais tenham fim. Esse término é necessário para o princípio do evangelho de Jesus Cristo. O princípio do evangelho implica o término de todas as coisas que não sejam o próprio Deus.
Vamos agora considerar a palavra batismo no versículo 4.
TÉRMINO VISANDO NOVO PRINCÍPIO
O versículo 4 diz: “Apareceu João batizando no deserto e pregando batismo de arrependimento para perdão de pecados” (Mc 1:4). Aqui vemos que João saiu a pregar o batismo de arrependimento. Batizar alguém sepultá-lo na água. Esse sepultamento é um término. A melhor maneira de pôr fim a algo é enterrá-lo. Quando aquelas pessoas que foram a João foram batizadas, elas foram sepultadas e tiveram fim.
João pregava batismo de arrependimento para perdão de pecados. Qualquer pessoa que fosse a João com verdadeiro arrependimento seria então batizada por ele. Os arrependidos foram sepultados no batismo por João.
Em Marcos 1:1 temos um princípio, e em Marcos 1:4, um término. Sem término, não pode haver novo início. Por que fomos batizados depois de crer no Senhor Jesus? Para sepultar a velha vida, que inclui a nós mesmos. Sempre que alguém se arrepende e crê no Senhor, devemos pôr fim a sua velha vida e velho ego, batizando-o, isto é, sepultando-o. Esse término visa a um novo princípio.
O BATISMO DO SENHOR JESUS
Marcos 1:9 fala do batismo do Senhor Jesus: “E aconteceu naqueles dias que veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão”. O Senhor Jesus queria ser batizado; Ele queria ser sepultado.
Por que o Senhor Jesus foi batizado? Embora por um lado não houvesse Nele nada que necessitasse ser sepultado, em especial nada velho, o Senhor Jesus, no entanto, era um homem e como tal era parte da velha criação. Se Ele não tivesse nada a ver com a velha criação, como poderia ser o Salvador dela?
De acordo com João 1:1, 14, o Verbo, que era Deus, tornou-se carne. A palavra carne é um termo negativo nas Escrituras. Deus não criou a carne; criou o homem. Por que então João não diz que o Verbo tornou-se homem? João 1:14 diz claramente, não que Verbo tornou-se homem, e sim tornou-se carne. Quando Jesus saiu de Nazaré e foi até João, Ele tinha um corpo de carne.
Com respeito a isso, Paulo foi muito cuidadoso. Em Romanos 8:3 ele diz que Cristo veio em semelhança de carne pecaminosa. O homem caído se tinha tornado a carne do pecado. Mas o Senhor Jesus tinha apenas a semelhança da carne do pecado; não tinha pecado. Assim como a serpente de bronze levantada no deserto para a redenção dos israelitas caídos tinha apenas a semelhança, a forma, de serpente, mas não sua natureza, o Senhor Jesus também tinha apenas a semelhança da carne de pecado, e não sua natureza.
Quando o Senhor Jesus se tornou um homem, a humanidade havia caído. Contudo no interior Dele não havia pecado. Embora não houvesse pecado Nele, Sua humanidade ainda era à semelhança da carne de pecado.
Por um lado, Ele era o Filho de Deus; tratava-se de Sua deidade. Por outro, era o Filho do Homem; tratava-se de Sua humanidade. Com respeito à Sua deidade, não havia necessidade de o Senhor Jesus ser batizado. Mas, com respeito à Sua humanidade, com respeito ao fato de Ele ser um homem entre os homens, havia a necessidade de ser batizado. O Senhor Jesus como homem precisava ter fim, ser sepultado.
Naturalmente a Bíblia não diz que, ao ser batizado, o Senhor Jesus se arrependeu. Como Ele não tinha nada do que se arrepender, não havia necessidade disso. Ele não tinha pecado e nunca pecou. Como não tinha o pecado e nem pecados, Ele não precisava arrepender-se. Contudo Ele tinha uma humanidade relacionada com a velha criação e por essa razão precisava ser batizado. Em Seu batismo Ele queria ser colocado de lado.
O ESPÍRITO SOBRE O SENHOR JESUS
Marcos 1:10 nos diz o que aconteceu quando o Senhor Jesus saiu da água: “E imediatamente, ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como pomba, descendo sobre Ele”. Antes disso Ele já tinha Deus Pai em Seu interior como a essência de Seu ser. Depois do batismo, Deus Espírito desceu sobre Ele. Portanto em Seu interior Ele tinha a essência divina e sobre Si tinha o Espírito de Deus.
Com o Pai em Seu interior como Sua essência e com o Espírito sobre Si como poder para Seu mover e obra, Ele iniciou Seu ministério. Em Seu mover e obra, Ele não era apenas moral ou ético nem era religioso. Mas era alguém absolutamente de Deus em todos os lugares e todo o tempo porque Sua obra era Sua vida, Sua vida era Seu mover e Seu mover era Sua obra. Nele não havia diferença entre vida, obra e mover.
No Senhor Jesus, todo aspecto de Sua vida era o mesmo. Nós, contudo, podemos dividir a vida entre trabalho, escola, família e igreja. Podemos facilmente dizer quantas horas trabalhamos cada dia. Mas você consegue dizer quantas horas o Senhor Jesus trabalhava cada dia? Qual era o tempo separado para as refeições? O que quero ressaltar aqui é que Ele sempre vivia, trabalhava e se movia. Sua pregação e ensino eram parte do viver. Expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos também eram parte do viver do Senhor Jesus. Nele não há distinção entre vida e obra.
Podemos pensar que o Senhor Jesus foi capaz de ter tal viver, mas nós não. Hoje todos devemos ter uma vida de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. A prática comum de contratar pregadores para trabalhar como profissionais não está correta de acordo com as Escrituras. Cada crente deve ter um viver de pregar, ensinar, expulsar demônios e curar enfermos. Se vivermos dessa forma, aonde quer que formos, nossa vida será nossa pregação, pois temos um viver de pregação. Da mesma forma também teremos um viver de expulsar demônios. Muitos são indulgentes com certas coisas malignas e mundanas porque foram possuídos por demônios.
Eis o que quero dizer ao falar sobre isso: o Senhor Jesus viveu uma vida de Deus, e é uma vida de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. Não é um viver de cultura, religião, filosofia ou mera ética ou moral. A vida de Deus espontaneamente prega, ensina, expulsa demônios, cura e purifica. Se todos vivermos dessa forma, a situação em nossa cidade será diferente após certo tempo. Contudo o que enfatizamos é a vida em si, a vida de Deus totalmente de acordo com a Sua economia neotestamentária e para ela.
O RESULTADO DE VIVER DE ACORDO COM A ECONOMIA DE DEUS
Vimos que o conteúdo do serviço evangélico do Senhor inclui pregar o evangelho, ensinar a verdade, expulsar demônios, curar enfermos, e purificar leprosos. Em Marcos 2:1-3:6 vemos as formas de levar a cabo o serviço evangélico: perdoar pecados (Mc 2:1-12), festejar com pecadores (Mc 2:13-17), fazer com que Seus seguidores se alegrassem sem ter de jejuar (Mc 2:18-22), importar-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião (Mc 2:23-28), importar-se antes com o alívio do que sofrer com os ritos da religião (Mc 3:1-6). Todos esses itens deveriam ser encontrados em nosso viver como cristãos hoje. Se você vive a vida de Deus, após certo tempo alguns colegas seus podem experimentar o perdão dos pecados. Então irão desfrutar o Senhor como festa, tendo-O como justiça para se cobrir e vida para se encher e estar satisfeitos. Então terão liberdade. Antes de você contatá-los, eles estavam debaixo da condenação e não tinham verdadeira alegria, satisfação nem liberdade. Mas como resultado de sua pregação do evangelho, não por meio de meras palavras, mas pela vida, a verdade brilha neles e eles têm o perdão dos pecados. Esse é o resultado de viver totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus.
Uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela é bem diferente da religião, que enfatiza o esforço humano. A economia de Deus é totalmente questão de vida.
ASPECTOS DE UMA VIDA DE ACORDO COM DEUS
Em Marcos 3:7-35 temos cinco atos auxiliares para o serviço evangélico: escapar da pressão da multidão (vs. 7-12), designar os apóstolos para pregar (vs. 13-19), deixar de comer por causa da necessidade urgente (vs. 20-21), amarrar Satanás e saquear-lhe a casa por meio do Espírito Santo (vs. 22-30) e não permanecer no relacionamento da vida natural, e sim no da vida espiritual (vs. 31-35). Se vivermos de acordo com a economia neotestamentária de Deus, nos manteremos afastados da multidão e então oraremos a fim de conhecer a vontade de Deus a respeito dos outros viverem da maneira como vivemos. Além disso, iremos importar-nos com a necessidade de Deus, e não com nosso comer. Também iremos amarrar o inimigo e saquear-lhe a casa. Ao mesmo tempo, negaremos o relacionamento natural e permaneceremos no da vida espiritual. Todos esses não são aspectos de um viver ético, moral, religioso ou cultural, mas de uma vida que é de Deus e de acordo com Deus. Essa vida está fora da religião, cultura, e ética. É um viver que expressa Deus como tudo.
Precisamos ser impressionados com o fato de que o evangelho de Marcos não é mero livro de histórias nem biografia; é um livro que apresenta a vida divina, uma vida que vive Deus e O expressa. É uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela.
Agora que já vimos o que é o evangelho, precisamos considerar o conteúdo do serviço evangélico revelado em Marcos 1:14-45. De acordo com essa seção de Marcos, o conteúdo do serviço evangélico inclui cinco itens: pregar o evangelho (vs. 14-20), ensinar a verdade (vs. 21-22), expulsar demônios (vs. 23-28), curar enfermos (vs. 29-39) e purificar os leprosos (vs. 40-45). Simplificando, o conteúdo do serviço evangélico do Salvador-Servo é pregar, ensinar, expulsar demônios, curar e purificar. Pode-se ler várias vezes Marcos 1:14-45 sem se perceber que esses versículos retratam o conteúdo do serviço evangélico. Agora vamos considerar o que Marcos 1:14-20 relata em relação à pregação do evangelho.
A PREGAÇÃO DO EVANGELHO
Marcos 1:14 diz: “Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus”. O aprisionamento de João era um sinal da rejeição do evangelho, especialmente na região de honra. Assim, o Salvador-Servo a deixou e voltou à região desprezada, para Seu serviço evangélico.
Embora João Batista ministrasse no deserto e não no templo santo e cidade santa, seu ministério era na Judéia, próximo dos “itens santos”. Visto que as pessoas rejeitaram João, o Senhor Jesus foi à Galiléia a fim de iniciar o Seu serviço evangélico, longe do templo santo e da cidade santa. Isso ocorreu soberanamente para cumprir a profecia de Isaías 9:1-2. A Galiléia tinha população mista, tanto de judeus como de gentios, por isso, era chamada de “Galiléia dos gentios (ou, nações)” e era desprezada pelos judeus ortodoxos (Jo 7:41, 52).
De acordo com Marcos 1:14, Jesus foi à Galiléia pregando o evangelho de Deus. A pregação do Salvador-Servo visava anunciar as boas novas de Deus ao povo miserável em escravidão. Seu ensinamento (vs. 21-22) visava iluminar os ignorantes em trevas com a luz divina da verdade. Sua pregação implicava ensinamento, e Seu ensinamento implicava pregação (Mt 4:23). Essa foi a primeira coisa que Ele fez em Seu ministério, e era a estrutura todo-abrangente do Seu serviço evangélico (Mc 1:38-39; 3:14; 6:12; 14:9; 16:15, 20).
Desenvolver a Habilidade de Pregar o Evangelho:
O primeiro item do serviço evangélico do Salvador-Servo foi pregar o evangelho. Já ressaltamos que Sua pregação sempre implicava ensino e Seu ensino implicava pregação. Isso nos mostra algo importante em relação à pregação do evangelho hoje. Muitos têm encargo de pregar o evangelho. Realmente desejam pregá-lo aos parentes, vizinhos, amigos, colegas de escola e de trabalho. Mas muitos tiveram a experiência de não saber o que dizer quando tentaram pregá-l0. A razão disso é que, embora tenham encargo, não desenvolveram a habilidade de pregá-lo. Se não soubermos ensinar, também não seremos capazes de pregar eficazmente. A pregação do evangelho depende do ensino.
Encorajo todos os irmãos que são fiéis ao Senhor em Sua edificação a aprender não apenas a pregar o evangelho, mas também a ensiná-la. Por exemplo, ao falar de Deus, alguém pode dizer: “Amigos, no universo há apenas um Deus verdadeiro. Além Dele não há outro. O verdadeiro Deus é o Deus que adoramos”. Essa maneira de falar a respeito de Deus é muito limitada. Nessa pregação não se ensina aos outros a respeito de Deus. Uso isso como exemplo da necessidade de desenvolver tanto a habilidade de ensinar como a de pregar o evangelho. Assim, encorajo os presbíteros nas igrejas a despender muito tempo e energia para se aprofundar na Palavra e ajudar os irmãos a aprender as diversas verdades do evangelho e também aprender a apresentá-las aos outros. Primeiro, todos os irmãos precisam eles mesmos aprender as verdades. Então, precisam desenvolver a habilidade de apresentá-las aos outros.
As reuniões das igrejas devem ser todo-inclusivas. Espiritualmente falando, a igreja é lar, restaurante, hospital, hotel, ginásio de esportes e também escola. Quanto à necessidade de desenvolver a habilidade de ensinar o evangelho, certas reuniões da igreja devem ser como aula de instrução. Nelas os irmãos podem ser ajudados a conhecer a verdade e apresentá-la. Quanto a essa necessidade, gostaria de dizer uma palavra aos presbíteros. É muito difícil ser presbítero, porque deve ser capaz de fazer várias coisas diferentes. Como a igreja é um lar, o presbítero deve saber criar filhos espirituais. Como ela é um restaurante, ele deve saber preparar comida espiritual nutritiva para os irmãos. Como é um hospital, ele deve aprender a cuidar dos irmãos como médico espiritual. Como é um hotel, ele deve aprender a servir os santos. Como é um ginásio de esportes, ele deve saber a ser técnico, treinando os membros do “time” no exercício espiritual coletivo. Como ela também é escola, ele deve saber ensinar os santos. Esse ensino se dá em diferentes níveis: jardim da infância, primeiro grau, segundo grau, faculdade e até mesmo pós-graduação. O presbítero deve ser capaz de ensinar itens espirituais aos santos em todos esses níveis. Embora a responsabilidade dele a respeito de todos esses itens seja extremamente pesada, pela misericórdia do Senhor o presbítero precisa aprender a fazê-los.
O caminho da edificação do Senhor é estreito, por isso, não esperamos que grande número de pessoas o tome. Porém, se o número atual de irmãos na edificação do Senhor for adequadamente treinado, então todos serão capazes de apresentar a verdade no viver diário na escola, no trabalho e na vizinhança. Onde quer que estejam, irão pregar ensinando e ensinar pregando. Se pregar dessa maneira, a pregação surtirá efeito.
Muito da nossa pregação do evangelho não tem sido eficaz nem frutífera. A razão disso é que a pregação de alguns carece de conteúdo. Ao falar com outros precisamos ter algo rico para lhes apresentar. Por exemplo, certamente não é adequado dar a alguém um copo com somente algumas gotas de água. Mas deveria dar-lhe um copo bem cheio. Isso é uma ilustração de como precisamos estar cheios das riquezas divinas, de modo que, sempre que formos falar com os outros, possamos suprir-lhes essas riquezas.
Suponha que você encontre alguém que diga que a Igreja é herética ou é uma seita. Em vez de negar tudo isso, você deve aproveitar a oportunidade para lhe dar um “diamante” da verdade. Por exemplo, você pode falar-lhe a respeito da promessa feita por Deus em Gênesis 3:15 de que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Então, pode prosseguir, dizendo que o Senhor Jesus, como o descendente da mulher, é o cumprimento dessa promessa, e que na cruz Ele esmagou a cabeça de Satanás, destruindo assim o inimigo de Deus. Quando tiver outra oportunidade, você pode compartilhar outro aspecto da verdade com essa pessoa. Talvez, então, após algum tempo, ela expresse o desejo de ir a uma reunião com você. A maneira correta de lidar com os que nos acusam de ser heréticos, ou uma seita, é compartilhar com eles as preciosas verdades da Palavra de Deus.
Embora tenhamos as riquezas, muitos não sabemos apresentá-las aos outros. Não temos intenção de vendê-las, queremos dá-las, mas podemos não saber fazê-lo. Se você for discutir com a pessoa, negando a falsa acusação de que somos uma seita, provavelmente não poderá dar-lhe nenhum “diamante”. Em vez de discutir com os outros devemos dar-lhes um diamante após o outro.
Se estivermos constituídos, seremos capazes de apresentar aos outros numa conversa breve, como no intervalo de cinco minutos no trabalho, a verdade a respeito do descendente da mulher. Assim, embora tenhamos encargo de pregar o evangelho, precisamos da habilidade adequada para ensinar a verdade. Em nossa pregação deve haver ensino.
A Necessidade tanto de Pregação como de Ensino:
Segundo o mesmo princípio, quando ensinamos a verdade, também devemos pregar. Não devemos ensinar na forma de letras mortas. A letra mata, mas o Espírito dá vida. Isso quer dizer que nosso ensino deve ser vivo, e não o ensino de mera doutrina. Por exemplo, se estudarmos que Cristo nasceu de uma virgem somente de forma doutrinária, esse estudo terá efeito mortífero, primeiro em nós e depois também nos outros. Em nosso ensino devemos ter uma pregação viva. Sempre que ensinarmos aos outros um versículo da Bíblia, também devemos pregar a eles. Em nosso ensino da santa Palavra o evangelho deve fluir vida. Essa foi a prática do Senhor no Evangelho de Marcos. Sempre que pregava, Ele ensinava; e sempre que ensinava, pregava. Essa combinação de ensino e pregação é maravilhosa.
Os seres humanos caídos precisam ouvir tanto a pregação como o ensino do evangelho. Que terrível ignorância há, entre as pessoas caídas, a respeito de Deus e das coisas divinas! Embora nossa sociedade enfatize a importância da educação, as pessoas ainda não conhecem as verdades divinas. Não conhecem a Deus, não sabem o sentido da vida humana nem de onde vieram ou para onde vão. Em vez disso, em sua ignorância, preocupam-se com os desejos da carne e prazeres do mundo. Por isso, as pessoas hoje necessitam do ensino adequado da Palavra de Deus, o ensino que irá iluminá-las.
Como Servo servindo a Deus, o Senhor Jesus pregava o evangelho e ensinava a verdade aos ignorantes em trevas. A igreja como continuação do Senhor, como Seu aumento e expansão, deve fazer a mesma coisa hoje: pregar o evangelho e ensinar a verdade às pessoas caídas nas trevas. Espero que todos os irmãos na vida da Igreja se tornem bons pregadores do evangelho e mestres da Bíblia. Se todos nos tornarmos bons pregadores e mestres, o Senhor terá como apressar Sua volta. A situação atual não permite que o Senhor volte, pois nada está pronto para isso. Portanto, precisamos ser fiéis em seguir Seus passos em pregar o evangelho e ensinar a verdade. Ele era um bom pregador e mestre, e precisamos aprender Dele a ser bons pregadores e mestres. Por isso eu os encorajo a ser fiéis na edificação do Senhor quanto a pregar o evangelho e ensinar a verdade.
O EVANGELHO E O REINO
ARREPENDER-SE E CRER NO EVANGELHO
Em Sua pregação o Senhor dizia às pessoas que se arrependessem e cressem no evangelho. O arrependimento ocorre principalmente na mente, e o crer, principalmente no coração (Rm 10:9). Crer em algo é ser introduzido naquilo em que se crê. Também é receber interiormente aquilo em que se crê. Crer no evangelho é primordialmente crer no Salvador-Servo (At 16:31), e crer Nele (Jo 3:15-16) é entrar Nele e O receber em nós (Jo 1:12), para nos unir organicamente a Ele. Tal fé em Cristo (Gl 3:22) nos é dada por Deus (Ef 2:8) quando ouvimos a Palavra da verdade do evangelho (Rm 10:17; Ef 1:13). Essa fé nos introduz em todas as bênçãos do evangelho (Gl 3:14). Assim sendo, é preciosa para nós (2Pe 1:1). Tal fé preciosa deve ser precedida de arrependimento.
Crer é receber o Salvador-Servo não apenas para perdão de pecados (At 10:43), mas também para regeneração (1Pe 1:21, 23), a fim de que os que crêem se tornem filhos de Deus (Jo 1:12-13) e membros de Cristo (Ef 5:30) numa união orgânica com o Deus Triúno (Mt 28:19).
O EVANGELHO DE JESUS CRISTO, O EVANGELHO DE DEUS E O EVANGELHO DO REINO DE DEUS
ENSINAR A VERDADE
Foi pela soberania e providência divina que o Senhor Jesus foi criado na região da Galiléia e também começou a pregar e ensinar a partir da Galiléia, e não da Judéia. De acordo com o relato bíblico, a Galiléia não era apenas uma região desprezada, mas também lugar de trevas. A esse respeito, Mateus 4:15-16 diz: “Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios: O povo que estava sentado em trevas viu grande luz, e aos que estavam sentados na região e sombra da morte, raiou-lhes a luz”. Isso indica que quando o Senhor Jesus andava pela Galiléia, Ele era uma grande luz a brilhar nas trevas e resplandecer sobre os que se sentavam na região e sombra da morte. Especialmente o ensinamento do Salvador-Servo era o brilho de grande luz. Cada palavra que saía de Sua boca era iluminadora. Portanto, enquanto ensinava às pessoas, a luz brilhava sobre elas. Desse modo o povo em trevas foi iluminado pelo ensinamento do Senhor Jesus.
De acordo com Marcos 1:22, os que estavam na sinagoga ficaram atônitos com o ensinamento do Senhor Jesus e diziam que Ele ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Os que a si mesmos designavam escribas e por si mesmos ensinavam conhecimento vão, não tinham nenhuma autoridade nem poder; porém esse Servo autorizado por Deus, que mediante Deus ensinava realidade, tinha não somente poder espiritual para subjugar as pessoas mas também autoridade divina para submetê-las ao governo divino.
EXPULSAR DEMÔNIOS
Marcos 1:27 diz: “Todos ficaram pasmados a ponto de discutirem entre si, dizendo: O que é isso? Um novo ensinamento! com autoridade Ele dá ordens até aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!”. Esse versículo não fala do poder, e sim da autoridade do Senhor para expulsar demônios. Para Seu serviço, o Salvador-Servo tinha autoridade divina não somente para ensinar as pessoas (v. 22) mas também para expulsar demônios.
Muitos anos atrás, um missionário chamado Dr. Nevius escreveu um livro que descrevia muitos casos de possessão demoníaca na China. Em todo país havia casos de possessão, e em seu livro ele dá os detalhes. Hoje, num país culto e altamente civilizado como os Estados Unidos, aparentemente não há mais casos de possessão demoníaca. Entretanto, Satanás é sutil e busca possuir as pessoas de outras formas. Em sua sutileza, ele tem uma forma de possuir as pessoas dos países altamente civilizados assim como em países subdesenvolvidos. Portanto, mesmo hoje, na maior nação culta do planeta, Satanás é capaz de usar vários meios de possuir as pessoas. Por isso, em nossa pregação do Evangelho, devemos ter não somente o ensinamento correto mas também a expulsão de demônios, a expulsão das coisas usadas por Satanás para possuir as pessoas. A fim de fazer isso, precisamos aprender a orar para receber o poder, mesmo a autoridade, de expulsar os elementos possuidores. Uma vez que recebemos esse poder e autoridade, então nossa pregação e ensinamento sairão com o poder de expulsar os elementos possuidores do inimigo.
Precisamos de poder para expulsar os elementos satânicos usados pelo inimigo para possuir as pessoas nos países modernos de hoje. Satanás, a serpente sutil, é muito esperta e sabe possuir as pessoas com meios modernos. Num país não civilizado, talvez use meios incultos para possuir as pessoas, mas num país moderno e culto ele usará meios modernos e cultos para usurpá-las. Por exemplo, nas maiores faculdade e universidades ele possuirá as pessoas com meios intelectuais. Não podemos derrotar a possessão do inimigo da humanidade simplesmente com pregação e ensinos comuns a fim de expulsar os demônios de hoje; em nosso ensino e pregação devemos ter autoridade e poder divinos, que só podem ser exercidos em o nome de Jesus. Por isso, precisamos invocar o nome do Senhor Jesus e exercitar a autoridade divina que há no nome do Senhor e por meio Dele. Se o fizermos, então nossa pregação e ensino terão poder e autoridade para expulsar os elementos possuidores malignos do inimigo. A expulsão de demônios, portanto, é o terceiro item do conteúdo do Evangelho.
CURAR OS ENFERMOS
Hoje cada ser humano caído está enfermo, muitos fisicamente e todos espiritualmente. Visto que todos as pessoas caídas estão espiritualmente doentes, nós nas igrejas temos de aprender a pregar o evangelho e ensinar a verdade como médicos. Isso quer dizer que em nossa pregação e ensino devemos dar às pessoas uma receita médica espiritual, uma prescrição divina para a cura delas. Todos os santos entre nós devem aprender a pregar o evangelho e ensinar a verdade dessa forma para que os outros sejam curados. Enquanto ensinamos e pregamos, devemos dar aos outros uma injeção espiritual para que sejam curados.
Entre os irmãos no movimento pentecostal, há muita ênfase nas curas miraculosas. Essa ênfase é na cura do lado físico. Contudo, precisamos cuidar mais da cura espiritual do que da cura física. Os irmãos da igreja devem estar tão bem equipados que ao pregar e ensinar dispensem remédio espiritual aos outros a fim de que sejam curados espiritualmente.
De acordo com Marcos 1:32, ao cair da tarde, o Senhor Jesus curou muitos que estavam doentes. Cedo na manhã seguinte Ele se levantou e, “estando ainda escuro, saiu e foi para um lugar deserto, e ali orava”. O Senhor Jesus orava a fim de ter comunhão com Deus, buscando a vontade e o prazer de Deus para Seu serviço evangélico. O Salvador-Servo executou o serviço evangélico não por Si mesmo, independente de Deus e segundo a própria vontade, mas segundo a vontade e prazer de Deus, sendo um com Ele para cumprir o Seu propósito.
De acordo com o versículo 37, Simão e os que estavam com ele disseram ao Senhor Jesus: “Todos Te buscam”. O Senhor Jesus lhes disse: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu saí” [Mc 1:38]. Como Servo de Deus, o Salvador-Servo O servia no Seu evangelho para levar a cabo não a própria vontade ou a proposta das pessoas, mas a vontade de Deus, que O havia enviado (Jo 6:38; 4:34).
PURIFICAR OS LEPROSOS
Os versículos 41 e 42 diz: “E Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! E imediatamente foi-se-lhe a lepra, e ficou limpo”. O Senhor Jesus ficou compadecido. A compaixão e a disposição do Salvador-Servo, resultantes do Seu amor, eram preciosas ao leproso sem esperança. O Senhor Jesus estendeu a mão e o tocou. Isso mostrou Sua comiseração e intimidade para com o leproso miserável, a quem ninguém ousava tocar. De acordo com o versículo 42, a lepra imediatamente o deixou e ele ficou limpo. Esse versículo diz que o leproso não somente foi curado, mas limpo. Como doença, a lepra requer cura; como pecado também requer purificação por causa da sua natureza imunda e contaminadora (1Jo 1:7).
Todos precisamos ser profundamente impressionados com as cinco questões envolvidas no serviço evangélico do Salvador-Servo:
(1) pregar (Mc 1:14-15, 38-39), para anunciar as boas-novas às pessoas miseráveis que estavam sob escravidão;
(2) ensinar (Mc 1:21-22), para iluminar com a luz divina da verdade os ignorantes que estavam em trevas;
(3) expulsar demônios (Mc 1:25-26), para aniquilar a usurpação de Satanás sobre o homem;
(4) curar a condição enferma do homem (Mc 1:30-31), para que ele possa servir ao Salvador-Servo; e
(5) purificar o leproso (Mc 1:41-42), para restaurar o pecador à comunhão com Deus e com os homens. Que obra maravilhosa e excelente!
Em nossa pregação do evangelho também devemos exercer as funções de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar e purificar. Se nossa pregação for fraca, alguns talvez sejam salvos, mas não purificados. Talvez sejam salvos no sentido de receber o perdão do pecado, mas não purificado da natureza contaminadora do pecado. Por isso, precisamos seriamente considerar o fato de essa figura do serviço evangélico do Senhor concluir com a purificação do leproso. O Senhor Jesus pregou, ensinou, expulsou demônios, curou os doentes e por fim purificou o leproso. Essa purificação é a consumação máxima do conteúdo do serviço evangélico do Senhor.
Após purificar o leproso, o Senhor Jesus recomendou energicamente: “Olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho a eles” (Mc 1:44). Essa ordem, dada em todo o relato do serviço evangélico do Salvador-Servo, é bem categórica (Mc 5:43; 7:36; 9:9). É semelhante ao que foi profetizado em Isaías 42:2 com relação ao Seu caráter quieto. Ele queria que Sua obra fosse feita nos limites de um mover absolutamente de acordo com o propósito de Deus e não promovido pelo entusiasmo e divulgação do homem. Em todo o Seu ministério, o Salvador-Servo, como Servo de Deus, não gostava de notoriedade.
De acordo com Marcos 1:45, o que fora purificado não cumpriu o que o Senhor Jesus lhe dissera; antes, “tendo saído, começou a proclamar muito e a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade, mas permanecia fora, em lugares desertos; e de toda parte vinham ter com Ele”. Aqui vemos que a atividade do homem, que é segundo o conceito natural, estorva o serviço do Salvador-Servo, que é segundo o propósito de Deus.
Jesus é o Senhor!