Evangelho de Marcos | Estudo 11
Leitura Bíblica: Marcos 10:1-52
UM CAPÍTULO PARA OS QUE ESTÃO NO PONTO ALTO DA REVELAÇÃO DIVINA
Muitos leitores do Novo Testamento não consideram o evangelho de Marcos tão profundo quanto aos evangelho de Mateus, João, ou mesmo Lucas. Alguns talvez até o enxerguem como um livro de histórias infantis. Agradecemos ao Senhor por nos iluminar a respeito das várias seções desse evangelho. Como ressaltamos, em Marcos 8:27-9:13 somos introduzidos no clímax, na visão principal a respeito de questões na esfera das coisas divinas e misteriosas. Essa visão se refere a Cristo com Sua morte todo-inclusiva e ressurreição maravilhosa para ser nosso substituto completo e universal.
Em Marcos 9:14-50 temos o treinamento dos discípulos à luz do que fora revelado nos capítulos anteriores. Em especial, eles foram treinados a viver em paz uns com os outros, a fim de manter a unidade. Essa paz e unidade entre os crentes visam à vida do Corpo (vida da Igreja). Depois desse treinamento, o Senhor prossegue no capítulo 10, dando-nos um treinamento adicional.
O capítulo 10 de Marcos não visa ao estudo teológico. É um capítulo de ensinamento para os que estão no clímax da revelação divina nesse Evangelho. É para os que viram a Pessoa viva de Cristo com Sua morte e ressurreição para ser seu substituto. Se tivermos essa visão, estaremos na posição e esfera adequada para receber o que é revelado nesse capítulo 10.
Não devemos isolar nenhuma parte do evangelho de Marcos capítulo 10 da visão a respeito de Cristo, com Sua morte e ressurreição, para ser nosso substituto. Por exemplo, no versículo 14 o Senhor Jesus diz: “Deixai vir a Mim as crianças, não as impeçais, porque das tais é o reino de Deus”. Não devemos considerar isso apenas como uma palavra para ser lida para as criancinhas na hora de dormir. Mas devemos ver isso em relação à visão celestial a respeito de Cristo, com Sua morte e ressurreição.
TOMAR CRISTO COMO NOSSO SUBSTITUTO A FIM DE ENTRAR NO REINO VINDOURO
Se tivermos Cristo como nosso substituto e experimentarmos Sua morte que põe fim a nós, e Sua ressurreição que nos supre, seremos capazes de lidar com as questões de casamento, idade ou velhice, e riquezas. Então estaremos qualificados para entrar no reino de Deus. Caso contrário, não estaremos adequados para o reino de Deus; não entraremos no reino. Sem Cristo como nosso substituto, sem Sua morte para pôr fim a nós e sem Sua ressurreição para nos suprir Dele mesmo como pão que dá vida, não teremos como entrar no reino.
Estudar a Bíblia não é usar a mente natural para meramente ler as letras pretas no papel branco. Se queremos ganhar a visão revelada na Bíblia e por ela transmitida, necessitamos de luz divina, bem como alguma experiência no Senhor. Se nos faltar luz divina e se tivermos pouca experiência, não seremos capazes de ver muita coisa na Palavra, se é que vamos chegar a ver alguma coisa. Agradecemos ao Senhor por nos mostrar algo maravilhoso a respeito de Cristo, com Sua morte e ressurreição, a fim de ser nosso substituto. Isso é algo que a mente natural não consegue compreender. Para ver isso necessitamos de luz celestial e experiência espiritual.
Gostaria de enfatizar que precisamos ler o capítulo 10 de Marcos à luz do que está revelado nos capítulos 7, 8 e 9. Em especial, precisamos ler o capítulo 10 de acordo com a visão de Cristo com Sua morte e ressurreição, sendo nosso substituto todo-inclusivo. Em Marcos 8:27-9:13 temos o clímax e o capítulo 10 é apresentado segundo esse clímax. Sem Marcos 8:27-9:13, não poderíamos ter o clímax. Agora, ao considerar o capítulo 10, não devemos pensar que são meras histórias infantis. Pelo contrário, tudo nesse capítulo está relacionado com a visão de Cristo e Sua morte e ressurreição.
A VINDA PARA OS CONFINS DA JUDÉIA
O Salvador-Servo ministrou em Seu serviço evangélico por mais de três anos na região desprezada da Galiléia, distante do templo santo e da cidade santa onde haveria de morrer para cumprir o plano eterno de Deus. Como Cordeiro de Deus (Jo 1:29), Ele tinha de ser oferecido a Deus no monte Moriá, onde Abraão oferecera Isaque e desfrutara a provisão divina de um carneiro como substituto para seu filho (Gn 22:2, 9-14), e onde o templo foi edificado em Jerusalém (2Cr 3:1). Tinha de ser ali que Ele iria ser entregue, segundo o desígnio determinado pela Trindade da Deidade (At 2:23), aos líderes judeus (Mc 9:31; 10:33) e ser rejeitado por eles, os construtores do edifício de Deus (Mc 8:31; At 4:11). Também tinha de ser ali que Ele iria ser crucificado segundo a forma romana de pena capital (Jo 18:31-32; 19:6, 14-15) para cumprir a prefiguração com respeito ao tipo de morte que deveria sofrer (Nm 21:8-9; Jo 3:14). Ademais, segundo a profecia de Daniel 9:24-26, aquele seria o exato ano em que o Messias (Cristo) seria cortado (morto). Também, como cordeiro pascal (1Co 5:7), Ele tinha de ser morto no mês da Páscoa (Êx 12:1-11). Assim, o Senhor tinha de ir para Jerusalém (Mc 10:33; 11:1, 11, 15, 27; Jo 12:12) antes da Páscoa (Jo 12:1; Mc 14:1) para ali morrer no dia da Páscoa (Mc 14:12-17; Jo 18:28), no lugar e hora ordenados de antemão por Deus.
O serviço evangélico fora iniciado pelo ministério de João Batista, o precursor do Salvador-Servo, na Judéia (Mc 1:1-11), a região de honra. Mas continuou com o ministério do Salvador-Servo na Galiléia, região desprezada, por aproximadamente três anos (Mc 1:14-9:50). Ao contrário de João, Marcos em seu Evangelho não narra nada do ministério do Salvador-Servo em Jerusalém e na Judéia nesse tempo, até que Ele deixou a Galiléia indo para Jerusalém pela última vez, a fim de cumprir Sua obra de redenção. Daí o serviço evangélico continuou por meio do Seu ministério no caminho para Jerusalém, em Jerusalém e em seus arredores (Mc 10:1-14:42). Ele foi concluído por Sua morte redentora, Sua ressurreição que infunde vida, Sua ascensão de exaltação e pela continuação do Seu serviço evangélico mediante a pregação de Seus discípulos para toda a criação (Mc 14:43-16:20).
O LUGAR E O TEMPO ORDENADOS POR DEUS
Precisamos perguntar-nos por que, depois de ter ministrado na Galiléia por cerca de três anos, o Salvador-Servo de repente se levantou e foi para o sul, para os confins da Judéia e além do Jordão. Ele fez isso porque o tempo da Sua morte se aproximava; Ele tinha de morrer no ano profetizado por Daniel. Além disso, de acordo com a prefiguração do Cordeiro Pascal, tinha de morrer na Páscoa, isto é, no décimo quarto dia do primeiro mês do calendário judaico. Portanto, é bastante significativo que, segundo Marcos 10:1, o Senhor Jesus deixou a Galiléia e foi para a Judéia.
DEIXAR DE LADO OS ENSINAMENTOS TRADICIONAIS E VOLTAR À PURA PALAVRA DE DEUS
Assim como os escribas estavam ocupados com a tradição e não com a Palavra pura, assim hoje a maioria dos cristãos se ocupa com ensinamentos tradicionais em vez de se ocupar com a Palavra pura de Deus. Muitos não querem voltar-se à Palavra e estudá-la diretamente de modo puro. Se os antigos escribas tivessem esquecido os ensinamentos tradicionais e estudado as Escrituras de maneira pura, teriam sabido o ano exato no qual o Messias seria morto. Além disso, teriam percebido que, nesse mesmo ano, estavam tentando prender o Senhor Jesus.
Embora os escribas não soubessem quando o Messias seria morto, o Senhor Jesus sabia quando Ele seria morto. Sabia o ano, o mês e o dia. Sabia que seria morto na Páscoa, isto é, no décimo quarto dia do primeiro mês do calendário judaico. Sabendo disso, Ele foi ousadamente para a Judéia, não querendo atrasar-se. Ele sabia que teria de estar em Jerusalém quatro dias antes da Páscoa. Esse era o período no qual o cordeiro pascal era examinado.
O Senhor Jesus certamente conhecia todas as profecias e prefigurações a respeito de Sua morte. Em especial, sabia que seria crucificado no monte Moriá, outro nome do monte Sião. Sabia que não deveria ser crucificado na Galiléia. Era necessário que fosse crucificado no monte Moriá, no mesmo lugar onde Abraão ofereceu Isaque e recebeu a provisão de Deus. Também sabia que seria morto pela crucificação, sendo levantado no madeiro, como foi prefigurado pela serpente de bronze em Números 21:8-9.
Embora as questões relativas à morte de Cristo estivessem claramente profetizadas e prefiguradas no Antigo Testamento, mesmo assim, os escribas, os que se intitulavam “doutores da lei", não as conheciam. Isso deve servir de advertência para nós. Se cairmos sob a influência dos ensinamentos tradicionais, nossos olhos também ficarão vendados, de modo que não poderemos ver a revelação na Palavra pura de Deus. Por isso, precisamos colocar de lado os ensinamentos tradicionais e voltar à pura Palavra de Deus. Se o fizermos, receberemos muita luz do Senhor.
Marcos 10:1 diz que quando o Senhor Jesus veio para os confins da Judéia, ensinou as pessoas, como costumava fazer. Em Marcos 10:15 vemos que Ele ensinou acerca do reino de Deus: “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele”. Esse versículo é forte indicativo de que Seu ensinamento em Marcos 10:13-16 a respeito das crianças está diretamente relacionado com o reino de Deus.
RECEBER O REINO E ENTRAR NELE
RIQUEZAS E O REINO VINDOURO
No versículo 26 vemos a resposta dos discípulos à palavra do Senhor sobre entrar no reino de Deus: “Eles ficaram sobremodo atônitos, dizendo entre si: Então quem pode ser salvo?”. Aqui vemos que, embora o Senhor Jesus ensinasse a respeito de entrar no reino de Deus, a mente dos discípulos estava ocupada com a questão de ser salvo. No versículo 27, o Senhor Jesus continuou: “Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus tudo é possível”.
No versículo 28, Pedro, falando francamente, começou a dizer ao Senhor: “Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos”. Aprecio a franqueza de Pedro. Ele parecia dizer: “Senhor, nós deixamos todas as coisas para Te seguir. Deixamos a família, os barcos de pesca e até mesmo o mar da Galiléia. Será que isso não vale nada?”.
Nos versículos 29 e 30 temos a resposta do Senhor Jesus: “Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por causa de Mim e por causa do evangelho, que não receba cem vezes mais agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no século vindouro a vida eterna”. Aqui a vida eterna não é mencionada em relação à nossa salvação. Nesse versículo a vida eterna é um galardão, como desfrute na era vindoura do reino milenar. No reino vindouro os crentes vencedores desfrutarão a vida eterna. Entrar nesse desfrute na era vindoura é entrar no reino vindouro e participar do seu desfrute da vida eterna.
Agora podemos ver que o que está contido no capítulo 10 relaciona-se com o reino milenar. A palavra do Senhor Jesus aqui se relaciona com receber o reino de Deus e, em especial, a entrar nele na era vindoura.
TRÊS ITENS QUE NOS PODEM IMPEDIR DE ENTRAR NO REINO DE DEUS
O ENSINAMENTO CONTRA O DIVÓRCIO
Nunca devemos desprezar o casamento. Hebreus 13:4 diz: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio”. O matrimônio é santo e temos de honrá-lo. A humanidade veio a existir por meio da criação de Deus, e Deus ordenou que a humanidade se propagasse mediante o casamento.
Precisamos ver que o casamento é honrado e santo, pois foi ordenado para a propagação da humanidade com vistas ao cumprimento do propósito de Deus. Sem a criação do homem e sua propagação mediante o casamento, não pode ocorrer o cumprimento do propósito de Deus. Precisamos olhar para o casamento a partir desse ponto de vista. Se o considerarmos dessa maneira, nós o honraremos. Perceberemos que o casamento visa a propagação da humanidade para o cumprimento do propósito eterno de Deus.
Na vida conjugal precisamos ser honestos, fiéis e puros. Se não, ofenderemos a Deus de forma muito séria. De acordo com a Bíblia, Deus condena a fornicação e o adultério. Hebreus 13:4b diz: “Aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará”. Fornicação (ou prostituição) e adultério só perdem para a idolatria, entre os pecados mais ofensivos a Deus. Por isso precisamos cuidar do casamento de forma adequada diante de Deus. Precisamos ver que fornicação e adultério prejudicam a propagação adequada do homem. É por isso que Deus não permite o divórcio.
Como o casamento é algo tão sério, recomendo aos jovens que não entrem nele às pressas. Jovens, antes de se casar, orem e considerem muito. Não considerem o casamento apenas de seu ponto de vista, mas principalmente do ponto de vista de Deus. Não se casem apressadamente, pois, uma vez casados, vocês não terão mais alternativas. Divórcio é altamente ofensivo a Deus.
Como estamos no caminho para entrar no reino de Deus, precisamos especialmente ser firmes com respeito ao casamento. Precisamos perceber que, uma vez casados, não deve haver divórcio.
Todos os casados devem ser “cegos” para os defeitos do cônjuge. Não devem tentar descobrir as falhas dele. Toda investigação com respeito à outra parte deve ser feita antes do noivado. Depois de noivo e especialmente depois de casado, deve-se fechar os olhos para os defeitos do outro e ser cego. Se você não estiver disposto a ser cego dessa forma, não terá vida conjugal adequada.
De acordo com Marcos 10:2, os religiosos fariseus perguntaram ao Senhor Jesus se era “lícito ao homem repudiar sua mulher”. Quando Ele perguntou o que Moisés havia ordenado, eles responderam: “Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar.” (v. 4) . Esse mandamento não era parte da lei básica, mas um suplemento dado por Moisés, e não era de acordo com a ordenação inicial de Deus, mas algo temporário, devido à dureza do coração do homem. Nos versículos 5-8, o Senhor continua dizendo: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos escreveu esse mandamento; mas, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por esta causa deixará o homem a seu pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne”. Aqui a palavra do Senhor não apenas reconhece a criação do homem por parte de Deus, como também confirma a ordenação quanto ao casamento, isto é, um só homem e uma só mulher são unidos e jungidos como uma só carne e não devem ser separados por homem algum. O mandamento dado por Moisés com relação ao divórcio é um desvio da ordenação divina original sobre o matrimônio, mas Cristo o restaurou de volta à ordenação de Deus no princípio. Em Marcos 10:9 o Senhor Jesus diz: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”. Aqui vemos que o divórcio não é apenas contra a lei de Deus, mas é contra o próprio Deus. O que Deus ajuntou o homem não deve separar.
Por um lado casamento é uma necessidade. Por outro, a vida conjugal é difícil. Contudo precisamos aprender a amar essa dificuldade e até mesmo cuidar dela com afeição. Isso quer dizer que devemos amar o casamento e cuidar bem dele. De outra forma, seremos impedidos de entrar no reino de Deus.
Deus é verdadeiro, e também Sua Palavra, a Bíblia, é verdadeira. Assim precisamos honrar o que Deus diz na Palavra a respeito do casamento. É sério não lidar adequadamente com a vida conjugal. Falhar nisso, de acordo com Deus, fará com que não entremos no reino. Sim, agora estamos a caminho do reino vindouro (o milênio), mas ainda não é certo que efetivamente entraremos nele na era vindoura. De acordo com o capítulo dez de Marcos, entrar no reino na era vindoura depende primeiro de como cuidamos da vida conjugal.
ABENÇOAR AS CRIANÇAS
Eu me preocupo muito sempre que vejo os santos na vida da igreja a envelhecer na vida espiritual. Trinta anos atrás você era jovem e cheios de frescor, mas agora talvez esteja velho. Hoje os cristãos são barrados de prosseguir com o Senhor pela velhice e também pelos ensinamentos velhos. Talvez esses ensinamentos sejam fundamentais e até mesmo bíblicos e corretos, mas são velhos.
Em Marcos 10:14-15, o Senhor Jesus diz: “Deixai vir a Mim as crianças, não as impeçais, porque das tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele”. Tendo dito isso, o Senhor tomou as crianças nos braços e as abençoou (v. 16). Daí vemos que o Senhor Jesus as apreciava e as abraçou. Ao tomá-las nos braços e abençoá-las, o Senhor demonstrava a Seus seguidores que eles não deviam envelhecer; antes, que todos fossem como crianças a fim de entrar no reino.
Em Marcos 9:38, João, um dos filhos do trovão, disse ao Senhor: “Mestre, vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios, e nós lho proibimos, porque não nos seguia”. O fato de João ter proibido alguém de expulsar demônios em nome do Senhor era um indicativo de que João tinha envelhecido, espiritualmente falando. Os discípulos de João Batista também envelheceram. Eles seguiram João por menos de três anos, mas mesmo nesse curto período ficaram velhos e por fim formaram uma religião. Em princípio, o mesmo pode ocorrer entre nós hoje. Estou preocupado porque a velhice pode penetrar sorrateiramente na vida da igreja. Uma vez que ela entre, não mais teremos frescor dia a dia.
Podemos usar a coleta do maná no Antigo Testamento como ilustração da necessidade de estar novos e frescos cada dia. o princípio era que o maná era colhido uma vez por dia. Exceto no sábado, qualquer maná que sobrasse para o dia seguinte iria cheirar mal e criar vermes. Isso retrata nossa necessidade de ser refrescados e renovados diariamente. Dia a dia devemos ficar mais novos e frescos.
Creio que a verdade contida no Evangelho de Marcos pode ser apresentada de maneira mais fresca do que nessas mensagens. Naturalmente não alteramos a verdade, mas podemos ter um modo mais fresco de apresentá-la. Por exemplo, embora a terra permaneça a mesma, os meios de transporte evoluíram. De semelhante modo, a verdade de Deus não muda, mas a maneira de apresentá-la deve ser sempre mais nova e fresca.
O reino de Deus veio de maneira nova. Para entrar nele, era necessário que os fariseus e escribas renascessem. Que significa renascer? Renascer é ser renovado. Como a velhice não tem nada a ver com o reino de Deus, precisamos renascer, ser renovados, a fim de entrar nele.
Um grande problema entre os cristãos hoje é a velhice. Muitos se voltam para velhas exposições ou se agarram a velhos ensinamentos da sua denominação. Os luteranos, por exemplo, podem conferir as questões pelo que Lutero diz. Sem dúvida, a justificação pela fé é um item básico da verdade. Contudo, no que diz respeito a essa verdade, precisamos ser renovados e refrescados.
Em mensagem anterior falamos de Cristo como nosso substituto completo e universal. Antes daquela mensagem eu nunca tinha usado tal expressão. Foi durante o Espírito me conduzir em meu falar que ela surgiu. Desconheço outra expressão tão útil em transmitir a verdade de Cristo a nos substituir. Uso isso como exemplo de que não devemos permanecer no velho conhecimento.
Todos devemos estar novos e nosso ensinamento também deve ser de acordo com nova luz. A partir do capítulo 7, vimos que o Senhor Jesus é um cirurgião operando em nosso coração e expondo sua condição. Isso não é um entendimento novo e fresco do modo de o Senhor lidar com nosso coração?
Não quero ficar velho de maneira nenhuma. Também não quero ser limitado por velhas maneiras de expressar a verdade da palavra de Deus. Antes de 1949, nunca falamos sobre ser um Espírito com o Senhor e não usamos o termo “Espírito que dá vida”. Ademais, nunca mencionamos nada sobre o Espírito sete vezes intensificado. Todas essas são expressões novas entre nós.
Até mesmo a questão de invocar o nome do Senhor é nova, no que diz respeito à nossa prática. Quando estávamos na China, não enfatizamos isso. Alguns dizem que fui eu que inventei isso. Não inventei essa prática. No máximo, eu descobri essa questão na Bíblia. Já em Gênesis 4:26 o homem começou a invocar o nome do Senhor. Pela misericórdia do Senhor, Ele nos usou para descobrir essa questão, mas certamente não a inventamos. Muitos irmãos têm sido abençoados invocando o nome do Senhor. Mas mesmo isso deve ser novo e fresco.
Numa das mensagens anteriores vimos que a oração na verdade é questão de “não eu, mas Cristo”. Você já tinha ouvido isso? Posso testificar que esse entendimento sobre oração é novo para mim. Isso é outra ilustração da nossa necessidade de ser novos, jovens e frescos.
Tenha certeza de que no futuro coisas novas aparecerão e palavras e expressões impressionantes serão usadas. Mediante novos termos e novas expressões podemos receber mais luz e graça. Portanto, não vamos manter nossa velhice, mas sejamos renovados e refrescados diariamente.
O ENSINAMENTO ACERCA DOS RICOS E DA ENTRADA NO REINO DE DEUS
Em Marcos 10:21, o Senhor Jesus olhou para o homem que Lhe havia perguntado o que deveria fazer para herdar a vida eterna, e lhe disse: “Só uma coisa te falta: Vai, vende o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-Me”. Quando li isso, muitos anos atrás, fiquei perturbado. Como estudante, eu me preocupava, porque não seria capaz de cumprir o mandamento do Senhor sobre vender tudo. Gradativamente, estudando o Novo Testamento, comecei a ver que Paulo não orientou os coríntios a vender todas as posses e dá-las aos pobres. Paulo não lhes disse: “Coríntios, se vocês são sérios com o Senhor, precisam vender tudo o que têm e dar aos outros”. Em nenhum dos escritos de Paulo temos tal palavra. Contudo Paulo enfatiza, sim, o fato de que nenhum dos crentes deve estar debaixo da escravidão das riquezas. Não devemos estar escravizados às riquezas, de nenhuma forma. Pelo contrário, a escravidão às riquezas deve ser anulada. Não somos para as riquezas, mas as riquezas são para nós. Precisamos estar livres das coisas materiais e usar as riquezas para cumprir o propósito de Deus.
Naturalmente, como seres humanos, precisamos de dinheiro para viver. Porém nunca devemos ser escravizados por ele. O dinheiro não deve ser nosso senhor; pelo contrário, deve estar sob nossa administração e ser usado para o propósito de Deus. Se o dinheiro não estiver sob nosso controle e não for usado para o propósito de Deus, seremos escravos dele. Como resultado, não estaremos aptos a entrar no reino de Deus.
Se estivermos cheios de Cristo, seremos capazes de lidar com as questões de casamento, velhice e riquezas. Trataremos dessas três questões com Cristo. Isso significa que nelas fomos substituídos por Cristo a fim de entrar no reino de Deus.
Que fiquemos impressionados com o fato de que a melhor maneira de lidar com a vida conjugal é tomar Cristo como nosso substituto, e experimentar Sua morte e ressurreição. Da mesma forma, o melhor jeito de nos manter novos, frescos e jovens, é tomar Cristo mediante Sua morte e ressurreição. Além disso, o melhor modo de lidar com o dinheiro é Cristo com Sua morte e ressurreição. Sem Cristo com Sua morte e ressurreição, não teremos como lidar com estas três coisas: casamento, velhice e riquezas. A única maneira de lidar com elas adequadamente é ser substituídos por Cristo mediante Sua morte todo-inclusiva e Sua maravilhosa ressurreição.
NO CAMINHO PARA JERUSALÉM
Depois do capítulo 10 não há mais milagres de cura registrados nesse Evangelho. No final de Marcos 10, o mover do serviço evangélico do Salvador-Servo conclui com a cura de Bartimeu, um mendigo cego. Depois dessa cura, o Senhor Jesus e Seus seguidores foram para Jerusalém. o objetivo deles era entrar na morte, ressurreição e até mesmo ascensão. Os últimos seis capítulos de Marcos (de 11 ao 16) revelam como Cristo e Seus seguidores entraram na morte todo-inclusiva, na ressurreição maravilhosa e na ascensão esplêndida.
Como já enfatizamos em mensagens anteriores, enquanto o Senhor Jesus e os discípulos estavam a caminho de Jerusalém, Ele ensinou Seus seguidores a lidar com as questões de casamento, velhice e dinheiro. Cada uma dessas questões está intimamente relacionada com a entrada no reino de Deus. Os incidentes em Marcos 10:32-52 também aconteceram no caminho para Jerusalém.
Marcos 10:32a diz: “Estavam no caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante deles. Eles estavam pasmados, e os que seguiam atrás estavam com medo”. Aqui vemos que o Senhor Jesus era forte, intrépido e estava com pressa. Indo adiante dos discípulos, Ele tomou a dianteira em subir para Jerusalém com avidez. Seus seguidores estavam muito surpresos, talvez até chocados, por Sua intrepidez. Esse versículo diz que os que O seguiam estavam com medo.
Por que o Senhor Jesus era tão intrépido para subir a Jerusalém? A esse respeito, Lucas 9:51 diz: “E aconteceu que, estando para completar-se os dias para Ele ser levado para cima (para o céu), manifestou a firme resolução de ir para Jerusalém”. O rosto do Senhor estava firme como um seixo, pois Ele sabia que o tempo de Sua morte estava muito próximo. Aqui havia aproximadamente uma semana até o dia em que seria levado à morte. Ele não queria ser impedido, estorvado nem atrasado de forma alguma em Seu propósito de subir para Jerusalém. Se O atrasassem, Ele perderia o dia da Páscoa, o dia em que deveria morrer como Cordeiro de Deus. Por essa razão era tão intrépido, andando na frente de todos os discípulos no caminho para Jerusalém.
A TERCEIRA REVELAÇÃO DA MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR
INCLUÍDOS NA MORTE DO SENHOR
O Senhor Jesus sabia que por meio da morte seria glorificado em ressurreição (Lc 24:25-26) e Sua vida divina seria liberada para produzir muitos irmãos para Sua expressão (Jo 12:23-24; Rm 8:29). Pela alegria que Lhe estava proposta, Ele desprezou a ignomínia (Hb 12:2) e voluntariamente entregou-Se aos líderes dos judeus usurpados por Satanás, e foi por eles condenado à morte. Por isso Deus O exaltou aos céus, assentou-O à Sua destra (Mc 16:19; At 2:33-35), concedeu-Lhe um Nome que está acima de todo nome (Fp 2:9-10), fê-Lo Senhor e Cristo (At 2:36) e com glória e honra O coroou (Hb 2:9).
A morte do Senhor Jesus em Jerusalém incluiu não apenas o próprio Senhor, mas também Seus seguidores. Na verdade, nós também fomos incluídos nela. Quando o Senhor entrou na morte todo-inclusiva, Ele introduziu Seus seguidores nessa morte com Ele. É importante ter essa visão ao considerar o restante do capítulo 10, e os últimos seis capítulos de Marcos.
Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, todos os crentes morreram com Ele. Segundo o relato de Marcos, podemos ver que especialmente Pedro, João e Tiago foram levados à morte com Ele. Ele propositadamente introduziu os três e os outros com Ele na morte. Por isso, podiam ter parte em Sua ressurreição e até mesmo ser testemunhas de Sua ascensão.
No dia de Pentecostes, dez dias após a ascensão do Senhor, o Espírito, que é na verdade o próprio Senhor, foi derramado sobre todos os que entraram na morte de Cristo, tiveram parte em Sua ressurreição e viram Sua ascensão. Com Cristo, como Espírito que dá vida, derramado sobre eles, eles podiam perceber na experiência que de fato estavam na morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Consequentemente podiam aplicar a crucificação, ressurreição e ascensão do Senhor a seu viver. Por isso, no dia de Pentecostes, Pedro e os cento e vinte eram pessoas na morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Eram um com Cristo e na realidade eram Sua corporificação. Naquele dia eles viviam Cristo. Todos precisamos ver esse quadro maravilhoso.
Não foi por acaso que no dia de Pentecostes os cento e vinte foram testemunhas do Cristo crucificado, ressurreto e ascendido. Todos O tinham seguido e passado com Ele pela morte e ressurreição. Também viram Sua ascensão. No dia de Pentecostes estavam na realidade da morte, ressurreição e ascensão de Cristo.
A CEGUEIRA DOS SEGUIDORES DO SENHOR
Os incidentes registrados em Marcos 10:35-45 provam que os discípulos do Salvador-Servo estavam cegos com respeito à visão de Sua morte e ressurreição. Imediatamente depois que Ele as revelou pela terceira vez, Tiago e João vieram a Ele e disseram: “Mestre, queremos que nos faças o que Te pedirmos” (v. 35). O Senhor Jesus lhes perguntou: “Que quereis que Eu vos faça? Responderam-Lhe: Concede-nos que na Tua glória nos assentemos um à Tua direita e outro à Tua esquerda” (vs. 36-37). Esse pedido expõe o fato de que João e Tiago ainda eram filhos do trovão naturais. Certamente não haviam sido substituídos por Cristo nem tinham sido crucificados e introduzidos na ressurreição do Senhor. Segundo o relato de Mateus, foi a mãe dos filhos de Zebedeu que fez esse pedido (Mt 20:20-21). Ela era irmã de Maria, mãe de Jesus, portanto era tia Dele. Assim, podemos ver que Tiago e João eram primos de Jesus. Pode ter sido com base no relacionamento natural próximo que eles Lhe pediram um favor: sentar à Sua direita e à Sua esquerda na glória. O Senhor tinha dito aos discípulos que estava para morrer, mas eles tinham a ambição de sentar à Sua direita e à Sua esquerda. O pedido deles era totalmente natural.
O CÁLICE DO SENHOR E SEU BATISMO
Pela resposta do Senhor, podemos ver que os que querem sentar à Sua direita e à Sua esquerda em Sua glória devem estar preparados para “beber o cálice do sofrimento". Sofrer a cruz é o modo de entrar no reino (At 14:22). O pedido egoísta de João e Tiago proporcionou ao Senhor a oportunidade de revelar o modo de entrar no reino.
Quando Tiago e João disseram ao Senhor Jesus que eram capazes de beber Seu cálice e ser batizados com Seu batismo, Ele lhes disse: “Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis batizados com o batismo com que Eu sou batizado; porém, o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles para quem está preparado” (vs. 39-40). Aqui vemos que o Senhor Jesus permaneceu na posição de homem. Nessa posição, Ele era totalmente submisso ao Pai. Não assumiu o direito de fazer qualquer coisa fora do Pai.
A MANEIRA DE ENTRAR NO REINO DE DEUS
O SERVO DE DEUS SERVE AOS PECADORES
MENDIGOS CEGOS
AMBIÇÃO E CEGUEIRA
Em Marcos 10:46 é-nos dito que o Senhor Jesus e os discípulos vieram a Jericó, lugar de maldição. Foi de acordo com a soberania de Deus que chegaram ali.
Marcos 10:32 diz: “Estavam no caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante deles. Eles estavam pasmados, e os que seguiam atrás estavam com medo”. O Senhor andava ousadamente adiante dos discípulos, e eles estavam pasmados e até mesmo com medo. Enquanto estavam a caminho, Ele lhes disse que ia para Jerusalém a fim de levar a cabo uma morte todo-inclusiva, que poria fim aos discípulos e os introduziria na ressurreição. Como já ressaltamos, visto que os discípulos estavam cegos, não conseguiam entender a palavra do Senhor a respeito de Sua morte, mesmo depois que Ele a revelara pela terceira vez.
Antes de chegar a Jerusalém, cidade de paz, eles chegaram a Jericó, cidade de maldição. É muito significativo que, perto de Jericó, encontrassem um cego: “Ao sair Ele de Jericó, com os Seus discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, mendigo cego, filho de Timeu, estava assentado à beira do caminho.” (Mc 10:46). Esse cego, como aquele em Marcos 8:22, representa alguém que perdeu a visão interior, alguém espiritualmente cego (At 26:18; 2Pe 1:9).
Podemos dizer que cegueira é a pior maldição. Quando alguém está cego, está amaldiçoado. Ademais, cegueira é questão de trevas e trevas é resultado de pecado e morte. Portanto cegueira indica trevas, que são uma composição de pecado e morte. Onde houver cegueira, ali há trevas, e onde houver trevas, há pecado e morte.
Embora os discípulos do Senhor Jesus já O seguissem por mais de três anos, no capítulo 10 de Marcos eles ainda estavam cegos. Isso significa que, estando em cegueira, estavam em trevas, e pecado e morte estavam presentes. Assim necessitavam de visão clara do que o Senhor Jesus iria fazer em Jerusalém, a visão de que Ele iria entrar na morte a fim de pôr fim à situação de maldição. Sua morte eliminaria a cegueira, as trevas, o pecado e a morte, e introduziria as pessoas na ressurreição. Portanto foi devido à soberania de Deus que o Senhor Jesus e os discípulos vieram a Jericó, lugar onde havia um cego.
O caso de Bartimeu, o mendigo cego, indica que todos os discípulos estavam cegos. A ambição deles por posição era sinal de sua cegueira, e também de que ainda estavam debaixo da maldição. É muito significativo que, logo depois que João e Tiago fizeram o pedido de sentar à direita e à esquerda do Senhor Jesus em Sua glória, todos vieram a Jericó, cidade de maldição.
A MORTE COMO PORÇÃO E COMO PROCESSO
Quando Tiago e João pediram para sentar à direita e à esquerda do Senhor Jesus, Ele lhes disse: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo, ou ser batizados com o batismo com que Eu sou batizado?” (Mc 10:38). Vimos que tanto o cálice como o batismo se referem à morte do Salvador-Servo (Jo 18:11; Lc 12:50). O cálice indica que Sua morte foi a porção dada a Ele por Deus, porção que Ele tomou para redimir os pecadores para Deus. O batismo denota que Sua morte foi ordenada por Deus como caminho que Ele teria de percorrer para realizar a redenção.
Em Marcos 10:40, o Senhor Jesus ainda disse a João e Tiago: “O assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda, não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles para quem está preparado”. Aqui o Senhor parece dizer: “Vocês Me pedem para sentar à Minha direita e à Minha esquerda, mas Eu não tenho a posição para lhes dar esses lugares, pois Eu mesmo sou um Servo. Vocês devem pedir isso ao Meu Senhor. Não venham a Mim com esse pedido; como Servo não posso fazer nada a esse respeito”.
A resposta do Senhor Jesus a João e Tiago expôs a ambição e independência deles, e ao mesmo tempo mostrou que Ele era totalmente dependente do Pai como Seu Senhor. Como Ele não era independente do Pai, não tinha base para dar posição a ninguém. Como servo, Ele sabia que só o Pai podia designar uma posição para alguém. Ademais, a resposta sábia do Senhor indicava que os discípulos estavam nas trevas, não sabiam o que pediam. Ao fazer esse pedido foram além dos limites, foram longe demais.
Vimos que no versículo 38, o Senhor Jesus perguntou a Tiago e João se podiam beber o cálice que Ele iria beber e ser batizados com o batismo com o qual Ele seria batizado. Quando Lhe disseram que podiam, Ele prosseguiu: “Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis batizados com o batismo com que Eu sou batizado” (Mc 10:39). Aqui o Senhor Jesus parecia dizer: “Vocês sabem que significa o cálice? Significa morte, e o batismo também significa morte. Vocês sabem qual é a porção de vocês? A porção de vocês não é uma posição; a porção de vocês é a morte. Vocês querem uma posição, mas posição não é o que precisam. Vocês precisam perceber que uma porção foi preparada para vocês, e não uma posição; essa porção é a Minha morte. Preciso morrer e vocês precisam morrer Comigo. Essa morte é também um batismo, um processo pelo qual preciso passar. Vocês irão passar por esse processo Comigo. Não tenho posição para vocês, pois não é Meu direito dar-lhes isso. A necessidade de vocês é tomar sua porção e passar por esse processo, ambos os quais se referem à morte”.
Qual é a sua porção na vida da igreja hoje? Será que é certa posição? é ser presbítero ou líder num grupo de serviço? Todos precisamos perceber que nossa porção na vida da igreja é a morte. Precisamos beber o cálice da crucificação, do término. Nossa porção na vida da igreja não é posição, mas é o término. Você quer ser presbítero? Se quiser, precisa ter fim. Quer ser líder num grupo de serviço? Se quiser, precisa ter fim. Nossa porção na vida da igreja é o término, e não posição.
Na igreja temos a morte não apenas como porção para beber, mas também como processo pelo qual temos de passar. Como aqueles que estão na vida da igreja, estamos no batismo da morte do Senhor. Passamos hoje pelo longo processo de morte.
Quando alguns ouvem sobre a porção e o processo de morte na vida da igreja, talvez digam: “Irmão, estamos com medo. Sua palavra nos amedronta”. Contudo não fui o primeiro a falar sobre o cálice e o batismo da morte. Foi o Senhor Jesus que disse que beberemos de Seu cálice e seremos batizados com Seu batismo. Como vimos essa palavra foi dada a João e Tiago, os filhos do trovão, que queriam sentar à direita e à esquerda do Senhor. Ele parecia dizer-lhes: “Vocês não sabem o que pedem. Em vez de estar à Minha direita ou à Minha esquerda, vocês precisam estar no Meu túmulo. Em vez de promovidos à Minha direita e à Minha esquerda, vocês serão enterrados Comigo. Tenho de beber o cálice, que se tornará seu cálice. Serei batizado no processo de morte, e vocês serão batizados no mesmo processo. Sem passar por esse processo, vocês não poderão entrar em Minha ressurreição”.
Vimos que Cristo é o substituto singular e seremos substituídos por Ele. Mas para isso precisamos passar pelo processo de Sua morte. Também, para entrar no reino de Deus, precisamos beber do cálice de Sua morte. Tanto o cálice como o batismo referem-se à morte de Cristo. Agora necessitamos tomar o cálice e passar pelo processo.
Hoje entre muitos cristãos o ensinamento a respeito da morte do Senhor, como nossa porção e o processo pelo qual devemos passar, tem sido negligenciado. Assim os crentes freqüentemente consideram o capítulo 10 de Marcos como um trecho de histórias. Mas o que temos aqui não é o mero relato de algumas histórias. Aqui o Senhor Jesus revela o que é a vida do reino e qual é o caminho para entrar nele.
O caminho para entrar no reino de Deus é tomar a porção da morte e andar pelo processo da morte. Isso é tomar a morte de Cristo como a nossa. Nosso testemunho deve ser que cada dia bebemos de Sua morte e andamos através dela. Então, poderemos dizer: “Agora não sou mais eu, mas Cristo. Hoje bebo Sua morte aniquiladora e ando através dela como processo”. Tomando essa porção e passando por esse processo é que estamos em ressurreição. Em ressurreição, não mais eu, mas Cristo é realidade.
A CURA DO MENDIGO CEGO
Se lermos Marcos 10:35-52 cuidadosamente veremos que os dois filhos do trovão eram um com o mendigo cego. Nossa base para afirmar isso é que o Senhor fez a mesma pergunta tanto para Tiago e João como para Bartimeu: “Que quereis que Eu vos faça?” e “Que queres que Eu te faça?” (vs. 36, 51). No entendimento do Senhor, os dois filhos do trovão eram iguais ao mendigo cego. Mas havia uma diferença fundamental: Tiago e João pediram da maneira errada e Bartimeu, da maneira correta. Tiago e João pediram para sentar à direita e à esquerda do Senhor, mas Bartimeu pediu para receber visão.
Cremos que, no significado espiritual, a cura da cegueira de Bartimeu foi também a cura da cegueira de Tiago, João e os outros discípulos. O Senhor não lhes deu posição à Sua direita ou à Sua esquerda, mas certamente queria curar a cegueira deles. Ele sabia que viera para ser a luz do mundo, por isso, desejava dar visão aos cegos.
LANÇAR FORA A VESTE DA POSIÇÃO
Em princípio, todos na vida da igreja precisamos lançar fora as “capas”. Se você considera o presbiterato uma posição, precisa lançar fora a capa do presbiterato. Igualmente os que desejam liderar algum grupo de serviço devem lançar fora a capa da liderança. Devemos lançar fora todas as capas de posição e nos importar apenas em receber visão espiritual. Assim como Bartimeu, todos necessitamos de visão.
Podemos dizer que o Senhor Jesus morreu a fim de que os que Nele crêem recebam visão. Morrendo com Ele, saímos da cegueira e entramos em Sua ressurreição. Então em ressurreição recebemos visão.
RECEBER VISÃO EM RESSURREIÇÃO
Depois da cura da cegueira em Marcos 10, os seguidores do Senhor Jesus estavam prontos para entrar em Sua morte. Entrando com Ele em Sua morte, também seriam capazes de entrar em Sua ressurreição.
Precisamos ser impressionados com o fato de que o Senhor Jesus não era o único que iria passar pela morte para estar em ressurreição e ascensão. Todos os Seus seguidores entrariam juntamente com Ele na morte, a fim de entrar em Sua ressurreição e ascensão. No capítulo 16 de Marcos temos uma cena gloriosa na qual todos os seguidores do Senhor Jesus entram em Sua ascensão, mediante Sua morte e ressurreição. Ao final do capítulo 10 os discípulos estavam qualificados e preparados para passar pela morte e ressurreição, a fim de estar com Ele em Sua ascensão.
Você já chegou ao final do capítulo 10 do evangelho de Marcos em sua experiência espiritual? Já recebeu a cura final, a cura da cegueira? Louvado seja o Senhor porque podemos dizer que nossa cegueira foi curada! Aleluia! não temos mais cegueira, trevas, pecado e morte! Agora estamos prontos para ir com o Salvador-Servo para a morte, passar por Sua ressurreição e entrar em Sua ascensão.
Jesus é o Senhor!