Evangelho de Marcos | Estudo 7
Leitura Bíblica: Marcos 6:1-56
UM QUADRO DE REJEIÇÃO
Primeiro, nos versículos 1 ao 6, o Senhor Jesus foi desprezado e rejeitado pelos nazarenos. Na verdade essa rejeição não O perturbou nem desapontou. Embora Ele os deixasse porque fora rejeitado por eles, isso não significa que estivesse desapontado ou desistira deles. O Salvador-Servo queria fazer algo pelos nazarenos, mas eles não queriam se abrir para Ele. O versículo 5 diz: “E não podia fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos”. A incredulidade dos nazarenos impediu o Senhor Jesus de fazer muitos milagres entre eles. Em vez de ficar desencorajado e desapontado pela rejeição dos nazarenos, o Senhor estava encorajado. Isso é provado pelo fato de, nos versículos 7-13, ter enviado os doze para fazer a mesma coisa que Ele fazia. Especialmente, “deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos” (v. 7). O Senhor designou os doze discípulos para fazer o que Ele fazia.
Nos versículos 14-29 temos o martírio do precursor do evangelho, João Batista. Humanamente falando, isso deve ter sido muito desalentador, mas na verdade o Senhor Jesus não estava desapontado nem mesmo com o martírio de João Batista. Depois desse temos o caso do alimentar e satisfazer cinco mil. A rejeição dos judeus em Sua terra não O desapontou, mas O encorajou a enviar os discípulos. Assim também, o martírio de Seu precursor não O desapontou; em vez disso, encorajou-O a alimentar mais pessoas.
Em Marcos 4:35-41 e 5:1-43 vimos como o reino de Deus atende à necessidade da condição humana. Como ressaltamos, a situação da sociedade é retratada nessa seção do Evangelho de Marcos. A sociedade, bem como cada ser humano individualmente, é cheia de “tempestades” de rebelião, demônios, indústria imunda (criação de porcos), enfermidade mortal e morte. Essa é a verdadeira situação do homem. Mas o Salvador-Servo nos trouxe o reino, que é a resposta à condição do homem caído. O reino subjuga a rebelião, expulsa demônios, purifica a indústria imunda, cura o enfermo e ressuscita os mortos. Em Marcos 4:35-41 e 5:1-43 vemos uma demonstração do reino de Deus atendendo às necessidades da sociedade. Que quadro maravilhoso!
Em Marcos 6 versículos 1 ao 44 apresenta outro quadro, no qual vemos rejeição, ódio e martírio. A despeito de quanta bênção seja introduzida pelo reino e pela pregação do evangelho, o mundo ainda odeia e rejeita o Salvador-Servo e os que trabalham com Ele. Em Marcos 6:1-44, portanto, vemos a atitude das pessoas do mundo em relação ao evangelho. Que fazer diante de tal atitude? Que fazer quando somos desprezados, rejeitados e odiados, e até mesmo alguns são mortos? ficar desapontados? parar de pregar as boas novas e parar nosso trabalho pelo reino? Certamente não! Em vez de ficar desapontados, devemos ficar encorajados pela atitude negativa demonstrada pelas pessoas do mundo em relação ao evangelho.
DESPREZADO PELOS NAZARENOS
Imediatamente depois de ter feito a maravilhosa obra de introduzir as bênçãos do reino, Ele foi à Sua terra. O versículo 1 diz: “Saiu Jesus dali e veio para a Sua terra, e os Seus discípulos O seguiram”. Os versículos 2 e 3 mostram que Ele foi desprezado e rejeitado pelos nazarenos: “Chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-O, ficavam atônitos, dizendo: Donde vêm a este essas coisas? Que sabedoria é essa que Lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por Suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não estão aqui entre nós Suas irmãs? E escandalizavam-se Dele”. Aqui vemos que os nazarenos conheciam o Salvador-Servo segundo a carne, e não segundo o Espírito (2Co 5:16). Eles estavam cegados pelo conhecimento natural.
O Senhor Jesus então lhes disse: “Não há profeta sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa” (v. 4). Essa palavra indica que, provavelmente, até mesmo alguns da própria casa do Senhor Jesus se uniram aos outros para desprezá-Lo e rejeitá-Lo.
Cumprimento de Profecia:
A palavra dos desprezadores cegos aqui pode ser considerada o cumprimento da profecia a respeito do Salvador-Servo em Isaías 53:2-3: “Como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens”. Isso era conhecê-Lo segundo a carne em Sua humanidade, e não segundo o Espírito em Sua deidade (Rm 1:4). Em Sua humanidade, Ele era uma raiz de uma terra seca, um rebento do tronco de Jessé e um renovo das suas raízes (Is 11:1), um Renovo a Davi (Jr 23:5; 33:15), o Renovo que era um homem e o servo de Jeová (Zc 3:8; 6:12), e segundo a carne veio da descendência de Davi (Rm 1:3). Em Sua deidade, Ele era o Renovo de Jeová para beleza e glória (Is 4:2), designado Filho de Deus com poder segundo o Espírito (Rm 1:4).
Uma Pessoa de Baixa Condição Social:
Apenas no Evangelho de Marcos o Senhor Jesus é chamado de carpinteiro. Os que O rejeitaram perguntaram: “Não é este o carpinteiro?”. Eles usaram a palavra carpinteiro em tom de desprezo. Eles estavam atônitos com Seu ensinamento, sabedoria e milagres. Mas O consideravam alguém de baixa condição social. Nas palavras de hoje, podem ter-se perguntado que qualificações, que diploma, Ele tinha.
O verbo escandalizar-se no versículo 3 indica que os nazarenos rejeitaram o Salvador-Servo. Por que se escandalizaram Nele? Por um lado ouviram palavras maravilhosas de Sua boca e viram alguns dos Seus feitos maravilhosos, mas, por outro, consideravam que Ele não tinha uma condição social elevada nem diploma. Viam-No apenas como carpinteiro. Por isso, escandalizavam-se Dele e O desprezavam.
O princípio é o mesmo hoje. Muitos cristãos se preocupam com a condição social ou com o diploma dos outros e querem saber dessas coisas. Alguns anos atrás tive uma conversa com certo pregador que se promovia muito. Ele me perguntou quantos entre nós tinham título de doutor. Não respondi nada. Meu silêncio era uma indicação de que não estamos preocupados em saber quantos irmãos na vida da igreja têm título de doutor. Ele então continuou a conversa gabando-se de quantas pessoas em seu grupo tinham doutorado. Isso é uma ilustração da preocupação dos cristãos hoje em dia a respeito da condição social e dos títulos.
Muitos dos que têm um título de doutor em teologia não têm muita experiência do Cristo vivo. Também não têm muito das riquezas de Cristo nem do conhecimento das profundezas das verdades na palavra de Deus. Seu entendimento da Bíblia, pelo contrário, pode ser bastante superficial.
As Riquezas de Cristo e as Profundezas da Verdade:
No capítulo 6 do Evangelho de Marcos vemos o Senhor Jesus como carpinteiro. Ele não tinha título nem condição social elevada. Mas certamente tinha as riquezas do Deus Triúno e também conhecia as profundezas da verdade nas Escrituras. Seus ouvintes estavam grandemente surpresos com Seu conhecimento bíblico.
Esse relato no capítulo 6 deve fazer com que perguntemos a nós mesmos o que queremos e a que damos valor. Será que queremos diploma elevado ou alta condição social? Na edificação do Senhor queremos Jesus e queremos as riquezas de Cristo. Em vez de querer as doutrinas superficiais da Bíblia, queremos as profundezas das verdades divinas na palavra de Deus. Queremos seguir o Senhor Jesus em ministrar as riquezas do Deus Triúno às pessoas e em apresentar-lhes as profundezas das verdades divinas nas Escrituras Sagradas. É isso que queremos e é isso que desejamos fazer.
Não devemos pensar que se temos as riquezas de Cristo e as profundezas da verdade, seremos sempre bem recebidos. Não, essa não é a era em que a verdade do Senhor será bem recebida na terra. Pelo contrário, essa é uma era na qual o Senhor e Seus discípulos são desprezados e rejeitados.
Ninguém pode ser comparado ao Senhor Jesus. Ele tinha as riquezas do Deus Triúno e as profundezas da verdade. Mas, a despeito de quão rico fosse e de quanto conhecesse a verdade nas Escrituras Sagradas, Ele foi desprezado e rejeitado em vez de bem recebido.
Embora o Senhor nos tenha mostrado algo das profundezas da verdade divina na Palavra, nós, que estamos na vida da igreja, na edificação do Senhor, não somos bem recebidos. Freqüentemente os que têm apenas um conhecimento superficial da verdade bíblica são os primeiros a nos rejeitar e a se opor ao que apresentamos. Alguns chegaram até a fazer falsas acusações contra nós. Mas embora nos acusem falsamente, desprezem e rejeitem, não estou desapontado. Pelo contrário, estou encorajado. Quando o Senhor Jesus foi rejeitado, Ele enviou os doze discípulos. Cremos que, quanto mais formos rejeitados, mais os santos da vida da igreja, na edificação do Senhor, sairão para pregar o evangelho, apresentar a verdade e ministrar vida às pessoas.
O ENVIO DOS DOZE DISCÍPULOS PARA PREGAR
Nos versículos 7 ao 13 temos o envio dos doze discípulos para pregar. De acordo com o versículo 7, o Senhor Jesus os chamou para Si e os enviou de dois em dois. Os versículos 12 e 13 diz: “Então, saindo eles, proclamavam que todos se arrependessem; expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo e os curavam”. Aqui vemos que os doze foram enviados para fazer três coisas: pregar, expulsar demônios, e ungir os enfermos e curá-los.
Expulsar Demônios Apresentando a Verdade:
Ao considerar as três coisas para as quais os doze foram enviados, perceberemos que correspondem a três questões: pregar o evangelho, apresentar a verdade e ministrar vida. O primeiro item, pregar o evangelho, é claramente o mesmo e não necessita de maiores comentários aqui. Contudo, precisamos ver a conexão entre expulsar demônios e apresentar a verdade.
Suponha que você diga a alguém: “Você está possuído por demônios e eu vim para expulsá-los”. Se você falar assim, ninguém irá dar-lhe atenção. Em princípio, a melhor maneira de expulsar demônios hoje é apresentar a verdade a partir da Palavra de Deus. Ao conversar com um incrédulo, pode apresentar-lhe a verdade a respeito da Pessoa e da obra de Cristo. Ao conversar com um cristão, pode apresentar-lhe uma verdade específica sobre a vida cristã. Por exemplo, você pode apresentar a verdade sobre a transformação. Ao fazê-lo, você pode dizer: “Vamos ler juntos 2º Coríntios 3 versículo 18”. Então, leia esse versículo: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Depois disso, você pode falar um pouco sobre a verdade da transformação. Certamente um cristão genuíno e sequioso será atraído pela apresentação de tal verdade.
Apresentar a verdade é expulsar demônios. A sociedade atual está cheia de demônios. Esses demônios podem ser comparados a germes. Precisamos apresentar a verdade como remédio que evita que os germes dos demônios se alastrem. Devemos apresentar, não apenas a verdade do crescimento em vida e transformação pela vida, mas até mesmo a verdade da salvação inicial.
Percebo que em alguns livros cristãos há certa quantidade de riquezas divinas. Mas na sua maior parte essas riquezas foram enterradas ou escondidas. Raramente foram tocadas pelos crentes. O resultado disso é que a situação geral entre os cristãos hoje é de pobreza espiritual. Por exemplo, muitos cristãos autênticos não sabem o que significa ser transformado. Nunca ouviram a verdade a respeito da transformação. Da mesma forma há muitos que não conhecem o verdadeiro significado de santificação. Nunca ouviram falar que a santificação verdadeira tem dois aspectos: o posicional e o disposicional. Talvez tenham apenas um entendimento geral sobre a santificação, não sabendo de fato o que significa ser santificado.
Um exemplo da pobreza com respeito à verdade divina é a afirmação de certo teólogo de que Cristo na verdade não estaria nos crentes, mas seria representado neles pelo Espírito Santo. De acordo com o conceito desse homem, o Espírito Santo é o representante de Cristo nos crentes. Esse ensinamento está bem distante da verdade das Escrituras. Isso é uma ilustração de como os “demônios” de hoje dominam, possuem a mente das pessoas e lhes cobre o entendimento.
Que faremos a respeito dessa situação? Precisamos espalhar, como remédio, todas as verdades que o Senhor nos tem mostrado na vida da igreja, em Sua edificação, e apresentá-las como “antídoto” aos germes demoníacos. Podemos testificar que cada verdade que o Senhor nos mostra na Palavra é um remédio útil para matar esses germes. Agora, de maneira adequada, precisamos apresentá-las aos outros.
Ao apresentá-las precisamos ser sábios. Não devemos dizer: “Você tem muitos germes e nós viemos com o remédio que irá matá-los”. Se falar assim, certamente as pessoas se levantarão contra você.
Nem sempre é sábio o médico dizer ao paciente o diagnóstico completo. Em vez de dizer aos outros que eles têm germes, devemos simplesmente apresentar-lhes o remédio da verdade sob a forma de comida espiritual nutritiva que irão receber e desfrutar. Ao ingeri-la, receberão o remédio de que precisam para eliminar os germes em seu interior.
Vamos usar a verdade sobre a santificação como ilustração. Você pode dizer a um irmão: “Você percebe que, de acordo com o Novo Testamento, a santificação tem dois aspectos? Na Bíblia temos a santificação posicional e a santificação disposicional”. Se apresentar adequadamente a verdade a respeito da santificação, as pessoas a receberão. Então talvez digam: “Sim, isso que você está me falando é verdade. Quando cri no Senhor Jesus, fui santificado posicionalmente. Agora vejo que, disposicionalmente, ainda não fui muito santificado. No que diz respeito à minha disposição ainda não sou santo; antes, em muitos aspectos ainda sou comum”.
Aprendamos a ser bons “garçons”, que servem aos outros o nutritivo alimento da verdade. Aprendamos a ser hábeis em apresentar as verdades bíblicas. Na situação de hoje, a maneira de expulsar demônios é apresentar a verdade às pessoas.
Ungir o Enfermo Ministrando Vida:
Vimos que todos na vida da igreja, na edificação do Senhor, devem sair para pregar o evangelho, apresentar a verdade e ministrar vida. Vimos que apresentar a verdade é expulsar demônios. Agora precisamos ainda ver que ministrar vida aos outros é igual a ungir os enfermos com óleo e curá-los.
Muitos de nossos irmãos cristãos estão espiritualmente enfermos pela falta de nutrição. Como podemos nutri-los? A melhor maneira é dar-lhes testemunho de nossa experiência de Cristo. Um testemunho autêntico de nossa experiência espiritual é a melhor comida.
Testificar aos outros é também ungi-los. A verdadeira necessidade hoje não é a imposição externa de mãos, praticada por muitos nos movimentos carismáticos e pentecostais. A necessidade é testificar de nossa experiência de Cristo. Você pode testificar como foi salvo e capturado pelo Senhor, como Ele o satisfaz, e como você O experimenta e desfruta dia a dia. Com tal testemunho, os outros receberão uma rica unção, por meio da qual serão supridos e curados espiritualmente. Assim, ministrar vida aos outros é nutri-los e ungi-los com nosso testemunho.
O Deus Triúno Torna-Se o Nosso Desfrute Diário:
Todos precisamos de mais experiências de desfrutar o Senhor. Então, precisamos testificar aos outros a respeito de nosso desfrute.
Para muitos cristãos pode soar estranha a questão de desfrutar o Senhor. Muitos nunca ouviram falar que é possível desfrutá-Lo. Talvez digam: “Como assim? você desfruta o Senhor”! Deus é grande e poderoso. Como podemos ousar desfrutá-Lo?”. Em vez de discutir sobre isso, simplesmente dê-lhes um testemunho de como o Deus Triúno se tornou seu desfrute diário. Esse testemunho os ungirá, nutrirá e alimentará.
Todos devemos seguir o Senhor e os doze quanto a pregar o evangelho, expulsar demônios e curar os enfermos. Espero que todos saiamos para pregar, expulsar demônios apresentando a verdade, e ungir e curar outros dando-lhes nosso testemunho. Dessa forma iremos alimentar os outros, ungi-los e ministrar-lhes vida.
Assim como os doze discípulos do Senhor pregaram, expulsaram demônios e ungiram os enfermos, nós hoje precisamos pregar o evangelho, apresentar a verdade a fim de expulsar os demônios e ministrar vida aos outros ungindo-os com nossos testemunhos da experiência de Cristo.
O MARTÍRIO DO PRECURSOR DO EVANGELHO
Não devemos pensar que, se pregarmos o evangelho, apresentarmos a verdade e ministrarmos vida, seremos bem recebidos. Não. Assim como João Batista, o Senhor Jesus e os discípulos, nós também devemos esperar ser rejeitados.
Depois de rejeitado pelos nazarenos, Ele enviou os doze discípulos. Então, depois do envio dos doze, João Batista, o precursor do evangelho, foi martirizado. O martírio de João Batista denota o ódio de Satanás para com o fiel precursor do Salvador-Servo, expresso mediante as trevas e injustiça das pessoas do mundo que estavam no poder.
Como foi que João Batista foi executado? Essa execução foi levada a cabo a pedido de Herodias. Marcos 6:17-19 nos diz que Herodes “mandara prender a João e atá-lo no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto se casara com ela. Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão. De modo que Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas não podia”. João foi assassinado pela política trevosa, pelas trevas dos que estavam no poder. Em Herodes não havia justiça: ele havia cometido fornicação com Herodias, mulher de seu irmão, e ela odiava João Batista.
Herodes sabia que João era homem justo e santo, e até certo ponto tinha consideração por ele. “Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo, e o tinha em segurança. E quando o ouvia, ficava muito perplexo, contudo o escutava com prazer” (Mc 6:20). Certamente era injusto esse homem justo e santo estar atado na prisão.
O versículo 21 diz: “Chegando um dia oportuno, em que Herodes no seu aniversário deu um banquete aos seus dignitários, aos oficiais militares e aos principais da Galiléia”. Durante esse banquete, a filha de Herodias entrou e dançou, agradando a Herodes e aos que se reclinavam com ele à mesa. Drogado e enganado pela dança dela, Herodes lhe disse: “Pede-me o que quiseres e eu te darei” (v. 22). Seguindo as instruções da mãe, Herodias, ela pediu a cabeça de João Batista. Assim, como resultado de ódio, trevas e da indulgência para com a concupiscência, o justo e santo precursor do evangelho foi levado à morte. Esse é um quadro vívido da rejeição do mundo ao evangelho.
Em Marcos 4:35-41 e 5:1-43 temos uma figura da sociedade humana atual. De acordo com essa figura, a sociedade está cheia de rebelião, demônios, indústria imunda, doença e morte.
Em Marcos 6 versículos 1 ao 29 vemos outro quadro: de rejeição, injustiça e ódio para com o evangelho e para com os que o pregam. Considerando isso, não devemos esperar ser bem recebidos pelo mundo. Nunca devemos esperar ser honrados ou ser levados em alta conta. Não pode haver tal coisa para os que servem o Senhor no evangelho. Se formos fiéis ao Senhor em Seu ministério, seremos desprezados e sofreremos rejeição, injustiça, ódio e talvez até martírio. Contudo não devemos ficar desapontados com isso. Pelo contrário, devemos estar encorajados.
ALIMENTOU CINCO MIL
Depois que o precursor do evangelho foi martirizado, o Salvador-Servo disse aos Seus discípulos: “Vinde vós, à parte, a um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6:31). A fim de poderem descansar “foram sós no barco para um lugar deserto”. Contudo, grande multidão os seguiu. Por um lado, nesse capítulo temos rejeição, ódio e injustiça; por outro, a multidão continuava a seguir o Senhor.
O versículo 34 diz: “Saindo Jesus, viu uma grande multidão, e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”. Sua expressão de compaixão demonstra a virtude do Salvador-Servo em Sua humanidade. Essa virtude foi levada a cabo pelo poder de Sua deidade.
Quando os discípulos sugeriram ao Senhor que despedisse a multidão, Ele respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (vs. 35-37). O Salvador-Servo tinha compaixão do povo e queria alimentá-lo.
Cinco Pães e Dois Peixes:
Todos sabemos que o Senhor Jesus usou cinco pães e dois peixes para alimentar cinco mil homens (Mc 6:38-42). João 6:9 nos diz que esses cinco pães eram de cevada. Em tipologia, cevada significa o Cristo ressurreto (Lv 23:10). Assim, os pães de cevada representam Cristo em ressurreição como comida para nós. Os pães procedem da vida vegetal, o que representa o aspecto gerador da vida de Cristo, mas os peixes são da vida animal, o que representa o aspecto redentor de Sua vida. Para satisfazer nossa fome espiritual, precisamos da vida geradora de Cristo e também da Sua vida redentora. Ambos os aspectos são representados por pequenos itens: pães e peixes.
Oferecer o que Temos:
Os cinco pães e dois peixes também indicam que tudo o que tivermos recebido do Senhor precisamos trazer para Ele, a fim de que se torne grande bênção para muitos outros. O Senhor freqüentemente usa o que Lhe oferecemos para suprir a necessidade de outros.
Não devemos menosprezar nossa experiência e dizer: “Não temos muito do Senhor. Não experimentamos muito Dele”. Veja o que o Senhor pôde fazer com cinco pães e dois peixes. Ele não exige mais do que temos. Se Lhe dermos o que temos, Ele o abençoará. Quando Lhe apresentamos o que temos, Ele derrama a bênção, concedendo Sua bênção ilimitada sobre o que Lhe apresentamos.
O versículo 43 diz: “E recolheram doze cestos cheios dos pedaços de pão e dos peixes”. Aqui vemos o resultado da bênção do Senhor. Isso não somente demonstrou o poder da deidade do Salvador-Servo como Criador, que chama à existência as coisas que não existem (Rm 4:17), mas também representou o suprimento abundante e inesgotável de Sua vida divina (Ef 3:8; Fp 1:19).
Tenho encargo de que você seja impressionado com os quadros em Marcos 4:35-41; 5:1-43; 6:1-44. Não devemos ficar perturbados nem desapontados pelo fato de que o número de irmãos na vida da igreja, na edificação do Senhor, neste país ainda é bastante pequeno. É nosso destino que sejamos desprezados e rejeitados. Podemos até dizer que Deus nos predestinou para isso. Até mesmo Jesus, o Homem-Deus, foi desprezado e rejeitado. Se Ele foi rejeitado, então não devemos esperar nada diferente. Além disso, o precursor do Senhor Jesus, João Batista, que foi um marco na história, foi aprisionado e martirizado. Se isso aconteceu com João Batista, não devemos esperar nada melhor deste mundo maligno.
Não devemos ficar amedrontados pelo fato de que é nosso destino ser rejeitados, odiados, aprisionados e mesmo martirizados. Em vez de ficar desencorajados em tomar o Caminho do Senhor em Sua edificação, devemos ser encorajados a apresentar o que temos ao Senhor . Talvez tenhamos só cinco pães e dois peixes, mas podemos dar isso a Ele para que os abençoe. Se dermos ao Senhor o que temos, Ele concederá Sua bênção sobre o que Lhe oferecemos. O resultado será que outros serão alimentados e satisfeitos, e sobejarão doze cestos.
Não importa quanta rejeição, ódio e injustiça possa haver; temos a vida do reino hoje. Nessa vida as pessoas são curadas, nutridas, alimentadas e satisfeitas, e há sobejo abundante. Esse é um quadro preciso da vida da igreja hoje.
UM RETRATO DA VIDA DA IGREJA
A vida da igreja é retratada pelos quadros em Marcos 4:35-41; 5:1-43 e 6:1-44. No primeiro quadro temos tempestades, demônios, porcos, doença e morte. Mas, em meio a tal situação deplorável, o Salvador-Servo vem para subjugar a rebelião, expulsar os demônios, purificar a indústria imunda, curar a enfermidade e ressuscitar os mortos. Como resultado, todos somos curados, vivificados e ressuscitados.
De acordo com o segundo quadro, seremos desprezados e experimentaremos rejeição, ódio, injustiça e martírio. Contudo, mesmo em tal situação, a multidão é satisfeita. Todos são alimentados e estão felizes. Nós oferecemos tudo que temos ao Senhor e então recebemos Dele muito mais do que ofertamos. Essa é a vida do reino, a vida da igreja. Somos muito abençoados por poder estar na vida do reino hoje. Embora pareça que perdemos tudo, na verdade, no Senhor ganhamos tudo.
No capítulo 4 de Marcos temos a semente do reino. Numa das mensagens anteriores consideramos a história do crescimento e desenvolvimento dessa semente. Vimos que, do ponto de vista de Deus, o reino é o desenvolvimento Dele mesmo como semente plantada em nós. Mas, do ponto de vista de Satanás, o reino é o subjugar da rebelião. Esse é o significado de o relato do subjugar do temporal no capítulo 4 vir imediatamente depois do ensinamento do Senhor a respeito do reino de Deus. Então, no capítulo 5, temos a demonstração do reino quando o Salvador-Servo expulsou demônios, purificou a indústria imunda e curou a doença mortal. Pela vinda de uma Pessoa, Jesus Cristo, Deus encarnado, cinco categorias de coisas negativas são eliminadas: rebelião, demônios, indústria impura, enfermidade e morte. Louvado seja o Senhor por esse quadro maravilhoso do reino de Deus!
Um segundo quadro do reino está em Marcos 6 versículos 1 ao 44, em que vemos a atitude do mundo para com o Salvador-Servo. Por valorizar quem tem condição social elevada, as pessoas do mundo desprezam e rejeitam o evangelho de Deus. No registro sobre a execução de João Batista, vemos as trevas e a injustiça da política do mundo. Esse é de fato um quadro do mundo de hoje. O mundo despreza o evangelho de Deus e o rejeita. Mas o Senhor Jesus não ficou desapontado por isso. Em vez disso, como alguém rejeitado, Ele enviou os doze discípulos. E depois do martírio do precursor do evangelho, o Senhor ganhou os cinco mil, alimentou-os e os satisfez. Depois que o inimigo mata um, o Senhor gera cinco mil. Essa tem sido a história no mover do Senhor pelos séculos, e creio que também continuará a se repetir conosco.
ANDOU SOBRE O MAR
Em Marcos 6 versículos 45 ao 52 temos o relato do Salvador-Servo andando sobre o mar. Os versículos 45 e 46 diz: “Logo em seguida, compeliu Jesus os Seus discípulos a entrar no barco e ir adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto Ele despedia a multidão. E, tendo-se despedido deles, foi ao monte para orar”. O Senhor orou a fim de ter comunhão com Deus, buscando Sua vontade e prazer para Seu serviço evangélico. Ele não realizou esse serviço por Si mesmo e de acordo com a própria vontade, como alguém independente de Deus. Pelo contrário, levou a cabo o serviço evangélico de acordo com a vontade e o prazer de Deus, sendo um com Deus a fim de cumprir Seu propósito.
O versículo 48 diz: “E, vendo-os atormentados a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite veio ter com eles, andando sobre o mar; e queria passar-lhes adiante”. Em Marcos 4 versículo 38 o Salvador-Servo dormia num barco castigado por um temporal de vento que amedrontava Seus seguidores. Aqui Ele caminhava sobre o mar, enquanto eles, ao remar, estavam atormentados devido às ondas do mar. Esses incidentes mostram que o Salvador-Servo, como o Criador e Soberano do universo (Jó 9:8), não se perturbou por nenhuma circunstância e se preocupou com os problemas de Seus seguidores na jornada com Ele.
Quando viram o Senhor andando sobre o mar, os discípulos gritaram e ficaram atemorizados. Mas Ele lhes disse: “Tende ânimo! Sou Eu. Não temais! E subiu para junto deles no barco, e cessou o vento” (Mc 6:50-51). Esse milagre não apenas testifica que o Senhor é o Criador e Soberano dos céus e da terra, mas também indica que Ele se preocupa com as dificuldades de Seus seguidores enquanto eles O seguem. Quando temos o Senhor no barco o vento cessa. O relato dos dois milagres nesse capítulo implica que, enquanto Cristo estava sendo rejeitado, Ele e Seus seguidores estavam num lugar deserto e num mar tempestuoso. Em qualquer situação, Ele foi capaz de lhes suprir as necessidades e, em meio às adversidades, conduzi-los ao destino.
CUROU EM TODA PARTE
Em Marcos 6 versículos 53 ao 56 temos um breve registro do Salvador-Servo curando em toda parte. Ele e Seus discípulos atravessaram o mar e chegaram a Genesaré. Logo as pessoas O reconheceram e começaram a trazer-Lhe os enfermos. O versículo 56 diz: “Onde quer que Ele entrasse, nas aldeias, nas cidades ou nos campos, punham os enfermos nas praças, e rogavam-Lhe que os deixasse tocar ao menos a franja da Sua veste; e todos quantos O tocavam eram curados”. A veste de Cristo representa Seus atos de justiça e a franja representa o governo celestial (Nm 15:38-39). Dos feitos de Cristo celestialmente governados emana a virtude que se torna o poder de cura. Todos quantos O tocavam dessa forma eram curados.
Jesus é o Senhor!