Evangelho de Marcos | Estudo 8
Leitura Bíblica: Marcos 7:1-37; 8:1-26
FARISEUS E ESCRIBAS QUESTIONAM O SENHOR
Em Marcos 6 versículos 45 ao 52 temos um relato do Senhor Jesus andando sobre o mar. Então, em Marcos 6 versículos 53 ao 56 temos um registro do Senhor Jesus curando por toda parte. A situação naquele momento era maravilhosa. Ele e os discípulos tinham atravessado o mar tempestuoso e as pessoas em toda parte desfrutavam a cura que Ele proporcionava.
Então, de repente, certos “espiões” religiosos, certos fariseus e escribas, “reuniram-se a Jesus [...] vindos de Jerusalém” (Mc 7:1). Esses estudiosos, líderes da religião judaica, vieram ao Senhor Jesus propositadamente para espioná-Lo. Jerusalém ficava bem ao sul, e o Senhor Jesus estava no norte, na Galiléia. Contudo, os fariseus e os escribas percorreram todo esse caminho a fim de observar o que Ele fazia.
Marcos 7 versículo 2 diz que os fariseus e escribas que vieram espionar o Senhor Jesus viram “que alguns dos discípulos Dele comiam pão com as mãos comuns, isto é, por lavar”. Os versículos 3 e 4 explica que os fariseus, retendo a tradição dos anciãos, não comiam sem lavar cuidadosamente as mãos. Quando voltavam da praça, não comiam sem se lavar.
De acordo com o versículo 5, os fariseus e os escribas questionaram o Senhor Jesus: “Por que não andam os Teus discípulos conforme a tradição dos anciãos, mas comem pão com as mãos comuns?”. A palavra anciãos aqui, assim como no versículo 3, refere-se aos antigos, às pessoas de gerações anteriores. Os fariseus e escribas achavam que tinham base para criticar o Senhor Jesus, porque Seus discípulos praticavam algo contrário às tradições que os judeus tinham recebido dos antepassados.
A CONDIÇÃO INTERIOR DO HOMEM
Ao ler o Evangelho de Marcos, pode parecer-nos que o relato em Marcos capítulo 6 versículos 45 ao 56 e capítulo 7 versículos 1 ao 23 é meramente uma história. Nesse trecho é-nos dito como o Senhor Jesus passou pelo mar tempestuoso, curou muitas pessoas e foi questionado pelos fariseus e escribas. Contudo, se buscarmos o Senhor a fim de que Ele nos ilumine a respeito dessa seção, perceberemos que, por ocasião do capítulo sete, havia a necessidade de o Senhor lidar com a condição interior do homem. As coisas que aconteceram antes desse capítulo estão relacionadas com a situação humana exterior, e não interior. O evangelho, no entanto, é para todo o nosso ser. O problema da condição interior do homem é muito mais sério do que o da sua situação exterior. Na verdade, nossa condição interior é a raiz de todos os problemas.
Nos primeiros seis capítulos do Evangelho de Marcos muitas coisas são abordadas. Mas até esse momento não se havia tocado na condição interior da humanidade caída. Agora, no capítulo sete, ao ser questionado pelos fariseus e escribas, o Senhor Jesus teve a oportunidade de falar a respeito da situação interior do homem. A intenção dos fariseus e escribas era condenar o Salvador-Servo. Mas eles foram usados por Deus em Sua soberania, pois sem eles o Senhor Jesus talvez não tivesse tido a oportunidade de falar a respeito da condição interior do homem.
Os fariseus e escribas certamente não tinham intenção de tocar a situação interior do homem. Estavam preocupados com a formalidade exterior, com o lavar e limpar exterior. Não estavam nem um pouco interessados na condição interior do homem. No entanto, deram ao Senhor Jesus excelente oportunidade e até mesmo abriram caminho para Ele revelar a condição humana interior. O Senhor Jesus expôs esse assunto não apenas para os fariseus e escribas, mas também para a multidão e especialmente para os discípulos (Mc 7:17).
Em Marcos 7 versículos 1 ao 23 temos três grupos de pessoas: toda a multidão, incluindo os fariseus e escribas; parte da multidão (v. 14); e os discípulos do Senhor Jesus, Seus seguidores íntimos. O versículo 17 diz: “Quando entrou numa casa, deixando a multidão, os Seus discípulos O interrogaram acerca da parábola”. Então, o Senhor Jesus revelou-lhes plenamente a condição interior do homem. Por fim foram os seguidores íntimos do Senhor Jesus que receberam o benefício. Puderam ver claramente, não apenas a situação exterior do homem, mas também a sua condição interior.
Como Pessoa humano-divino, o Senhor Jesus cura a situação do homem. Essa cura não atinge apenas nossa doença exterior, mas especialmente a interior. A respeito disso, no capítulo sete do Evangelho de Marcos temos um passo importante no serviço evangélico do Salvador-Servo. Como já vimos, antes desse capítulo o serviço evangélico do Senhor dizia respeito a situação exterior do homem. Mas os fariseus e escribas, como opositores, deram-Lhe excelente oportunidade para tocar na condição interior do homem caído.
No capítulo 6 de Marcos vemos oposição e rejeição. Esse capítulo relata o martírio de João Batista, o precursor do Salvador-Servo. A causa desse martírio foi o ódio que Herodias tinha de João. No final desse capítulo, o Senhor Jesus atravessou o mar e, então, entrou numa terra onde as pessoas receberam Sua cura. Os discípulos do Senhor Jesus deviam estar felizes e empolgados com esses acontecimentos. Aonde quer que o Senhor Jesus fosse, davam-Lhe as boas vindas e pessoas eram curadas. Se estivéssemos entre os seguidores do Salvador-Servo naquele tempo, certamente estaríamos contentes com a situação.
Podemos dizer que os fariseus e escribas, no capítulo 7 de Marcos, eram opositores profissionais. Provavelmente, antes de descer de Jerusalém ao lugar onde o Senhor Jesus estava, foram treinados para espioná-Lo, a fim de ter alguma base para prendê-Lo e levá-Lo à morte. Os fariseus e escribas talvez tenham dito uns aos outros: “Esse é um diabo, precisamos livrar-nos dele. Precisamos achar algo que convença o governo romano a matá-lo”. Esses espiões profissionais treinados pensavam que tinham base para acusar o Senhor Jesus na questão de comer sem antes lavar as mãos. Na verdade, eles simplesmente abriram a porta para Ele falar a respeito da condição do coração do homem.
Podemos comparar o Senhor Jesus, no capítulo 7, a um cirurgião operando um paciente. Também podemos dizer que os opositores profissionais prepararam a “sala de cirurgia” para a “operação” do Senhor. Então, Ele abriu o coração do homem e expôs sua condição interior.
O SENHOR REPREENDE OS FARISEUS E ESCRIBAS
O Senhor Jesus disse aos fariseus e escribas: “Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me adoram, ensinando mandamentos de homens como ensinamentos” (vs. 6-7). Aqui o Senhor Jesus parecia dizer: “Vocês, hipócritas, só se preocupam com a situação exterior. Não se preocupam com a condição interior do homem. Lavar ou não as mãos antes de comer não significa nada. O que importa é a condição interior. Deixe-Me abrir o coração de vocês e expor a condição dele”. Nesse capítulo, o Senhor Jesus continua a expor a condição maligna do coração do homem caído.
Os fariseus e escribas vieram com o objetivo de achar uma falha no Senhor Jesus, mas o resultado foi que foram repreendidos por Ele. O Senhor Jesus é autêntico; Ele nunca finge. Por um lado Ele é bondoso e tem compaixão dos que O buscam, mas por outro, como indica o relato do capítulo 7, é franco com os opositores profissionais, chamando-os de hipócritas.
Nos versículos 8 e 9 o Senhor Jesus prosseguiu: “Deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens. [...] Habilmente pondes de lado o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição”. E também no versículo 13 Ele disse que eles estavam: “Destituindo assim a palavra de Deus de sua autoridade pela vossa tradição, que vós transmitistes; e fazeis muitas coisas semelhantes a essas”. Aqui o Senhor Jesus parecia dizer: “Vocês, hipócritas, vêm para achar falhas em Mim, porém Eu aproveito essa oportunidade para expô-los. Vocês perguntam por que Meus discípulos não guardam as tradições, mas Eu lhes pergunto por que vocês invalidam a Palavra de Deus por meio de suas tradições. Vocês servem a Deus com a boca, mas vou expor o que está em seu coração”.
Nos versículos 10 a 12 o Senhor Jesus disse aos fariseus e escribas: “Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte. vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é agora Corbã (isto é, oferta a Deus), não mais lhe permitis fazer coisa alguma por seu pai ou por sua mãe”. Com isso podemos ver que os fariseus e escribas não só estavam errados na questão de adoração a Deus, mas até mesmo na maneira de lidar com os pais. Quanto a honrar pai e mãe, eles invalidaram o mandamento de Deus guardando sua tradição.
A palavra corbã no versículo 11 vem da palavra hebraica qorban, uma oferta, um presente, significando qualquer coisa oferecida a Deus. Essa palavra é usada várias vezes nos sete primeiros capítulos de Levítico, a respeito dos diversos tipos de ofertas. Na verdade, a palavra oferta em português em Levítico 1-7 é a tradução da palavra hebraica qorban.
O Senhor Jesus repreendeu os fariseus e escribas pois estavam errados na questão de honrar os pais e cuidar deles. Na verdade, ensinavam os outros a negligenciar o honrar os pais e, ao fazer isso, invalidaram os mandamentos de Deus. A pessoa deve gastar um tempo para cuidar dos pais. Mas, de acordo com os fariseus e escribas, se essa pessoa fizesse um corbã a Deus, uma oferta a Deus, não havia necessidade de cuidar dos pais. No que diz respeito a essa tradição, o Senhor Jesus repreendeu energicamente os fariseus e escribas, dizendo-lhes que estavam destituindo a Palavra de Deus pela tradição deles.
A ousada repreensão do Senhor silenciou os opositores profissionais. Ele os havia exposto publicamente. Que vergonha para os fariseus e escribas, que eram versados na lei mosaica e provavelmente se consideravam superiores aos galileus! Mas na frente da multidão o Senhor os expôs e repreendeu, chamando-os de hipócritas. Ele disse que eles adoravam a Deus com a boca, mas o coração estava longe de Deus. Ele até mesmo os expôs porque invalidaram a lei de Deus, por tomá-la sem efeito. Ele os expôs não apenas por enganar a Deus, mas também por enganar os pais. Que repreensão séria! Por meio dela, os fariseus e escribas foram amordaçados. Sem dúvida, saíram de cena silenciosamente.
AS COISAS QUE CONTAMINAM O HOMEM
Depois que os fariseus e escribas desapareceram, o Senhor Jesus chamou a multidão a Si novamente e lhes disse: “Ouvi-Me todos e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que contamina o homem” (Mc 7:14-15). Aqui o Senhor Jesus está indicando que as coisas que contaminam o homem são as que saem do seu coração. Por isso não devemos ater-nos às coisas exteriores, porque não nos podem contaminar. Mas devemos estar muito atentos às coisas interiores, pois são as que nos contaminam.
O versículo 17 diz: “Quando entrou numa casa, deixando a multidão, os Seus discípulos O interrogaram acerca da parábola”. Como não haviam entendido a palavra do Senhor, os discípulos Lhe pediram que a explicasse. O Senhor disse: “Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para a latrina? (Ao dizer isso, tornou puros todos os alimentos.) [...] O que sai do homem, isso é o que contamina o homem” (vs. 18-20). De acordo com essa palavra do Senhor, o que contamina o homem é aquilo que sai do seu coração. Jeremias disse que a condição do coração do homem é incurável (Jr 17:9). O coração do homem caído é corrupto, cheio de germes contaminadores.
Nos versículos 21 e 22, o Senhor Jesus continua a fazer uma lista de coisas contaminadoras do coração do homem: “Porque de dentro, do coração dos homens, procedem os maus pensamentos, fornicações, furtos, homicídios, adultérios, avarezas, maldades, dolo, devassidão, inveja, blasfêmia, arrogância, insensatez”. Então no versículo 23 Ele conclui: “Todas essas coisas malignas procedem de dentro e contaminam o homem”. As coisas malignas que procedem de dentro são os resultados malignos da natureza caída e pecaminosa do homem (Rm 7:18). Precisamos aplicar essa palavra a nós mesmos e perceber que tudo que sai de nós contamina. Nada que tenha sua fonte em nós é puro. Naturalmente falando, somos uma constituição de coisas malignas.
É algo muito significativo que, no capítulo 7 de Marcos, o Salvador-Servo em Seu serviço evangélico analise a condição interior do homem. O Senhor Jesus fez isso em benefício dos discípulos, Seus seguidores íntimos. Ele queria que soubessem que qualquer coisa que procede do seu coração contamina os outros. O Senhor Jesus parecia dizer-lhes: “Cuidem para não contaminar os outros, e também cuidem para não ser contaminados pelos outros. Nenhum de vocês está limpo. Não importa quantas vezes lavem as mãos, vocês não vão conseguir limpar o coração. As coisas que os contaminam são as que estão no coração. Vocês precisam ver que tudo o que sai do coração é impuro e pode contaminar vocês e os outros”.
Ressaltamos que no capítulo 7 a oposição dos fariseus e escribas deu ao Senhor Jesus excelente oportunidade de expor a condição interior do homem, a condição do seu coração.
O versículo 15, o Senhor Jesus disse à multidão: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que contamina o homem”. Quando Ele entrou numa casa, os discípulos vieram perguntar-Lhe a respeito dessa palavra. Então o Senhor Jesus prosseguiu: “Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para a latrina? (Ao dizer isso, tornou puros todos os alimentos)” (vs. 18-19). No versículo 19, o Senhor Jesus se refere ao coração. No versículo 20 Ele continua: “O que sai do homem, isso é o que contamina o homem”. Depois disso o Senhor Jesus nos dá uma lista de algumas das coisas malignas que procedem do coração humano (vs. 21-22).
UMA CONSTITUIÇÃO DE COISAS MALIGNAS
Nos versículos 21-22, o Senhor Jesus diz: “Porque de dentro, do coração dos homens, procedem os maus pensamentos, fornicações, furtos, homicídios, adultérios, avarezas, maldades, dolo, devassidão, inveja, blasfêmia, arrogância, insensatez”. Aqui Ele define de que parte do homem procedem as coisas malignas: o coração. O coração humano é podre, corrupto. O coração do homem caído é tão corrupto que é incurável (Jr 17:9). Portanto, não devemos pensar que somos bons no coração. Talvez você seja bom exteriormente, mas não há nada de bom no coração. Por isso Paulo podia confessar que nele não habitava bem nenhum (Rm 7:18).
Nesse capítulo as profundezas da condição do homem são expostas pelo Salvador-Servo. Em nossa pregação do evangelho também devemos tocar na condição do coração humano. Porém, muitas pregações hoje deixam de fazê-lo.
Pela palavra do Senhor Jesus, no capítulo 7 de Marcos, precisamos ver qual realmente é a nossa condição interior. A verdadeira condição do nosso coração é que ele é uma constituição de coisas malignas. Como nosso coração é corrupto, nunca devemos pensar que ele é bom. Crer que ele é bom é ser enganado e crer em mentira. Todo o que pensa ter bom coração está enganado. Nosso coração é corrupto e não devemos confiar nem um pouco nele.
No versículo 21, o Senhor Jesus usou o verbo proceder. De acordo com esse versículo, maus pensamentos, fornicações, furtos, e homicídios procedem do coração do homem. O termo proceder indica continuidade. As coisas malignas não apenas vêm do coração humano, mas continuamente procedem dele, uma após outra.
Maus Pensamentos:
O primeiro item citado pelo Salvador-Servo que procede do coração do homem são maus pensamentos. Pensamentos, naturalmente, vêm da mente. O Novo Testamento nos diz que a mente do homem caído é reprovável (Rm 1:28). Como a mente humana é reprovável, nada que venha dela pode ser aceito ou justificado por Deus, pelo contrário, os pensamentos da mente caída do homem são condenados e rejeitados por Deus. Como nossa mente caída é reprovável, nossos pensamentos são malignos, a despeito de quão bons possam parecer.
Fornicações e Furtos:
Depois de maus pensamentos, o Senhor Jesus citou fornicações. Precisamos ser impressionados com o fato de que o Senhor não falou dessas coisas de maneira descuidada, pelo contrário, conhecendo a situação interior do homem, Ele fala de maneira cuidadosa sobre o que procede do coração humano. Primeiro vêm os maus pensamentos e depois fornicações. Isso indica que os maus pensamentos estão relacionados à fornicação.
O terceiro item no versículo 21 é furtos. Alguns podem contestar dizendo que nunca roubaram nada. Mas o fato é que todo mundo tem cometido furtos de uma maneira ou de outra. Na verdade, a própria fornicação é um tipo de furto, pois é obter algo impropriamente. Roubar é pegar algo ilegalmente. Em princípio, fornicação está nessa categoria, pois é seguir um caminho ilegal, não ordenado por Deus. Qualquer coisa tomada ilegalmente não só é furto, como também está no princípio da fornicação.
Embora sejamos salvos, filhos de Deus, nossa natureza caída, incluindo o velho coração, ainda está conosco. Em particular, as duas coisas malignas (fornicação e furto) estão “agachadas” atrás de nós, aguardando uma oportunidade de nos arruinar. Através dos séculos, muitos cristãos, inclusive pastores e ministros, caíram na armadilha da fornicação. Até mesmo muitos dos que amam o Senhor caíram nessa armadilha. Muitos desconsideraram o fato de que o coração é maligno, por isso não mantiveram a devida distância do sexo oposto e caíram em fornicação.
No sentido verdadeiro, a vida da igreja é uma vida social. Homens e mulheres freqüentemente têm contato uns com os outros. Devido ao perigo da fornicação, precisamos manter-nos a uma distância adequada do sexo oposto.
Gostaria de enfatizar que, embora tenhamos sido regenerados, de acordo com o ensinamento do Novo Testamento, a velha natureza permanece conosco. Nunca devemos esquecer-nos desse fato. Até o dia em que o corpo for redimido, transfigurado, a natureza caída estará conosco. Não importa quão santo você possa ser, você precisa perceber que ainda tem a natureza caída. É por isso que aconselho os santos a não ficar sozinhos num aposento com alguém do sexo oposto.
Aprecio e respeito muito este país. Contudo, me preocupo pelo fato de que homens e mulheres são livres demais no contato uns com os outros. Muitas mulheres não se dão conta do perigo de ser corrompidas. Se tivessem tal consciência, iriam manter distância adequada do sexo oposto.
Como mencionamos, na pregação do evangelho precisamos tocar a condição do coração do homem. Especificamente, precisamos expor o fato de que, em princípio, todas as pessoas caídas são fornicadores e ladrões. Quando eu pregava o evangelho na China, costumava dizer: “Vocês, damas e cavalheiros, parecem ser muito bons. Mas, suponham que eu pudesse tirar um raio-X daquilo que vocês são interiormente. Se eu fosse fazer isso, vocês não teriam coragem de permanecer aqui. Vocês sabem que, interiormente, são malignos e impuros. Talvez até ao ouvir essa mensagem vocês estejam pensando em coisas malignas. Vocês têm a aparência de damas e cavalheiros, mas em sua condição interior vocês são sujos”. É um fato que maus pensamentos procedem do coração do homem e estão relacionados com fornicação e furto.
É muito significativo que, no capítulo sete de Marcos, o Salvador-Servo em Seu serviço evangélico toque na condição interior do homem. Devemos lembrar que a palavra do Senhor Jesus em Marcos 7 versículos 21- ao 23 não é dirigida à multidão, mas a Seus seguidores íntimos. O Senhor Jesus ali parece dizer: “Pedro, João, Tiago, vocês todos precisam perceber que do coração procedem maus pensamentos, fornicações e furtos”.
Homicídios e Adultérios:
O próximo item mencionado pelo Senhor Jesus como procedente do coração do homem é homicídio. Muitos homicídios são cometidos devido à fornicação ou furto. Fornicação e furto freqüentemente resultam em homicídio. Então o Senhor Jesus passa a falar sobre adultérios. Há diferença entre adultério e fornicação. Se uma pessoa casada comete pecado com outra pessoa casada, isso é adultério. Mas, se uma pessoa solteira comete pecado com outra pessoa solteira, isso é fornicação. Aqui o Senhor Jesus fala a respeito da fornicação e também do adultério.
Avareza:
O Senhor Jesus a seguir fala sobre avareza. Paulo nos diz que conseguia vencer outras coisas, mas não a avareza (Rm 7:7-8). Ele conseguia guardar todos os Dez Mandamentos, menos o mandamento a respeito da cobiça. “Pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência.” (Rm 7:7-8). A razão por que Paulo não conseguia guardar o mandamento a respeito da cobiça é que esse mandamento está relacionado com a condição interior do homem, enquanto os outros se referem à conduta exterior. Cobiça, como as outras coisas malignas mencionadas pelo Senhor Jesus, procede da corrupção do coração humano.
Dolo e Devassidão:
No versículo 22, o Senhor Jesus continua, falando sobre maldade, dolo, devassidão, inveja, blasfêmia, arrogância e insensatez. A palavra grega traduzida por dolo também pode ser traduzida por fraude. Fornicação, adultério e devassidão pertencem a uma categoria. Já ressaltamos a diferença entre adultério e fornicação. Aqueles que são indulgentes com a fornicação ou com o adultério são pessoas devassas. O Senhor Jesus certamente conhece a real situação do homem, essa é a razão Dele usar essas palavras.
Inveja e Blasfêmia:
Podemos perguntar-nos o que a inveja tem a ver com o coração. Pode parecer-nos que o olho não pode estar no coração. Contudo, se considerarmos essa questão, veremos que às vezes em nosso coração podemos ter um olho maligno. De acordo com a palavra do Senhor Jesus, um olho maligno é algo que procede de nosso coração. No versículo 22, depois da inveja, temos blasfêmia. Inveja é para com os outros, mas blasfêmia é principalmente dirigida a Deus.
Arrogância e Insensatez:
Os dois últimos itens mencionados pelo Senhor Jesus são arrogância e insensatez. Arrogância é até mesmo mais forte do que orgulho. Insensatez aqui denota tolice. Muito do que procede de nosso coração é insensatez e tolice.
UM DIAGNÓSTICO DE NOSSA CONDIÇÃO INTERIOR
Nos versículos 21-22, o Senhor Jesus cita treze itens. Paulo dá uma lista bem mais longa em sua descrição da humanidade caída no capítulo um de Romanos. Mas os treze itens citados pelo Senhor Jesus são suficientes para descrever a verdadeira condição e situação do coração do homem caído. Precisamos perceber que todas essas coisas ainda estão em nosso velho e corrupto coração. É essa a condição de nosso coração descrita pelo Senhor Jesus em Marcos capítulo 7.
Quando jovem, eu amava o Evangelho de João porque fala sobre a vida. De acordo com João 10:10, o Senhor Jesus veio para que tivéssemos vida, e vida em abundância. Em Marcos podemos não encontrar o termo vida, mas nesse livro, se não temos a vida em terminologia, temo-la em realidade. Por exemplo, a semente em Marcos 4 implica vida. O Senhor veio plantar a semente do reino. Isso significa que veio infundir vida. Plantar a semente é infundir vida. O que temos em Marcos, portanto, é um relato a respeito da vida, escrito de maneira prática.
No capítulo 7, Marcos não apenas nos diz que o coração do homem é maligno. Falar assim seria doutrinário, o que ele faz é registrar a palavra do Senhor Jesus a respeito do que sai de nosso coração. Isso é lidar com o coração de maneira prática. Com isso podemos ver que Marcos não é um livro de doutrinas; mas de praticabilidade, de realidade.
No capítulo 7 de Marcos, o Senhor Jesus propositadamente cita as coisas malignas que saem de nosso coração. Nenhum de nós é exceção. Esse capítulo é extraordinário pelo fato de tocar a condição humana interior.
Em Seu serviço evangélico, o Salvador-Servo aproveitou a oportunidade concedida pelos opositores para expor, analisar e diagnosticar a condição interior do homem. Em Marcos 7:21-22 temos o diagnóstico da condição de nosso coração. Todo ser humano tem problema de coração, e o diagnóstico do Senhor Jesus da condição do coração humano se aplica a cada um de nós.
Concluindo o diagnóstico sobre o coração do homem, em o versículo 23 o Senhor Jesus diz: “Todas essas coisas malignas procedem de dentro e contaminam o homem”. As coisas malignas que procedem de dentro são os resultados malignos da natureza humana caída e pecaminosa (Rm 7:18). Essas coisas malignas não apenas estão no coração, mas também procedem e saem de dentro de nós. Isso significa que há uma procissão de coisas malignas que saem do coração humano, uma procissão que contamina.
Quando as pessoas do mundo voltam ao trabalho depois de um fim-de-semana, freqüentemente falam das coisas malignas com as quais foram indulgentes. A conversa delas é uma procissão de coisas malignas provindas do coração. Podem ser educadas e ter boas maneiras, mas do coração e por meio da boca sai uma procissão de coisas malignas e que contaminam.
O evangelho do Senhor Jesus é capaz de lidar com a condição do coração do homem. No capítulo 7 de Marcos, no entanto, temos apenas o diagnóstico; ainda não temos o tratamento de maneira positiva. Nesse capítulo o Senhor Jesus abre nosso coração do homem e o expõe, e então parece deixar-nos na “mesa de operação”. Mas o capítulo 7 não é o fim do livro. Nos demais capítulos de Marcos veremos como o Senhor Jesus é o especialista em coração, o qual conhece o coração humano e sabe como cuidar de sua condição.
O quadro retratado no capítulo 7 é bem diferente dos quadros nos capítulos anteriores. Antes do capítulo 7 temos quadros da sociedade, do mundo. Mas no capítulo 7 temos um quadro de nossa condição interior, da situação interior de nosso coração.
TRÊS QUESTÕES CRUCIAIS
Os Dez Mandamentos:
Se estudarmos Marcos 7:1-23 cuidadosamente veremos que a palavra do Senhor Jesus aqui, na verdade, abrange todos os Dez Mandamentos. O Senhor Jesus até mesmo usa a palavra mandamento no versículo 8: “Deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens”. Então, no versículo 9, Ele continua: “Habilmente pondes de lado o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição”. No versículo 13, Ele fala da palavra de Deus, ressaltando que os religiosos estavam destituindo a palavra de Deus por sua tradição. Nesse trecho de Marcos, os mandamentos são a palavra de Deus. Ao estudar esse trecho de Marcos, vemos que a palavra do Senhor Jesus se refere à adoração a Deus. Os primeiros quatro mandamentos estão relacionados com a adoração a Deus. O quinto é sobre honrar os pais. No versículo 10, o Senhor especificamente se refere a ele. O restante da palavra do Senhor Jesus aqui trata dos últimos cinco mandamentos, a respeito de fornicação, roubo, homicídio, falso testemunho e cobiça.
Se considerarmos esses itens como um todo, veremos que a conversa do Senhor Jesus com os fariseus e escribas, com a multidão e com os discípulos estava baseada nos Dez Mandamentos. O fato de os fariseus e escribas destituírem a palavra de Deus significava que estavam destituindo os Dez Mandamentos. É importante ver que, nessa seção de Marcos, os Dez Mandamentos são abrangidos pela palavra do Senhor.
A Tradição e o Coração do Homem:
Marcos 7:1-23 na verdade abrange três pontos cruciais: 1) mandamento do Senhor, a palavra de Deus; 2) a tradição do homem; e 3) a verdadeira condição do coração humano.
A condição do coração humano sempre é exposta pela Palavra de Deus, ou por Seus mandamentos. Mas a tradição humana sempre esconde a condição do coração. Por isso, onde quer que a tradição seja mantida, ali há hipocrisia. Em vez de expor a real situação humana, a tradição a cobre. O Senhor Jesus até mesmo disse que os fariseus e escribas “habilmente punham de lado o mandamento de Deus” a fim de manter sua tradição (Mc 7:9). Aparentemente as tradições são boas; na verdade são sutis e os que as retêm são hipócritas. Na religião, hoje, há muita hipocrisia, porque há muita tradição para esconder a verdadeira condição humana. Mas a palavra de Deus sempre expõe a situação interior do homem.
Nesse curto trecho de Marcos, os Dez Mandamentos são aplicados. O Senhor Jesus na verdade os repete e usa para expor a condição interior do homem. Enquanto isso os fariseus e escribas estavam preocupados com o lavar as mãos, sendo que nem há menção disso nos Dez Mandamentos. O que é importante na aplicação dos Dez Mandamentos não é que lavemos as mãos, e sim que adoremos a Deus com coração sincero, honremos aos pais e fielmente levemos a cabo as obrigações. Os mandamentos de Deus não expõem a sujeira nas mãos do homem; expõem a imundície no coração. Assim, o Senhor repete os Dez Mandamentos a fim de expor a verdadeira condição do coração humano. Encorajo você a olhar para esse trecho do Evangelho de Marcos de acordo com esses pontos.
O Evangelho de Marcos é progressivo, um relato da vida do Senhor Jesus na terra. Sem dúvida todas as coisas pelas quais Ele passou estavam debaixo da soberania de Deus, que arranjou o ambiente de forma que o Senhor Jesus experimentasse determinadas coisas ao viver na terra.
Até agora vimos o conteúdo do serviço evangélico do Salvador-Servo, as maneiras de levar a cabo esse serviço e os atos auxiliares para o serviço. Também vimos que, no capítulo 4, o Senhor Jesus falou categoricamente a respeito do elemento intrínseco do reino de Deus. Depois disso, exerceu Sua autoridade, a autoridade do reino, a fim de lidar com a situação exterior do homem. A respeito disso, temos em Marcos um quadro da sociedade humana. Também temos um quadro a mostrar a atitude das pessoas do mundo para com o evangelho do Senhor Jesus. Então, no capítulo sete, há uma mudança: em vez de lidar com a situação humana exterior, passa-se a lidar com a condição interior do coração.
Nessa mensagem consideraremos o caso da mulher siro-fenícia (Mc 7:24-30). Marcos 7:24 nos diz que o Senhor Jesus “partiu para os confins de Tiro”. Então uma mulher, cuja filhinha tinha um espírito imundo, veio e prostrou-se a Seus pés (v. 25). “A mulher era grega, de origem siro-fenícia”. Ela era síria de língua e fenícia de origem (cf. At 21:2-3). Visto que os fenícios descendiam dos cananeus, ela era cananéia (Mt 15:22). O que a tornou grega, se religião, casamento, ou outro fator, é difícil determinar. No Novo Testamento o termo grego é usado em relação ao mundo gentio. Essa mulher era uma gentia típica. Podemos dizer que era multiformemente gentia, pois era grega, siro-fenícia e cananéia, contudo, foi pedir ao Senhor Jesus que fizesse algo por ela: que expulsasse um demônio de sua filha (Mc 7:26).
Como essa mulher siro-fenícia era gentia, o Senhor Jesus lhe disse: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (Mc 7:27). Aqui Ele parecia dizer a ela: “Como gentia, você é um cachorrinho, e Eu não posso lançar o pão dos filhos para você. Você não está qualificada para ser filha; só está qualificada para ser gentia. Como preciso satisfazer primeiro os filhos, não lhes devo tomar o pão e lançá-lo para você”.
No capítulo 6 de João o Senhor Jesus disse claramente aos judeus que Ele é o pão da vida (Jo 6:35). Ele mostrou-lhes que é o pão de Deus, Aquele que “desceu do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6:33). Ele desceu do céu para ser o pão da vida a fim de satisfazer a fome do mundo. Embora isso seja claramente citado em João 6, não há tal menção nos Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos ou Lucas. Mas em Marcos 7:27 o Senhor Jesus usou a palavra pão. Disse que o pão devia primeiro ser dado aos filhos. Isso que o Senhor Jesus disse a respeito do pão dos filhos no versículo 27 indica que Ele não veio simplesmente para fazer milagres; veio para alimentar os filhos famintos. O que Ele aqui indica claramente é que, nos capítulos anteriores, Ele estava alimentando as pessoas.
Alimentar é dispensar. Em meu estudo da palavra grega para dispensação (oikonomía), aprendi que ela vem de uma raiz que significa distribuir comida. Um exemplo de alguém que distribuiu comida é José no Egito. Como alguém que distribuía comida às pessoas, ele era bom despenseiro. Essa administração era uma oikonomía, um dispensar do suprimento de comida.
Podemos dizer que o verdadeiro José é o Senhor Jesus, o Salvador-Servo. No capítulo 7 de Marcos, nós O vemos dispensando-Se como pão, como comida nutritiva. Ele Se dispensa como o elemento supridor de vida para satisfazer os famintos.
Quando uma mulher siro-fenícia, uma típica gentia, veio a Ele e Lhe pediu que expulsasse um demônio de sua filha, Ele Se abriu, a fim de que ela soubesse o que Ele era. Ele Se revelou a ela como pão. Ele a fez perceber que era pão para alimentar os filhos famintos e Se distribuía às pessoas como suprimento de vida.
Muitos dos que receberam benefício do ministério do Senhor Jesus não perceberam que, ao ministrar-lhes, Ele os alimentava. De forma semelhante, muitos cristãos hoje não percebem que o Senhor Jesus deseja distribuir-Se como pão. Alguns apreciam curas e milagres, mas alguma vez você já ouviu dizer que curas e milagres autênticos visam alimentar os famintos? Contudo é exatamente essa questão que é revelada pelo Senhor Jesus à mulher siro-fenícia. Em Sua conversa com ela, o Senhor revelou que o que Ele estava fazendo não era meramente realizar milagres, mas alimentar. Na realidade, Ele não estava realizando milagres; estava dispensando-Se como pão, como suprimento de comida.
Nas seções anteriores de Marcos, temos o conteúdo do serviço evangélico, as maneiras de levar a cabo o serviço, as ações que auxiliam no serviço, a palavra a respeito do elemento intrínseco do reino, um quadro da sociedade humana, um quadro da atitude das pessoas do mundo em relação ao evangelho e a exposição da condição do coração humano. Depois de tudo isso, precisamos ver em Marcos 7:24-30 que o Senhor Se distribui como suprimento de que todos necessitamos. Na verdade, não necessitamos de milagre nem mesmo de cura. Nossa verdadeira necessidade é pão, é o suprimento de vida. Portanto, o Senhor Jesus Se dispensa a nós como comida que nos dá vida.
Em Marcos 7:24-30 o Salvador-Servo dá um passo adiante para levar a cabo Seu serviço evangélico. Vimos que em Marcos 7:1-23 Ele usa os Dez Mandamentos para expor a condição do coração humano. Isso também foi um passo adiante em Seu serviço evangélico. Depois de dar esse passo, Ele continua mostrando que, em Seu serviço evangélico, Ele não estava meramente realizando milagres. Esse não era o significado interior de Seu serviço evangélico, e sim que Se distribuía como comida para nos alimentar com Sua rica vida.
O Senhor Jesus parecia dizer à mulher siro-fenícia: “Você pensa que precisa de Mim para curar sua filha, mas, na verdade, sua necessidade é que Eu seja seu pão. Também preciso dizer a você qual é sua posição: é a de um cachorrinho gentio. Como cachorrinho você não tem direito de desfrutar a porção dos filhos. Eu sou a porção dos filhos, e os filhos são os israelitas, o povo escolhido. Eu vim do Pai para alimentar Seus filhos”.
Alguma vez você já percebeu que Marcos revela o Senhor Jesus como nosso pão? Como o relato nesse evangelho é progressivo, indo passo a passo e subindo de um nível para outro, ele por fim nos conduz ao ponto crucial do Senhor Jesus como nosso pão.
Se não tivéssemos a palavra do Senhor sobre Si mesmo como pão dos filhos, não iríamos perceber que em Seu serviço evangélico Ele Se distribuía como pão. Não é muito difícil entender como o Senhor é o Médico, o Noivo e o Emancipador. É fácil conhecê-Lo dessas formas, mas quem iria imaginar que Ele é pão? Sim, como Homem-Deus, Ele é o Médico, o Noivo e o Emancipador. Mas agora vemos, por Sua resposta à mulher siro-fenícia, que Ele é o pão dos filhos. Que maravilhoso!
Vamos ler novamente o versículo 27: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. No grego cachorrinhos são cãezinhos de estimação, domésticos.
No versículo 28 temos a resposta da mulher siro-fenícia: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas das crianças”. Em sua resposta, ela parecia dizer: “Sim, Senhor, Tu estás certo. Não nego que sou um cachorrinho, mas até os cachorrinhos debaixo da mesa têm o direito de comer das migalhas das crianças”. A resposta dela indica que ela tomou a palavra do Senhor como base para Lhe pedir algo. Qual era a sua base? Era que ela era um cachorrinho, um cãozinho de estimação, debaixo da mesa. Segundo a palavra: grega utilizada, ela não era um cão selvagem, mas de estimação. Isso indica que, como gentia, ela era um dos “animais de estimação” de Deus. Podemos dizer que os gentios hoje também são os “cães de estimação” de Deus.
A mulher siro-fenícia usando a base correta podia dizer: “Senhor, posso ser um cachorrinho, mas não sou um cão selvagem, um vira-latas, sou um cãozinho de estimação que fica debaixo da mesa enquanto o Dono alimenta os filhos. Como sou Seu cachorrinho de estimação, Tu tens prazer em mim. Sim, Tu amas Teus filhos, mas também tens prazer em mim. Enquanto Teus filhos comem à mesa, Teu cãozinho está debaixo da mesa. Senhor, acaso não sou Teu cachorrinho de estimação? Não Te sou agradável? Não tenho lugar à mesa, mas certamente tenho lugar debaixo dela”.
Podemos dizer que a mulher siro-fenícia pegou o Senhor pela própria palavra Dele. Ele usou a expressão cachorrinhos. Imediatamente, como se estivesse esperando por essa palavra, ela disse: “Muito bem, Senhor! Tu disseste que sou um cachorrinho de estimação. Isso me é suficiente. Não preciso ser um filho à mesa. Desde que eu seja um cachorrinho de estimação debaixo da mesa, tenho a posição para comer as migalhas que caem”. Num sentido bastante concreto, em Marcos 7:24-30 o Senhor Jesus não era o pão sobre a mesa, mas estava debaixo da mesa. Precisamos lembrar-nos que esse incidente ocorreu nos distritos de Tiro, ao norte da terra santa, região que pode ser chamada de “debaixo da mesa”. A terra santa era a mesa, mas os judeus, como filhos “malcriados”, deixaram cair as migalhas debaixo da mesa. Como migalhas sob a mesa, o Senhor Jesus agora podia ser a porção dos cachorrinhos gentios.
Sabemos pelo versículo 29 que o Senhor Jesus disse à mulher siro-fenícia: “Por causa dessa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha”. Quando ela voltou para casa “achou a criança deitada na cama, e o demônio já tinha saído” (v. 30). Contudo, o ponto crucial aqui não é a expulsão do demônio da filha da mulher siro-fenícia, e sim que, em Seu serviço evangélico, o Senhor Jesus Se distribui às pessoas como pão e suprimento interior de vida.
A falta de percepção da necessidade do Senhor Jesus como pão, como suprimento de vida, talvez seja a maior deficiência do movimento pentecostal ou carismático. As pessoas nesse movimento talvez apreciem curas exteriores e milagres, mas podem não apreciar o Senhor como pão, para ser seu suprimento de vida interior. Mesmo se recebemos cura do Senhor, ainda precisamos Dele como suprimento de vida. Ter experiência de milagre sem receber o Senhor como suprimento interior de vida é vão. Entre os que enfatizam coisas miraculosas, pode haver algumas curas ou milagres autênticos, mas há muito pouca percepção de alimentar-se interiormente do Senhor como suprimento de vida. Precisamos perceber que, mesmo quando nos cura, o Senhor Jesus é nosso pão para nos suprir vida.
No capítulo 7 de Marcos, o Senhor Jesus Se abriu para a mulher siro-fenícia, a fim de que ela soubesse que Ele era sua comida. Ela precisava Dele, não apenas como quem iria curar-lhe a filha, mas especialmente como alimento, como pão para supri-lhe de vida interior.
A revelação em Marcos 7:24-30 é mais profunda do que nos versículos 1 ao 23. Na etapa do serviço evangélico relatada em Marcos 7:1-23, o Senhor Jesus expôs a verdadeira condição do coração humano, a fim de que soubéssemos qual é nossa necessidade, que não é exterior, e sim interior. Não precisamos do lavar exterior, mas de purificação interior, purificação do coração. Então em Marcos 7:24-30 o Senhor Jesus avança mais um passo, a fim de que vejamos que, se temos apenas purificação interior, ainda estamos vazios. Não é suficiente o coração estar limpo e purificado. Um coração limpo pode ainda estar vazio. Assim, além da purificação do coração, do lado negativo, precisamos do suprimento de pão, do lado positivo. Até mesmo mais do que do limpar, precisamos do Senhor Jesus como nosso pão. Essa revelação Dele como nosso pão é um passo à frente dado pelo Senhor para levar a cabo Seu serviço evangélico.
Até agora vimos o conteúdo do serviço evangélico do Salvador-Servo, as maneiras de levar a cabo esse serviço e os atos auxiliares para o serviço. Também vimos que, no capítulo 4, o Senhor Jesus falou categoricamente a respeito do elemento intrínseco do reino de Deus. Depois disso, exerceu Sua autoridade, a autoridade do reino, a fim de lidar com a situação exterior do homem. A respeito disso, temos em Marcos um quadro da sociedade humana. Também temos um quadro a mostrar a atitude das pessoas do mundo para com o evangelho do Senhor Jesus. Então, no capítulo sete, há uma mudança: em vez de lidar com a situação humana exterior, passa-se a lidar com a condição interior do coração.
A MULHER SIRO-FENÍCIA E O PÃO DOS FILHOS
Como essa mulher siro-fenícia era gentia, o Senhor Jesus lhe disse: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (Mc 7:27). Aqui Ele parecia dizer a ela: “Como gentia, você é um cachorrinho, e Eu não posso lançar o pão dos filhos para você. Você não está qualificada para ser filha; só está qualificada para ser gentia. Como preciso satisfazer primeiro os filhos, não lhes devo tomar o pão e lançá-lo para você”.
No capítulo 6 de João o Senhor Jesus disse claramente aos judeus que Ele é o pão da vida (Jo 6:35). Ele mostrou-lhes que é o pão de Deus, Aquele que “desceu do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6:33). Ele desceu do céu para ser o pão da vida a fim de satisfazer a fome do mundo. Embora isso seja claramente citado em João 6, não há tal menção nos Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos ou Lucas. Mas em Marcos 7:27 o Senhor Jesus usou a palavra pão. Disse que o pão devia primeiro ser dado aos filhos. Isso que o Senhor Jesus disse a respeito do pão dos filhos no versículo 27 indica que Ele não veio simplesmente para fazer milagres; veio para alimentar os filhos famintos. O que Ele aqui indica claramente é que, nos capítulos anteriores, Ele estava alimentando as pessoas.
ALIMENTAR E DISPENSAR
Podemos dizer que o verdadeiro José é o Senhor Jesus, o Salvador-Servo. No capítulo 7 de Marcos, nós O vemos dispensando-Se como pão, como comida nutritiva. Ele Se dispensa como o elemento supridor de vida para satisfazer os famintos.
Quando uma mulher siro-fenícia, uma típica gentia, veio a Ele e Lhe pediu que expulsasse um demônio de sua filha, Ele Se abriu, a fim de que ela soubesse o que Ele era. Ele Se revelou a ela como pão. Ele a fez perceber que era pão para alimentar os filhos famintos e Se distribuía às pessoas como suprimento de vida.
Muitos dos que receberam benefício do ministério do Senhor Jesus não perceberam que, ao ministrar-lhes, Ele os alimentava. De forma semelhante, muitos cristãos hoje não percebem que o Senhor Jesus deseja distribuir-Se como pão. Alguns apreciam curas e milagres, mas alguma vez você já ouviu dizer que curas e milagres autênticos visam alimentar os famintos? Contudo é exatamente essa questão que é revelada pelo Senhor Jesus à mulher siro-fenícia. Em Sua conversa com ela, o Senhor revelou que o que Ele estava fazendo não era meramente realizar milagres, mas alimentar. Na realidade, Ele não estava realizando milagres; estava dispensando-Se como pão, como suprimento de comida.
Nas seções anteriores de Marcos, temos o conteúdo do serviço evangélico, as maneiras de levar a cabo o serviço, as ações que auxiliam no serviço, a palavra a respeito do elemento intrínseco do reino, um quadro da sociedade humana, um quadro da atitude das pessoas do mundo em relação ao evangelho e a exposição da condição do coração humano. Depois de tudo isso, precisamos ver em Marcos 7:24-30 que o Senhor Se distribui como suprimento de que todos necessitamos. Na verdade, não necessitamos de milagre nem mesmo de cura. Nossa verdadeira necessidade é pão, é o suprimento de vida. Portanto, o Senhor Jesus Se dispensa a nós como comida que nos dá vida.
UM PASSO ADIANTE NO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALVADOR-SERVO
O Senhor Jesus parecia dizer à mulher siro-fenícia: “Você pensa que precisa de Mim para curar sua filha, mas, na verdade, sua necessidade é que Eu seja seu pão. Também preciso dizer a você qual é sua posição: é a de um cachorrinho gentio. Como cachorrinho você não tem direito de desfrutar a porção dos filhos. Eu sou a porção dos filhos, e os filhos são os israelitas, o povo escolhido. Eu vim do Pai para alimentar Seus filhos”.
Alguma vez você já percebeu que Marcos revela o Senhor Jesus como nosso pão? Como o relato nesse evangelho é progressivo, indo passo a passo e subindo de um nível para outro, ele por fim nos conduz ao ponto crucial do Senhor Jesus como nosso pão.
Se não tivéssemos a palavra do Senhor sobre Si mesmo como pão dos filhos, não iríamos perceber que em Seu serviço evangélico Ele Se distribuía como pão. Não é muito difícil entender como o Senhor é o Médico, o Noivo e o Emancipador. É fácil conhecê-Lo dessas formas, mas quem iria imaginar que Ele é pão? Sim, como Homem-Deus, Ele é o Médico, o Noivo e o Emancipador. Mas agora vemos, por Sua resposta à mulher siro-fenícia, que Ele é o pão dos filhos. Que maravilhoso!
ESTAR NA POSIÇÃO CORRETA
No versículo 28 temos a resposta da mulher siro-fenícia: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas das crianças”. Em sua resposta, ela parecia dizer: “Sim, Senhor, Tu estás certo. Não nego que sou um cachorrinho, mas até os cachorrinhos debaixo da mesa têm o direito de comer das migalhas das crianças”. A resposta dela indica que ela tomou a palavra do Senhor como base para Lhe pedir algo. Qual era a sua base? Era que ela era um cachorrinho, um cãozinho de estimação, debaixo da mesa. Segundo a palavra: grega utilizada, ela não era um cão selvagem, mas de estimação. Isso indica que, como gentia, ela era um dos “animais de estimação” de Deus. Podemos dizer que os gentios hoje também são os “cães de estimação” de Deus.
A mulher siro-fenícia usando a base correta podia dizer: “Senhor, posso ser um cachorrinho, mas não sou um cão selvagem, um vira-latas, sou um cãozinho de estimação que fica debaixo da mesa enquanto o Dono alimenta os filhos. Como sou Seu cachorrinho de estimação, Tu tens prazer em mim. Sim, Tu amas Teus filhos, mas também tens prazer em mim. Enquanto Teus filhos comem à mesa, Teu cãozinho está debaixo da mesa. Senhor, acaso não sou Teu cachorrinho de estimação? Não Te sou agradável? Não tenho lugar à mesa, mas certamente tenho lugar debaixo dela”.
O PÃO SOBRE A MESA E O PÃO DEBAIXO DA MESA
Sabemos pelo versículo 29 que o Senhor Jesus disse à mulher siro-fenícia: “Por causa dessa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha”. Quando ela voltou para casa “achou a criança deitada na cama, e o demônio já tinha saído” (v. 30). Contudo, o ponto crucial aqui não é a expulsão do demônio da filha da mulher siro-fenícia, e sim que, em Seu serviço evangélico, o Senhor Jesus Se distribui às pessoas como pão e suprimento interior de vida.
NECESSITAMOS DO SENHOR COMO SUPRIMENTO DE VIDA
No capítulo 7 de Marcos, o Senhor Jesus Se abriu para a mulher siro-fenícia, a fim de que ela soubesse que Ele era sua comida. Ela precisava Dele, não apenas como quem iria curar-lhe a filha, mas especialmente como alimento, como pão para supri-lhe de vida interior.
A revelação em Marcos 7:24-30 é mais profunda do que nos versículos 1 ao 23. Na etapa do serviço evangélico relatada em Marcos 7:1-23, o Senhor Jesus expôs a verdadeira condição do coração humano, a fim de que soubéssemos qual é nossa necessidade, que não é exterior, e sim interior. Não precisamos do lavar exterior, mas de purificação interior, purificação do coração. Então em Marcos 7:24-30 o Senhor Jesus avança mais um passo, a fim de que vejamos que, se temos apenas purificação interior, ainda estamos vazios. Não é suficiente o coração estar limpo e purificado. Um coração limpo pode ainda estar vazio. Assim, além da purificação do coração, do lado negativo, precisamos do suprimento de pão, do lado positivo. Até mesmo mais do que do limpar, precisamos do Senhor Jesus como nosso pão. Essa revelação Dele como nosso pão é um passo à frente dado pelo Senhor para levar a cabo Seu serviço evangélico.
A CURA DE UM SURDO-MUDO
Em Marcos 7:31-37 temos a cura de um surdo-mudo. Antes do capítulo sete, a maioria das curas no Evangelho de Marcos eram da pessoa toda. Por exemplo, a sogra de Pedro estava enferma com febre (Mc 1:30-31). Ela foi curada, e essa foi a cura de uma pessoa completa. Outro exemplo desse tipo de cura é a do paralítico (Mc 2:3-12). Quando ele foi curado, toda a sua pessoa o foi. O mesmo ocorreu na purificação do leproso (Mc 1:40-45). Mas em Marcos 7:31-37 não temos a cura de uma pessoa toda, em vez disso, temos a cura de órgãos específicos. Na verdade todas as curas depois de Marcos 7 são de órgãos específicos, e não de toda a pessoa. Essas curas são principalmente de três órgãos: olhos, ouvidos e língua.
Podemos dizer que em Marcos temos a seguinte seqüência no que diz respeito às curas: curas gerais, a exposição da condição do coração humano, o Senhor como pão, como suprimento de vida, e a cura de órgãos específicos. Essa também é a seqüência em nossa experiência espiritual. Quando fomos salvos experimentamos uma cura geral. Mais tarde, a condição de nosso coração foi exposta. Então, provavelmente, depois de entrar na vida da igreja, aprendemos a desfrutar o Senhor interiormente como nosso pão, como nosso suprimento de vida. Depois disso, temos a cura dos ouvidos, língua e olhos. Alguns que estão na vida da igreja há anos ainda necessitam da cura específica desses órgãos.
Incapaz de Ouvir a Voz de Deus e Falar por Ele:
Marcos 7:32 diz: “Então Lhe trouxeram um surdo, que falava com dificuldade, e Lhe suplicaram que impusesse a mão sobre ele”. Esse surdo-mudo representa alguém espiritualmente incapaz de ouvir a voz de Deus e louvá-Lo (Is 35:6) e falar por Ele (Is 56:10). A mudez dessa pessoa se devia à sua surdez. A salvação do Salvador-Servo, que traz a cura, é plenamente capaz de curar a surdez e mudez de alguém assim, cuidando primeiro dos ouvidos e depois tocando-lhe a língua.
Nos versículos 33 e 34 lemos: “Jesus, tirando-o da multidão, à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e, cuspindo, tocou-lhe a língua; e, erguendo os olhos ao céu, gemeu e disse-lhe: Efatá, que quer dizer: Abre-te”. A palavra grega traduzi da como pôs no versículo 33 também pode ser traduzida como meteu. O Salvador-Servo meteu os dedos nos ouvidos do surdo para tratar seu órgão auditivo (cf. Is 50:4-5; Jó 33:14-16), e tocou-lhe a língua com a saliva para ungir-lhe o órgão falante com a palavra que procede de Sua boca. Isso curou o surdo-mudo.
Um Retrato de Nossa Condição:
O surdo-mudo em Marcos 7:31-37 retrata nossa condição hoje. O versículo 32 nos diz que ele falava com dificuldade. Sua situação não é esta? nas reuniões da igreja você não fala com dificuldade? Creio que muitos entre nós admitem que têm dificuldade para falar nas reuniões. Portanto, o caso do surdomudo no capítulo sete descreve a necessidade de todos nós.
Freqüentemente surdez é a causa de mudez. Em muitos casos, alguém que é surdo também é mudo. A razão disso é que o falar baseia-se no ouvir. Uma criança aprende a falar ouvindo os outros. Por fim ela fala o que ouve. Por meio disso, podemos ver que a criança aprende a falar ouvindo. Podemos dizer que esse ouvir se torna seu falar.
Você sabe por que falamos com dificuldade nas reuniões? Porque somos descuidados em ouvir o falar do Senhor. Se formos mais cuidadosos ao ouvir, falaremos espontaneamente. Precisamos ter a prática de ouvir o falar do Senhor. Ao ouvir a Palavra do Senhor, ela penetrará em nosso ser e, assim, seremos capazes de falar fluentemente. Mas muitos não conseguem falar com facilidade, porque não ouvem adequadamente. Se atentarmos à maneira como ouvimos a Palavra de Deus, esse ouvir, por fim, se tornará nosso falar.
Às vezes os líderes na igreja encorajam os irmãos a falar nas reuniões. Mas quando alguns tentam falar parecem não ter nada a dizer. O problema está em seu ouvir. Sem ouvir a Palavra do Senhor, não temos o que dizer nas reuniões.
Alimentar, Ouvir e Falar:
A cura do surdo-mudo segue o relato a respeito do Senhor como o pão dos filhos. Isso indica que, depois de desfrutar o alimentar do Senhor, necessitamos de mais cura. Especificamente precisamos ser curados da surdez e mudez. A cura é outro passo, um passo adiante, para levar a cabo o serviço evangélico do Salvador-Servo.
Enfatizamos que Marcos é um livro progressivo. Passo a passo, vamos nos alimentar do Senhor para a cura da nossa surdez e mudez. Precisamos dizer: “Ó Senhor Jesus, obrigado pelo Teu alimentar. Tu me alimentas para me curar. Senhor, Teu alimentar visa curar minha surdez e mudez”.
Sem desfrutar o alimentar do Senhor, será muito difícil falar por Ele. Muitos podem testificar que antes de desfrutar o alimentar do Senhor na vida da igreja era difícil orar em público. Não apenas não tínhamos o ouvir adequado, o ouvir que se torna nosso falar; também não desfrutávamos o Senhor como comida. Mas, desde que viemos para a vida da igreja, nós O temos desfrutado como pão. O alimentar segue a exposição do coração e é seguido pela cura da surdez e mudez. De acordo com a seqüência em Marcos 7, depois do caso da mulher siro-fenícia, temos a cura do surdo-mudo.
Enfatizamos que falar depende de ouvir. Não devemos tentar falar sem ouvir a Palavra do Senhor. Se falarmos sem ouvir a Palavra do Senhor, nosso falar será sem sentido. Primeiro precisamos do ouvir adequado da Palavra do Senhor, então seremos capazes de falar. Precisamos ouvir a Palavra do Senhor com a intenção de falar, com a intenção de repetir o que ouvimos da Palavra do Senhor. Se todos ouvirmos dessa forma, muitos serão capazes de falar sem dificuldade nas reuniões da igreja. Visto que não somos mais surdos, já não temos dificuldades para falar.
Experimentar a Cura dos Ouvidos e da Língua:
É bastante fácil ser curado de maneira geral. Para experimentar essa cura, pode não ser necessário que o Senhor Jesus nos toque. Por exemplo, no capítulo cinco a mulher foi curada simplesmente tocando a orla de Suas vestes. Contudo, se queremos receber a cura específica dos ouvidos e da língua, precisamos que o Senhor nos toque de modo definido.
De acordo com o versículo 33, o Senhor Jesus tirou o surdo-mudo da multidão, à parte, meteu os dedos nos ouvidos dele e tocou-lhe a língua. Isso indica que, se queremos que os ouvidos sejam curados, precisamos que o Senhor nos tire para um lugar à parte. Então, em particular, Ele irá meter os dedos em nossos ouvidos e tocar nossa língua com saliva.
A cura dos ouvidos requer apenas que o Senhor meta os dedos neles. Mas para a cura da língua precisamos que algo que procede da boca do Senhor seja aplicado a ela. Isso significa que precisamos que nosso órgão da fala seja ungido com a palavra que procede da boca do Senhor.
Oh! como precisamos que o Senhor nos abra os ouvidos! Nossos ouvidos estiveram fechados para a Palavra do Senhor, para o falar de Deus, por muito tempo. Também precisamos que a essência de Sua Palavra seja aplicada à nossa língua. Não conseguimos falar, somos mudos, porque nos falta a “saliva”, a essência da Palavra que procede da boca de Deus. Nossa língua precisa ser tocada por essa essência. Precisamos deixar que a essência da Palavra do Senhor se torne um ungüento aplicado à nossa língua. Se deixarmos o Senhor nos ungir a língua com a essência da Sua Palavra, então nossa língua gaga será capaz de falar fluentemente.
Marcos 8:1-26
ALIMENTAR OS QUATRO MIL
Depois de curar o surdo-mudo, o Salvador-Servo alimentou os quatro mil (Mc 8:1-9). Marcos 8:2, o Senhor Jesus diz: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que permanecem Comigo e não têm o que comer”. As virtudes do Salvador-Servo (compaixão, comiseração, cuidado e amor) foram demonstradas aqui de modo vívido e encantador em Sua humanidade.
O caso de alimentar os quatro mil indica que depois de curados e podendo ouvir e falar, estamos qualificados para alimentar os outros. Muitos cristãos hoje não estão qualificados para alimentar outros, porque eles mesmos ainda estão surdos e mudos. Se não ouvirmos cuidadosamente o falar de Deus nem tivermos uma língua ungida, não seremos capazes de alimentar os outros. Apenas depois de curados de forma específica, e não só de maneira geral, é que estaremos qualificados para alimentar outros.
No caso da mulher siro-fenícia, o Senhor Jesus era o único que alimentava, mas no caso dos quatro mil, todos os discípulos se tornaram alimentadores. Isso indica que, depois de experimentar a cura dos órgãos de audição e fala, tornamo-nos capazes de alimentar os outros. Espero que essa seja a situação entre nós na edificação do Senhor. Creio que quando os irmãos estiverem curados, particularmente nos órgãos de audição e fala, todos se tornarão alimentadores. Serão capazes de alimentar outros apresentando-lhes a verdade. Para isso, necessitamos de cura específica, a cura dos ouvidos e da língua.
OS FARISEUS BUSCAM SINAL
Hoje, alguns cristãos são sinceros. Eles receberam a cura específica do Senhor, e se tornaram capazes de alimentar outros. Mas, enquanto isso, alguns são fingidos, hipócritas; fingem buscar sinais espirituais; fingem ter objetivo espiritual.
ADVERTÊNCIA SOBRE O FERMENTO
OS DISCÍPULOS NÃO ENTENDERAM
A CURA DE UM CEGO
O versículo 23 diz: “Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou -lhe: Vês alguma coisa?”. Ao tomar o cego pela mão, a humanidade do Salvador-Servo se expressou no Seu cuidado íntimo e amoroso pelo necessitado.
O Senhor Jesus levou o cego para fora da aldeia. Isso parece indicar que Ele não queria que a multidão visse ou soubesse o que estava para fazer por esse cego, uma vez que lhe ordenou nem sequer entrar na aldeia (v. 26). Espiritualmente isso dá a entender que Ele queria que o cego passasse um tempo íntimo com Ele, em particular, a fim de poder infundir-lhe o elemento com o qual sua visão seria restabelecida. Todos os que são espiritualmente cegos precisam desse tempo com o Salvador-Servo. Para essa cura adicional específica, o Senhor então cuspiu nos olhos do cego e impôs as mãos nele. A cegueira relaciona-se com trevas (At 26:18). Para ver, é preciso luz. A saliva do Salvador-Servo pode representar a palavra que procede de Sua boca, Palavra essa que transmite a divina luz da vida a quem a recebe, para restabelecer-lhe a visão. A saliva do Salvador-Servo, acompanhada da imposição de mãos, era muito mais rica do que um mero toque Seu, que havia sido solicitado pelos que ajudavam o cego. O fato de o Senhor Jesus impor as mãos no cego indica Sua identificação com ele a fim de transfundir-lhe Seu elemento de cura.
Quando o Senhor Jesus perguntou ao cego se via algo, ele respondeu: “Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando” (v. 24). Isso pode ilustrar a visão espiritual de uma pessoa: no estágio inicial de seu restabelecimento espiritual, ela vê coisas espirituais como esse cego via homens, como se fossem árvores andando; num estágio mais avançado de restabelecimento, passa a ver tudo claramente.
O versículo 25 diz: “Então novamente lhe impôs as mãos nos olhos, e ele, olhando atentamente, ficou restabelecido; e tudo via claramente”. Isso pode indicar que após receber a cura completa dos olhos, temos visão clara a respeito das coisas de Deus.
O versículo 26 conclui: “E Jesus lhe mandou ir para casa, dizendo: Nem sequer entres na aldeia”. Em todo o Seu ministério, o Salvador-Servo, o Servo de Deus, não gostava de publicidade.
Nesta mensagem vimos que o Salvador-Servo deu um passo adiante no que diz respeito a curar as pessoas especificamente nos órgãos de audição, fala e visão. Depois de curados dessa forma, temos a habilidade de ver as coisas concernentes a Deus. Por isso, na próxima seção, os discípulos começaram a ver Cristo e conhecê-Lo.
Jesus é o Senhor!