Evangelho de Marcos | Estudo 3
Leitura Bíblica: Marcos 2:1-17
Em Marcos 1:14-45 vimos que o conteúdo do serviço evangélico inclui cinco itens: pregar o evangelho (vs. 14-20), ensinar a verdade (vs. 21-22), expulsar demônios (vs. 23-28), curar enfermos (vs. 29-39) e purificar leprosos (vs. 40-45). Depois disso, em Marcos 2:1 ao 3:6 vemos as maneiras de levar a cabo o serviço evangélico. Nessa seção temos cinco casos: perdoar os pecados do enfermo (Mc 2:1-12), comer com pecadores (vs. 13-17), fazer seus seguidores se alegrar, sem ter de jejuar (vs. 18-22), importar-se antes com a fome de seus seguidores do que com os preceitos da religião (vs. 23-28), importar-se antes com o alívio do que sofre, do que com os ritos da religião (Mc 3:1-6). Esses cinco casos formam um único grupo.
Os cinco incidentes vivamente relatados em Marcos 2:1 ao 3:6 formam um grupo especial a mostrar a maneira pela qual o Salvador-Servo, como Servo de Deus, levou a cabo Seu serviço evangélico a fim de cuidar da necessidade das pessoas caídas, capturadas por Satanás, afastadas de Deus e de Seu desfrute. O Senhor se preocupou com a necessidade deles para que fossem resgatados do cativeiro e conduzidos de volta ao desfrute divino.
Primeiro, o Senhor perdoou os pecados da vítima da enfermidade. Como Deus, Ele tinha autoridade divina para isso, a fim de libertá-la da opressão de Satanás (At 10:38) e restaurá-la para Deus. Os escribas consideraram isso contrário à teologia de sua religião (Mc 2:1-12).
Segundo, como médico para os enfermos e miseráveis, o Senhor Jesus comeu com cobradores de impostos (desleais e infiéis para com os da própria raça) e pecadores (desprezados e excluídos da sociedade), para que provassem a misericórdia de Deus e fossem restaurados ao desfrute divino. Isso foi condenado pelos escribas dos fariseus, justos aos próprios olhos, porém sem misericórdia (vs. 13-17).
Terceiro, qual Noivo com Seus companheiros, o Senhor Jesus fez que Seus seguidores se alegrassem e ficassem contentes, sem que tivessem de jejuar. Assim, anulou a prática dos discípulos de João (os novos fanáticos) e dos fariseus (os antigos fanáticos), para que Seus seguidores fossem libertados das práticas da religião e introduzidos no desfrute do Cristo de Deus como Noivo, tendo Sua justiça como veste exterior e Sua vida como vinho interior, na economia neotestamentária de Deus (vs. 18-22).
Quarto, o Senhor Jesus permitiu que Seus seguidores colhessem espigas nas searas no sábado, para saciar a fome. Assim, aparentemente, violaram o mandamento de Deus com respeito ao sábado, mas, na verdade, agradaram a Deus, pois sua fome foi satisfeita por meio de Cristo, assim como a de Davi e seus seguidores foi saciada com os pães da proposição da casa de Deus. Isso indica que, na economia neotestamentária de Deus, a questão não é guardar os preceitos da religião, mas desfrutar satisfação em Cristo e por meio de Cristo como o verdadeiro descanso sabático (vs. 23-28).
Quinto, no sábado o Senhor Jesus curou um homem que tinha uma das mãos ressequidas, não se importando com a observância do sábado, e sim com a saúde de Suas ovelhas. Assim, deu a entender que, na economia neotestamentária de Deus, a questão não é guardar preceitos, mas infundir vida. Por essa razão, foi odiado pelos fariseus fanáticos (Mc 3:1-6).
Essas cinco maneiras demonstram a misericórdia e o dinamismo com os quais o Salvador-Servo levava a cabo o serviço evangélico. Elas eram contrárias à religião formal e tradicional e, portanto, abominadas pelos líderes religiosos carnais, obstinados e sem vida.
Precisamos ser profundamente impressionados com o fato de que o capítulo 1 de Marcos diz respeito ao evangelho. Ele nos diz o que é o evangelho, quando começou e qual é seu conteúdo. Aí vemos a natureza, substância, essência, elemento, conteúdo e realidade do evangelho. Creio que as igrejas irão levar a cabo esse rico evangelho por meio de seu serviço evangélico.
Tendo visto o conteúdo do serviço evangélico no capítulo 1, precisamos ver a maneira de levá-lo a cabo em Marcos 2:1-3:6. É muito significativo que em Marcos o Senhor Jesus não nos ensine com palavras como devemos levar a cabo o serviço evangélico; antes, Ele é retratado como Aquele que trabalha e serve, e não como alguém que fala. Portanto, em Marcos, é principalmente pela maneira de o Senhor agir, e não pelas Suas palavras, que aprendemos a levar a cabo o serviço evangélico.
Em Marcos 2:1 ao 3:6 o Senhor Jesus não nos diz como levar a cabo o serviço evangélico, mas faz as coisas, e dessa forma, por meio dos cinco incidentes relatados nesse trecho, mostra-nos como levar a cabo esse serviço. Assim, se queremos saber como executar esse serviço, precisamos considerar o que o Senhor Jesus fez ao perdoar os pecados do enfermo, ao comer com pecadores, ao fazer com que os Seus seguidores se alegrassem, sem ter de jejuar, ao importar-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião e, ao importar-se antes com o alívio, do que sofre do que com os ritos da religião.
A Bíblia é um livro sagrado e contém as melhores histórias. Mas não devemos satisfazer-nos meramente em saber as histórias do Evangelho de Marcos. Como eu não estava satisfeito com esse conhecimento, mas buscava o Senhor para ganhar luz a respeito desse evangelho, Ele me mostrou que, em Marcos 1, o evangelho é plenamente mostrado em Seu serviço evangélico. Em nenhum outro capítulo da Bíblia temos uma demonstração tão completa do evangelho como no capítulo um de Marcos. Nem mesmo nos escritos de Paulo podemos achar um capítulo que nos dê demonstração tão detalhada e completa do evangelho em sua natureza e conteúdo. Contudo, precisamos ser iluminados para ver o que é revelado aqui. Alguém pode memorizar esse capítulo e mesmo assim não ter luz a seu respeito. Ou então pode estudá-lo exaustivamente no grego, sabendo o significado de cada palavra e mesmo assim não ter luz a respeito do evangelho mostrado ali. Creio que, pela misericórdia do Senhor, ganhamos visão clara do evangelho mostrado nesse capítulo. Agora também devemos ter visão clara da maneira pela qual o Senhor leva a cabo o serviço evangélico, ou seja, visão clara do que Ele pratica em Seu serviço. Vamos então ver o primeiro incidente relacionado com isso: o perdão de pecados do enfermo (Mc 2:1-12).
PERDOAR OS PECADOS DO ENFERMO
Um Pecador Paralisado pelo Pecado:
Enquanto o Senhor Jesus estava numa casa em Cafarnaum, falando aos que ali se haviam ajuntado, trouxeram-Lhe um paralítico, carregado por quatro homens (Mc 2:1-3). Esse paralítico representa um pecador paralisado pelo pecado, alguém incapaz de andar e se mover diante de Deus. Marcos 2:4 diz: “E, não podendo trazê-lo ao Senhor Jesus, por causa da multidão, descobriram o telhado onde Ele estava e, tendo cavado uma abertura, baixaram o leito em que jazia o paralítico”. O zelo deles em buscar a cura do Salvador-Servo compeliu os que O buscavam a transpor as barreiras convencionais, o que pode ser considerado um ato impetuoso. Então, através do telhado, baixaram o leito, um pequeno colchão ou almofada, sobre o qual o enfermo estava deitado. O versículo 5 diz: “Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, perdoados são os teus pecados”. Essa fé, que resulta de se ouvir a palavra de Cristo (Rm 10:17), indica que os que O buscavam haviam ouvido o Salvador-Servo. Vendo-lhes a fé, o Senhor chamou o paralítico de “filho”. Essa palavra amorosa implica bondade; nisso, Sua virtude humana foi expressa.
O Senhor Jesus disse ao paralítico: “Perdoados são os teus pecados”. Os pecados eram a causa da enfermidade. A palavra do Salvador-Servo tocou a causa da enfermidade para produzir o efeito da cura. Uma vez perdoados os pecados, a enfermidade foi curada.
É importante e significativo que o primeiro incidente nessa seção sobre levar a cabo o serviço evangélico seja um caso do perdão de pecados de um enfermo. Isso indica que ao levar a cabo o evangelho a primeira coisa a ser feita é ajudar as pessoas a ter os pecados perdoados.
Nosso Problema Básico:
Como seres humanos caídos, nosso problema básico é o pecado. Quando Deus criou o homem, ele era puro, limpo e sem pecado. No final de Gênesis 1, Deus olhou para a criação e disse: “Muito bom”. É algo grandioso Deus dizer “muito bom”. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Além disso, Deus soprou o fôlego de vida no homem, que passou a ser alma vivente (Gn 2:7). Esse fôlego de vida tornou-se o espírito do homem nele. Assim, na criação, o homem tem a imagem e a semelhança de Deus e o espírito em seu interior. Como criatura, ele era limpo, puro e completo. Mas, de acordo com Gênesis 3, o maligno, o diabo, o inimigo de Deus, veio envenená-lo. O homem foi “picado” pela serpente e o pecado foi injetado em seu ser. Todos os problemas humanos provêm do pecado. Devido ao pecado, a situação do homem caído é sem esperança. Todos foram corrompidos pelo pecado. Você não crê que a humanidade, inclusive você, foi corrompida? Não crê que sua vizinhança, cidade e país foram corrompidos pelo pecado? Todo o mundo foi corrompido pelo pecado. Portanto, ao levar a cabo o serviço evangélico a primeira coisa a fazer é mostrar às pessoas como ter os pecados perdoados. Visto que todos os problemas da humanidade são resultado do pecado, este deve ser resolvido a fim de que as pessoas sejam restauradas para Deus.
Muitos entre nós podem testificar que no passado nos esforçamos para ter boa educação a fim de ter futuro promissor. Contudo, o problema do pecado permanecia sem resolução e causava mais e mais corrupção. Mas, no dia em que cremos no Senhor Jesus e O recebemos, nossos pecados foram perdoados.
Em Marcos 2:1-12 temos um caso que nos mostra que a primeira tarefa executada pelo Senhor como o Salvador-Servo ao realizar Seu serviço evangélico foi perdoar pecados. Por isso Ele disse: “Filho, perdoados são os teus pecados” (v. 5). Essa palavra provavelmente foi um choque para o paralítico e para os quatro que o levaram ao Senhor. Eles, sem dúvida, nunca pensaram que a causa de sua enfermidade fosse o pecado. Mas, para surpresa deles, o Senhor disse ao paralítico que seus pecados foram perdoados.
O Arrazoamento dos Escribas:
De acordo com os versículos 6 e 7, quando os escribas ouviram essa palavra, ficaram arrazoando no coração: “Mas alguns dos escribas estavam assentados ali e arrazoavam em seus corações: Por que fala este assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados, senão um só, que é Deus?”. Os escribas e os fariseus, como fanáticos da velha e morta religião, eram motivados e usados por Satanás, o inimigo de Deus, para se opor e resistir ao serviço evangélico do Servo de Deus e estorvá-Lo em todo o Seu ministério (Mc 2:16, 24; 3:22; 7:5; 8:11; 9:14; 10:2; 11:27; 12:13, 28). Eles achavam que adoravam a Deus e eram zelosos por Deus, não sabendo que o próprio Deus de seus pais, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, estava ali, diante deles, na forma de servo para servi-los. Estavam cegados pela religião tradicional e assim não podiam vê-Lo na economia divina, e procuravam matá-Lo (Mc 3:6; 11:18; 14:1). Mais tarde realmente O mataram (Mc 8:31; 10:33; 14:43, 53; 15:1, 31). Os escribas arrazoadores, que se consideravam “bíblicos” e “teológicos”, reconheciam o Salvador-Servo somente como homem, um nazareno desprezível (Jo 1:45-46), não percebendo que quem perdoou os pecados ao paralítico era o próprio Deus perdoador, encarnado na forma de homem humilde. Os escribas, supondo que conheciam as Escrituras, pensavam que somente Deus tinha autoridade para perdoar pecados, e Jesus, que aos olhos deles era apenas um homem, blasfemou de Deus quando disse: “Perdoados são os teus pecados”. Isso nos mostra que não perceberam que o Senhor era Deus. Ao pronunciar tais palavras, eles O rejeitaram. Essa foi a primeira rejeição por parte dos líderes da religião judaica.
No coração os escribas acusavam o Senhor de blasfemar de Deus. Pareciam dizer: “Quem é esse que se considera capaz de perdoar pecados? Somente Deus tem autoridade para isso. Esse homem é nazareno. Como pode um nazareno desprezível perdoar os pecados de alguém?”. Os escribas não perceberam que o Senhor sabia o que eles arrazoavam no coração. A respeito disso o versículo 8 diz: “E Jesus percebendo imediatamente em Seu espírito que eles assim arrazoavam dentro de si, disse-lhes: Por que arrazoais sobre essas coisas em vossos corações?
Literalmente a palavra grega traduzida como perceber significa conhecer plenamente. O Salvador-Servo conhecia a fé dos que O buscavam, os pecados do enfermo (v. 5) e os arrazoamentos ocultos dos escribas; isso indica que o Senhor Jesus é onisciente. Essa onisciência, que manifestou Seu atributo divino, desvendou Sua deidade, demonstrando que Ele é o Deus onisciente.
Os escribas devem ter ficado chocados com a palavra do Senhor. Talvez tenham pensado: “Nós não dissemos nada. Como Ele sabe que estávamos arrazoando no coração?”. O Senhor Jesus conhecia seus arrazoamentos porque não era apenas um nazareno; também era o Deus onisciente.
Um aspecto impressionante do Evangelho de Marcos é apresentar o Senhor Jesus em semelhança de homem e forma de servo. Os escribas não perceberam que na humanidade desse Servo havia deidade. O modo de agir do Senhor indicava que em Sua humanidade havia deidade. Ele era um nazareno na forma de servo, mas tinha onisciência. Por tê-la, Ele sabia o que os escribas diziam no coração. Em vez de discutir com eles, apenas relatou os fatos.
A Autoridade para Perdoar Pecados:
De acordo com o versículo 9, o Senhor prosseguiu fazendo esta pergunta aos escribas: “Qual é mais fácil, dizer ao paralítico: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te toma o teu leito e anda?”. Aqui o Senhor não disse: “Qual é mais difícil?”, porque para Ele nada é difícil. Para Ele, era mais fácil dizer: “Perdoados são os teus pecados”, do que: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”.
Nos versículos 10 e 11 o Senhor Jesus diz: “Mas para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”. O Salvador-Servo era o próprio Deus encarnado. Como tal Ele não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse apegar-Se. Por fora, tinha a semelhança e a figura de homem, até mesmo a forma de servo, mas, por dentro, era Deus (Fp 2:6-7). Era o Salvador-Servo, e o Salvador-Deus também. Portanto, não só possuía a habilidade de salvar os pecadores mas também a autoridade para perdoar-lhes os pecados. Nesse incidente, embora, como Deus, perdoasse os pecados das pessoas, Ele afirmou ser o Filho do Homem. Isso indica que era o verdadeiro Deus e Homem autêntico, que possuía deidade e humanidade. Nele os homens podiam ver tanto os atributos divinos como as virtudes humanas.
Esses versículos indicam que, para mostrar que tinha autoridade para perdoar pecados, o Senhor Jesus disse ao paralítico: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”. Essa foi a cura do paralítico. A salvação do Senhor não apenas perdoa os pecados, como também nos leva a “levantar e andar”. Não é primeiro levantar e andar e depois ser perdoado dos pecados; isso seria por meio de obras. Mas é primeiro ser perdoado dos pecados e depois levantar e andar; isso é pela graça.
No versículo 12 temos uma palavra conclusiva a respeito desse incidente: “E ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, saiu diante de todos, de modo que todos ficaram pasmados e glorificaram a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim”. Esse é o cumprimento da palavra do Salvador-Servo: “Levanta-te, toma o teu leito”. Foi mais fácil dizer: “Perdoados são os teus pecados” do que dizer: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. Já que a última palavra foi cumprida, certamente a primeira, a mais fácil, também o seria. Isso é uma evidência incontestável de que o Salvador-Servo tem autoridade para perdoar pecados na terra.
O paralítico se levantou, tomou o leito e saiu diante de todos. O Senhor Jesus o capacitou não apenas a caminhar mas também a tomar o leito e andar. Antes o leito o carregava, agora ele carregava o leito. Esse é o poder da salvação de Deus. Além disso, o paralítico foi trazido ao Senhor Jesus por outros, mas foi para casa por si próprio. Isso indica que não é que o pecador possa vir ao Senhor Jesus, e sim que o pecador pode ir do Senhor Jesus por meio da Sua salvação.
A Humanidade e a Deidade do Salvador-Servo:
Nesse incidente vemos tanto a humanidade como a deidade do Salvador-Servo. Quando se referiu ao paralítico como filho, o Senhor Jesus agiu de forma muito humanitária. O Senhor Jesus se dirigiu a ele de maneira íntima, cheia de bondade humana. Mas, quando disse a ele que se levantasse, tomasse o leito e fosse para casa, manifestou Sua deidade. Assim, a deidade do Senhor Jesus foi manifestada em Sua humanidade. Sua humanidade era cheia de virtude e Sua deidade era cheia de autoridade. A glória do Senhor Jesus era a expressão de Sua autoridade. A palavra do Senhor Jesus ao enfermo, que se levantasse, pegasse o leito e fosse para casa, não era um ensinamento, e sim uma palavra de autoridade. Foi confirmada pelo fato de que o paralítico então recebeu a habilidade, a energia para se levantar, tomar o leito e andar. Todos os que estavam ali reunidos viram a autoridade, a glória e a honra do Senhor Jesus. Portanto, nesse caso vemos Sua humanidade mostrada em virtude e perfeição e Sua deidade manifestada em glória e honra.
Quando o paralítico tomou o leito e foi embora andando, a boca dos opositores, os escribas e fariseus, estava fechada. O Senhor Jesus lhes calou a boca com a autoridade em Sua deidade e também pela bondade em Sua humanidade. Vemos aqui um servo, porém, Nele Deus é manifestado. Por ter visto a deidade do Senhor Jesus manifestada em Sua humanidade, muitos O seguiram.
AJUDAR OUTROS A TER OS PECADOS PERDOADOS
De acordo com o incidente em Marcos 2:1-12, a primeira coisa que precisamos aprender na pregação do evangelho é ajudar outros a ter os pecados perdoados. É significativo que o Senhor Jesus não disse ao paralítico: “Sinto muito que você esteja doente, mas quero que saiba que essa enfermidade vem de pecado. Como você está paralítico, deve ter cometido algum pecado. Você sabe quais pecados cometeu”. Se o Senhor Jesus tivesse pregado assim, o paralítico poderia ter discutido com Ele: “Não, sempre fui boa pessoa. Tenho sido bom com os outros. Mas, de repente, fiquei paralítico”. Devemos aprender com o Senhor Jesus a não discutir com os outros a respeito de seus pecados. Isso apenas os deixa irritados e os faz não prestar atenção ao que temos para lhes dizer. Devemos seguir o Senhor Jesus, dizendo-lhes que seus pecados são perdoados. Naturalmente isso não quer dizer que devamos literalmente repetir as palavras: “Perdoados são os teus pecados”. O que quero dizer é que devemos seguir o princípio visto aqui.
Quando nos aproximamos das pessoas para pregar o evangelho, devemos orar interiormente. Mas não devemos deixá-las perceber isso. Então o Senhor Jesus pode levar-nos a dizer algo como: “Queridos amigos, apenas o Senhor Jesus, como o Filho de Deus e nosso Redentor, tem autoridade, poder e habilidade para perdoar nossos pecados”. Em vez de dizer “seus pecados”, devemos dizer “nossos pecados”. O Senhor Jesus podia dizer os “teus pecados” porque não era pecador. Mas nós precisamos incluir-nos, pois sabemos que também somos pecadores. Ou seja, não devemos dizer as pessoas que elas são pecaminosas, mas devemos dizer-lhes que somente o Senhor Jesus tem a capacidade de perdoar os pecados. Podemos acrescentar: “Em nossa vida humana, todos os problemas e dificuldades vêm dos pecados. Precisamos que sejam perdoados, e somente o Senhor Jesus tem a autoridade para fazê-lo”.
Se apresentarmos o evangelho às pessoas da maneira adequada, o Espírito Santo honrará nosso falar. Assim, os que nos ouvirem ficarão profundamente impressionados com a palavra de que somente o Senhor Jesus pode perdoar os pecados. Então o resultado será que essa palavra a respeito de perdão será plantada nas pessoas como a semente do evangelho.
Outra maneira de ajudar as pessoas a experimentar o perdão dos pecados é ler Marcos 2:1-12 com elas de forma viva. Podemos tirar uma versão de bolso do Evangelho de Marcos e lê-la de maneira prevalecente, a fim de impressioná-las com o fato de que apenas o Senhor Jesus pode perdoar os pecados. Então podemos ajudá-las a ver que, como resultado de ter os pecados perdoados, temos paz. De acordo com a seqüência dos casos em Marcos 2:1-28; 3:1-6, a primeira forma de levar a cabo a pregação do evangelho é ajudar as pessoas a ter os pecados perdoados.
O versículo 13 diz: “De novo saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ter com o Senhor Jesus, e Ele os ensinava”. Vimos que o Salvador-Servo, como a luz do mundo (Jo 8:12; 9:5), foi à Galiléia, a terra das trevas, onde as pessoas estavam sentadas na região e sombra da morte, e foi como grande luz para brilhar sobre eles (Mt 4:12-16). Seu ensinamento liberou a palavra de luz para iluminar os que estavam nas trevas de morte a fim de que recebessem a luz da vida (Jo 1:4) e fossem resgatados das trevas satânicas para a luz divina (At 26:18).
COMER COM PECADORES
O Chamamento de Mateus:
O versículo 14 diz: “Quando o Senhor Jesus ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-Me. Ele se levantou e O seguiu”. A coletoria era um telônio, lugar onde se recolhiam os impostos para os romanos. Levi, também conhecido como Mateus, era um dos cobradores de impostos, provavelmente de alta posição (Mt 10:3). Os cobradores de impostos eram condenados, desprezados e odiados pelos judeus (Lc 18:11; Mt 5:46). A maioria deles abusava de sua função exigindo mais do que era devido, usando de falsas acusações (Lc 3:12-13; 19:2, 8). Pagar impostos ao governo romano era algo muito amargo para os judeus. Os que cobravam esses impostos eram desprezados pelas pessoas e considerados indignos de qualquer respeito (Lc 18:9-10). Por isso, eram classificados com os pecadores (Mc 2:16). Embora Mateus fosse cobrador de impostos, ele foi chamado pelo Salvador-Servo e mais tarde escolhido e designado como um dos doze apóstolos (Mc 3:18). Que misericórdia!
O relato do chamamento de Mateus é muito simples. Ele era cobrador de impostos, alguém considerado traidor pelos judeus, porque ajudava os imperialistas romanos. No Novo Testamento esses cobradores foram classificados com as prostitutas. Contudo, um deles, Mateus, foi chamado pelo Salvador-Servo. O Senhor simplesmente lhe disse: “Segue-Me!”. Lemos então que Mateus se levantou e O seguiu. De acordo com o relato aqui, parece que essa foi a primeira vez que o Senhor esteve com Mateus. Devia haver algum poder de atração no Senhor, em Sua palavra ou aparência, que fez com que Mateus O seguisse. Seguir o Senhor inclui crer Nele. Ninguém O segue a não ser que creia Nele. Crer no Senhor é ser salvo (At 16:31), e segui-Lo é entrar pela porta estreita e andar no caminho apertado (Mt 7:13-14).
Esse não é o primeiro caso registrado no Evangelho de Marcos do Senhor Jesus chamando pessoas para segui-Lo. Em Marcos 1:16, Ele viu Simão e André que lançavam rede ao mar. Então, lhes disse: “Vinde após Mim, e Eu farei com que vos torneis pescadores de homens. E eles, deixando imediatamente as redes, O seguiram” (vs. 17-18). Logo em seguida, chamou Tiago, filho de Zebedeu e João seu irmão, que estavam num barco, consertando as redes (v. 19). Quando o Senhor Jesus os chamou, eles deixaram seu pai com os empregados e foram após Ele (v. 20). Temos uma situação semelhante no capítulo dois. O Senhor viu Levi, ou Mateus, na coletoria e lhe disse que O seguisse, e Mateus simplesmente se levantou e O seguiu. Sua atitude em resposta ao chamamento do Salvador-Servo implica que ele abandonou seu trabalho sujo e vida pecaminosa.
Os Doentes Precisam de Médico:
O versículo 15 indica que Mateus não apenas seguiu o Senhor Jesus, mas também preparou uma grande festa para Ele: “Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com Ele e com Seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também O seguiam”. Mateus convidou muitos cobradores de impostos e pecadores para essa festa. Se nós tivéssemos sido convidados para essa festa, provavelmente teríamos declinado do convite, não querendo festejar com tais pessoas. Mas o Senhor Jesus foi a essa festa. Se lermos o Evangelho de Marcos com cuidado, perceberemos que os escribas seguiam o Senhor como espiões aonde quer que Ele fosse. O versículo 16 diz: “Os escribas dos fariseus, vendo que Ele comia com os pecadores e cobradores de impostos, perguntavam aos discípulos do Senhor Jesus: Por que come Ele com os cobradores de impostos e pecadores?”. Já vimos que esses escribas, como fanáticos da velha e morta religião, eram motivados e usados por Satanás, o inimigo de Deus, para se opor e resistir ao serviço evangélico do Servo de Deus e estorvá-Lo em todo o Seu ministério (Mc 2:16, 24; 3:22; 7:5; 8:11; 9:14; 10:2; 11:27; 12:13, 28). No versículo 16 os escribas consideravam-se justos ao condenar o Salvador-Servo por comer com cobradores de impostos e pecadores. As palavras dos escribas para os discípulos do Senhor Jesus indicam que, ao se considerar justos, eles não conheciam a graça de Deus. Julgavam que Deus lida com o homem apenas de acordo com a justiça. No versículo 16 os escribas continuaram com a oposição que começou em Marcos 2:6-7.
Tendo ouvido o que os escribas disseram aos discípulos, o Senhor lhes disse: “Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes; não vim chamar justos, e, sim, pecadores” (v. 17). Essa palavra indica que o Salvador-Servo considerava-Se como médico para as pessoas que tinham a enfermidade do pecado. Ao chamá-las para segui-Lo, o Senhor Jesus ministrava como médico, e não como juiz. O julgamento do juiz é de acordo com a justiça, enquanto a cura do médico é de acordo com a misericórdia e a graça. O Senhor Jesus veio ministrar como médico, isto é, veio curar, restaurar, vivificar e salvar as pessoas.
A palavra do Senhor Jesus de que os sãos não precisam de médico mostra que os escribas, que se consideravam justos, não perceberam que necessitavam Dele como médico. Eles achavam que eram sãos. Assim, cegados pela justiça própria, não sabiam que estavam doentes.
No versículo 17 o Senhor Jesus disse que não veio chamar justos, e sim pecadores. Isso indica que o Salvador-Servo é o Salvador dos pecadores. Na verdade, não há justo, nem um sequer (Rm 3:10). Os que se consideram justos são hipócritas. O Salvador-Servo não veio chamar esses 'justos”, mas pecadores.
No versículo 17 o Senhor Jesus parece dizer aos escribas: “Os sãos não precisam de médico. Os doentes, no entanto, sabem que precisam. Vocês escribas, são fortes ou são fracos? Doentes ou sãos? São mais doentes do que esses cobradores de impostos, mas não querem admiti-lo. Como não admitem sua necessidade, eu não posso curá-los. Vim como Médico para curá-los, mas vocês não admitem que estão doentes. Ademais, não vim chamar justos, mas pecadores”.
A Alegria da Salvação:
Nos dois casos relatados em Marcos 2:1-17 (os incidentes do perdão de pecados dos enfermos e do festejar com pecadores) vemos a melhor maneira de levar a cabo o serviço evangélico. Ou seja, ajudar as pessoas a ter os pecados perdoados a fim de entrar no desfrute de Deus. Festejar com o Senhor Jesus é desfrutar Deus com Ele.
Todos os pecadores perderam Deus e também o desfrute de Deus. Eles foram levados cativos para longe de Deus e Seu desfrute, tornando-se escravos de Satanás. Todos são escravos debaixo da autoridade de Satanás. Por ser tais escravos, eles não têm desfrute nem paz. Ao levar a cabo o serviço evangélico, o Senhor Jesus primeiro perdoa os pecados e então nos introduz no desfrute de Deus.
Após ter sido salvo, você não experimentou desfrute como numa festa? Se você foi salvo sem ter tido essa festa, isso quer dizer que você não teve a alegria da salvação de Deus. Nesse sentido sua experiência de salvação não foi adequada, não foi completa. A salvação completa inclui perdão dos pecados e alegria que está em Deus. Essa alegria é o desfrute de Deus, e esse desfrute é uma festa.
Ainda me lembro da alegria que provei quando fui salvo. Embora eu tivesse nascido e sido criado num lar cristão, e educado em colégio cristão, só fui salvo aos dezenove anos. Oh! que alegria tive no dia em que fui salvo! Eu estava muito feliz e parecia que tudo, tanto no céu como na terra, me eram agradáveis. Esse era o desfrute de Deus, a alegria da salvação. A alegria da salvação é uma festa. Quando a temos, festejamos com o Senhor Jesus.
Muitos podemos testificar que quando nos lembramos da experiência de salvação ainda podemos provar da alegria que experimentamos então. Depois de salvos e de descobrir que os nossos pecados foram perdoados, houve alegria em nosso interior. Considerávamos o Senhor Jesus como O mais maravilhoso, e estávamos alegres com Ele e festejando com Ele. Essa alegria da salvação, o desfrute de Deus, é prova categórica de que fomos conduzidos de volta a Deus. A alegria da salvação testifica que já não estamos longe de Deus, mas fomos trazidos de volta. A maneira adequada de levar a cabo o serviço evangélico é ajudar as pessoas a experimentar o perdão dos pecados a fim de ter a alegria da salvação, o desfrute de Deus.
TRÊS CASOS DE ENFERMIDADE
Até agora abordamos três casos de enfermidade no Evangelho de Marcos. O primeiro foi o da sogra de Pedro (1:30-31), a qual estava com febre. Mencionamos que essa febre pode significar um temperamento anormal e exagerado. Marcos usa uma mulher para ilustrar essa condição. É muito fácil as mulheres aparecerem com essa “febre”, uma febre que as deixa muito sensíveis. Para ajudar alguém que tenha essa febre, nós mesmos devemos primeiramente estar calmos e, então, gradualmente a outra pessoa se acalmará.
O segundo caso de enfermidade nesse evangelho é o do leproso (1:40-45), que representa um pecador típico. Lepra, a doença que mais contamina, a mais contagiosa e a mais destruidora, isola a pessoa tanto de Deus como do homem. Faz com que a vítima perca a comunhão com Deus e o homem. Assim, a purificação do leproso em Marcos 1:40-45 significa a restauração do pecador à comunhão com Deus e os homens. O leproso não só precisava de cura como também de purificação. O caso do leproso era muito mais sério do que o da sogra de Pedro, pois ela não necessitava de purificação; apenas de cura.
O terceiro caso de enfermidade no Evangelho de Marcos é o do paralítico (2:1-12), um homem inválido pela paralisia. O caso da sogra de Pedro e o do paralítico indicam que os homens estão aleijados devido ao pecado e que as mulheres têm febre devido ao pecado. Em outras palavras, a mesma coisa que deixa os homens inválidos, isto é, o pecado, também faz com que as mulheres tenham febre alta. Portanto, podemos dizer que as mulheres estão enfermas com febre e os homens estão enfermos com paralisia, aleijados. Além disso, tanto homens como mulheres são leprosos que necessitam de purificação.
Esses três casos revelam que o Salvador-Servo serve aos que estão doentes com febre, aos que estão paralíticos e aos que são leprosos. O Senhor Jesus nos serve com Sua autoridade que perdoa e com Seu poder de purificação. Ele nos perdoa os pecados, purifica e traz de volta para Deus. Ele restaura nossa comunhão com Deus e o homem. Por causa Dele, os pecados vão embora e temos Deus como tudo para nós. Agora desfrutamos Deus como nossa vida, nossa luz, nosso tudo. Estamos festejando com o Senhor Jesus. Esse é o evangelho, e também é a maneira de levar a cabo o serviço evangélico.
Jesus é o Senhor!