Evangelho de Marcos | Estudo 4
Leitura Bíblica: Marcos 2:18-28; 3:1-6
CINCO PALAVRAS-CHAVE
1. Perdão:
Vimos que os cinco incidentes relatados em Marcos 2:1-3:6 formam um grupo. Esses cinco incidentes são: perdoar os pecados dos enfermos (Mc 2:21-12), comer com pecadores (vs. 13-17), fazer que Seus seguidores se alegrassem sem ter de jejuar (vs. 18-22), importar-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião (vs. 23 -28) e importar-se antes com o alívio dos que sofrem do que com os ritos da religião (Mc 3:1-6). Cada um desses incidentes pode ser resumido por uma palavra especial. A palavra para resumir o primeiro incidente é perdão. Em Marcos 2:1-12 temos um caso em que o Filho do Homem, que era o Deus compassivo encarnado na forma de Servo, perdoa os pecados. Em Marcos 2:5, o Senhor Jesus disse ao paralítico: “Filho, perdoados são os teus pecados”. Quando os escribas ouviram isso, arrazoaram no coração: “Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados, senão um só, que é Deus?” (v. 7). Finalmente o Senhor disse: “Mas para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (vs. 10-11). Mesmo estando na forma de servo, o Filho do Homem tinha autoridade para perdoar pecados. Aqui temos forte indício de que o Deus que perdoa estava presente na forma desse Homem, alguém que era servo. Assim, o primeiro dessa série de cinco incidentes se refere ao perdão.
2. Desfrute:
A palavra que descreve o segundo incidente é desfrute. Nesse incidente relatado em Marcos 2:13-17, o Salvador-Servo como médico festejava com pecadores. Portanto, aqui temos o desfrute de festejar com o Salvador. Os que festejaram com Ele desfrutaram a bondade do Salvador-Servo, que é a corporificação de Deus. Desse modo, na realidade o que experimentaram foi o desfrute do próprio Deus. Por isso, a palavra desfrute é um resumo desse incidente.
3. Alegria:
Podemos usar uma palavra muito simples para descrever o terceiro incidente: alegria. Assim, nos três primeiros incidentes temos: perdão, desfrute e alegria. De acordo com Marcos 2:18-22, alguns fatores básicos devem existir para que estejamos alegres. O primeiro é o Noivo: “Respondeu-lhes Jesus: Podem acaso jejuar os companheiros do Noivo enquanto o noivo está com eles? Enquanto têm consigo o noivo, não podem jejuar.” (v. 19). A pessoa mais agradável que existe é o Noivo. Portanto, no capítulo dois de Marcos o fator básico de nossa alegria é o Salvador como Noivo.
Outros dois fatores da alegria são o pano novo (v. 21) e o vinho novo (v. 22). O pano novo é para fazer roupas a fim de nos cobrir e embelezar. Pano novo não é encolhido pois ainda não foi tratado ou trabalhado, e é para fazer veste nova. Essa veste nova, que na realidade é o próprio Cristo, nos cobre e embeleza. O vinho novo nos satisfaz e alegra. Exteriormente, temos o pano novo; interiormente, o vinho novo. Além disso, estamos com o Noivo. Agora temos esses fatores básicos para estar alegres.
Nenhum filósofo poderia proferir uma palavra como a que foi falada pelo Senhor Jesus em Marcos 2:18-22. Em Sua sabedoria, Ele usa coisas comuns como pano e vinho para ilustrar itens maravilhosos. O Senhor fala de noivo, pano novo e vinho novo a fim de nos mostrar como podemos estar alegres. Podemos estar alegres porque estamos com o Noivo, porque temos veste nova para nos cobrir e embelezar, e vinho novo para nos encher, satisfazer e alegrar muito. Assim, no terceiro incidente temos alegria.
4. Satisfação:
O quarto incidente, registrado em Marcos 2:23-28, é aquele no qual o Senhor Jesus se importa antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião. Marcos 2:23-24 diz: “E aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os Seus discípulos, enquanto iam, começaram a colher espigas. Diziam-Lhe os fariseus: Vê! Por que fazem aos sábados o que não é lícito?”. Aqui vemos que o Salvador-Servo importou-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião. Visto que seguimos o Senhor, não estamos famintos, e sim satisfeitos. Uma vez satisfeitos, podemos testificar: “Não nos preocupamos em guardar os preceitos religiosos e permanecer com fome. Os preceitos religiosos sempre nos deixam com fome. Mas, como seguidores do Salvador-Servo, não estamos mais famintos. Cada dia da semana, inclusive sábado, Ele nos dá de comer. Agora estamos satisfeitos. Não nos importamos se os outros nos condenam segundo seus preceitos religiosos. Os outros podem importar-se com os preceitos religiosos, mas nós nos importamos em estar satisfeitos no Senhor”. Esse caso, portanto, pode ser resumido pela palavra satisfação.
5. Liberdade:
Liberdade é a palavra que melhor resume o quinto incidente, em que o Salvador-Servo se importa antes com o alívio daquele que está sofrendo do que com os ritos da religião dos homens (Mc 3:1-6). Nesse incidente vemos que, no sábado, o Senhor Jesus restaurou a mão ressequida de um homem. O Senhor não se importou com o rito da religião; importou-se com o alívio daquele que sofria. O Senhor queria aliviá-lo, libertá-lo. Portanto, nesse incidente temos a liberdade.
A VERDADEIRA SEQÜÊNCIA HISTÓRICA
Vamos rever as cinco palavras usadas para descrever esses cinco incidentes: perdão, desfrute, alegria, satisfação e liberdade. Que seqüência maravilhosa temos aqui! Imagine a diferença se perdão viesse por último e não primeiro. De acordo com a seqüência histórica registrada em Marcos, primeiro temos o perdão e depois os demais itens. O fato de o Senhor nos perdoar os pecados sempre resulta em desfrute, alegria, satisfação e liberdade. Podemos testificar isso pela nossa experiência.
Esses incidentes não foram arranjados por Marcos a fim de apresentar uma doutrina, mas segundo os fatos e a seqüência histórica. Em outras palavras, aconteceram na seqüência em que Marcos os colocou. Esses cinco casos aconteceram, debaixo da soberania de Deus, de acordo com a verdadeira seqüência do desfrute de Sua salvação. O primeiro item é o perdão de pecados. Podemos testificar pela nossa experiência da salvação do Senhor que, quando temos o perdão de pecados, também temos desfrute e alegria. Essa alegria é seguida de satisfação e liberdade. Que maravilhoso!
Ao considerar a seqüência desses cinco incidentes em Marcos, percebemos novamente que a Bíblia de fato é a Palavra de Deus. Sem a inspiração do Espírito Santo, nenhum ser humano poderia compor um escrito como o de Marcos. Não creio que Marcos tenha tido educação elevada ou conhecimento abrangente do grego. Para ser exato, o grego no seu Evangelho não é tão elevado como em Lucas ou nas Epístolas de Paulo. Mas, embora a linguagem de Marcos possa não ser especialmente esmerada, os cinco incidentes nessa seção estão arranjados numa seqüência maravilhosa, que corresponde totalmente à nossa experiência da salvação do Senhor. De acordo com essa seqüência temos: perdão, desfrute, alegria, satisfação e liberdade.
Precisamos adorar o Senhor ao considerar o relato de Marcos, porque realmente é parte de Sua Palavra santa. Não é mera composição escrita por alguém com instrução limitada. Não. É o sopro do Deus soberano. Toda a Escritura, incluindo o Evangelho de Marcos, é inspirada por Deus (2Tm 3:16). Isso significa que a narrativa de Marcos 2:1-3:6 é soprada por Deus. Para se lembrar dessa seqüência, recomendo que você escreva as palavras perdão, desfrute, alegria, satisfação e liberdade próximo a essas seções na sua Bíblia.
O JEJUM DA RELIGIÃO
Agora vamos considerar Marcos 2:18-22 com mais detalhes. Depois que o Senhor Jesus disse aos escribas que tinha vindo como médico para cuidar dos doentes, dois grupos de discípulos (os de João e os dos fariseus) vieram a Ele: “Os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Eles vieram e Lhe perguntaram: Por que jejuam os discípulos de João e os discípulos dos fariseus, mas os Teus discípulos não jejuam?” (v. 18). Os dois grupos de discípulos praticavam o jejum. Isso indica que, se estamos na religião, precisamos jejuar. Os que estão na religião estão vazios e famintos; não têm nada que os satisfaça. Ser discípulo em qualquer religião é ter problemas, fome, sede, cansaço e ansiedade. Ao falar isso, não estou criticando nada, estou apenas falando a verdade. As pessoas na religião certamente têm motivo para jejuar. A religião requer e exige, dizendo-nos que não podemos fazer isso e aquilo. Contudo, ela não nos capacita a cumprir seus requisitos. Assim, por não conseguir cumprir os requisitos da religião, é preciso jejuar. Por isso, tanto os discípulos de João como os dos fariseus jejuavam.
OS FILHOS DA CÂMARA NUPCIAL
Ao contrário dos discípulos de João e dos fariseus, que jejuavam, os discípulos do Senhor Jesus estavam cheios de alegria. Como poderiam jejuar se o Noivo, o fator mais importante de sua alegria, estava com eles? Em Marcos 2:19 o Senhor Jesus disse aos discípulos de João e aos fariseus: “Podem acaso jejuar os companheiros do Noivo enquanto o noivo está com eles? Enquanto têm consigo o Noivo não podem jejuar”. Aqui, o Senhor Jesus se refere aos discípulos, como os companheiros do Noivo, jejuar na presença do Noivo seria uma vergonha para Ele.
Suponha que você seja o melhor amigo do Noivo e, bem na festa; você jejua. Isso seria uma ofensa para o Noivo. Nenhum noivo gostaria de ver seu melhor amigo jejuar no seu casamento, e sim alegrar-se, bem vestido com roupas boas e a desfrutar a comida ali servida. Isso é uma ilustração da palavra do Senhor Jesus em Marcos 2:19. Aqui Ele parece dizer aos discípulos de João e aos fariseus: “Por que vocês Me perguntam por que os Meus discípulos não jejuam? Eu Sou o Noivo e eles todos são os filhos da câmara nupcial, um melhor amigo corporativo. Mateus, o cobrador de impostos, é um dos filhos da câmara nupcial. Eles não podem jejuar enquanto estou com eles”.
Você é um discípulo de João ou dos fariseus, ou é um dos filhos da câmara nupcial, parte do “melhor amigo” coletivo do Senhor Jesus? Todos devemos testificar categoricamente que somos parte do “melhor amigo” coletivo do Senhor Jesus. Todos os que tiveram os pecados perdoados por Ele tornaram-se filhos da câmara nupcial. No segundo capítulo de Marcos vemos que até os cobradores de impostos e pecadores se tornaram filhos da câmara nupcial.
O DEUS QUE PERDOA E O MÉDICO
Em Marcos 2:12 vemos o Deus que perdoa, como homem verdadeiro, na forma de servo. A deidade estava na humanidade, e a humanidade continha a deidade. O Deus que perdoa, como verdadeiro homem, é uma Pessoa maravilhosa. Nele vemos a beleza da virtude humana e a glória dos atributos divinos, pois vemos tanto humanidade como divindade numa Pessoa completa. O incidente registrado em Marcos 2:1-12 retrata essa Pessoa, Aquele que é o verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Que retrato maravilhoso do Senhor Jesus em Sua virtude humana com Seu atributo divino!
No segundo incidente (Mc 2:13-17), nós vemos o Senhor Jesus como Médico, cuidando dos doentes. Seus “pacientes” são retratados aqui festejando com Ele. O versículo 15 diz: “E sucedeu estar Ele reclinado à mesa na casa de Levi, e reclinavam-se com Jesus e Seus discípulos muitos cobradores de impostos e pecadores; porque estes eram em grande número, e O seguiam”. Enquanto se reclinavam à mesa com o Senhor Jesus, tiveram um maravilhoso desfrute com Ele. Quando os escribas dos fariseus viram que o Senhor Jesus comia com pecadores e cobradores de impostos, disseram a Seus discípulos: “Por que come Ele com cobradores de impostos e pecadores?”. Quando o Senhor Jesus ouviu isso, disse aos escribas: “Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes; não vim chamar justos, e, sim, pecadores” (v. 17). Aqui o Senhor Jesus parece dizer aos escribas: “Eu Sou o Grande Médico cuidando dos pacientes. Eles foram curados e agora estão felizes a desfrutar uma festa Comigo”.
PANO NOVO, VINHO NOVO E ODRES NOVOS
Como já comentamos, depois do incidente do Senhor Jesus festejando com cobradores de impostos e pecadores, os discípulos de João, os novos fanáticos, e os dos fariseus, os antigos fanáticos, perguntaram ao Senhor Jesus por que Seus discípulos não jejuavam. Parece que queriam que os discípulos do Senhor Jesus se unissem a eles no jejum. Para eles era necessário jejuar, porque, segundo eles, o Messias e o reino ainda não tinham vindo. Como ainda aguardavam a vinda do Messias e do reino, eles estavam jejuando.
O Senhor Jesus não respondeu aos discípulos de João e aos fariseus de forma direta, e sim usando certas figuras de linguagem. Em Sua resposta, Ele se referiu a Si mesmo como o Noivo, e também falou do pano novo e do vinho novo. O Senhor Jesus parecia dizer: “Por que Meus discípulos iriam jejuar se têm tudo o que precisam para deixá-las alegres? Eles têm a Mim como Noivo e também como justiça, o pano novo, e como o vinho novo, que representa a vida. Eu sou tudo o que precisam. Sou Deus e sou Homem; sou Médico e Noivo, a Pessoa mais agradável. É ridículo que jejuem quando têm a Mim. Eu sou a veste que os cobre e embeleza, e a Minha vida é o verdadeiro vinho que os enche, anima e satisfaz. Em vez de jejuar, eles estão cheios de alegria. Vocês pedem que eles jejuem, mas Eu digo que isso é impossível, porque o Noivo está aqui com eles, o pano novo está sobre eles e o vinho novo está neles”. Quão sábias e maravilhosas foram a resposta do Senhor Jesus e Sua Palavra a respeito do Noivo, do pano e do vinho!
Talvez devêssemos fazer uma reunião de pregação do evangelho, dizendo às pessoas que o Senhor Jesus Cristo hoje é o Noivo que, como nossa justiça, é o pano para cobrir nossa nudez e nos embelezar; e Sua vida divina é o vinho que bebemos para nossa satisfação. Esse é o verdadeiro evangelho: uma Pessoa viva com justiça e vida. Aleluia! temos o Noivo, e O temos como justiça exteriormente e vida interiormente!
Em Marcos 2:21 o Senhor Jesus fala do pano novo. A palavra grega traduzida como novo também significa não encolhido, cru, não trabalhado. A palavra grega é agnaphós, formada pelo prefixo a que significa não, e gnápto, que significa cardar ou pentear lã; portanto, escovar ou tratar o pano. Assim, essa palavra significa não cardado, não pisoado, não acabado, não encolhido, não tratado. Esse pano novo representa Cristo, desde a encarnação até a crucificação, como peça de pano novo, não tratado e não acabado. A veste nova, em Lucas 5:36 simboliza Cristo após ter sido tratado em Sua crucificação, como veste nova. Em Marcos 2:21 a palavra grega para novo é kainós. Primeiro Cristo era o pano não encolhido para se fazer veste nova, e depois, por meio de Sua morte e ressurreição Ele foi feito veste nova para nos cobrir como justiça diante de Deus, a fim de que fôssemos justificados por Deus e nos tornássemos aceitáveis a Ele (Lc 15:22; Gl 3:27; 1Co 1:30; Fp 3:9).
A veste velha simboliza o bom comportamento do homem, as boas obras e as práticas religiosas em sua vida natural, a vida da velha criação. Se um remendo de pano novo é costurado em veste velha, ele arrancará parte da veste, e a rotura será pior. Imitar o que o Senhor Jesus fez na vida humana na terra pode ser comparado a colocar um remendo de pano novo em veste velha. Alguns tentam imitar as obras humanas do Senhor Jesus a fim de melhorar o comportamento, em vez de crer no Jesus crucificado como seu Redentor e no Cristo ressurreto como sua justiça a fim de que sejam justificados por Deus e se tornem aceitáveis a Ele. Devemos tomar o Cristo crucificado e ressurreto como nossa veste nova para nos cobrir, como nossa justiça diante de Deus. Não devemos tentar melhorar o comportamento imitando as obras humanas do Senhor Jesus.
Em Marcos 2:22, o Senhor Jesus prossegue dizendo: “E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres, e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos”. A palavra grega para novo nesse versículo é neós, que significa novo no tempo, recente, recém-adquirido. O vinho novo aqui representa Cristo como a nova vida, cheia de vigor, que anima as pessoas. O Salvador-Servo não é somente o Noivo com vistas a nosso desfrute, mas também a veste nova para que sejamos equipados e qualificados exteriormente a participar das bodas. Além disso, Ele é a nova vida que nos desperta interiormente, para que O desfrutemos como Noivo. Para desfrutá-Lo como Noivo precisamos Dele como veste nova exteriormente e vinho novo interiormente.
Os odres velhos em Marcos 2:22 representam práticas religiosas, tais como o jejum mantido pelos fariseus, que pertenciam à antiga religião e pelos discípulos de João, que pertencia à nova religião. Todas as religiões são odres velhos. Vinho novo em odres velhos faz romper os odres pelo poder de fermentação. Pôr vinho novo em odres velhos é colocar Cristo como vida animadora em qualquer forma de religião. Em vez de tentar encaixar Cristo em diferentes rituais e formalidades religiosas, devemos colocar o vinho novo em odres novos.
A palavra grega para novos aqui é kainós, que quer dizer novos em natureza, qualidade ou forma; desacostumados, não usados; portanto, novos. Os odres novos representam a vida da igreja como o recipiente do vinho novo, que é o próprio Cristo como vida animadora. Nós, como os que crêem no Senhor Jesus, somos pessoas regeneradas, que constituímos o Corpo de Cristo e nos tornamos a igreja (Rm 12:5; Ef 1:22-23). O Corpo de Cristo, como Sua plenitude, é também chamado “Cristo”, referindo-se ao Cristo coletivo (1Co 12:12). O Cristo individual é o vinho novo, a vida animadora interior, e o Cristo coletivo é o odre novo, o recipiente exterior que contém o vinho novo. A questão hoje não é o jejum ou outras práticas religiosas, e sim a vida da igreja, com Cristo como conteúdo. Temos a Ele, a Pessoa viva, como nosso Médico, Noivo, pano novo e vinho novo. Ele é nosso desfrute pleno a fim de que sejamos o odre novo, Seu Corpo, a igreja, para contê-Lo.
Continuaremos a ver as maneiras pelas quais o Salvador-Servo levou a cabo Seu serviço evangélico. De acordo com Marcos 2:23-28, o Senhor Jesus se importou antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião dos homens. E, de acordo com Marcos 3:1-6, o Senhor Jesus se importou antes com o alívio daquele que sofria do que com os ritos da religião.
IMPORTAR-SE ANTES COM A FOME DE SEUS SEGUIDORES DO QUE COM OS PRECEITOS DA RELIGIÃO
Marcos 2:23 diz: “E aconteceu que ao Jesus atravessar, em dia de sábado, as searas, e os Seus discípulos, enquanto iam, começaram a colher espigas”. Creio que o Senhor Jesus propositadamente levou Seus seguidores às searas no sábado. Ele certamente sabia que era sábado. Segundo a lei, Ele não deveria ter decidido passar pelas searas no sábado, pois isso era quebrar a regra a respeito de guardar o sábado. Contudo, como Pastor, Ele levou todos os Seus seguidores, Suas ovelhas, para as searas, que se tornaram o pasto delas. O versículo 23 diz que: “Os Seus discípulos, enquanto iam, começaram a colher espigas”. Comendo, eles foram satisfeitos.
No versículo 24 lemos: “Diziam-Lhe os fariseus: Vê! Por que fazem aos sábados o que não é lícito?”. O sábado era para que os judeus se lembrassem de Deus como Criador (Gn 2:2), guardassem com eles o sinal da aliança de Deus (Ez 20:12) e se lembrassem que Deus os redimiu (Dt 5:15). Portanto, profaná-lo era sério aos olhos dos fariseus religiosos. Para eles não era lícito e era contra as Escrituras que os discípulos do Senhor Jesus colhessem espigas no sábado. Como veremos, os fariseus não tinham conhecimento adequado das Escrituras. De acordo com seu escasso conhecimento, eles se preocupavam com o rito religioso de guardar o sábado, e não com a fome das pessoas. Que loucura observar um rito vão!
O Verdadeiro Davi:
Em Marcos 2:25-26 vemos a resposta do Senhor Jesus aos fariseus: “Nunca lestes o que fez Davi quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão só aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?”. Os fariseus disseram que não era lícito que os discípulos do Senhor Jesus pegassem espigas nas searas e as comessem. Os fariseus os condenaram por agir contra a Escritura. Mas o Senhor Jesus lhes perguntou: “Nunca lestes?”. O Senhor Jesus lhes mostrou outro aspecto da verdade nas Escrituras, que justificava a Ele e aos Seus discípulos. Isso condenou os fariseus por não ter conhecimento adequado das Escrituras.
A resposta do Senhor Jesus nesses versículos indica que Ele devia ter uma maneira excelente de estudar a Bíblia. Aqui Ele parecia dizer aos fariseus: “Nunca leram o que fez Davi? Vocês, fanáticos, respeitam a Bíblia ao máximo. Nunca leram que Davi entrou na casa de Deus, comeu do pão da proposição e também deu aos que estavam com ele? Vocês não sabem que Davi levou seus seguidores a fazer isso? Vocês querem dizer que ele os conduziu ao erro nessa questão?”. Quão excelente é a maneira de o Senhor Jesus estudar as Escrituras (a Bíblia Sagrada)! Todos precisamos aprender com Ele.
Aos olhos dos judeus, o Senhor Jesus era iletrado. Eles admiravam e diziam a Seu respeito: “Como sabe este letras, sem ter estudado?” (Jo 7:15). Esse, que aparentemente não havia estudado as Escrituras, questionou os escribas, antigos estudiosos da Bíblia, a respeito do conhecimento das Escrituras. Embora os religiosos fossem tidos como estudiosos da Bíblia, eles apenas a conheciam de maneira superficial e somente como doutrina em letras mortas. O Senhor Jesus expôs o conhecimento inadequado que eles tinham das Escrituras quando lhes perguntou se nunca leram o que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam em necessidade e com fome.
A palavra do Senhor Jesus aos fariseus é muito sábia e rica em implicações. Ela aqui implica que Ele é o verdadeiro Davi. Nos tempos antigos, Davi e seus seguidores, quando rejeitados, entraram na casa de Deus e comeram dos pães da proposição, aparentemente violando a lei levítica. Agora o verdadeiro Davi e Seus seguidores, também rejeitados, foram comer, aparentemente contra o regulamento sabático. Assim como Davi e seus seguidores não foram considerados culpados, também Cristo e Seus discípulos não devem ser condenados.
Além disso, a palavra do Senhor Jesus aqui implica uma mudança dispensacional do sacerdócio para a realeza. No passado, a vinda de Davi mudou a dispensação da era dos sacerdotes para a dos reis, para a era em que os reis estavam acima dos sacerdotes. Na era dos sacerdotes, o líder do povo deveria ouvir o sacerdote (Nm 27:21-22). Mas na era dos reis o sacerdote devia se submeter ao rei (1Sm 2:35-36). Portanto, o que Davi e seus seguidores fizeram não era ilícito. Agora, com a vinda de Cristo, a dispensação também mudou, dessa vez da era da lei para a era da graça, na qual Cristo está acima da lei. O que quer que Cristo faça está correto.
Vimos que a palavra do Senhor Jesus aos religiosos fariseus implica que Ele é o verdadeiro Davi. Mateus, o cobrador de impostos, era um dos seguidores desse Davi, que lutava pelo reino de Deus. Quando Davi levou seus companheiros para a casa de Deus, ele estava lutando pelo reino. Da mesma forma, como o verdadeiro Davi, Cristo e Seus seguidores também lutavam pela vinda do reino. Além disso, com a vinda do Senhor Jesus houve uma mudança de dispensação.
Em Marcos 2:27, o Senhor Jesus ainda disse aos fariseus: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”. O homem não foi criado para o sábado, mas o sábado foi ordenado para o homem, a fim de que este pudesse desfrutá-lo com Deus (Gn 2:2-3).
O Senhor do Sábado:
No versículo 28 temos uma demonstração contundente de quem é o Senhor Jesus: “De sorte que o Filho do Homem é Senhor até do sábado”. Isso indica a deidade do Salvador-Servo em Sua humanidade. Ele, o Filho do Homem, era o próprio Deus que havia ordenado o sábado, e tinha o direito de mudar o que ordenara a respeito do sábado. Como Senhor do sábado, Ele tem o direito de mudar as leis do sábado.
O Senhor Jesus mostrou aos fariseus condenadores que Ele era o verdadeiro Davi, o Rei do reino vindouro de Deus e também Senhor do sábado. Portanto, podia fazer o que quisesse no sábado, e o que quer que fizesse estaria justificado pelo que Ele é. Ele estava acima de todos os ritos e regras. Uma vez que Ele estava presente, ninguém deveria dar atenção a ritos e regras.
Gostaria de chamar sua atenção à palavra “até”, em Marcos 2:28. Aqui o Senhor Jesus diz que o Filho do Homem é Senhor até do sábado. O fato de usar a palavra até aqui, implica que Ele não é meramente o Senhor de algo, mas o Senhor de tudo, inclusive do sábado.
A palavra do Senhor Jesus implica e indica que Ele é o Deus Todo-Poderoso, o mesmo que ordenou o sábado em Gênesis 2. Como Aquele que tinha autoridade para ordenar o sábado, Ele também tinha o direito de mudá-lo. Assim Ele poderia ter dito aos fariseus: “Por que vocês Me perturbam? Eu sou o Senhor que ordenou o sábado, e tenho plena posição e direito de mudá-lo. Ordenando o sábado ou mudando-o, Eu o faço para o homem. O sábado veio a existir por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Vocês, fariseus, da forma com que guardam o sábado, são capazes até de deixar alguém morrer. Mas Eu, no sábado, preocupo-me em alimentar Meus seguidores. Em Gênesis 2 ordenei o sábado porque queria que o homem tivesse descanso. Assim, o sábado veio a existir por causa do homem. Mas, agora que estou aqui, quero cancelar o sábado a fim de alimentar Meus seguidores. Como Senhor do sábado, certamente tenho o direito de fazê-lo”.
O Senhor Jesus lidou com a situação em Marcos 2:23-28 de forma maravilhosa! Ele certamente é o melhor Advogado, um Advogado Celestial. O que quer que diga está correto. Ao discutir com o Senhor Jesus, os fariseus não conseguiram nada, pois Jesus é o Senhor Todo-Poderoso.
IMPORTAR-SE ANTES COM O ALÍVIO DAQUELE QUE SOFRE DO QUE COM OS RITOS DA RELIGIÃO
Em Marcos 3:1-6 vemos que o Senhor Jesus levou a cabo Seu serviço evangélico importando-se antes com o alívio daquele que sofria do que com os ritos da religião. Aqui temos o último dos cinco incidentes registrados em Marcos 2:1-28 e 3:1-6, o caso da cura de um homem que tinha a mão ressequida. Essa cura também se deu no sábado (Mc 3:2).
O Mover do Senhor em Dois Sábados:
Marcos 2:23-3:6 relata o mover do Senhor Jesus em dois sábados (Lc 6:1, 6). O que Cristo fez no primeiro sábado indica que Ele agia como Cabeça do Corpo. Como tal, Ele é o verdadeiro Davi e o Senhor do sábado. O que fez no segundo significa que Ele se importava com Seus membros. Nesse sábado Ele curou um homem que tinha a mão ressequida. A mão é um membro do corpo. O Senhor Jesus faria qualquer coisa para a cura de Seus membros. Sendo sábado ou não, o Senhor Jesus está interessado em curar os membros de Seu Corpo que estão com necessidade, e até mesmo curar os que estiverem mortos. Ordenanças não importam, mas a cura dos membros de Seu Corpo representa tudo para Ele. Nesses dois trechos temos dois casos de quebra do sábado. O primeiro aconteceu nas searas e o segundo, numa sinagoga (Mc 3:1). O primeiro se relacionava com satisfação e o segundo com libertação. Podemos estar satisfeitos, mas ainda não estar libertos. Não necessitamos apenas de satisfação, mas também de libertação. Você foi libertado? foi emancipado? está plenamente livre? Talvez esteja bastante satisfeito porque aprendeu a se alimentar do Senhor Jesus. Contudo, talvez não tenha segurança para afirmar que foi libertado. Na verdade, precisamos mais de libertação do que de satisfação.
Segundo a seqüência do Evangelho de Marcos, a libertação vem depois da satisfação. Se ainda não fomos satisfeitos, não sentiremos a necessidade de libertação. Nossa necessidade imediata é ter a fome saciada. Primeiro o Senhor Jesus nos sacia a fome, e depois, como Cirurgião divino, faz uma cirurgia em nós. Uma vez que estejamos satisfeitos, Ele nos traz para a “sala de cirurgia” onde nos cura e somos libertados. Em Marcos 3:1-6, a sala de cirurgia era a sinagoga. Foi ali que o homem da mão ressequida teve a mão restaurada (Mc 3:5).
No versículo 4, o Senhor Jesus disse aos que estavam na sinagoga: “É lícito aos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?”. Essas palavras indicam que o Salvador-Servo era o Emancipador, que libertou da escravidão do rito religioso aquele que sofria.
Nossa Necessidade de Total Libertação:
Em Marcos 2:1-12 temos o caso do paralítico, alguém totalmente paralisado. Mas em Marcos 3:1-6 temos o caso de alguém com a mão ressequida. É alguém que está parcialmente livre, mas não de todo. Você está totalmente livre? Talvez tenha dificuldade para responder a essa pergunta e diga: “Por um lado, não posso dizer que estou totalmente livre; por outro, não seria verdade dizer que não estou nem um pouco livre. Devo responder que estou parcialmente livre”. Assim como o homem da mão ressequida, precisamos estar totalmente libertos. Esse homem não estava morrendo. Ele conseguia movimentar-se e fazer coisas com uma das mãos. Mas a outra estava ressequida. Isso indica que ele precisava ser libertado.
É significativo que o caso do homem da mão ressequida seja o último dos cinco casos em Marcos 2:1-28; 3:1-6 . No primeiro incidente (vs. 1-12) temos o perdão de pecados; no segundo (vs. 13-17), a entrada no desfrute de Deus; no terceiro (vs. 18-22), alegria por meio do Cristo vivo como Noivo, Aquele que tem uma veste para nos cobrir e embelezar, e tem a vida divina para nos encher; e no quarto (vs. 23-28), satisfação ao ser alimentado do Senhor. Agora, no quinto incidente temos plena liberdade: uma pessoa que está totalmente livre. Se colocarmos juntos esses cinco incidentes, veremos um quadro completo de uma pessoa plenamente salva, o quadro de alguém que desfruta a salvação ao máximo. De acordo com esse quadro, a salvação do Senhor inclui perdão, desfrute, alegria, satisfação e liberdade. Que todos experimentemos esses cinco aspectos da salvação do Senhor!
A Deidade Expressa na Humanidade:
Marcos 3:5 diz: “Olhando em redor para eles com ira, muito contristado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a estendeu, e a sua mão foi restabelecida”. O Salvador mostrou-se irado com os opositores e ficou muito contristado com a dureza do coração deles; mas mostrou-se compassivo com o enfermo e lhe restaurou o membro ressequido. Ira e tristeza podem ser consideradas a expressão da autenticidade de Sua humanidade, ao passo que compaixão e cura são a fusão da virtude humana com o poder divino, manifestados simultaneamente aos homens. Assim, Sua deidade foi novamente expressa em Sua humanidade. A restauração da mão ressequida demonstrou o poder da deidade do Salvador-Servo. O Senhor Jesus disse ao homem: “Estende a tua mão”. Na palavra do Senhor Jesus estava a vida vivificadora. Ao estender a mão, o homem tomou a palavra vivificante do Senhor Jesus, e assim a mão ressequida foi restaurada pela vida que há na palavra do Senhor.
A Oposição dos Fanáticos:
Em Marcos 3:6 temos a conclusão desse incidente: “Saindo os fariseus, imediatamente deliberaram em conselho com os herodianos contra Ele, sobre como O destruiriam”. Aos olhos dos fariseus religiosos, ao violar o sábado, o Senhor Jesus estava destruindo a aliança de Deus com a nação de Israel, ou seja, destruindo o relacionamento entre Deus e Israel. Portanto, deliberaram em conselho com os herodianos sobre como poderiam destrui-Lo. A violação do sábado fez com que os judeus fanáticos rejeitassem o Salvador-Servo. Como fanáticos da velha e morta religião, eles foram motivados e usados por Satanás para fazer oposição e resistência e causar estorvo ao serviço evangélico do Salvador-Servo por todo o Seu ministério. Cegados pela religião tradicional e impossibilitados de ver o Senhor Jesus na economia de Deus, os religiosos deliberaram matar o Senhor Jesus.
Jesus é o Senhor!