Evangelho de Marcos | Estudo 12
Leitura Bíblica: Marcos 11:1-33; 12:1-44
A CONCLUSÃO DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALVADOR-SERVO
SER INTRODUZIDO NA MORTE E RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Entramos no reino de Deus por meio do desfrute do Senhor Jesus, por meio do desfrute do Cristo todo-inclusivo como substituto universal. Para desfrutá-Lo dessa forma, precisamos passar por Sua morte e ressurreição. Assim o Senhor Jesus trabalhou nos discípulos para deixá-los prontos para ser introduzidos no processo de Sua morte e ressurreição.
Vimos que o Senhor Jesus avançava em direção à Jerusalém, a fim de ali morrer. Mas também precisamos perceber que Ele não ia para Jerusalém sozinho; pelo contrário, levava Consigo alguns de Seus fiéis seguidores. Eles não tinham clareza do que estava acontecendo. Talvez simplesmente achassem que o Senhor Jesus era muito amável e queriam ir com Ele aonde quer que fosse. Na verdade o propósito do Senhor Jesus era introduzir todos eles em Sua morte e ressurreição. Uma vez que isso acontecesse, poderiam participar do desfrute Dele de maneira prática e real. É mediante a morte e ressurreição que o Senhor se torna nossa porção e substituto.
UMA VISÃO MARAVILHOSA
Entrando na morte e ressurreição do Senhor, os discípulos podiam ter o desfrute Dele e experimentá-Lo como seu substituto. Como resultado, no dia de Pentecostes os cento e vinte eram os que tinham sido substituídos pelo Senhor e O desfrutavam. Todos haviam sido introduzidos na morte e ressurreição do Senhor, por meio das quais tinham parte Nele, uma Pessoa viva e todo-inclusiva, como seu substituto.
Mediante a morte e ressurreição do Senhor Jesus, os discípulos também tiveram uma rica entrada no reino de Deus. Portanto no dia de Pentecostes vemos um quadro do reino de Deus. Com Pedro e os cento e vinte no dia de Pentecostes, temos uma manifestação do reino de Deus. Essa manifestação inclui o pleno desfrute de Cristo como o substituto universal e todo-inclusivo, por meio de Sua morte e ressurreição. Como foi possível aos cento e vinte estar no reino de Deus no dia de Pentecostes? Isso só se tornou possível porque entraram na morte e ressurreição de Cristo.
De acordo com o capítulo 1 de Atos, os cento e vinte eram galileus. Embora fossem da Galiléia, o Senhor Jesus os fez passar por muitas coisas até chegar a Jerusalém, onde entraram em Sua morte e ressurreição. Quando o Senhor foi crucificado, eles estavam lá e testemunharam Sua morte. Na realidade, eles passaram pela crucificação com Ele. Por fim foram introduzidos na ressurreição do Senhor e viram Sua ascensão. Então, no dia de Pentecostes, o Senhor como Espírito foi derramado sobre eles, assim tudo o que tinham visto e passado tornou-se realidade para eles. Eles tinham visto a morte do Senhor, tinham entrado em Sua ressurreição e tinham testemunhado Sua ascensão. Mas, quando o Senhor, como o Espírito, foi derramado sobre eles, tudo isso se tornou realidade para eles. Isso quer dizer que estavam na morte, ressurreição e ascensão do Senhor. Participavam do pleno desfrute do Cristo todo inclusivo como substituto universal. Todos devemos ter tal visão ao ler o Evangelho de Marcos; sem ela não podemos entrar nas profundezas desse livro.
Aparentemente Marcos é um livro de histórias. Na verdade não é; antes é um livro que contém uma visão maravilhosa. Ao ler os capítulos desse livro, é como se assistíssemos a uma televisão celestial, e cena após cena é “transmitida” ao nosso espírito. Louvado seja o Senhor por tal visão!
Agradecemos ao Senhor por nos mostrar como Seus seguidores íntimos são qualificados, aperfeiçoados, equipados e preparados para entrar em Sua morte e ressurreição. A longa seção de Marcos 4:35 ao 10:52 apresenta um quadro claro de como alguns galileus, que haviam sido muito naturais, podiam ser preparados para entrar na morte e ressurreição de Cristo. No fim do capítulo 10, eles estão totalmente prontos para ir a Jerusalém, isto é, para entrar na morte e ressurreição de Cristo.
O MAIOR MILAGRE DO UNIVERSO
Vimos que, na verdade, ao ir a Jerusalém o Senhor Jesus avançava para a morte. Então, por meio dela, Ele entrou em ressurreição. Ele caminhou ousadamente de Cafarnaum a Jerusalém para entrar na morte. Deus e toda a criação esperavam por isso. Jesus sabia que ia a Jerusalém para levar a cabo uma morte grandiosa e todo-inclusiva. Conhecendo o tempo designado, a data de Sua morte, Ele caminhou ousadamente em direção a Jerusalém.
Podemos dizer que o maior milagre do universo foi o Senhor Jesus entrar em Sua morte todo-inclusiva e realizá-la. De acordo com Hebreus 12, o Senhor Jesus estava alegre com o que estava diante Dele (Hb 12:2). Ele sabia que havia uma alegria que Lhe estava proposta. Por isso foi a Jerusalém a fim de cumprir o propósito de Deus mediante a morte. Que grande passo foi esse na economia de Deus!
É muito significativo que, ao levar a cabo Sua morte todo-inclusiva, o Senhor Jesus nos tenha introduzido a todos na morte com Ele. Se virmos isso não consideraremos Marcos como mero livro de histórias, mas veremos que ele transmite grande revelação.
OS PREPARATIVOS PARA A OBRA REDENTORA DO SENHOR
Poucos leitores de Marcos percebem que o capítulo 11 se refere à preparação do Senhor Jesus para Seu serviço redentor. Nesse capítulo Ele preparou o ambiente. Preparou os que deviam crucificá-Lo e também os discípulos. Ele foi a Jerusalém a fim de realizar Sua morte redentora. Mas essa morte requeria grande preparação. Assim Ele foi a Jerusalém antes do tempo fazer esses preparativos, como relata em Marcos 11:1 a 14:42. Tudo que está registrado nesses capítulos não é acidental, mas está relacionado com a preparação do Salvador-Servo para a realização de Seu serviço redentor.
ENTRAR EM JERUSALÉM E PERNOITAR EM BETÂNIA
As folhas (v. 8) provinham de ramos de palmeiras (Jo 12:13), que representam a vida vitoriosa (Ap 7:9) e a satisfação de desfrutar o rico produto dessa vida, como tipifica a festa dos Tabernáculos (Lv 23:40; Ne 8:15). A multidão usava tanto as vestes como os ramos de palmeiras para celebrar a vinda do Salvador-Servo.
O Salvador-Servo fez uma entrada gloriosa e recebeu calorosa recepção. Isso aconteceu de acordo com a sabedoria do Senhor. Como preparação para Seu serviço redentor, a primeira coisa que Ele arranjou foi essa recepção. Por meio dessa recepção Ele recebeu a aprovação do povo. Foi como se tivesse recebido o voto deles. O povo estava a favor Dele e O reconhecia como Messias.
Marcos 11:9-10 diz: “Os que iam adiante e os que seguiam atrás, clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana nas maiores alturas!”. As palavras gritadas pelo povo foram citadas do Salmo 118:26, uma profecia a respeito da vinda do Messias. Essa declaração será repetida quando de Sua segunda vinda. Naquele tempo o Salmo 118. será cumprido de maneira completa. Quando Ele vier pela segunda vez, estará montado numa nuvem, e não num jumentinho, e virá dos céus, e não de Jericó. Então os judeus convertidos exclamarão: “Rosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!”. O que temos em Marcos 11:9-10 é um antegozo ou prefiguração da recepção que o Senhor terá naquele dia. Mas em ambos os casos o princípio é o mesmo: o povo escolhido de Deus reconhece seu Messias.
O Senhor sabia que em Jerusalém iria enfrentar muitos opositores, mas, antes disso, Ele primeiro recebeu a aprovação do povo. Esse foi o primeiro passo em Sua preparação para Seu serviço redentor.
AMALDIÇOAR A FIGUEIRA E PURIFICAR O TEMPLO
Estes dois atos: o amaldiçoar da figueira e a purificação do templo, indicam que toda, a nação de Israel, que fora escolhida por Deus para Seu propósito, tornara-se infrutífera e corrupta. A figueira amaldiçoada pelo Senhor tinha folhas, mas não frutos. Tinha glória exterior, mas nenhum fruto, nenhuma realidade, nada que pudesse satisfazer o desejo de Deus.
O templo, que deveria ser um lugar de oração para todas as nações, tanto aos gentios como aos judeus, tornara-se covil de salteadores. Aos olhos de Deus, os que adoravam no templo eram salteadores. A casa de Deus na terra, na verdade, tornara-se covil de salteadores. Por isso, depois de amaldiçoar a figueira para acabar com sua vida, o Senhor purificou o templo a fim de eliminar a corrupção.
Enquanto o Senhor Jesus fazia essas coisas, ninguém ousava opor-se a Ele exteriormente, pois Ele já havia recebido a aprovação do povo. Com respeito a isso o versículo 18 diz: “E os principais sacerdotes e os escribas ouviram isso, e procuravam um modo de destruí-Lo; pois O temiam, porque toda a multidão estava atônita com o Seu ensinamento.” (Mc 11:18).
O amaldiçoar da figueira representa o término da vida de Israel como nação. Daquele momento em diante, a nação de Israel estava acabada no que diz respeito à economia neotestamentária de Deus. Além de amaldiçoar a figueira, o Senhor Jesus também purificou a corrupção da casa de Deus.
Nos primeiros dez capítulos de Marcos o Senhor Jesus era bondoso, misericordioso e compassivo. Mas aqui em Marcos 11:12-26 parece que Ele é bem diferente, primeiro amaldiçoando a figueira e então purificando o templo, até mesmo derrubando as mesas dos cambistas. Segundo o versículo 16, Ele “não permitia que alguém transportasse qualquer utensílio através do templo” (Mc 11:16). O Senhor Jesus foi muito ousado, forte e até mesmo severo. Parecia não mostrar nenhuma misericórdia.
Precisamos ver que o amaldiçoar da figueira e a purificação do templo eram parte da preparação do Salvador-Servo para Sua morte redentora. Ele preparou o caminho para que os fariseus e escribas O levassem a morte. Era tarde naquele dia quando o Senhor purificou o templo. O versículo 19 diz: “E quando anoitecia, saíam da cidade” (Mc 11:19). É provável que durante a noite Ele tenha pernoitado em Betânia.
PALAVRA A RESPEITO DE FÉ E ORAÇÃO
A MANEIRA DE O SENHOR LIDAR COM ISRAEL
Marcos 11:12 diz que o Senhor estava com fome. Isso significa que queria comer os frutos dos filhos de Israel para que Deus fosse satisfeito. A figueira, no entanto, não tinha nenhum fruto. Vimos que essa figueira é símbolo da nação de Israel (Jr 24:2, 5, 8). O fato de ela estar cheia de folhas, mas sem nenhum fruto, significa que naquele momento a nação de Israel estava cheia de aparência, mas não tinha nada que pudesse satisfazer a Deus.
Em Marcos 11:12-26 o registro da maldição do Salvador-Servo sobre a figueira e o da purificação do templo se fundem, indicando que Ele lidou simultaneamente com diferentes aspectos da nação corrupta e rebelde de Israel. A figueira era o símbolo de Israel, e o templo, o centro do seu relacionamento com Deus. Como figueira plantada por Deus, Israel não Lhe dava fruto e, como centro do seu relacionamento com Deus, o templo estava cheio de corrupção. Assim o Salvador-Servo amaldiçoou a figueira infrutífera e purificou o templo contaminado. Esses atos podem ser considerados como presságio da destruição predita em Marcos 12:9; 13:2.
A DIGNIDADE E A AUTENTICIDADE HUMANAS DO SENHOR E SUA SABEDORIA E AUTORIDADE DIVINAS
Ao lidar com os opositores, a dignidade humana do Senhor certamente foi expressa em Sua autenticidade humana. Enquanto era examinado por eles, Ele expressou dignidade em Sua autenticidade. Além disso, ao mesmo tempo, Sua sabedoria e autoridade divinas foram expressas em Sua conduta e perfeição humanas. Como resultado, os que tinham vindo para apontar Suas falhas tiveram de se tornar os que podiam provar Suas qualidades.
GRANDE SURPRESA PARA OS DISCÍPULOS
Quando o Senhor Jesus e os discípulos “se aproximavam de Jerusalém, em Betfagé e Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois dos Seus discípulos e disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós e, logo que entrardes nela, achareis preso um jumentinho, no qual ainda nenhum homem montou; desprendei-o e trazei-o”. Esses discípulos obedeceram à palavra do Senhor sem dizer nada. Haviam sido treinados a não expressar sua opinião. Se Ele tivesse pedido isso antes, talvez perguntassem o porquê disso. Mas agora que tinham passado por tantas coisas, especialmente a cura em Jericó, eles simplesmente obedeceram ao Senhor quando Ele lhes disse que entrassem na aldeia, desprendessem o jumentinho e o trouxessem. Isso mostra que o treinamento ministrado aos discípulos nos capítulos anteriores fora eficaz. O Senhor dera uma ordem estranha aos dois discípulos, ordem em que a maioria das pessoas não acreditaria ou que não aceitaria. Contudo, como haviam sido treinados pelo Senhor, os discípulos não expressaram nenhuma opinião sobre o que Ele mandara fazer.
Marcos 11:7 diz: “Trouxeram o jumentinho a Jesus, e sobre ele lançaram as suas vestes, e nele Jesus montou”. Em mensagem anterior ressaltamos que quando o cego Bartimeu ouviu que o Senhor o chamava, ele lançou de si a capa. Aqui vemos que os discípulos colocaram suas vestes sobre o jumentinho. Isso significa que não mais se importavam com posição. Queriam que o Senhor tivesse toda a posição. Eram absolutos em exaltar ao Senhor.
O versículo 8 diz: “E muitos estenderam as suas vestes no caminho”. Podemos dizer que a multidão seguiu os discípulos em lançar as vestes. As pessoas então passaram a dar ao Senhor Jesus grande recepção, clamando: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana nas maiores alturas!” (vs. 9-10).
Os discípulos devem ter ficado surpresos com a recepção dada ao Salvador-Servo. Certamente nunca imaginaram que o Senhor Jesus, um carpinteiro da Galiléia, teria recepção tão calorosa da multidão em Jerusalém. Os discípulos também devem ter ficado surpresos pelo fato de o Senhor ter amaldiçoado a figueira. Os seguidores galileus do Senhor Jesus podem ter comentado entre si: “Temos seguido o Senhor Jesus por três anos e meio e nunca O vimos fazer nada assim. Por que Ele amaldiçoou a figueira? A figueira é um símbolo do nosso país e temos alta consideração por ela. Contudo Ele a amaldiçoou. Seu comportamento certamente mudou. É muito diferente agora do que era no passado”.
Após amaldiçoar a figueira, o Senhor Jesus entrou no templo e começou a expulsar os que vendiam e compravam ali. Ele até mesmo derrubou as mesas dos cambistas e cadeiras dos que vendiam pombas (Mc 11:15). Imagine o que os discípulos devem ter pensado quando viram isso. Talvez tenham pensado: “É esse o nosso Mestre? Ele sempre foi bondoso, gentil e compassivo. O que é que Ele está fazendo?”. Naturalmente que os discípulos não tiveram coragem de dizer nada para o Senhor.
O SENHOR PREPARA O AMBIENTE, OS OPOSITORES E SEUS SEGUIDORES
Suponha que o Senhor Jesus entrasse no templo e simplesmente olhasse ao redor, portando-se de maneira muito polida. Então Seus seguidores poderiam ter dito: “Senhor, tudo está excelente. Vamos a algum lugar para descansar”. Se tivesse sido assim, não creio que os opositores tivessem sido tão sérios nos esforços para levá-Lo à morte. Poderiam até tê-Lo deixado de lado por longo tempo. Nesse caso Ele não teria sido crucificado na Páscoa. Portanto o Senhor preparou a situação mediante a purificação do templo, instigando assim os opositores para que O levassem à morte no tempo designado por Deus.
O Senhor Jesus não apenas preparou Seus opositores, como também Seus seguidores. Sem dúvida o amaldiçoar da figueira e a purificação do templo causaram profunda impressão neles. Naturalmente, não entenderam o significado dessas coisas no momento em que elas ocorreram. Porém, mais tarde, depois de Sua crucificação e ressurreição, devem ter-se lembrado delas; aí então começaram a entender por que Ele havia amaldiçoado a figueira e purificado o templo.
No capítulo 11 de Marcos podemos ver que Pedro, João, Tiago e os outros discípulos estavam muito influenciados pela tradição. Para eles, Jerusalém era abençoada por Deus, e a figueira, símbolo de Israel, a nação escolhida por Deus. A mente deles estava cheia do entendimento tradicional. Eles devem ter ficado chocados quando o Senhor amaldiçoou a figueira e purificou o templo. Agora precisamos perceber que, ao fazer isso, Ele não apenas instigou os opositores para que O levassem à morte, como também impressionou Seus seguidores, mostrando-lhes que Deus estava irado com a nação de Israel e ela estava amaldiçoada, condenada e em breve seria destruída.
No dia em que o Senhor amaldiçoou a figueira e purificou o templo, os discípulos não entenderam muito o que havia acontecido. Todavia, mais tarde, sem dúvida começaram a se lembrar dessas coisas e conseguiram entender que Deus havia desistido de Israel. Assim o amaldiçoar da figueira e a purificação do templo foram uma preparação para os que iriam levar o Senhor à morte e também para Seus seguidores, a fim de que tomassem Sua morte e recebessem Sua ressurreição.
A cena no capítulo 11 é bem diferente daquela nos capítulos 1 ao 10. Nos primeiros dez capítulos de Marcos, o Senhor Jesus é manso, misericordioso, gentil e compassivo. Mas no capítulo 11 Ele agiu de modo totalmente diferente. O objetivo Dele era preparar o ambiente, a situação, os opositores e Seus seguidores para o grande evento de Sua morte redentora.
Esse trabalho de preparação durou seis dias. Podemos compará-los com os seis dias nos quais Deus criou o universo. Nos seis dias que antecederam Sua morte, o Senhor preparou o ambiente e todos os envolvidos nela. Ele não realizou essa obra de preparação ensinando, pregando ou explicando, mas por Suas ações.
A REAÇÃO DOS DISCÍPULOS
ESTAR NA MORTE, RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO DE CRISTO
O Senhor Jesus passou pela morte e os discípulos passaram pela morte com Ele. A única diferença foi que eles não sofreram a morte física. O próprio Senhor pessoalmente sofreu a morte, enquanto os discípulos passaram pelo processo da morte. Naturalmente eles não foram colocados no túmulo nem foram ao Hades. Contudo podemos dizer que os dias entre a morte e a ressurreição do Senhor foram um “túmulo” para eles. Também podemos dizer que, em certo sentido, eles passaram pelo Hades. Então, na manhã da ressurreição do Senhor, alguns discípulos descobriram o túmulo vazio e perceberam que o Jesus crucificado havia ressuscitado dentre os mortos.
Não devemos ler o Evangelho de Marcos meramente como um livro de histórias nem apenas para aprender doutrina. Pelo contrário, ao lê-lo, precisamos ter visão após visão. Ao lê-lo devemos ter a sensação de que assistimos a uma “televisão celestial”.
No dia de Pentecostes o Espírito foi derramado sobre os cento e vinte. Mediante a morte e ressurreição, o próprio Salvador-Servo, revelado em Marcos, tornou-se o Espírito que dá vida, que foi derramado sobre os discípulos. Isso significa que Ele Se derramou sobre os que tiveram as visões registradas em Marcos. Pelo derramamento do Espírito, os cento e vinte receberam a realidade de todas as visões que haviam tido.
Espero que estas mensagens do Estudo do Evangelho de Marcos o ajudem a ter as visões contidas nesse Evangelho. Por fim o Cristo ressurreto, como o Espírito vivo, Se derramará sobre você para tornar em realidade tudo o que você vê. Então você estará em realidade na morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Você de fato O desfrutará como substituto completo e universal.
SEIS DIAS PARA A NOVA CRIAÇÃO
No primeiro dos seis dias o Senhor Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém montado num jumentinho. As pessoas gritaram: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mc 11:9). Aqui vemos que Ele recebeu a aprovação do povo. Após fazer tal entrada em Jerusalém, Ele entrou no templo: “E, tendo olhado tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze discípulos.” (Mc 11:11).
Voltando à cidade no dia seguinte, Ele amaldiçoou a figueira e purificou o templo. Para ser impressionados com a seriedade dessas coisas, podemos compará-las com alguém que vai à capital de um país, queima a bandeira e então entra em um dos principais prédios do governo e causa grande distúrbio. Certamente essas coisas apareceriam nos jornais.
Depois de amaldiçoar a figueira, o símbolo da nação judaica, o Senhor entrou no templo e derrubou as mesas dos cambistas. Como Ele já havia recebido a aprovação do povo, ninguém ousava pará-Lo. Naquele momento todos os líderes estavam quietos, contudo planejavam secretamente como destruí-Lo.
De acordo com Marcos 11:19: “E quando anoitecia, saíam da cidade”. Isso aconteceu na noite do segundo dia. Sem dúvida, naquela noite os discípulos devem ter conversado uns com os outros sobre o que o Senhor tinha feito em Jerusalém. Provavelmente por toda Jerusalém muitos falavam sobre o que Ele fez ao purificar o templo.
Na manhã do terceiro dia, os discípulos viram que a figueira secara desde as raízes (Mc 11:20). Então foram novamente a Jerusalém. O versículo 27 diz: “E vieram de novo a Jerusalém. E, andando Ele pelo templo, vieram a Ele os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos” (Mc 11:27). Se o Senhor Jesus não tivesse recebido a aprovação do povo, não poderia ter entrado no templo dessa forma; antes, teria sido imediatamente preso e levado à morte. Mas, como havia sido recebido pelo povo, Ele estava livre para andar no templo.
INQUIRIDO PELOS PRINCIPAIS SACERDOTES, ESCRIBAS E ANCIÃOS
Ao lidar com os principais sacerdotes, escribas e anciãos, o Senhor Jesus foi muito digno. Ele não estava com medo ao enfrentar essa situação, mas respondeu às perguntas deles com intrepidez.
A Pergunta do Senhor:
O Senhor Jesus lhes disse: “Eu vos farei uma pergunta; respondei-Me, e Eu vos direi com que autoridade faço essas coisas. O batismo de João era do céu ou dos homens? respondei-Me” (Mc 11:29-30). Por um lado, Ele não temia ser examinado pelos principais sacerdotes, escribas e anciãos. Por outro, Ele lhes devolveu a pergunta com dignidade.
Antes de responder a pergunta do Senhor, os principais sacerdotes, escribas e anciãos reuniram-se em conselho. “E eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, Ele dirá: Então por que não crestes nele? Mas diremos nós: Dos homens? temiam o povo, porque todos consideravam que João era verdadeiramente um profeta.” (Mc 11:31-32). Percebendo que não havia maneira de responder ao Senhor sem perder a questão, decidiram mentir. Assim Lhe disseram: “Não sabemos.” (Mc 11:33). O Senhor Jesus sabia o que estava no coração deles, sabia que estavam mentindo.
A Resposta do Senhor:
O Senhor Jesus prosseguiu dizendo aos principais sacerdotes, escribas e anciãos: “Nem Eu vos digo com que autoridade faço essas coisas.” (Mc 11:33). Isso indica que Ele sabia que os líderes religiosos judeus não iriam dizer-Lhe o que sabiam. Assim nem Ele iria responder-lhes o que perguntaram. Eles mentiram para o Senhor ao dizer: “Não sabemos”. Mas Ele lhes falou a verdade sabiamente, expondo-lhes a mentira e evitando a pergunta deles.
Na resposta do Senhor Jesus devemos prestar atenção à palavra nem. Esse termo indica que os líderes judeus estavam mentindo para o Senhor. Uma vez que não iriam dizer o que sabiam a respeito de João Batista, assim também Ele não iria responder a pergunta deles.
A sábia resposta do Senhor Jesus fez os líderes da nação judaica passar vergonha. Eles foram expostos como um grupo de mentirosos. Ao lidar com eles, o Senhor Jesus manifestou tanto Sua dignidade como sabedoria. Podemos dizer que Sua dignidade era humana e Sua sabedoria, divina. Essa combinação de dignidade humana e sabedoria divina subjugou os principais sacerdotes, escribas e anciãos.
Creio que os discípulos do Senhor Jesus estavam muito satisfeitos com a maneira com que Ele lidou com os líderes religiosos judeus. Talvez se tenham entreolhado, anuído com a cabeça e sorrido. Viram a dignidade e a sabedoria do Salvador-Servo no meio daquela situação no templo. Como devem ter ficado contentes em ver os principais sacerdotes, escribas e anciãos sendo vencidos pelo Senhor Jesus!
POSTO À PROVA PELOS FARISEUS E HERODIANOS
Os fariseus eram muito patriotas, totalmente a favor da nação judaica. Os herodianos eram favoráveis aos imperialistas romanos. Assim esses dois partidos não conseguiam trabalhar juntos. Mas para lidar com essa Pessoa maravilhosa que é o Salvador-Servo, os que eram inimigos se uniram para fazer uma pergunta sutil ao Senhor, relacionada tanto com o patriotismo como com o imperialismo.
Chegando a Ele, disseram-Lhe: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens, antes ensinas o caminho de Deus em toda a verdade. É lícito pagar tributo a César, ou não? Devemos pagar ou não devemos pagar?” (Mc 12:14). Essa era de fato uma pergunta ardilosa. Todos os judeus eram contra pagar tributo a César. Se o Senhor Jesus dissesse que era lícito fazê-lo, ofenderia todos os judeus, cujos líderes eram os fariseus. Se dissesse que não era lícito, os herodianos que apoiavam o governo romano teriam boas razões para acusá-Lo.
Pode parecer-nos que não havia meio de o Senhor Jesus responder essa pergunta. Suponha que Ele dissesse: “Não, não devemos pagar tributo a César”. Então os herodianos teriam dito: “Tu és contra os romanos, por isso deves ser preso e lançado na prisão”. Mas suponha que tivesse dito: “Sim, é correto pagar tributo a César”. Então os fariseus teriam dito: “Estás traindo Teu país, pois trabalhas para os imperialistas romanos”. Quão diabolicamente sutil foi a pergunta levantada pelos fariseus e herodianos!
Embora tivesse sido questionado de forma diabolicamente sutil, o Senhor Jesus não estava com medo. Mas, mantendo a dignidade, disse-lhes: “Por que Me pondes à prova? Trazei-Me um denário para que Eu o veja.” (Mc 12:15). Ele não lhes mostrou a moeda romana, mas pediu que eles Lha mostrassem. Como possuíam uma das moedas romanas, foram pegos. Depois que Lhe trouxeram a moeda, Ele disse: “De quem é esta efígie e inscrição?” (v. 16). Quando responderam: “De César”, Ele prosseguiu: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (v. 17). Dar a César o que é de César é pagar tributo a César de acordo com suas leis governamentais. Dar a Deus o que é de Deus é pagar o meio siclo para Deus de acordo com Êxodo 30:11-16, e também ofertar os dízimos a Deus de acordo com a lei divina.
Essa seção de Marcos a respeito de o Salvador-Servo ser testado pelos fariseus e herodianos conclui com essas palavras: “E muito se admiravam Dele”. O Senhor Jesus lhes respondeu em Sua sabedoria divina, e eles foram silenciados e subjugados.
A prova e o exame do Salvador-Servo aconteceram nos dias imediatamente anteriores à festa da Páscoa (Mc 11:27-12:44). Judeus de vários lugares tinham vindo a Jerusalém para essa festa. O fato de o Senhor ter purificado o templo chamou a atenção das pessoas. Primeiro os principais sacerdotes, escribas e anciãos vieram a Ele com uma pergunta a respeito de Sua autoridade (Mc 11:27-33). Depois que os principais sacerdotes, escribas e anciãos foram derrotados por Ele, os fariseus e herodianos tentaram apanhá-Lo em alguma palavra (Mc 12:13-17). Contudo, também foram derrotados pelo Salvador-Servo.
OS SADUCEUS E A RESSURREIÇÃO
Em Marcos 12:18-27 os saduceus pensaram que poderiam vencer o Senhor Jesus na questão da ressurreição. Eles O indagaram dizendo: “Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de alguém e deixar mulher sem deixar filhos, seu irmão tome a mulher e suscite descendência a seu irmão. Havia sete irmãos: o primeiro tomou a mulher e, ao morrer, não deixou descendência; o segundo a tomou e morreu sem deixar descendência; e o terceiro da mesma forma; e os sete não deixaram descendência. Por último, depois de todos, morreu também a mulher. Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de qual deles será ela esposa? porque os sete a tiveram por esposa.” (vs. 19-23). Eles achavam que eram muito espertos ao fazer essa pergunta ao Senhor. O Senhor Jesus lhes disse: “Não é por isto que errais, por não conhecerdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (v. 24). Conhecer as Escrituras é uma coisa; conhecer o poder de Deus é outra. Precisamos conhecer ambos. Aqui “as Escrituras” referem-se aos versículos do Antigo Testamento a respeito da ressurreição e “o poder de Deus”, ao poder da ressurreição. O Senhor Jesus disse ainda que na ressurreição não haverá nenhum casamento: “Pois quando ressuscitam dentre os mortos, nem casam, nem se dão em casamento; mas são como os anjos nos céus.” (v. 25).
O Senhor Jesus, no entanto, não parou aí; Ele continuou: “E, quanto aos mortos, que eles ressuscitam, não tendes lido no livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Vocês erram muito!” (v. 26-27). Deus é Deus dos vivos e é chamado o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, assim esses três, que já tinham morrido, Abraão, Isaque e Jacó, serão ressuscitados. Essa é a maneira pela qual o Senhor Jesus expunha as Escrituras: não apenas pela letra, mas pela vida e pelo poder que há nelas.
Nessa palavra aos saduceus, no versículo 26, o Senhor Jesus na verdade se referia a Si mesmo, pois Ele, como o Anjo de Jeová, foi quem falou a Moisés em Êxodo 3. Aqui Ele parece dizer: “Fui Eu que falei a Moisés. Eu, vosso Deus, era o Anjo que lhe falou de dentro da sarça. Ademais, Jeová é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Se eles não ressuscitarem, como Deus pode ser chamado o Deus deles? Ele nunca seria conhecido como o Deus dos mortos; Ele é o Deus dos vivos. Portanto esse título indica ressurreição”.
RECEBER LUZ DO SENHOR
Eu encorajo os santos a aprender hebraico e grego, mas pode-se ter doutorado em hebraico ou em grego e mesmo assim estar cego. É preciso ter a luz de Deus. Para recebê-la não se pode confiar no conhecimento das línguas originais da Bíblia nem nas exposições dos grandes mestres, mas é preciso ajoelhar-se diante do Senhor e abrir-se a Ele, dizendo: “Senhor Jesus, embora eu saiba hebraico e grego, sem Ti não posso ver nenhuma luz, Senhor, preciso do Teu iluminar. A luz não vem do meu estudo ou análise, mas mediante Tua misericórdia. Ó Senhor, como preciso receber luz de Ti!”.
Sem a luz de Deus, podemos ler o Evangelho de Marcos muitas vezes e não ver nada. Precisamos que as visões contidas nesse livro sejam “transmitidas” a nosso ser. Posso testificar que, pela misericórdia do Senhor, tive as visões contidas nesse livro. Às vezes a luz vem enquanto falo. Por exemplo, foi durante uma das mensagens que vi a relação entre os seis dias da velha criação e os seis dias da preparação para a nova criação. Luz assim não vem de conhecer as línguas originais da Bíblia ou os escritos dos expositores, mas vem do Senhor, mediante Sua misericórdia, quando nos abrimos a Ele.
POSTO À PROVA POR UM ESCRIBA
No versículo 31, o Senhor Jesus continuou Sua resposta: “O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses” (Mc 12:31). Esses dois mandamentos estão relacionados com o amor; trata-se de amar a Deus e de amar os homens. Amor é o espírito dos mandamentos de Deus. Os maiores mandamentos, portanto, relacionam-se com amor, para com Deus e para com os homens.
A IMPRESSÃO CAUSADA NOS SEGUIDORES DO SENHOR
QUALIFICADO PARA SER O CORDEIRO PASCAL
Como veremos, debaixo da soberania de Deus, o Salvador-Servo foi julgado não apenas pelos líderes judeus como ovelha diante dos tosquiadores (Is 53:7; Mc 14:53-65), mas também pelo governador romano, como criminoso diante dos acusadores (Mc 14:64; 15:1-15), a fim de morrer servindo os pecadores com Sua vida como resgate (Mc 10:45). Ele não morreu apenas pelos judeus, representados pelos líderes judeus, mas também pelos gentios, representados pelo governador romano.
UMA PERGUNTA COM RESPEITO A CRISTO [O MESSIAS]
Após ter respondido a todas as perguntas deles com sabedoria, o Senhor Jesus lhes fez uma pergunta relacionada com o Cristo. Essa é a pergunta das perguntas. As deles diziam respeito à religião, política, crença e a interpretação das Escrituras. A Dele dizia respeito a Cristo, que é o centro de todas as coisas espirituais e divinas. Eles tinham conhecimento de religião, política, crença e Escrituras na letra, mas não davam atenção alguma a Cristo. Portanto em Marcos 12:35-37 o Senhor Jesus lhes perguntou com respeito a Cristo [Messias].
Depois de perguntar por que os escribas dizem que o Cristo [Messias] é filho de Davi, Ele continuou: “O próprio Davi disse, no Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à Minha direita, até que Eu ponha os Teus inimigos debaixo dos Teus pés. O próprio Davi chama-Lhe Senhor; como é Ele seu filho?” (Mc 12:36-37). A resposta à pergunta do Senhor Jesus é que, como Deus, em Sua divindade, Cristo é o Senhor de Davi, e como homem, em Sua humanidade, Ele é o filho de Davi. Os fariseus e escribas tinham apenas parte do conhecimento das Escrituras a respeito da Pessoa de Cristo, ou seja, que Ele era filho de Davi de acordo com Sua humanidade. Eles não tinham a outra parte, a respeito da divindade de Cristo como o Filho de Deus.
Depois que o Senhor respondeu às quatro diferentes perguntas formuladas pelos que O puseram à prova e O examinaram, e depois que fez a pergunta das perguntas (a pergunta com respeito ao Cristo [Messias]) Ele prosseguiu dando uma advertência a respeito dos escribas e elogiando uma viúva pobre.
QUATRO TIPOS DE PERGUNTAS
A segunda pergunta, foi formulada pelos fariseus e herodianos (Mc 12:13-17), que vieram a Ele e disseram: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens, antes ensinas o caminho de Deus em toda a verdade. É lícito pagar tributo a César, ou não? Devemos pagar ou não devemos pagar?” (Mc 12:14). Essa pergunta estava relacionada com a política.
A terceira pergunta, feita pelos saduceus (Mc 12:18-27), estava relacionada com a crença. Em especial, queriam saber aquilo em que Ele cria a respeito da ressurreição. Como já comentamos, os saduceus, que podem ser considerados os modernistas da época, não criam na ressurreição. A terceira pergunta, portanto, refere-se à crença.
A quarta pergunta, foi feita por um escriba (Mc 12:28-34). O versículo 28 diz: “Aproximou-se um dos escribas que os ouvira discutir; percebendo que Jesus lhes respondera bem, perguntou-Lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. Essa pergunta está relacionada com a interpretação da Bíblia. O escriba perguntou ao Salvador-Servo como Ele interpretava a Bíblia, com respeito a qual mandamento era o mais importante.
CRISTO COMO FILHO E SENHOR DE DAVI
O Senhor Jesus parecia dizer a todos os que O punham à prova e examinavam: “Vocês Me conhecem apenas como um nazareno; não Me conhecem como Deus. Embora Eu seja franco e honesto com vocês, também sou misericordioso. Embora Eu seja o Deus Todo-Poderoso, criador de vocês, tenho a paciência de ser examinado e posto à prova por vocês. Se Eu não fosse misericordioso com vocês e Me manifestasse em Minha essência divina, todos vocês seriam mortos. Mas sou compassivo. Contudo sou o próprio Deus a quem Davi se dirigiu como Senhor”.
Precisamos perceber que Pedro, João, Tiago e todos os outros seguidores íntimos do Senhor Jesus estavam ali observando o que Ele fazia e ouvindo o que Ele dizia. Sem dúvida estavam profundamente impressionados com o Salvador-Servo. Devem ter comentado entre si. Talvez Pedro tenha dito para João e Tiago: “Por um lado, nosso Mestre é filho de Davi, mas, por outro, Ele é o Senhor. Vocês já tinham percebido isso? Sabiam que nosso Mestre não é apenas Homem, mas também Deus, o Senhor?”. Creio que os discípulos falaram entre si dessa maneira.
Se você fosse um dos discípulos a observar como Ele lidava com os opositores, não iria comentar com os outros a respeito disso? Não iria ficar impressionado com o fato de que seu Mestre revelou aos opositores que Ele, não apenas era o filho como também o Senhor de Davi? Sem dúvida Seus seguidores próximos receberam uma impressão profunda a respeito Dele.
Vimos que o Senhor Jesus levou Seus seguidores com Ele para Jerusalém com um propósito. Ele não pretendia entrar sozinho na morte; antes, introduziu um grupo deles Consigo. Esses seguidores são nossos representantes. Quando estavam com o Senhor em Jerusalém, todos estávamos lá. Aleluia, hoje somos os seguidores íntimos do Senhor Jesus! Como tais, obtemos no Evangelho de Marcos uma série de visões celestiais, que são “transmitidas” a nosso ser.
Em Marcos 12:37 o Salvador-Servo já tinha obtido vitória total. Ele não apenas recebera a aprovação do povo, como também subjugara os opositores. Os principais sacerdotes, escribas, anciãos, fariseus, herodianos e saduceus foram todos subjugados. Jesus, o nazareno, foi manifestado como uma Pessoa maravilhosa. Para ser exato, os discípulos estavam muito satisfeitos com a situação.
UMA ADVERTÊNCIA COM RESPEITO AOS ESCRIBAS
Nos capítulos 11 e 12 de Marcos os escribas são mencionados várias vezes. Eles estavam entre os que questionaram o Senhor a respeito da Sua autoridade (Mc 11:27-28). Foi um escriba que fez a pergunta ao Senhor Jesus a respeito de interpretação da Bíblia (Mc 12:28). Ademais, em Marcos 12:35 o Senhor Jesus perguntou: “Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi?”. Agora, em Marcos 12:38, o Senhor Jesus faz uma advertência específica com respeito aos escribas.
Os escribas achavam que conheciam a Bíblia e também doutrina e teologia. Embora pudessem conhecer as Escrituras em letras, certamente não conheciam Cristo. Assim, em Seu ensinamento, o Senhor Jesus perguntou como é que eles diziam que Cristo [Messias] era o filho de Davi. Eles ensinavam teologia vã, teologia sem Cristo como realidade.
Podemos ser os escribas de hoje. Nosso ensinamento pode estar correto, mas vazio, isto é, sem Cristo. Os antigos escribas ensinavam às pessoas segundo o Antigo Testamento, mas não tinham luz a respeito de Cristo. Não tinham entendimento Dele como o Homem-Deus.
Precisamos saber discernir se determinada mensagem ou ensinamento tem Cristo como centro, realidade e essência viva. Certos pregadores e mestres são naturalmente eloqüentes e conseguem apresentar doutrina a outros de forma que agrada os ouvidos que têm coceira. Tal ensinamento, pregação ou exposição da Bíblia é de acordo com o conhecimento do homem e a eloqüência humana. Devemos ser capazes de discernir se Cristo é o centro, a realidade e a essência de cada mensagem. Se Cristo não for o centro, então a mensagem é vazia. Em princípio, ela pertence ao ensinamento dos escribas e devemos ter cuidado com ela.
Não devemos pensar que, desde que um ensinamento seja de acordo com as Escrituras, não há problema com ele. Há um meio de discernir todos os ensinamentos, e esse meio é discernir se Cristo é o centro, a realidade e a essência de cada um deles. Na vida da igreja, na edificação do Senhor, Cristo deve ser o centro, a realidade e a essência de cada mensagem. Uma mensagem pode ser didática, acadêmica, bíblica e eloqüente, e suprir bastante conhecimento bíblico. Contudo talvez seja um ensinamento dos escribas de hoje. Precisamos seguir isso como princípio básico para discernir o ensinamento na vida da igreja, na edificação do Senhor.
A religião hoje está cheia de escribas. Muitos ensinamentos entre os cristãos são bíblicos e didáticos. Muitos mestres sabem grego ou hebraico e são versados em diversas exposições das Escrituras. Mas Cristo pode não ser o centro, a realidade e a essência do falar deles.
O ELOGIO À VIÚVA POBRE
Quando o Senhor Jesus viu que “uma viúva pobre, lançou duas pequenas moedas, que valem um quadrante”, chamando a Si os discípulos, disse-lhes: “Em verdade vos digo que esta viúva pobre lançou no gazofilácio mais do que todos os ofertantes. Porque todos eles lançaram do que lhes sobejava; ela, porém, da sua carência, lançou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.” (vs. 42-44). Os que deram da sua abundância não tocaram o coração do Senhor. Contudo o Senhor foi tocado pela viúva pobre que lançou ali duas pequenas moedas de cobre. Ele a admirou pela maneira como ela ofertou.
UM CONTRASTE ENTRE VAIDADE E REALIDADE
Em Marcos 11:27-12:37 temos quatro perguntas relacionadas com a cultura do homem, seguidas da pergunta das perguntas a respeito de Cristo [Messias]. As quatro primeiras perguntas referem-se à religião, política, crença e à maneira de interpretar a Bíblia. A pergunta singular diz respeito a Cristo. O relato acerca dessas cinco perguntas é seguido por dois incidentes: o primeiro, a respeito da vaidade dos ensinamentos vazios dos escribas; o segundo, a respeito da realidade do ser interior de um crente. Um escriba é alguém entre o povo do Senhor que fala vaidade, mas essa viúva representa um crente com realidade interior. Ao considerar esses dois incidentes, vemos que, em vez de ser escribas, devemos ser viúvas pobres. Todos devemos dizer: “Não quero ser um escriba vazio falando vaidade. Quero ser uma viúva pobre. Quero que tudo que eu faça provenha da realidade em mim”.
Precisamos considerar se queremos ser escribas ou viúvas. Você quer ser um escriba vazio ou uma viúva cheia de realidade interior? Agradecemos ao Senhor, pelo fato de que na vida da igreja, em Sua edificação, há muitos irmãos cheios de realidade interior, como aquela viúva. Sem essas viúvas seria impossível a vida da igreja continuar. Graças ao Senhor, que entre nós há muitas verdadeiras viúvas, muitos que têm realidade interior.
Precisamos perguntar-nos por que, depois que o Senhor Jesus respondeu às perguntas dos opositores e depois que fez a pergunta a respeito de Si mesmo, Ele prosseguiu falando a respeito dos escribas e da viúva pobre. Ele teve uma pequena reunião com os discípulos, na qual lhes falou a respeito dos escribas e da viúva. Os escribas são vazios, estão na vaidade, e a viúva tem realidade interior. Precisamos aprender a apreciar a realidade e tomar cuidado com a vaidade. Alguém pode ser excelente orador, eloqüente e cheio de conhecimento, mas seu falar pode ser vazio. Por outro lado, alguém pode ser pobre no falar, sem eloqüência nem conhecimento, mas com realidade interior para com Deus. Esse é o significado de se colocar esses dois incidentes no fim do capítulo 12: a "advertência a respeito dos escribas e o elogio à viúva pobre".
Ao ler Marcos 12 sob a luz celestial, podemos ver o significado do que está registrado ali. Vemos especialmente o significado da advertência do Senhor Jesus a respeito dos escribas e Seu elogio à viúva pobre. Por um lado, vemos que o ensinamento de alguém pode ser cheio de conhecimento e eloqüente, mas vão e vazio. Por outro, alguém pode ser pobre, no entanto cheio de realidade. Podemos ser pobres em todos os aspectos, mas ter em nós a realidade do Senhor a quem invocamos, uma realidade em relação ao próprio Deus a quem servimos. Podemos não ter muita eloqüência ou conhecimento, e não buscar essas coisas, mas podemos ter algo: "a realidade interior".
Nada põe à prova a realidade interior de alguém mais do que o dinheiro. A razão pela qual o dinheiro põe à prova a realidade interior do crente, é que, na vida humana, nada é mais palpável do que dinheiro ou posses. Seu dinheiro e posses testam se você tem realidade em relação a Deus ou não.
Que todos tomemos cuidado com a vaidade, especialmente no falar, eloqüência, conhecimento, doutrina e ensinamento. Ao mesmo tempo, todos precisamos aprender a apreciar, dar valor, ao que é real aos olhos do Senhor.
Não nos devemos esquecer que Pedro, João e Tiago e os outros seguidores próximos do Senhor estavam presentes quando Ele fez a advertência a respeito dos escribas e elogiou a viúva pobre. Eles viram todas as coisas que ocorreram nos capítulos 11 e 12. Creio que depois do dia de Pentecostes, todas essas coisas voltaram a eles, em seu viver, como visões celestiais. Hoje precisamos que todas as visões do Evangelho de Marcos sejam impressas uma a uma em nosso ser. Então, quando nos abrirmos ao Espírito que dá vida para que se mova em nós, todas elas virão a nós de forma real e viva.
UMA ADVERTÊNCIA COM RESPEITO AOS ESCRIBAS
Como continuação imediata de Marcos 12:35-37, o versículo 38 diz: “E, no Seu ensinamento, dizia Ele: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas praças." Essas palavras, sem dúvida, são ditas em relação ao fato de que, embora supostamente conhecessem a Bíblia, os escribas conheciam muito pouco a respeito de Cristo [o Messias]. Conheciam algo a respeito da humanidade de Cristo; contudo nada conheciam a respeito de Sua deidade. Portanto estavam destituídos do conhecimento adequado da realidade de Cristo. Devido a essa deficiência, o Senhor Jesus advertiu as pessoas para que se acautelassem dos escribas.
De acordo com a palavra do Senhor Jesus, os escribas não apenas gostavam de andar com vestes talares e das saudações nas praças, mas também das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes (Mc 12:39). Além disso, “devoram as casas das viúvas e, como pretexto, fazem longas orações” (Mc 12:40). Isso indica que só tinham aparência; não tinham realidade. O fato de os escribas gostarem de andar com vestes tal ares indica que se importavam com posição, honra e glória. Também gostavam de receber o respeito e a consideração das pessoas. Isso é forte indicação de que eram vazios, mestres vãos da Bíblia, totalmente carentes da realidade de Cristo. No viver deles não havia realidade; antes, buscavam posição, respeito, honra e glória.
Todos devemos atentar à advertência do Senhor com respeito aos escribas. É possível que até mesmo entre nós, na vida da igreja, alguns sejam em princípio como eles, tendo algum conhecimento da Bíblia e eloqüência, para falar de maneira que atraia os outros, contudo sem a realidade do Homem-Deus, Aquele que é tanto Deus como homem, o Cristo todo-inclusivo, como nosso substituto universal. Devemos estar alertas em relação aos que têm carência da realidade interior de Cristo, no entanto buscam posição, respeito, honra e glória.
Vimos que em Marcos 12:41-44 o Senhor Jesus elogiou uma viúva pobre em sua lealdade. Essa viúva, provavelmente, não tinha muito conhecimento da Bíblia, contudo tinha realidade, pois seu coração era sincero, honesto e fiel a Deus. Havia realidade interior em seu viver diário. Essa viúva é apresentada em contraste com os escribas em seu conhecimento vazio.
Jesus é o Senhor!