Evangelho de Marcos | Estudo 6
Leitura Bíblica: Marcos 4:1-41; 5:1-43
AS PARÁBOLAS DO REINO
Nesta mensagem chegamos ao capítulo 4 do Evangelho de Marcos, um capítulo crucial a respeito do reino de Deus. Novamente eu gostaria de chamar sua atenção à seqüência da narrativa de Marcos. Em Marcos 1:14-45 temos o conteúdo do serviço evangélico: pregar o evangelho, ensinar a verdade, expulsar demônios, curar enfermos e purificar o leproso. Depois, em Marcos 2:1-3:6, vemos as maneiras pelas quais Ele levou a cabo o serviço evangélico: perdoar os pecados dos enfermos, comer com pecadores, fazer com que Seus seguidores se alegrassem, sem ter de jejuar, importar-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião, e importar-se antes com o alívio de quem sofre do que com os ritos da religião. A seguir, em Marcos 3:7-35, temos cinco atos auxiliares para o serviço evangélico: escapar da pressão da multidão, designar os apóstolos para pregar, deixar de comer por causa da necessidade urgente, amarrar Satanás e saquear-lhe a casa por meio do Espírito Santo, e não permanecer no relacionamento da vida natural, e sim no relacionamento da vida espiritual.
O REINO DE DEUS
Embora possamos ter, nessas três seções, uma visão completa a respeito do evangelho, não vemos, no entanto, sua essência intrínseca, objetivo e resultado, nem ainda para que é o evangelho; por isso, no capítulo 4, o registro de Marcos chega ao tema do reino de Deus.
Em Marcos 1:15 temos a primeira elocução do Senhor Jesus em Sua pregação do evangelho: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e creiam no evangelho”. Esse versículo indica claramente que o evangelho é para o reino de Deus, não o reino do homem nem o reino de Israel, mas o reino de Deus.
Que é o reino de Deus? Não é fácil defini-lo. Para entendê-lo precisamos considerar todo o Antigo Testamento, pois ali temos uma visão clara do reino. Podemos dizer que reino é a esfera, ou área de atividade, onde alguém realiza algo. Às vezes dizemos que certa pessoa tem seu reino. Isso significa que ela tem uma área de atividade, uma esfera, onde pode trabalhar para atingir seu objetivo ou cumprir seu plano. Portanto, reino é o âmbito onde alguém faz o que quer fazer. De acordo com o Antigo Testamento, há o âmbito chamado de o reino de Deus, que é uma esfera para Deus levar a cabo Seu propósito eterno e atingir Seu objetivo.
Após criar os céus, a terra e bilhões de itens, Deus criou o homem. De acordo com o livro de Gênesis, Ele o criou com duplo objetivo. Do lado positivo, Deus criou o homem à Sua imagem para expressá-Lo. Do lado negativo, deu ao homem domínio sobre todas as coisas criadas. Domínio significa autoridade numa esfera específica. Domínio, portanto, está relacionado com o reino de Deus. Em Gênesis 1 vemos que o homem tem a imagem e o domínio de Deus. A imagem visa a Sua expressão e o domínio visa a Seu reino.
Deus, em Sua criação, queria que o homem O expressasse. Para isso, Ele precisa de uma esfera, e essa esfera é um reino, um ambiente onde Ele pode exercitar Sua autoridade. Deus deu ao homem Sua autoridade e o estabeleceu como cabeça de todas as coisas criadas. Por meio disso podemos ver que, imediatamente depois da criação do homem, Deus estabeleceu um reino na terra. Portanto, o reino de Deus pode ser visto no primeiro capítulo de Gênesis.
No devido tempo, após a queda do homem, Deus chamou Abraão, Isaque e Jacó. O livro de Gênesis registra a experiência desses patriarcas e dos filhos de Israel e sua peregrinação no Egito. De acordo com o registro de Êxodo, Deus os tirou do Egito. Êxodo 19:6 revela o propósito de Deus em fazê-lo: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”. Ele os tirou a fim de fazer deles um reino de sacerdotes, um reino no qual cada um seria sacerdote, alguém que serve a Deus. Portanto, o objetivo de Deus era ter um reino de sacerdotes.
De Êxodo 19 até o fim do Antigo Testamento temos o registro da história de um reino. Não devemos considerá-lo meramente como o reino de Israel, mas o reino de Deus expresso no reino de Israel. Ao estudar o Antigo Testamento vemos que Deus não conseguiu cumprir Seu propósito com Adão, Noé, e nem com a nação de Israel. Embora o reino de Deus fosse expresso pelo reino de Israel, Deus não conseguiu atingir Seu objetivo por meio dos israelitas. Por isso, finalmente, o próprio Deus veio mediante a encarnação.
Como não conseguiu cumprir Seu propósito por meio do primeiro Adão e seus descendentes, Deus veio mediante a encarnação como último Adão. Como o Deus encarnado, o Senhor Jesus veio estabelecer o reino de Deus, um ambiente no qual Deus pode levar cabo Seu propósito pelo exercício de Sua autoridade. Essa foi a razão de o Senhor ensinar aos discípulos que orassem pela vinda do reino (Mt 6:10). Foi por isso também que, em Sua pregação do evangelho, Ele dizia às pessoas que se arrependessem para entrarem no reino de Deus. O Senhor Jesus declarou que o reino de Deus estava próximo e as pessoas precisavam arrepender-se para entrar nele. Os que se arrependem porque está próximo o reino de Deus poderão participar do cumprimento do propósito eterno de Deus.
O OBJETIVO E O RESULTADO DO EVANGELHO
Freqüentemente o reino de Deus é negligenciado na pregação do evangelho, a qual, hoje, dá a impressão de que o evangelho visa apenas ganhar almas, transferir as pessoas do inferno para o céu e ajudá-las a ter paz, alegria e a bênção eterna. No Novo Testamento, no entanto, temos uma impressão diferente do evangelho. Quando o Senhor Jesus o pregava, Ele falava a respeito do reino de Deus e lhes dizia que se arrependessem para o reino.
Um dia, em Seu treinamento aos discípulos, o Senhor os levou à Cesaréia de Filipe, situada na região norte da Terra Santa, perto da fronteira, ao pé do Monte Hermom. Então Ele começou a perguntar-lhes a respeito Dele mesmo: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (...) Mas vós, perguntou-lhes Ele, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16:13, 15). Respondendo Pedro, disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Pedro O reconheceu como o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso significa que o Filho do Deus vivo foi designado Ungido de Deus, o Cristo. Depois que Pedro recebeu essa revelação a respeito do Senhor Jesus, o Senhor Jesus continuou: “Sobre essa Rocha edificarei a Minha igreja... Dar-te-ei as chaves do reino dos céus” (Mt 16:18-19). Nesses versículos as palavras igreja e reino são usadas uma em lugar da outra. Primeiro o Senhor Jesus disse: “Edificarei a Minha igreja”, e então: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus”. Isso indica que para a igreja ser edificada, o reino precisa ser aberto. Em outras palavras, abrir o reino é a maneira de iniciar a edificação da igreja.
Precisamos ver esse item crucial de que a essência intrínseca do evangelho é o reino de Deus. O evangelho é pregado visando o reino de Deus, e o reino de Deus é uma esfera divina para Deus levar a cabo Seu plano, um ambiente onde Ele pode exercer Sua autoridade para cumprir Sua intenção. A única maneira de Deus alcançar Seu objetivo é o reino, portanto, há uma seção de Marcos que revela o objetivo do evangelho: ter o reino de Deus. O reino de Deus é o objetivo da pregação do evangelho.
O reino de Deus não é apenas o objetivo mas também o resultado do evangelho. Quando o evangelho é pregado, que acontece? Qual é o resultado do evangelho? É o reino de Deus. A pregação do evangelho visa produzir o reino.
Apenas em Mateus é que o Senhor Jesus fala da igreja. Não há menção da igreja em Marcos, Lucas ou João. Precisamos perceber, no entanto, que na mente do Senhor Jesus a igreja e o reino são uma coisa só. A igreja é o reino e o reino é a igreja.
O REINO DE DEUS NÃO FOI SUSPENSO
Alguns mestres da Bíblia não têm um entendimento preciso do reino de Deus. Dizem que Cristo veio com o reino e o apresentou aos judeus, mas eles rejeitaram o Senhor Jesus. Segundo esses mestres, quando o Senhor Jesus foi rejeitado, o reino que trouxe Consigo também o foi. Esses mestres também dizem que, depois que o Senhor Jesus e o reino foram rejeitados, Ele suspendeu o reino e começou a edificar a igreja. E vão além, dizendo que a presente dispensação, a era da graça, é a dispensação da igreja. Nesta dispensação da graça, dizem eles, o Senhor Jesus está edificando a igreja. Então, após a era da igreja, ao tempo de Sua volta, o Senhor Jesus trará o reino, o qual, dizem, foi suspenso, e o estabelecerá na terra no milênio, a era do reino. De acordo com esse ponto de vista, a era atual é a era da igreja e a próxima será a do reino.
Em certo sentido esse entendimento tem algo de verdade, mas não é totalmente preciso. Na verdade, o Senhor Jesus não suspendeu o reino. No Estudo de Mateus ressaltamos que no final de Mateus 13 a rejeição do Senhor Jesus por parte dos judeus foi completa. Contudo, Ele não suspendeu o reino, pois em Mateus 16 Ele continuou falando da edificação da igreja e também das chaves do reino. Isso indica clara e definitivamente que o reino não foi suspenso.
No livro de Atos temos mais indicações de que o Senhor não suspendeu o reino. Atos 1:3 diz que, aos apóstolos, o Senhor Jesus “se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus”. Aqui vemos que nos quarenta dias entre a ressurreição e a ascensão o Senhor Jesus falou aos discípulos a respeito do reino. Em Atos 8:12 é-nos dito que Filipe “os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo”. Em Atos 14:22 Paulo falou aos crentes a respeito de entrar no reino de Deus, dizendo que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”. Atos 19:8 nos diz que “durante três meses, Paulo freqüentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo com respeito ao reino de Deus”. Em Atos 20:25 vemos que Paulo pregou o reino de Deus entre os crentes de Éfeso. Além disso, Atos 28:23 e 31 diz que Paulo “lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus” e estava “pregando o reino de Deus”. Por meio desses versículos vemos que Paulo ensinava e pregava as coisas concernentes ao reino de Deus.
Romanos 14:17 fala do relacionamento do reino de Deus e da vida da igreja: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. Esse versículo é prova categórica de que a igreja nesta era é o reino de Deus, porque o contexto aqui fala da vida da igreja na era atual.
Nesse capítulo Paulo escreve a respeito de acolher os mais fracos. Não devemos rejeitar os mais fracos quanto à questão de comida, porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. De acordo com esse versículo, a vida da igreja hoje é o reino. Praticar a vida da igreja é praticar o reino. Portanto, a vida da igreja na edificação do Senhor é a prática do reino de Deus.
Em 1 Coríntios, Gálatas e Efésios, Paulo também fala a respeito do reino de Deus. Em 1 Coríntios 6:9-10 ele menciona certas pessoas que não herdarão o reino de Deus. Em Gálatas 5:21 diz que os que praticam as obras da carne não herdarão o reino de Deus. Em Efésios 5:5 novamente fala dos que não “têm herança no reino de Cristo e de Deus”. O contexto de todos esses versículos a respeito do reino de Deus é a vida da igreja.
Em Apocalipse 1:9 João testificou que ele e os outros estavam no reino de Deus: “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus”. Como João poderia estar no reino se o reino tivesse sido suspenso? O fato de João estar no reino novamente prova que o reino não foi suspenso.
A VIDA DIVINA E O REINO DIVINO
No capítulo 3 do Evangelho de João vemos que não podemos entrar no reino de Deus, a menos que sejamos regenerados: “Em verdade, em verdade te digo: Se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3:5). Aqui vemos que a regeneração não visa ir para o céu, e sim entrar no reino de Deus. “Ir para o céu” seria algo futuro, enquanto entrar no reino de Deus é para o presente. Quando cremos no Senhor Jesus, fomos regenerados. A regeneração foi a entrada no reino de Deus.
A única maneira de entrar em qualquer reino é nascer nele. Por exemplo, um animal entra no reino animal nascendo. Se um animal pudesse entrar no reino humano, precisaria nascer da vida humana. Com esses exemplos vemos que o nascimento é a entrada em determinado reino. Nós nascemos no reino humano. No mesmo princípio, nós renascemos, nascemos de Deus, para estar no reino divino.
Como é que entramos no reino do homem, o reino humano? Entramos nesse reino mediante o nascimento humano. Por esse nascimento recebemos a vida humana e agora, por essa vida, conhecemos as coisas do reino humano. De forma semelhante, a fim de entrar no reino de Deus, devemos nascer de Deus. Para estar no reino divino precisamos ter a vida divina. Para entender as coisas do reino de Deus precisamos da vida de Deus. Fora da vida divina somos incapazes de entender o reino divino.
Pelo fato de termos nascido de Deus e recebido a vida divina, estamos no reino de Deus. Louvado seja o Senhor, pois fomos regenerados e agora estamos no reino divino! Uma vez regenerados, estamos no reino de Deus. De acordo com Romanos 14, pela prática da vida da igreja, praticamos agora a vida do reino.
A VIDA DO REINO
Na edificação do Senhor, estamos acostumados a usar a expressão “a vida da igreja”. Freqüentemente dizemos aos outros que estamos na vida da igreja. Eu recomendaria que de agora em diante digamos não apenas que estamos na vida da igreja, mas também na vida do reino. Por vezes talvez seja até melhor falar da vida do reino do que da vida da igreja. Se usarmos a expressão “vida do reino” juntamente com “vida da igreja”, isso talvez nos lembre que hoje estamos na vida do reino. Estar na vida da igreja é estar no reino, pois a igreja hoje é o reino, e o reino é a realidade da vida da igreja.
A palavra reino, sem dúvida, denota governo. Dizer que praticamos a vida do reino significa que estamos debaixo do governo de Deus.
A SEMENTE DO EVANGELHO
Vamos iniciar nossas considerações a respeito do reino fazendo a seguinte pergunta: Que é o evangelho? Pode-se dizer que é uma Pessoa maravilhosa, um maravilhoso Homem-Deus. O evangelho nos diz que um dia o próprio Deus encarnou-Se. Esse maravilhoso Deus encarnado era o Homem-Deus. Quando atingiu a idade de trinta anos, Ele saiu a pregar o evangelho. Como ressaltamos numa das mensagens anteriores, o evangelho é o substituto de todo o Antigo Testamento, pois é o cumprimento das promessas, profecias e tipos, e também é a remoção da lei. Com a vinda do Homem-Deus, Jesus Cristo, o Antigo Testamento acabou. Jesus Cristo é, Ele mesmo, o evangelho. O evangelho, portanto, é Esse maravilhoso Homem-Deus.
De acordo com o relato do capítulo quatro do Evangelho de Marcos, podemos dizer que o evangelho é o maravilhoso Homem-Deus vindo semear-Se como semente de vida contida na palavra do Senhor Jesus. A esse respeito, Marcos 4:2-3 diz: “E muitas coisas lhes ensinava em parábolas, e lhes dizia no Seu ensinamento: Ouvi: Eis que o Semeador saiu a semear”. No grego, bem como em português, o verbo ensinava está no imperfeito, indicando uma ação que se repete no passado. A palavra Semeador indica que o Salvador-Servo, que é o Filho de Deus, veio semear-Se como semente de vida em Sua palavra (v. 14) nos corações dos homens, a fim de crescer neles, viver neles e ser expressado a partir do interior deles. A semente semeada aqui é a palavra que procedeu da boca do Salvador-Servo. Assim, Sua palavra é a semente, e nela está a vida divina. Na realidade, a semente da vida divina é o próprio Senhor Jesus.
A semente semeada no capítulo 4 de Marcos é a semente do evangelho. Assim como uma semente de cravo é, na verdade, o próprio cravo, assim a semente do evangelho é o próprio evangelho. Como Homem-Deus, Jesus Cristo é a semente do evangelho. Quando falamos de semente do evangelho, queremos dizer que a semente é o evangelho, assim como a semente do cravo é cravo.
Em Marcos 4 temos a semente do evangelho ou o evangelho como semente. De acordo com Marcos 4:3, ao ensinar, o Senhor Jesus semeava. Esse semear era a pregação do evangelho de Deus pelo Salvador-Servo, que introduziu o reino de Deus (Mc 1:14-15). A palavra falada por Ele foi o semear da semente de vida, como vemos em Marcos 4:26. Isso indica que Seu serviço evangélico consistia em semear a vida divina nas pessoas a quem Ele servia. O crescimento dessa vida depende da condição dos que são servidos por Ele, e o resultado, assim, varia de acordo com as diversas condições, como retrata a parábola do semeador (Mc 4:1-20).
O Senhor Jesus plantou a semente no coração do homem. Em Marcos 4 e Mateus 13 o coração do homem é comparado ao solo. O nosso coração é o campo, o solo, no qual o Senhor Jesus semeou a Si mesmo como a semente de vida, que é a semente do evangelho. Na parábola do semeador, o Senhor Jesus é tanto o Semeador como a semente plantada. Como Semeador, Ele semeia a Si mesmo como semente de vida por meio de Sua palavra.
Na própria parábola do semeador o reino de Deus não é mencionado. Por exemplo, em Marcos 4:3 o Senhor Jesus não diz nada sobre o reino, mas diz que o Semeador saiu a semear. Por que não há menção do reino em Marcos 4:1-8? A razão é que, embora o reino de Deus estivesse próximo, ele ainda não tinha chegado. Mas, em Marcos 4:26 vemos que o reino já havia chegado, por isso o Senhor Jesus podia dizer: “O reino de Deus é semelhante a um Homem que lançou a semente sobre a terra.”. Então, em Marcos 4:30 o Senhor prosseguiu: “A que compararemos o reino de Deus?”. Na parábola da semente (vs. 26-29) e na parábola do grão de mostarda (vs. 30-34) o reino de Deus estava lá. Mas na primeira parábola, a do semeador, ele ainda não havia chegado. Como vimos, nessa parábola a semente do reino é plantada.
Quando plantou a semente do reino de Deus, o Senhor Jesus semeou a Si mesmo nos discípulos. Então, essa semente passou por um processo de desenvolvimento neles por três anos e meio. Como resultado, quando veio o dia de Pentecostes, o reino de Deus estava presente com eles. O tempo desde que o Senhor Jesus saiu a pregar o evangelho até o dia de Pentecostes foi menos de quatro anos. Esse foi um período para que a semente plantada na “terra” crescesse. A semente continuou a crescer e se desenvolver até o dia de Pentecostes, quando o reino de Deus estava claramente presente em Pedro e nos cento e vinte.
É fácil falar do aspecto exterior do reino de Deus. Mas é difícil falar do reino de Deus no aspecto interior de vida. Precisamos ser impressionados com o fato de que o reino de Deus é muito diferente do reino do homem. O reino do homem é uma organização. O reino de Deus não; antes, é absolutamente uma questão de vida.
O que é o reino de Deus? É, na verdade, o Homem-Deus, Jesus Cristo, plantado como semente em Seus crentes. Depois de plantada, essa semente irá crescer neles e por fim se desenvolverá num reino.
Jesus Cristo é a semente do reino de Deus, semeada nos que crêem Nele. Agora, ela cresce e se desenvolve neles. Finalmente, esse crescimento e desenvolvimento terão um resultado: o reino de Deus. Então esse resultado, o reino de Deus, fará com que todos os crentes do Senhor atinjam o objetivo. Esse objetivo também é o reino de Deus. O capítulo 4 do Evangelho de Marcos presta-se ao propósito específico de revelar-nos o reino de Deus dessa forma.
O ELEMENTO INTRÍNSECO DO EVANGELHO
Nesta mensagem não estou preocupado com um estudo versículo por versículo de Marcos 4:1-34, nem mesmo com um estudo das diversas parábolas. O meu encargo é que vejamos o que é o reino de Deus. É crucial ver que o evangelho é o evangelho do reino de Deus. Esse evangelho, na verdade, é o Homem-Deus, Jesus Cristo, semeado em nós como semente de vida, que é a semente do reino. Essa semente agora cresce e se desenvolve em nós. Finalmente, um reino resultará desse crescimento e desenvolvimento.
Se dissermos que na edificação do Senhor estamos praticando a vida do reino, precisamos perceber que esse reino não é uma organização. Não; é algo da vida interior, uma vida que, na verdade, é o próprio Senhor Jesus Cristo. Ele foi plantado em nosso ser como semente e agora cresce e se desenvolve em nós. Louvado seja o Senhor, porque essa semente está em cada um de nós e agora cresce e se desenvolve! O crescimento e o desenvolvimento da semente resultarão no reino. Além disso, o reino nos levará ao destino de modo que o objetivo de Deus seja atingido. Você sabe qual é esse objetivo? É o pleno desenvolvimento do reino de Deus.
Já enfatizamos que o evangelho de Marcos registra as atividades do Senhor Jesus. Nos primeiros três capítulos vemos o conteúdo do serviço evangélico (1:14-45), as maneiras de levar a cabo tal serviço (2:1-28; 3:1-6) e os atos auxiliares para esse serviço (3:7-35). Agora, no capítulo quatro vemos o que é o evangelho. De acordo com esse capítulo, o evangelho é a semente de vida plantada nos que crêem no Senhor Jesus, de modo que cresça, se desenvolva e resulte no reino. Aparentemente, o evangelho é questão de pregação, ensinamento, expulsão de demônios, cura de enfermos e purificação de leprosos. Na verdade, o elemento intrínseco do evangelho é a semente divina, o Homem-Deus, o Deus encarnado, plantado em nosso ser. Esse elemento intrínseco do evangelho é negligenciado por muitos cristãos de hoje.
No evangelho há uma semente interior, que, como seu elemento intrínseco, é o Homem-Deus. Sempre que formos pregar o evangelho, precisamos ministrar Cristo aos que nos ouvem e recebem nossa palavra, pois no evangelho há um elemento intrínseco. Sempre que alguém recebe o evangelho, recebe o Deus encarnado como elemento intrínseco a semente, do evangelho. Isso significa que, uma vez que a pessoa receba o evangelho, recebe tal semente. Por meio do evangelho o Deus encarnado é semeado em seu ser.
O DEUS TRIÚNO HABITA EM NÓS
Tem havido discussão teológica entre os cristãos a respeito do fato de Cristo habitar nos crentes. A pergunta é a seguinte: Está Cristo realmente em nós ou não? Alguns dizem que Ele é grande demais e nós, pequenos demais para contê-Lo. De acordo com os que mantêm esse conceito, Cristo pode estar nos céus, mas não em nós. Assim, segundo essa visão, apenas o Espírito Santo, como Seu representante, é que estaria em nós.
Alguns admitem que Cristo, o Filho, está em nós, mas negam que o Pai está em nós. Podem então prosseguir nessa linha, dizendo que o Pai e o Filho são duas Pessoas separadas. Afirmam que na deidade há três Pessoas separadas, que são o Pai, o Filho e o Espírito. Esses que afirmam que o Filho está em nós, mas o Pai não, dizem que, enquanto o Filho vive em nós, o Pai está no trono nos céus. Quanto ao fato de o Pai habitar em nós, precisamos considerar a palavra de Paulo em Efésios 4:6: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. De acordo com esse versículo, o Pai é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. Como, então, podemos dizer que o Pai não está em nós?
Tanto pelo Novo Testamento como por nossa experiência sabemos que o Pai, o Filho e o Espírito estão em nós. Vimos que Efésios 4:6 indica que o Pai está em nós. Colossenses 1:27 e 2 Coríntios 13:5 provam definitivamente que Cristo, o Filho, está em nós. João 14:17 e Romanos 8:9 revelam que o Espírito habita em nós. Além disso em João 14:23 o Senhor Jesus disse: “Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos com ele morada”. Aqui vemos que quando o Filho vem, o Pai vem com Ele. O Pai não permanece no céu e o Filho vem para estar em nós. Não; o Pai e o Filho vêm juntos fazer morada em quem ama o Senhor Jesus.
O Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) está em nós. O Deus Triúno que habita em nós é a própria semente do evangelho. Vimos que essa semente é o Homem-Deus. Portanto, a semente do evangelho é o Deus Triúno em Sua humanidade.
No caso do perdão dos pecados do paralítico registrado em Marcos 2, vemos o Deus Triúno em Sua humanidade. Aqui vemos tanto a deidade como a humanidade do Salvador-Servo. O Salvador-Servo sabia da fé dos que O buscavam, dos pecados do enfermo e dos arrazoamentos interiores dos escribas. Isso indica que Ele era onisciente. Essa onisciência, que manifesta Seu atributo divino, revelou Sua deidade. Contudo, o Salvador-Servo prosseguiu em Marcos 2:10 falando de Si como o Filho do homem. Ele era o próprio Deus encarnado, mas, como tal, não considerou o ser igual a Deus coisa a que devesse se aferrar. Ele exteriormente tinha a semelhança dos homens, até mesmo a forma de servo, mas interiormente era Deus (Fp 2:6-7). Ele era tanto o Salvador-Servo como o Salvador-Deus. Assim, Ele não tinha apenas a capacidade de salvar pecadores, mas também a autoridade para perdoar seus pecados. No incidente registrado em Marcos 2:1-12, Ele perdoou os pecados do homem como Deus, mas afirmou que era o Filho do Homem. Isso indica que Ele era o verdadeiro Deus e um homem autêntico. Nele vemos tanto a deidade como a humanidade. De acordo com o capítulo quatro, esse maravilhoso Homem-Deus é a semente do reino. Isso é exatamente o que esse capítulo nos ensina.
O capítulo 4 do Evangelho de Marcos nos capacita a ver que o evangelho anunciado por João Batista, e pregado pelo próprio Senhor Jesus, é o Deus Triúno, em Sua humanidade, como semente de vida, semeado em nosso coração. Para conhecer o que é o reino de Deus, precisamos ver essa questão sumamente importante.
O GENE DO REINO
A fim de esclarecer essa questão, gostaria de tomar emprestado um termo da biologia: o gene. O Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) em Sua humanidade semeado em nosso ser é o gene do reino. Sabemos que sem genes humanos é impossível haver a vida humana. Nosso nascimento, nosso ser e nossa existência começaram todos com um gene. Agora precisamos ver que o Deus Triúno em Sua humanidade foi semeado em nós para ser o gene do reino. Louvado seja o Senhor porque esse gene está em nós! Por fim, esse gene resultará no reino.
Primeiro, o reino é o resultado do evangelho, e depois é o objetivo do evangelho. Entre o resultado e o objetivo temos a igreja. Você sabe o que é a igreja? É a continuação do resultado do gene do reino.
Esse entendimento do reino de Deus certamente é diferente do conceito superficial de muitos cristãos de hoje. Vimos que, um dia, o Deus Triúno tornou-Se um Homem chamado Jesus Cristo, o Homem-Deus. Ao perdoar o paralítico em Marcos 2 Sua deidade e Sua humanidade foram manifestadas. Agora, Ele, pela pregação do evangelho, foi semeado em nós. Para contatá-Lo hoje, não há necessidade de ninguém descobrir o telhado como fizeram aquelas pessoas zelosas em Marcos 2. O Senhor foi semeado em nosso coração! Ele é o gene do reino, o Deus Triúno em Sua humanidade. Essa pessoa Maravilhosa é nosso Deus, Senhor, Salvador, Redentor, Mestre e vida.
Visto que o Homem-Deus, como gene do reino, foi semeado em nós, espontaneamente amamos uns aos outros e desfrutamos comunhão maravilhosa. Podemos dizer que a igreja na edificação do Senhor é o verdadeiro 'cadinho' das diferentes raças, nacionalidades e culturas. Na verdade, nós não apenas estamos misturados, mas também entremesclados. Você sabe por que amamos uns aos outros? Nós amamos uns aos outros por causa que o gene do reino de Deus está dentro de nós. Esse gene do reino contém o elemento com o qual amamos uns aos outros.
Dia a dia, a semente do reino cresce e se desenvolve em nós. Tenho encargo de que todos sejamos impressionados com o fato de que essa semente, esse gene, foi semeada em nós e é o Deus Triúno encarnado, o próprio Deus em Sua humanidade. Aquele que perdoou o paralítico está agora em nós como a semente do reino.
Oh! que todos tenhamos encargo de contar aos outros essas boas novas! Podemos esquecer-nos de muitas coisas, mas devemos lembrar-nos do gene do reino que está em nós. O Deus Triúno em Sua humanidade foi plantado em nós como semente de vida para crescer, desenvolver-se e produzir o reino. Assim, o reino é o resultado do evangelho e será seu objetivo. Entre o resultado e o objetivo temos a vida da igreja como continuação do resultado desse maravilhoso gene do reino que está em nós.
O Evangelho de Marcos nos dá um relato das atividades do Salvador-Servo. Como já ressaltamos, não é a intenção desse Evangelho dar-nos um registro das palavras ou ensinamentos do Salvador -Servo. Naturalmente, ele nos diz que o Senhor Jesus ensinava, contudo não enfatiza Suas palavras.
O capítulo 4, que pode ser considerado uma inserção, difere do restante do Evangelho de Marcos, pelo fato de nos dar um registro de quatro das parábolas do Senhor Jesus. Em Marcos 4:1-34 não temos uma descrição da atividade ou mover do Salvador-Servo, mas um registro de Seu ensinamento a respeito do reino de Deus. Esse capítulo acerca de ensinamento é crucial.
Se compararmos o capítulo 4 de Marcos com o capítulo 13 de Mateus, veremos que Marcos 4 é muito mais curto do que Mateus 13. Em Mateus 13 temos sete parábolas, mas em Marcos 4 só temos quatro: a parábola do semeador (vs. 1-20), a da lâmpada (vs. 21-25), a da semente (vs. 26-29), e a do grão de mostarda (vs. 30-34). Dessas quatro, apenas a parábola da lâmpada não está incluída em Mateus capítulo 13.
O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DA SEMENTE DO REINO
A questão crucial revelada no capítulo 4 do Evangelho de Marcos é a semente ou o gene do reino. O reino de Deus não é produzido por atividade nem por organização. Na verdade, é o próprio Deus semeado nos seres humanos e desenvolvendo-se neles até se tornar um reino.
Precisamos ser impressionados com o fato de que o reino de Deus não é questão de ensinamento, atividade e organização; pelo contrário, é o Deus Triúno (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) em Sua encarnação semeado em Seus escolhidos para crescer e desenvolver-se neles tornando-se um reino.
Nessa breve definição do reino temos uma afirmação do elemento intrínseco de todo o ensinamento neotestamentário. Que nos ensina o Novo Testamento? Ensina que o Deus Triúno encarnou-Se para ser semeado em Seus escolhidos e Se desenvolver num reino. Esse é o elemento intrínseco do ensinamento do Novo Testamento.
Se lermos o Novo Testamento sob essa luz, veremos que o Deus Triúno tornou-se um homem. Quando esse homem, Jesus Cristo, começou a pregar o evangelho e ensinar a verdade, estava semeando a Si mesmo nos outros. Isso quer dizer que Sua pregação do evangelho e ensino da verdade foram, de fato, um semear de Si mesmo nos que O ouviram. Ao pregar e ensinar, Ele semeava Sua palavra nos ouvintes. Sua palavra O transmitia a eles. Portanto, mediante a palavra, Ele mesmo, como Homem-Deus o Deus Triúno em humanidade, foi semeado em Seus escolhidos. A pregação e o ensinamento foram Sua maneira de Se semear como a semente do reino. Quando os escolhidos de Deus ouviram a palavra desse Homem-Deus e a receberam, na verdade receberam uma Pessoa maravilhosa, Aquele que é tanto o Deus Triúno como Homem autêntico. Isso é o que está registrado nos quatro Evangelhos.
Os quatro Evangelhos revelam o Deus Triúno encarnado. Esse Homem-Deus por fim saiu a Se semear nos escolhidos de Deus pregando e ensinando. Quando os escolhidos de Deus ouviram Sua palavra e a receberam, receberam a semente, o gene do reino. Essa semente, esse gene, é o Deus encarnado, o Deus Triúno em Sua humanidade. Nos Evangelhos temos a semeadura da semente do reino.
Em Atos dos Apóstolos temos a propagação e o espalhar dessa semeadura. Nos Evangelhos temos alguma propagação, primeiro de um Semeador para doze e depois de doze para setenta. Mas em Atos dos Apóstolos centenas e até mesmo milhares de semeadores foram levantados. Todos eles receberam a semente, o gene, e por isso foram capazes de semeá-la nos outros. Dessa forma temos a propagação da semeadura e da semente.
Nas epístolas vemos o crescimento da semente, o gene do reino. Vemos isso especialmente no capítulo três de 1 Coríntios, em que Paulo diz: “Lavoura de Deus [...] sois vós” (v. 9b). Ainda no mesmo capítulo ele diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus” (v. 6). Nesse capítulo temos o crescimento, o desenvolvimento da semente.
Podemos ver mais desenvolvimento do gene do reino em 2º Pedro 1 versículo 3, que diz: “Pelo Seu divino poder, nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à vida e à piedade”. Todas as coisas pertencentes à vida divina nos foram dadas com o objetivo de desenvolvimento. Temos uma descrição desse desenvolvimento nos versículos 5 a 7: “Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor”. Aqui temos os passos do desenvolvimento da semente até a maturidade. Pedro nos mostra o resultado de tal desenvolvimento: “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (v. 11). Assim, temos claramente nas epístolas o desenvolvimento da semente do reino.
A colheita dessa semente está no último livro do Novo Testamento, Apocalipse. De acordo com Apocalipse 14, primeiro temos as primícias e então a colheita. Apocalipse 14:4 fala dos que “foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro”. Então no versículo 15 vemos que “a seara da terra já amadureceu!”.
Aqueles que são as primícias, mencionadas em Apocalipse 14, estarão entre os que reinarão juntamente com Cristo no milênio. O milênio será o pleno desenvolvimento do gene do reino. Nesse período, muitos dos que receberam o gene do reino serão co-reis com Cristo. Então nosso Pai poderá gabar-Se diante do inimigo: “Pequeno Satanás, onde está você? Você está no abismo. Eu peço que você olhe para o Meu reino, especialmente para os que agora são coreis com Cristo. Muitos que creram em Meu Filho e receberam o gene do reino tornaram-se reis juntamente com Ele. Meu Filho é o Rei, e todos os santos vencedores são Seus co-reis. Satanás, olhe para o Rei e os co-reis. Que reino maravilhoso!”.
Nosso Deus é eterno e com Ele não há o elemento tempo. “Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia.” (2Pe 3:8). Do ponto de vista de Deus, os mil anos do milênio serão simplesmente como um dia, para Ele mostrar Seu maravilhoso reino. Mas para Satanás essa demonstração do reino durará mil anos. Nesse tempo Satanás estará amarrado no abismo.
No fim do milênio, Satanás será solto e lhe será permitido rebelar-se novamente. A respeito disso, Apocalipse 20:7-8 diz: “Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue”. Embora vá instigar rebelião entre as nações, ele não será capaz de tocar os co-reis, pois já terão sido transformados pelo gene do reino. Todo o elemento rebelde da humanidade caída desses co-reis terá sido eliminado pelo gene do reino. Dessa forma, será impossível Satanás, o maligno, instigar o “povo do gene real” a se rebelar contra Deus. Contudo, grande número dos que estarão nas nações restauradas o seguirá. Apocalipse 20:9 nos mostra o resultado dessa última rebelião: “Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu”. As pessoas dentre as nações restauradas que não se unirem à rebelião serão transferidas para a nova terra.
No novo céu e nova terra Deus terá um reino eterno com a Nova Jerusalém como capital. A Nova Jerusalém será uma composição de reis, e regerão as nações plenamente restauradas. Então Deus terá um reino eterno como pleno desenvolvimento do gene semeado nos Evangelhos por Jesus de Nazaré, que era o Deus Triúno em humanidade.
Que maravilhoso é o gene do reino semeado nos Evangelhos! Por fim esse gene se desenvolverá no reino milenar mencionado em Apocalipse 20, e no reino eterno de Deus em Apocalipse 21 e 22. Louvado seja o Senhor por esse quadro do gene do reino e seu desenvolvimento!
CRESCIMENTO E TRANSFORMAÇÃO NA VIDA DA IGREJA
Onde fica a igreja nesse quadro do gene do reino e seu desenvolvimento e consumação? As igrejas estão no período do desenvolvimento do gene do reino, que ocorre por crescimento e transformação. Na vida da igreja estamos crescendo e sendo transformados.
Em 1 e 2 Coríntios, Paulo fala do crescimento e transformação que experimentamos na vida da igreja. Em 1 Coríntios 3 temos o crescimento em vida e em 2º Coríntios 3, a transformação da vida. Em 1 Coríntios 3:7 Paulo fala de “Deus, que dá o crescimento”. Aqui temos o crescimento em vida. Em 2 Coríntios 3:18 Paulo diz: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Aqui temos a transformação em vida. Portanto, em 1 e 2 Coríntios temos, respectivamente, um capítulo que trata do crescimento em vida e outro que trata da transformação em vida. Agora, na vida da igreja, experimentamos esse crescimento e transformação em vida.
Já ressaltamos que a vida da igreja é a continuação do resultado do gene do reino. Essa continuação finalmente alcançará o pleno desenvolvimento. Então o reino será manifestado no milênio. Todos os que, através dos séculos, receberam o gene se tornarão reis pelo desenvolvimento desse gene do reino. A totalidade desses reis será o reino eterno de Deus. Portanto, o reino eterno de Deus é o pleno desenvolvimento do gene do reino semeado pelo Homem-Deus, Jesus de Nazaré.
Hoje, na vida da igreja, experimentamos o desenvolvimento do gene do reino pelo crescimento e transformação em vida. Por fim, esse crescimento e transformação atingirão a consumação extrema. Então todos seremos co-reis com Cristo, todos os que experimentamos o pleno desenvolvimento do gene do reino.
No presente estamos no processo de desenvolvimento. Mas é certo que um dia todos seremos co-reis. Quando esse dia chegar olharemos um para o outro e diremos: “Irmão, você se lembra daquelas reuniões nas quais ouvimos falar do gene do reino? Quando estávamos na vida da igreja, estávamos desenvolvendo o gene do reino. Agora estamos todos aqui como co-reis de Cristo. Agora podemos ver o pleno desenvolvimento do gene do reino”. Esse pleno desenvolvimento será uma exibição para as nações, para os anjos e para o Diabo, Satanás.
Precisamos ler o capítulo 4 de Marcos à luz do que vimos a respeito do gene do reino. Se o lermos nessa luz, perceberemos que em Marcos 4 temos o elemento intrínseco do evangelho.
O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS
Em Marcos 4:1-8 o Senhor Jesus conta a parábola do semeador, e em Marcos 4:11 Ele prossegue, dizendo aos discípulos: “A vós é dado conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo é falado em parábolas”. A economia de Deus a respeito de Seu reino era um mistério oculto, desvendado aos discípulos do Salvador-Servo. Mas, como a natureza e o caráter do reino de Deus são totalmente divinos, e os elementos pelos quais ele é gerado são a vida e a luz divina, o reino de Deus ainda é um total mistério para o homem natural, especialmente em sua realidade, que é a igreja autêntica nesta era (Rm 14:17).
A PARÁBOLA DA LÂMPADA
Em Marcos 4:21-25 temos a parábola da lâmpada. Nos versículos 21 e 22, o Senhor Jesus diz: “Vem, porventura, a lâmpada para ser posta debaixo do alqueire ou da cama? Não vem antes para ser colocada no candelabro? Pois nada há oculto senão para ser manifesto; e nada há escondido senão para que venha à luz”. A lâmpada que brilha indica que o serviço evangélico do Salvador-Servo não apenas semeia vida nas pessoas a quem Ele serve, mas também lhes traz luz. Portanto, esse serviço divino resulta nos crentes como luzeiros (Fp 2:15) e nas igrejas como candelabros (Ap 1:20), brilhando nessa era de trevas como Seu testemunho e culminando na Nova Jerusalém com as notáveis características de vida e luz (Ap 22:1-2; 21:11, 23-24).
Marcos 4:24-25 diz: “E dizia-lhes: Atentai no que ouvis. Com a medida com que medirdes, medir-se-vos-á, e se vos acrescentará. Pois ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”. Em Mateus 7:2 e Lucas 6:38 a palavra do Senhor Jesus a respeito de medir é aplicada à maneira como lidamos com os outros. Em Marcos 4:24 é aplicada à maneira como ouvimos a palavra do Senhor. O quanto nos pode ser dado pelo Senhor depende da medida com que ouvimos. Da mesma forma, o que o Senhor Jesus diz no versículo 25 também se refere a como ouvimos Sua palavra. O mesmo vale para Mateus 13:10-13; Lucas 8:18.
A PARÁBOLA DA SEMENTE
Em Marcos 4:26-29 temos a parábola da semente. O versículo 26 diz: “E dizia: O reino de Deus é assim como se um Homem lançasse a semente à terra”. O reino de Deus é a realidade da igreja produzida pela vida de ressurreição de Cristo, mediante o evangelho (1Co 4:15). Regeneração é a entrada do reino (Jo 3:5) e o crescimento da vida divina nos crentes é o desenvolvimento (2Pe 1:3-11).
O Homem em Marcos 4:26 é o Semeador do versículo 3, é o Salvador-Servo como Semeador. Ele era o Filho de Deus vindo semear-Se no coração dos homens como semente de vida contida em Sua palavra (v. 14) a fim de neles crescer e viver, e expressar-Se de dentro deles.
A semente no versículo 26 é a semente da vida divina (1Jo 3:9; 1Pe 1:23) semeada nos crentes do Salvador-Servo. Lançar a semente aqui indica que o reino de Deus, que é o resultado e objetivo do evangelho do Salvador-Servo, e a igreja nesta era (Rm 14:17), são uma questão de vida, a vida de Deus, que brota, cresce, produz fruto, amadurece e produz a colheita. Não são uma organização sem vida conduzida por meio da sabedoria e habilidade do homem. As palavras dos apóstolos em 1 Coríntios 3:6-9, e em Apocalipse 14:4, 15-16 confirmam isso.
O versículo 28 diz: “A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim o grão cheio na espiga”. A terra aqui é a boa terra (v. 8) e representa o bom coração que Deus criou (Gn 1:31) para Sua vida divina crescer no homem. Tal coração coopera com a semente da vida divina nele semeada, permitindo que ela cresça e frutifique espontaneamente para expressar Deus. O que é dito aqui nos capacita a ter fé nesse processo espontâneo. Assim, aqui, em contraste com Mateus 13:24-30, não se menciona o joio, no aspecto negativo. As palavras por si mesma significam que o crescimento é espontâneo.
O versículo 29 conclui: “E, quando o fruto já está maduro, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa”. A foice significa os anjos que o Senhor enviará para ceifar a colheita no final desta era (Ap 14:16; Mt 13:39).
A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA
Em Marcos 4:30-34 temos a parábola do grão de mostarda. Nos versículos 30 a 32, o Senhor Jesus diz: “A que compararemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos? É como um grão de mostarda, que, quando semeado na terra, é menor do que todas as sementes sobre a terra; mas, depois de semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e deita grandes ramos, de modo que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra”. A ilustração da semente nos versículos 3 e 26, e da lâmpada no versículo 21 desvendam a natureza e a realidade interior do reino de Deus; ao passo que a ilustração do crescimento anormal do grão de mostarda, o que é contrário à sua espécie, e das aves que se aninham à sua sombra, fala da corrupção e da aparência exterior do reino de Deus.
Em Marcos 4:31-32 vemos que o grão de mostarda não apenas se torna maior do que todas as hortaliças, mas por fim se torna uma árvore. A igreja, que é a corporificação do reino, deve ser como uma hortaliça para produzir comida. Entretanto, sua natureza e função mudaram de modo que se tomou uma árvore, morada para as aves. (Isso é contrário à lei da criação de Deus, qual seja, que cada planta deve ser segundo a sua espécie — Gn 1:11-12). Isso aconteceu na primeira parte do quarto século quando Constantino, o Grande, misturou a igreja com o mundo. Ele introduziu milhares de falsos crentes no cristianismo, tornando-o a cristandade, e não mais a igreja. Assim, essa terceira parábola corresponde à terceira das sete igrejas em Apocalipse 2 e 3, a igreja em Pérgamo (Ap 2:12-17). A mostarda é uma erva sazonal, ao passo que a árvore é uma planta perene. A igreja, segundo sua natureza celestial e espiritual, deve ser semelhante à mostarda, isto é, peregrina na terra. Mas, com sua natureza mudada, a igreja tornou-se profundamente arraigada e estabelecida, como uma árvore na terra com muitas ramificações (seus empreendimentos florescentes) nos quais muitas pessoas e coisas malignas se alojam. Isso resultou na formação da organização exterior da aparência exterior do reino dos céus.
Na parábola do Semeador, “vieram as aves e devoraram” a semente que caiu à beira do caminho (Mc 4:4). De acordo com o versículo 15, isso indica que Satanás vem e tira a palavra que neles foi semeada. Uma vez que as aves nessa parábola representam o maligno, Satanás, as aves na parábola do grão de mostarda devem se referir aos espíritos malignos de Satanás e também às pessoas e coisas malignas motivadas por eles. Eles se aninham nos ramos da grande árvore, isto é, nos empreendimentos da cristandade.
Em Marcos 4:33-34, temos a conclusão dessa sessão do Evangelho de Marcos acerca das parábolas do reino de Deus: “E com muitas parábolas semelhantes lhes falava a palavra, conforme eram capazes de ouvir. E sem parábola não lhes falava; tudo, porém, explicava em particular aos Seus próprios discípulos”. Essas parábolas demonstraram a sabedoria e o conhecimento divino do Salvador-Servo (Mt 13:34-35).
A IGREJA E O REINO
Leitura Bíblica: Marcos 4:26-29; Mateus 16:16-19; 1 Coríntios 3:9; Apocalipse 14:4, 14-16
A igreja e o reino estão entre os maiores assuntos da Bíblia. Se lermos cuidadosa e adequadamente o Novo Testamento, veremos a importância deles. Em Mateus 3, bem próximo ao início do Novo Testamento, temos uma palavra a respeito do reino. João Batista veio, pregando no deserto da Judéia dizendo: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (v. 2). A pregação de João Batista foi a iniciação da economia neotestamentária de Deus. O arrependimento na pregação de João Batista, como abertura da economia divina, era voltar-se para o reino dos céus. Isso nos mostra que a economia neotestamentária de Deus concentrava-se em Seu reino.
O FUNDAMENTO DA IGREJA
Em Mateus 16, o Senhor Jesus levou os discípulos para Cesaréia de Filipe e ali 'perguntou-lhes: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (v. 13). Depois que eles responderam, o Senhor continuou: “Mas vós, [...] quem dizeis que Eu sou?” (v. 15). Tendo recebido uma revelação do Pai, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).
De acordo com Efésios 5:32, existe um grande mistério composto de duas partes: Cristo e a igreja. Como a revelação do Pai a respeito de Cristo é apenas a primeira metade desse grande mistério, o Senhor Jesus prosseguiu e falou a respeito da igreja: “Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa Pedra edificarei a Minha igreja” (v. 18). Isso indica definitivamente que a igreja é algo de Cristo e para Cristo. Primeiro, Cristo foi reconhecido, conhecido e até mesmo obtido. Depois, o Senhor Jesus disse que sobre “essa Pedra” Ele edificaria Sua igreja. Essa Pedra não se refere somente a Cristo, mas também à revelação a Seu respeito, revelação que Pedro recebeu do Pai celestial de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. A igreja é edificada sobre essa revelação com respeito a Cristo. Assim, a rocha aqui não é meramente o próprio Cristo, mas também é a percepção, o conhecimento, a experiência e a posse de Cristo.
Hoje muitos afirmam reconhecer que Cristo é o fundamento da igreja. Contudo, não viram que o verdadeiro fundamento para a edificação da igreja é a percepção de Cristo. Se não percebermos Cristo em nossa experiência, não teremos o fundamento para a edificação da igreja. Portanto, precisamos conhecê-Lo; assim, nosso conhecimento, experiência, desfrute e posse de Cristo serão o fundamento sobre o qual Ele irá edificar a igreja.
AS CHAVES DO REINO
Em Mateus 16:19, logo após ter falado a respeito da igreja, o Senhor Jesus também falou do reino: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e o que quer que amarrares na terra, terá sido amarrado nos céus; e o que quer que soltares na terra, terá sido solto nos céus”. A frase reino dos céus aqui pode alternar-se com o termo igreja do versículo anterior. Eu não diria que esses termos são sinônimos, contudo nos versículos 18 e 19 são permutáveis. Isso é prova contundente de que a igreja verdadeira é o reino dos céus nesta era, o que é confirmado por Romanos 14:17, um versículo que se refere à adequada vida da igreja.
A palavra do Senhor Jesus a Pedro, em Mateus 16:19, a respeito das chaves do reino dos céus foi cumprida no livro de Atos. O primeiro aspecto desse cumprimento está em Atos 2 e o segundo em Atos 10. Nesses dois momentos Pedro usou duas chaves. Em Mateus 16:19 o Senhor Jesus falou de chaves, e não de chave. Pedro usou uma delas para abrir a porta para que os judeus entrassem no reino de Deus, no dia de Pentecostes, como registra Atos 2. Então, na casa de Cornélio, como registra Atos 10, ele usou a segunda chave para abrir a porta a fim de que os gentios entrassem. Essa é a razão de se ver em Efésios 2 que tanto gentios como judeus são edificados na única igreja: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a Pedra angular” (Ef 2:19-20).
Precisamos ser impressionados com o fato de que em Mateus 16:18 temos a igreja e no versículo seguinte, o reino, mostrando-nos que na primeira menção da igreja no Novo Testamento ela é citada em relação ao reino de Deus. Além disso, conforme já vimos, nesses versículos a igreja e o reino são termos permutáveis.
A REALIDADE DO REINO NA IGREJA
Embora a igreja seja claramente mencionada em Mateus 16, nada é dito a respeito dela no Evangelho de Marcos. No capítulo 4, em particular, o Senhor fala do reino de Deus. Em Marcos 4:26-29 temos a parábola da semente. “E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra.” (v. 26). Essa parábola revela que o reino é questão de vida, que brota, cresce, dá fruto, amadurece e produz uma colheita. Nos versículos 27 e 28 vemos o crescimento espontâneo da semente. Então no versículo 29 temos a colheita. Essa parábola é uma breve ilustração do reino.
Será que a igreja está, de alguma forma, incluída na parábola da semente? Naturalmente, ela não é mencionada diretamente, contudo deve estar incluída aqui de algum modo. Nessa parábola temos o Semeador, a semente plantada, o campo, o desenvolvimento da semente e a colheita. É um quadro completo do reino. Mas onde nesse quadro temos a igreja? Isso merece nossa consideração. Para nos ajudar a responder a essa pergunta de onde está a igreja em Marcos 4:26-29, vamos ver a palavra de Paulo sobre a lavoura de Deus. Em 1 Coríntios 3:9b, ao se dirigir à igreja em Corinto, Paulo diz: “Lavoura de Deus [...] sois vós”. Literalmente, a palavra grega traduzida por lavoura significa terra cultivada. A igreja é a lavoura de Deus, Seu campo, Sua terra cultivada. Se considerarmos as palavras de Paulo em 1 Coríntios 3:9 juntamente com a parábola da semente em Marcos 4:26-29, veremos que o que Paulo diz nos ajuda a entender a relação entre a igreja e o reino.
Podemos usar jardinagem como ilustração da relação entre a igreja e o reino. No pátio de minha casa há um pequeno jardim, que podemos chamar de reino: o reino das plantas. Ele ilustra o reino que foi semeado como semente nos Evangelhos. Nas Epístolas essa semente cresce e se desenvolve, e, por fim, em Apocalipse, haverá uma colheita. Apocalipse 14 fala das primícias (v. 4) e depois da ceifa (vs. 14-16). Essa colheita será o pleno desenvolvimento do reino e, de acordo com 1 Coríntios 3:9, o campo no qual a colheita cresce é a igreja. Assim, usando a ilustração do meu jardim, podemos dizer que o jardim em si retrata a igreja, e as plantas crescendo no jardim retratam o reino. Essa ilustração nos ajuda a ver como o reino está na igreja. O Evangelho de Mateus, em especial, revela que na igreja hoje temos a realidade do reino.
Suponha que no meu pátio só houvesse o chão, o solo, sem nenhuma planta. Será que esse chão sem nada seria um jardim? Não, seria somente um pátio com terra. Como, então, poderia tornar-se um jardim? Apenas tendo plantas a crescer nele. Quanto mais plantas crescerem no pátio, tanto mais o pátio se tornará um jardim. Semelhantemente, quanto mais a semente do reino crescer na terra cultivada, a lavoura, da igreja, mais a igreja será a realidade do reino.
Na vida da igreja hoje, muitas plantas crescem. Se não tivéssemos sido regenerados, mas fôssemos meramente pessoas do mundo, seríamos apenas um pátio com terra virgem. Mas, visto que fomos regenerados, todos somos plantas a crescer na lavoura de Deus. Portanto, somos Seu campo, Seu jardim. Então, o que é o reino? É, na verdade, a realidade das muitas plantas a crescer na lavoura de Deus. Quanto mais crescemos em vida, mais a realidade do reino está presente em nós.
O Novo Testamento fala do reino de Deus e do reino dos céus. Isso, contudo, não significa que haja dois reinos. Há apenas um reino, o único reino de Deus; e o reino dos céus é parte desse único reino.
Podemos comparar o reino de Deus a uma nação como o Brasil e o reino dos céus à sua capital, Brasília, D. F., o distrito onde está localizada a sede do governo federal. O Brasil e Brasília não são duas nações. Não, Brasília é um distrito especial, um distrito governamental, da nação brasileira. Podemos dizer que o reino dos céus é uma Brasília espiritual, o distrito governante do reino de Deus. Portanto, o reino de Deus e o reino dos céus não são dois reinos, mas o reino de Deus é o único reino, e o reino dos céus é parte dele.
De acordo com o diagrama acima, dois círculos compõem o reino dos céus: um círculo para a dispensação da graça e outro para a dispensação do reino. Na dispensação da graça temos a igreja, e dentro da igreja, como indica o círculo pontilhado, temos os crentes vencedores, os que estão na realidade do reino dos céus.
Na ilustração do jardim no pátio de minha casa, a realidade do reino dos céus é retratada pelo crescimento das plantas. Quanto mais elas crescem, mais da realidade do jardim há em meu pátio. Suponha que todas as árvores e plantas do meu jardim morressem; em tal situação, o jardim não teria nenhuma realidade.
Precisamos considerar quanta realidade há entre nós, na vida da igreja. O tanto de realidade depende do tanto de crescimento de vida (crescimento da vida de Deus em nós). Se você visitar meu jardim e vir plantas e árvores saudáveis e belas, poderá exclamar: “Que lindo jardim!”. Você veria um jardim cheio de realidade. Isso é uma ilustração do que queremos dizer com a realidade do reino na igreja.
ABSOLUTAMENTE UMA QUESTÃO DE VIDA
A igreja é um jardim, e o reino é o crescimento dos santos como as plantas nesse jardim. Quando os santos, as plantas, atingem a maturidade, estão qualificados para ser reis com Cristo no reino de Deus. Quando o Senhor voltar, todos os que cresceram até atingir a maturidade estarão qualificados para ser reis com Ele na manifestação do reino no milênio. Como o diagrama indica, a manifestação do reino será na era vindoura do milênio.
O Novo Testamento não apresenta o reino de Deus como mera doutrina objetiva ou profecia. Não, o Novo Testamento ensina a verdade do reino como realidade de vida. O reino de Deus é totalmente uma questão da vida divina (vida de Deus reinando em nós).
O livro de Primeira Coríntios indica que o reino de Deus é uma questão da vida de Deus. Em 1 Coríntios 1:2 temos a igreja, pois essa epístola é dirigida à “igreja de Deus que está em Corinto”. Nela Paulo repetidamente se refere à igreja e também às igrejas (1Co 4:17; 6:4; 7:17; 10:32; 11:16, 18, 22; 12:28; 14:4, 5, 12, 19, 23, 28, 33, 34, 35; 15:9; 16:1, 19).
Enfatizamos que em 1 Coríntios 3:9 vemos que a igreja é a lavoura de Deus. Em 1 Coríntios 6:9-11, Paulo prossegue falando a respeito do reino de Deus, e diz que crentes pecaminosos não estarão qualificados para herdar o reino de Deus. Portanto, no capítulo 1 temos a igreja; no capítulo 3, a lavoura; e no capítulo 6, o reino. No capítulo 15 de 1 Coríntios, Paulo novamente fala a respeito do reino de Deus (1Co 15:24, 50).
No Novo Testamento temos o conceito de que o reino é absolutamente uma questão de vida. A semente dessa vida é o Cristo todo-inclusivo. Ele foi plantado em nós como semente, que agora cresce e se desenvolve em nós até atingir a maturidade. Conforme essa semente cresce em nós, Cristo nos substitui Consigo mesmo. Quando atingirmos a maturidade, teremos Cristo como nosso pleno substituto e Ele será tudo para nós. Esse também será o tempo da colheita e o tempo quando estaremos qualificados para reinar com Cristo. Nesta presente era, temos a realidade do crescimento da vida divina. E na próxima era, teremos a manifestação do reino, quando Cristo e os co-reis reinarem sobre todo o mundo.
Todos precisamos ver que o reino é questão de vida. O reino de Deus foi iniciado quando a semente de vida foi plantada em nós. Essa semente é o Cristo todo-inclusivo como essência da vida, para crescer, desenvolver-se e amadurecer em nós. Em relação a essa semente, temos Cristo, a igreja e o reino. Cristo é a semente, a igreja é a lavoura ou jardim, e o reino é a realidadea colheita e o tempo quando estaremos qualificados para reinar com Cristo. Nesta era temos a realidade do crescimento da vida divina, e na próxima era teremos a manifestação do reino, quando Cristo e os co-reis reinarem sobre todo o mundo.
Todos precisamos ver que o reino é questão de vida. O reino de Deus foi iniciado quando a semente de vida foi plantada em nós. Essa semente é o Cristo todo-inclusivo como essência da vida, para crescer, desenvolver-se e amadurecer em nós. Em relação a essa semente, temos Cristo, a igreja e o reino. Cristo é a semente, a igreja é a lavoura ou jardim, e o reino é a realidade.
Marcos 4:35-41 e 5:1-43
Consideraremos Marcos 4:35-41 e 5:1-43, trecho em que temos três questões: acalmar o vento e o mar para a viagem (4:35-41), expulsar uma legião de demônios (5:1-20), curar uma mulher com fluxo de sangue e ressuscitar uma menina (5:21-43).
SUBJUGAR A REBELIÃO
O capítulo quatro de Marcos é maravilhoso e fala a respeito da semente, o gene do reino, e seu pleno desenvolvimento. Talvez nos surpreenda que, no final desse capítulo, tenhamos o relato de um temporal no mar. E você talvez indague como a última parte do capítulo se encaixa com os versículos 1 a 34, em que temos as parábolas do reino.
Primeiro, o capítulo quatro de Marcos fala a respeito do reino de Deus. Então, imediatamente após o registro do reino, há um registro de rebelião. Marcos 4:37 diz que se levantou grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam para dentro do barco. Isso é um quadro de rebelião. Por meio disso vemos que, no final desse capítulo sobre o reino de Deus, a rebelião ainda está presente.
Não é suficiente usar apenas uma palavra como título para o capítulo 4. Nesse capítulo temos o reino e depois o subjugar da rebelião. Do ponto de vista de Deus, o reino é o desenvolvimento do próprio Deus como semente de vida. Mas, do ponto de vista do inimigo de Deus, o reino é o subjugar da rebelião. Imediatamente após ter falado categoricamente sobre o reino de Deus, o Salvador-Servo disse aos discípulos: “Passemos para a outra margem. E eles, deixando a multidão, O levaram consigo assim como estava, no barco; e havia outros barcos com Ele.” (Mc 4:35-36). O rebelde, Satanás, usou então seus anjos no ar e demônios na água para incitar a rebelião. Devido a isso: “Levantou-se grande temporal de vento e as ondas se arremessavam para dentro do barco, de sorte que o barco já estava a encher-se de água.” (Mc 4:37). Com esse temporal foi bastante difícil para o barco, que levava o Senhor Jesus e os discípulos, cruzar o mar.
O Senhor Jesus Dormia no Barco:
O versículo 38 diz: “E Jesus estava na popa, dormindo sobre a almofada; eles O despertaram e Lhe disseram: Mestre, não Te importa que pereçamos?”. O Salvador-Servo dormia e descansava no barco castigado pelo temporal de vento, enquanto os discípulos se sentiam ameaçados. Isso indica que Ele estava acima da tormenta ameaçadora e não se incomodava com ela. Enquanto os discípulos O tivessem consigo no barco, deveriam, pela fé Nele (v. 40), ter partilhado de Seu descanso e desfrutado Sua paz. O Senhor Jesus descansava em paz, mas os discípulos estavam atemorizados. Por causa do medo, eles O despertaram e Lhe disseram: “Mestre, não Te importa que pereçamos?”.
O versículo 39 diz: “E Ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, emudece! E cessou o vento, e fez-se grande bonança”. Enquanto os discípulos O seguiam, o Salvador-Servo, como Homem com autoridade divina, controlou a tempestade que os ameaçava. Por que o Senhor Jesus repreendeu o vento e falou ao mar? Não se repreendem coisas sem vida, e sim coisas com personalidade. O Salvador-Servo repreendeu o vento e ordenou ao mar que se calasse, porque no vento estavam os anjos caídos de Satanás (Ef 6:12) e no mar, os demônios (Mt 8:32). Os anjos caídos no ar e os demônios na água colaboravam entre si para estorvar o Salvador-Servo em Sua ida para o outro lado do mar, porque sabiam que Ele iria lá expulsar os demônios (Mc 5:1-20).
O Senhor Jesus Repreende o Vento:
O Senhor Jesus repreendeu o vento e ordenou que o mar se calasse devido aos anjos e demônios rebeldes que estavam por trás da cena. O Senhor Jesus sabia que o temporal fora instigado por esses anjos e demônios para impedi-Lo de ir ao outro lado do mar expulsar a legião de demônios. Quando o Senhor Jesus expulsou aqueles demônios, isso foi a vinda do reino.
Agora podemos ver que no capítulo 4 o Senhor Jesus falou a respeito do reino, e no capítulo cinco Ele levou a cabo o reino expulsando demônios. Entre a palavra a respeito do reino e levar a cabo o reino, há o incidente do mar tempestuoso. Depois que o Senhor Jesus repreendeu o vento e falou ao mar, o vento cessou e houve grande bonança, pois a rebelião dos anjos malignos no ar e dos demônios na água foi subjugada. Portanto, em Marcos 4:35-41 vemos o reino como o poder para subjugar rebeliões.
A seqüência nesse capítulo é significativa. Logo depois da revelação do reino, temos o subjugar da rebelião. Isso visa levar a cabo o reino de Deus. O versículo 41 diz que os discípulos “ficaram possuídos de grande temor e diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar Lhe obedecem?”. O fato de o Senhor Jesus repreender o vento e o mar não somente demonstrou a autoridade divina do Salvador-Servo, mas também testificou que Ele era o próprio Criador do universo (Gn 1:9; Jó 38:8-11).
EXPULSAR DEMÔNIOS E PURIFICAR A INDÚSTRIA IMUNDA
Como a rebelião foi subjugada, o Salvador-Servo e Seus discípulos “chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos” (Mc 5:1). O relato em Marcos 5:1-20 é muito mais detalhado do que o de Mateus 8:28-34. Isso é uma evidência categórica de que o Evangelho de Marcos, como biografia do Servo de Deus, enfatiza Sua obra em vez de Sua palavra, e dá mais detalhes do que os outros Evangelhos.
Marcos 5:2 diz: “Ao sair Ele do barco, logo veio ao Seu encontro, dos túmulos, um homem possesso de espírito imundo”. A respeito desse homem o versículo 7 diz: “E, gritando em alta voz, disse: Que tenho eu Contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Adjuro-Te por Deus que não me atormentes”. Isso indica que o possesso tinha sido usurpado pelo espírito imundo a ponto de ser levado por este a atuar como se fosse o próprio espírito.
Assim que o Senhor Jesus entrou na terra dos gerasenos, a situação ficou exposta para Ele e Seus discípulos. Havia um homem possuído por uma legião de demônios e as pessoas naquela terra tinham um negócio de criação de porcos (vs. 11-14). Que indústria terrível!
Em Sua sabedoria, o Salvador-Servo cuidou de dois problemas ao mesmo tempo: expulsou os demônios do possesso e purificou a indústria imunda de criação de porcos. Antes de Ele ir a terra dos gerasenos, aquele lugar estava cheio de demônios e porcos. Você gostaria de morar com a família num lugar assim? Na verdade, nenhuma pessoa normal gostaria de viver em tal lugar. Contudo, o Senhor Jesus foi lá para expulsar os demônios e purificar a indústria imunda. Os discípulos não sabiam por que o Senhor Jesus lhes disse que passassem para o outro lado (Mc 4:35). O Senhor Jesus, naturalmente, sabia por que queria ir à terra dos gerasenos.
O povo de Deus não devia ter um negócio de criação de porcos, e sim de ovelhas, dessa forma teriam sacrifícios adequados para oferecer a Deus. Mas os que habitavam a terra dos gerasenos estavam no negócio sujo de criar porcos. O mesmo princípio vale hoje para os incrédulos. Sempre que os seres humanos estiverem ocupados por demônios, estarão envolvidos em algum negócio sujo ou indústria suja. Eles precisam que o Senhor Jesus venha expulsar os demônios e purificar todas as suas atividades impuras.
Marcos 5:13 diz: “Então, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e no mar se afogaram”. Aqui vemos que havia cerca de dois mil porcos. Certamente, devia haver grande número de demônios para precipitá-los no mar. Se houvesse apenas vinte demônios, cada demônio teria de levar consigo cem porcos precipício abaixo, para dentro do mar. O ponto importante aqui é a relação entre os demônios e a indústria suja. O motivo pelo qual os incrédulos hoje estão envolvidos com atividades sujas e formas pecaminosas de entretenimento é que estão sob a influência de demônios.
A CURA DE UMA MULHER COM FLUXO DE SANGUE E A RESSURREIÇÃO DE UMA MENINA
Em Marcos 5:21-43 temos o registro da cura de uma mulher com fluxo de sangue e a ressurreição de uma menina. Nesse relato, também dos feitos miraculosos do Servo de Deus em Seu serviço evangélico, Marcos nos dá mais detalhes que Mateus. É uma apresentação viva, retratando especialmente os sofrimentos de duas enfermas, e a ternura e bondade do Salvador-Servo para com elas em Seu serviço salvador. Essa apresentação detalhada também indica que Pedro estava presente nesses momentos.
Os versículos 22 e 23 diz: “E chegou um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, vendo-O, prostrou-se a Seus pés, e muito Lhe suplicava, dizendo: Minha filhinha está à morte; rogo-Te que venhas e imponhas as mãos sobre ela, para que seja curada e viva”. O chefe da sinagoga não tinha muita fé, por isso é que suplicou ao Senhor Jesus que fosse à sua casa. O Senhor concordou e foi com ele.
A Fusão dos Dois Casos:
De acordo com o versículo 24: “Grande multidão seguia o Senhor Jesus, e O apertavam”. Nos versículos 25 a 34 vemos que uma mulher, que há doze anos tinha um fluxo de sangue, ela veio na multidão que vinha atrás do Senhor Jesus, e tocou Sua veste e foi curada. Como o caso dessa mulher se funde com o caso da filha do chefe, e como os doze anos de sua doença são a idade da menina, e ambas do sexo feminino, uma mais velha e a outra mais nova, esses dois casos podem ser considerados um caso completo, de uma só pessoa. Desse ponto de vista, a menina nasceu, por assim dizer, na doença mortal da mulher, e doze anos mais tarde morreu dessa doença. Quando a enfermidade da mulher foi curada pelo Salvador, a criança morta ressuscitou. Isso significa que toda pessoa caída nasce com a enfermidade mortal do pecado e está morta em pecado (Ef 2:1). Quando sua enfermidade mortal do pecado é curada pela morte redentora do Salvador (1Pe 2:24), ela ressuscita da morte para a vida (Jo 5:24-25).
A Sequiosa Tocou no Salvador:
Os versículos 28 e 29 diz: “Porque dizia: Se eu lhe tocar ao menos as vestes, serei curada. E imediatamente se lhe secou a fonte do sangue, e sentiu no corpo estar curada do flagelo”. A palavra grega traduzida como curada no versículo 28 também pode ser traduzida como ficar sã. Literalmente, a palavra significa ser salvo. Doença é uma opressão exercida pelo diabo sobre o enfermo. Assim, a cura que o Salvador-Servo realizou foi um serviço salvador prestado à vítima em sofrimento, para que desfrutasse alívio e libertação da opressão do maligno (At 10:38).
Como havia uma multidão a apertar o Salvador-Servo, era difícil para os que O buscavam genuinamente tocá-Lo. Mas essa mulher achou uma maneira de tocá-Lo e, quando o fez, foi curada. “Jesus, percebendo imediatamente em Si mesmo que Dele saíra poder, virando-Se no meio da multidão, perguntou: Quem tocou nas minhas vestes?” (v. 30). O Senhor Jesus tinha a sensação interior de que Sua virtude, Seu poder, tinha saído Dele e tinha sido infundido em alguém. Essa foi a razão de ter perguntado quem havia tocado Suas vestes. Os discípulos, sendo naturais e vendo a multidão a apertá-Lo disseram: “Vês que a multidão Te aperta, e dizes: Quem Me tocou?” (v. 31). A multidão que O apertava não recebeu nada do Salvador, mas a mulher que O tocou foi curada. Há uma grande diferença entre "apertar e tocar" o Senhor.
O Salvador-Servo era Deus encarnado como homem (Jo 1:1, 14). Suas vestes representam Sua conduta perfeita em Sua humanidade: Sua perfeição nas virtudes humanas. Tocar Suas vestes era, na verdade, tocá-Lo em Sua humanidade, na qual Deus estava corporificado (Cl 2:9). Mediante esse toque, Seu poder divino foi transfundido, por meio da perfeição de Sua humanidade, naquela que O tocou e isso foi sua cura. O Deus que habita em luz inacessível tornou-se tocável na pessoa do Salvador-Servo, mediante Sua humanidade, para a salvação e desfrute dela. Esse foi o serviço que o Salvador-Servo prestou, como Servo de Deus, à pecadora enferma.
No versículo 34 o Senhor Jesus disse à mulher: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e sê curada do teu flagelo”. O poder que o Salvador-Servo tinha para curar expressava Sua deidade (v. 30); e a palavra que Ele falava, com amor, bondade e comiseração, expressava Sua humanidade. Nesse caso, Sua deidade e Sua humanidade novamente se fundiram para expressá-Lo.
O Significado da Enfermidade da Mulher:
Qual é o significado da enfermidade da mulher? Escoamento de vida. O fluxo de sangue simboliza o vazamento da essência de vida. Desde a queda do homem, todo descendente de Adão está enfermo dessa maneira. Como pecadores caídos, todos estamos flagelados com o vazamento da essência de nossa vida. Devido a esse flagelo, todo descendente de Adão, todo pecador caído, está morrendo dia a dia. Assim que nasce, o ser humano começa a morrer. Que significa morrer? É experimentar o vazamento da essência de vida. Se você considerar a sociedade de hoje, perceberá que em cada pecador há a doença do vazamento da essência de vida.
UM RETRATO DA SOCIEDADE HUMANA
Em Marcos 4:35-41 e 5:1-43 temos três coisas:
1) O subjugar da rebelião,
2) A expulsão dos demônios e a purificação da indústria imunda de criação de porcos, e
3) A cura da mulher com fluxo de sangue.
Esses três casos retratam a situação da sociedade. Primeiro, entre os seres humanos há o “mar tempestuoso” da rebelião. Na sociedade não há ambiente pacífico. Pelo contrário, há tempestade após outra. Além disso, na sociedade a situação real é de possessão demoníaca e de “criação de porcos”. Em todos os países as pessoas estão envolvidas em algum tipo de indústria suja para ganhar a vida. Todo o mundo está envolvido na indústria de criação de porcos porque está debaixo do controle de legiões de demônios possuidores. Ademais, todas as pessoas caídas estão morrendo; isto é, sofrem do vazamento da essência de vida. As características da sociedade atual certamente são estas: rebelião, possessão demoníaca com criação de porcos e vazamento da vida. É por isso que temos encargo de sair para pregar o evangelho. Precisamos que o Senhor Jesus venha subjugar a rebelião, expulsar os demônios e purificar a indústria imunda, e curar o flagelo do vazamento da vida.
Vimos que o relato em Marcos 5:21-43 funde o caso da mulher com fluxo de sangue com o da filha do chefe. Isso indica que os dois casos retratam a situação de uma só pessoa. Podemos dizer que a menina nasceu na doença mortal da mulher. Essa também é a situação de todo ser humano. Todos nascemos com uma doença mortal; todos nascemos para morrer. De acordo com o registro aqui, quando essa doença mortal atinge o ápice, nós morremos, assim como a menina. A menina nasceu com a doença da mulher e com ela morreu. Mas o Salvador-Servo veio para curá-la. Quando a doença da mulher foi curada, a menina reviveu. Isso indica que a cura da mulher foi o reviver da menina.
A cura da mulher e a ressurreição da menina prefiguram nossa experiência ao receber o evangelho. Quando o evangelho veio a nós, nós o ouvimos, recebemos e fomos curados da enfermidade do vazamento da essência de vida. Então, uma vez curados, fomos vivificados e avivados. Nascemos com uma doença mortal, mas recebendo o evangelho fomos curados e vivificados.
UMA DEMONSTRAÇÃO DO REINO DE DEUS
Em Marcos 4:35-41 e 5:1-43 temos uma demonstração do reino de Deus, na qual vemos o subjugar da rebelião, a expulsão da legião de demônios, a purificação da indústria imunda, a cura da enfermidade mortal e a ressurreição da que havia morrido. Isso significa que em Marcos 4:35-41 e 5:1-43, a rebelião é subjugada, demônios são expulsos, a indústria de porcos é purificada, a enfermidade mortal é curada e a pessoa morta é ressuscitada. Isso é o reino de Deus. Onde há o reino não pode haver rebelião, demônios, criação de porcos nem doença mortal; antes, tanto os velhos como os jovens são curados e vivificados. Isso é o reino de Deus, isso é o evangelho e essa também é nossa experiência na vida da igreja.
Todo ser humano tem os problemas de rebelião, demônios, indústria de criação de porcos, doença e morte. Encontramos essas coisas na sociedade e em cada indivíduo. Mas quando o Senhor Jesus vem como a semente do reino, todos esses problemas são resolvidos. Então temos o reino de Deus.
Estamos contentes por poder testificar que o Senhor Jesus lidou com a rebelião, com o “mar tempestuoso” em nosso ambiente. Agora temos um caminho livre para prosseguir com Ele. Além disso, estávamos possuídos por demônios e envolvidos com a indústria imunda. Mas os demônios foram expulsos e a indústria de criação de porcos, purificada. Também podemos testificar que fomos curados e vivificados, e agora estamos na vida da igreja, no reino. Como desfrutamos o serviço evangélico de nosso Salvador-Servo!
Jesus é o Senhor!