Evangelho de Marcos | Estudo 16
LEITURA BÍBLICA:
Gálatas 2:11-21; Marcos 1:1
Na mensagem anterior ressaltamos que no Evangelho de Marcos vemos uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela. A expressão economia neotestamentária de Deus é conhecida da maioria de nós, contudo, a fim de ser renovados em nosso entendimento, vamos considerar de forma simples e básica o que ela é.
A ECONOMIA DE DEUS
A economia neotestamentária de Deus é Deus infundir-Se em Seus escolhidos a fim de fazê-los membros de Cristo, para que Cristo tenha um Corpo que seja Sua expressão. Nessa descrição vemos algumas questões importantes: Deus quer infundir-Se em Seus escolhidos; Deus quer fazer de Seu povo membros do Corpo de Cristo, a Igreja; e o Corpo de Cristo visa a expressão de Cristo. No Evangelho de Marcos vemos uma vida que é totalmente de acordo com essa economia e para ela.
DOIS TIPOS DE VIDA
Como já ressaltamos, se compararmos a Epístola de Tiago e o Evangelho de Marcos, veremos que esses dois livros apresentam dois tipos de vida. Na Epístola de Tiago vemos algo da vida de Tiago, e no Evangelho de Marcos vemos a vida do Senhor Jesus. Cada um desses livros nos ajuda a entender o outro. Sem Marcos talvez não tivéssemos clareza a respeito da Epístola de Tiago. Semelhantemente, sem Tiago poderíamos não ter um entendimento tão claro do Evangelho de Marcos. Quando os comparamos e vemos as duas vidas neles reveladas é que temos um entendimento adequado tanto da Epístola de Tiago como do Evangelho de Marcos.
A REPUTAÇÃO E A INFLUÊNCIA DE TIAGO
Como a Epístola de Tiago enfatiza a perfeição cristã prática, muitos cristãos têm profundo apreço por ela. Como enfatizamos no Estudo de Tiago, ele realmente enfatiza a perfeição cristã e o faz na prática, e não na doutrina. Assim muitos crentes piedosos e devotos amam o livro de Tiago. Ele nos diz que oremos por sabedoria para comportar-nos adequadamente. Também nos encoraja a restringir o falar, a refrear a língua, a fim de ter um viver piedoso. Em cada capítulo de sua epístola, ele traz certas questões referentes à piedade.
Tanto na história da igreja como na Bíblia, Tiago era conhecido por sua piedade. Ele gastava muito tempo em oração e era tido em alta conta entre os cristãos judeus nos tempos antigos. De acordo com os capítulos 15 e 21 de Atos e o capítulo 2 de Gálatas, Tiago era tido em alta conta pelos santos. Por exemplo, Gálatas 2:12 refere-se a alguns “que chegaram da parte de Tiago” a Antioquia. Segundo esse versículo, quando eles chegaram, Pedro “afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão”. Isso ilustra a influência que Tiago exercia. Até mesmo Pedro, o apóstolo líder, estava debaixo de sua influência.
Geograficamente, Jerusalém era no sul e Antioquia no norte. Muitos mestres da Bíblia consideram essas duas cidades como dois grandes centros. Havia uma igreja em Jerusalém (At 8:1) e outra em Antioquia (At 13:1). Ao ler Atos pode parecer-nos que a igreja em Jerusalém tinha uma aparência judaica e a de Antioquia, uma aparência gentia. Alguns podem pensar que, uma vez que Jerusalém era na Judéia, era necessário que a igreja ali tivesse aparência judaica; e já que Antioquia ficava no mundo gentio, a igreja ali deveria ter aparência gentia. Talvez você dissesse: “Como a igreja em Jerusalém, cidade dos judeus, não seria judaica na aparência? E como a igreja em Antioquia não seria gentia na atmosfera? Certamente as igrejas no Japão têm aparência japonesa e as da América têm aparência americana”. Isso pode ser lógico do ponto de vista humano, mas o Novo Testamento revela que a igreja não é judaica nem gentia. 1 Coríntios 10:32 fala de três categorias de pessoas: os judeus, os gentios e a igreja. Isso mostra claramente que a igreja é algo totalmente à parte tanto dos judeus como dos gentios. Deus chamou Seus escolhidos dentre judeus e gentios para formar a igreja. Portanto a igreja não deve ser judaica nem gentia. Se há aparência judaica ou gentia, então até certo ponto ela perdeu seu caráter ou pelo menos algumas características.
Se lermos cuidadosamente Atos 15 e 21 e Gálatas 2, veremos que no tempo de Pedro, Paulo e Tiago, Jerusalém exercia considerável influência sobre Antioquia. Isso significa que a igreja em Jerusalém exercia influência sobre as igrejas no mundo gentio. Talvez Tiago estivesse preocupado com que as igrejas no mundo gentio não praticassem a lei mosaica. Essa pode ter sido a razão de ter enviado alguns de Jerusalém para Antioquia. Eles talvez tenham ido lá observar a situação entre os crentes.
Antes que alguns da parte de Tiago foram a Antioquia, Pedro agia adequadamente, como irmão e membro do Corpo de Cristo. Especificamente, Pedro comeu com os gentios. Como Paulo diz de Pedro: “Antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios.” (Gl 2:12). Contudo quando eles chegaram, Pedro ficou com medo e liderou o fingimento, isto é, agiu novamente como judeu. A palavra que Paulo usou para esse fingimento foi hipocrisia: “ E também os outros irmãos judeus começaram a agir como hipócritas, do mesmo modo que Pedro. E até Barnabé se deixou levar pela hipocrisia deles.” (Gl 2:13).
Alguns podem perguntar o que estava errado na atitude de Pedro. Pode parecer que não havia nada de errado, mas para os que conhecem a economia neotestamentária de Deus está claro que Pedro cometeu um erro sério. Sua atitude de se afastar e se apartar dos crentes gentios envolveu uma mistura prejudicial à economia divina.
TOMAR DEUS COMO VIDA E VIVÊ-LO
A economia neotestamentária de Deus não consiste em guardar a lei ou praticar rituais; também não se trata meramente de fazer o bem segundo a ética ou filosofia humanas. Antes, é questão de Deus infundir-Se em Seus escolhidos, a fim de que tenham o Deus Triúno (Pai, Filho e Espírito) como sua vida. Quando o povo de Deus tem a vida de Deus, eles automaticamente estão capacitados a vivê-la. Viver a vida de Deus significa simplesmente viver por Deus e até mesmo viver o próprio Deus. Assim, a economia divina não consiste em guardar a lei judaica nem em fazer o bem de acordo com a filosofia humana; mas trata-se de ter Deus como vida e então vivê-Lo. É extremamente importante que todos vejamos isso.
Desde o tempo dos apóstolos até hoje tem havido muita discussão a respeito de ensinamentos bíblicos e teologia. Muitas dessas discussões são resultado de uma só coisa: perder o alvo da economia neotestamentária de Deus. Por séculos os mestres cristãos têm discutido sobre doutrinas e práticas, mas o alvo da economia de Deus tem sido negligenciado. Que grande perda é desconhecer a economia divina!
Alguns cristãos, especialmente os assim-chamados povo da santidade, discutem sobre o estilo adequado das roupas. Por exemplo, talvez discutam sobre o comprimento das saias e mangas das irmãs. É uma ilustração muito simples de como os santos têm sido desviados da economia neotestamentária de Deus. Se os irmãos virem que em Sua economia Deus deseja infundir-Se em Seus escolhidos, a fim de que eles O tenham como vida e O vivam, cremos que não haverá necessidade de discutir a respeito da maneira de se vestir.
A economia neotestamentária de Deus não se relaciona a guardar leis nem observar rituais. Também não se trata de se fazer o bem de forma ética; antes, é tomar Deus como vida e vivê-Lo.
Se lermos Gálatas 2:11-21 cuidadosamente, veremos que a atmosfera em Antioquia mudou depois que chegaram alguns da parte de Tiago. Antes que eles chegassem, Pedro e os outros estavam em certa atmosfera, a atmosfera de desfrutar a economia neotestamentária de Deus. Mas então, devido à influência de Tiago, a atmosfera espiritual mudou, e o céu espiritual ficou nebuloso. Algo tinha entrado para obscurecer a economia divina.
A situação em Antioquia era tão séria que Paulo resistiu a Pedro face a face (Gl 2:11). Paulo lhe deu uma boa lição. De acordo com Gálatas 2:14, Paulo lhe disse na frente de todos: “Se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?”. As palavras de Paulo, faladas naquela ocasião, continuam até Gálatas 2:21. Talvez você tenha citado Gálatas 2:19-20 muitas vezes, especialmente as palavras “estou crucificado com Cristo”, mas talvez não tenha percebido qual é o contexto desses versículos. Esse contexto se inicia no versículo 11 e inclui a repreensão pública de Paulo a Pedro. Essa repreensão enfatiza que nós que cremos em Cristo devemos ter apenas um viver, que é viver Cristo. Não se trata de comer ou não com gentios. Pelo contrário, trata-se de ter sido crucificado com Cristo e de Cristo viver em nós. Portanto Paulo podia dizer: “Como fui crucificado com Cristo e Cristo vive em mim, já não sou eu quem vive na questão de comer. A pergunta não é se como ou não com os gentios, e sim se Cristo vive em mim ou não”.
COMO AVALIAR A EPÍSTOLA DE TIAGO
Tiago era piedoso, muito categórico em perfeição cristã prática. Mas se o avaliarmos segundo a economia neotestamentária de Deus, veremos os defeitos em seu viver. Em sua Epístola, ele não fala nada sobre Cristo viver em nós. Na verdade ele nem mesmo fala da vida divina. Antes, refere-se a pessoas e práticas do Antigo Testamento. Muito do que ele escreve baseia-se no Antigo Testamento. Em sua Epístola não encontramos muitos termos neotestamentários. Mesmo quando ele usa uma expressão neotestamentária, ele imediatamente a reverte para uma prática do Antigo Testamento.
Não devemos avaliar a Epístola de Tiago segundo o conceito natural, ético ou religioso; mas segundo a economia neotestamentária de Deus. Sabemos que a economia de Deus é infundir-Se em nós como nossa vida, de modo que O vivamos como membros do Corpo de Cristo. Quando usamos isso para avaliar a Epístola de Tiago, somos capazes de ver onde ela se situa em relação ao restante do Novo Testamento.
Por alguns séculos o status da Epístola de Tiago era incerto. Apenas no Concílio de Cartago, no ano 397 d.C., é que esse livro foi final e oficialmente reconhecido como parte do Novo Testamento. Uma das razões da discussão em torno dele é que, com respeito à economia neotestamentária de Deus, ele não é nem preto nem branco, mas cinza. Isso quer dizer que é uma mistura do Antigo com o Novo Testamento. Em certos aspectos o livro de Tiago tem as “cores” do Novo Testamento. Um exemplo disso é a palavra a respeito do Pai das luzes nos gerando, para que sejamos as primícias de Suas criaturas (Tg 1:18). Outros exemplos são a Palavra implantada, a lei da liberdade e o Espírito habitando em nós (Tg 1:21, 25; 4:5). Todas essas questões pertencem à economia neotestamentária de Deus, mas são encontradas numa epístola com forte sabor e cor do Antigo Testamento. É por essa razão que ressaltamos que nesse livro vemos uma vida que não é totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus ou para ela.
A VIDA REVELADA EM MARCOS
Quando nos voltamos da Epístola de Tiago para o Evangelho de Marcos, vemos uma vida que não é nem um pouco cinza. Pelo contrário, a vida do Senhor Jesus como Salvador-Servo revelada em Marcos é absolutamente “branca”. Isso significa que é totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela.
Embora o evangelho de Marcos registre uma vida que é totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela, ainda precisamos de visão espiritual para ver o que está revelado nesse Evangelho. Sem essa visão espiritual, podemos considerar Marcos mero livro de histórias. Sem essa visão, não perceberemos que se trata da biografia de uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela. Na verdade, a vida apresentada em Marcos é a realidade, a substância e o padrão da economia neotestamentária de Deus.
LEITURA BÍBLICA:
Marcos 1:1, 10-11; 9:1-9; Atos 21:18-24
A SUBSTÂNCIA DA ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Na mensagem acima ressaltamos uma importante diferença entre a Epístola de Tiago e o Evangelho de Marcos. Em Tiago, ao contrário de Marcos, vemos uma vida que não é totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus nem para ela. Na verdade, a vida apresentada em Marcos é a realidade, a substância e o padrão da economia neotestamentária de Deus.
Talvez você se pergunte por que dizemos que no evangelho de Marcos vemos uma vida que é a substância da economia neotestamentária de Deus. Dizemos isso, porque a vida do Senhor Jesus era a expressão de Deus. De acordo com o Evangelho de Marcos, não há indicação de que o Senhor vivesse meramente para cumprir a lei, que fizesse certas coisas simplesmente porque a lei exigia. Ademais, Marcos não indica que o Senhor tenha vivido para fazer o bem. Como, então, é que Ele viveu? Ele viveu Deus e O expressou. Tudo o que Ele fazia era Deus fazendo de Seu interior e por meio Dele. Isso quer dizer que tudo o que Ele fez não foi apenas guardar a lei ou fazer o bem, num sentido ético. Ele foi alguém que viveu Deus e O expressou em tudo o que disse e fez.
VIVER NO REINO DE DEUS
Posso garantir-lhe que nunca houve outra vida como a do Senhor Jesus. As biografias de outras pessoas podem mostrar que elas foram boas ou tentaram guardar a lei de Deus. Mas o Senhor Jesus é o único que viveu Deus e O expressou de maneira plena. Naturalmente, Ele nunca infringiu a lei nem fez nada de errado. Contudo a questão crucial a respeito da Sua vida não foi que Ele guardou a lei ou fez o bem, e, sim, que viveu Deus e O expressou. O viver Dele não foi no reino de guardar a lei ou de fazer o bem. Ele viveu totalmente em outro reino, o reino de Deus.
Você vive no reino de Deus? Podemos dizer que vivemos no reino de Deus, mas na prática, no dia-a-dia, podemos viver em outra esfera. Em vez de viver no reino de Deus, podemos viver nos reinos da lei, da ética ou da moral. Por séculos muitos irmãos viveram nesses reinos e não no reino de Deus.
Especialmente desde o tempo de João Wesley tem havido muita conversa entre os cristãos com respeito à santidade. Alguns a consideram como a perfeição sem pecado. Outros pensam que está relacionada com as regras sobre coisas, como o estilo das roupas. Regras como essas não estão no reino de Deus; pertencem a outro reino, talvez o reino do bem.
Os que vivem no reino de Deus têm Deus como sua vida e O vivem. Deus vive neles, por meio deles e Se expressa neles. Como resultado eles têm um viver que não expressa nada mais além do próprio Deus. Deus é a verdadeira santidade, moralidade e ética. Portanto ter Deus como vida e vivê-Lo é viver de maneira mais elevada do que a moral e a ética humana.
A VIDA QUE PRODUZ O CORPO DE CRISTO
Apenas a vida que vive Deus e O expressa produz o Corpo de Cristo. Qualquer outro viver sempre danifica o Corpo. Através da história, a igreja geralmente não se dividiu por coisas malignas, mas principalmente por coisas boas que não são o próprio Deus. Se os cristãos se preocupassem apenas com o próprio Deus, tê-Lo como vida e vivê-Lo, não haveria divisão entre eles.
O motivo pelo qual não haveria divisões, se todos nos preocupássemos apenas com o próprio Deus, é que Deus é um. Em Efésios 4:4-6 Paulo fala de um Corpo, um Espírito, um Senhor, e um Deus e Pai. Se virmos a unidade em Efésios 4, saberemos como manter a unidade do Corpo de Cristo, unidade essa que é, de fato, o próprio Deus Triúno (Pai, Filho e Espírito Santo). Se todos tivermos Deus como nossa santidade, justiça e tudo para nós, não haverá divisões entre nós. Contudo, se tivermos algo diferente de Deus, então haverá divisões. Qualquer coisa que tivermos diferente do próprio Deus é fator de divisão.
É a intenção de Deus em Sua edificação da Igreja trazer-nos de volta à Sua economia do Novo Testamento. O padrão para a economia neotestamentária de Deus é encontrado na vida do Senhor Jesus, apresentada no Evangelho de Marcos. Nem mesmo os escritos de Paulo nos apresentam um padrão completo, porque pelo menos uma vez o próprio Paulo foi desviado da economia divina. Portanto nem mesmo Paulo é um padrão completo.
TIAGO E A PERFEIÇÃO CRISTÃ
No capítulo 21 de Atos, vemos uma situação na qual Paulo foi desviado da economia neotestamentária de Deus. Ele foi convencido por alguns em Jerusalém a voltar à lei e cumprir alguns de seus requisitos. Isso aconteceu depois de ter escrito as Epístolas aos romanos e aos gálatas. Nelas Paulo falou categoricamente contra continuar guardando a lei à maneira do Antigo Testamento.
Depois de escrever esses livros, Paulo foi a Jerusalém pela última vez. Atos 21:18 diz que ele foi encontrar-se “com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram”. Segundo o versículo 20, eles disseram a Paulo: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei.” (At 21:20). Eles haviam sido informados de que Paulo ensinava “todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei.” (At 21:21). Então Tiago e os outros prosseguiram, dando a Paulo o seguinte conselho: “Faze, portanto, o que te vamos dizer: estão entre nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram voto; toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa necessária para que raspem a cabeça; e saberão todos que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que, pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando a lei.” (At 21:23-24).
Atos 21:18 não diz que Paulo foi ver os presbíteros e Tiago estava presente; diz que ele foi ver Tiago e os presbíteros estavam presentes. Isso indica que Tiago era a figura central na igreja em Jerusalém e exercia forte influência.
Como será que Tiago pôde se tornar uma influência tão forte e central entre os crentes? Provavelmente porque era muito piedoso e enfatizava a perfeição cristã prática. Nada atrai mais as pessoas do que a perfeição de alguém. Até mesmo alguém tão espiritual como Paulo não era tão atraente como Tiago a esse respeito. Se Tiago estivesse entre nós hoje, sem dúvida seríamos atraídos por sua perfeição cristã.
Para ilustrar como as pessoas são atraídas pelo que consideram perfeito, deixe-me contar algo que Watchman Nee disse em 1932. Ele usava o cabelo um pouco mais comprido do que era costume entre os chineses naquele tempo. Um dia ele disse: “Se eu cortasse meu cabelo mais curto, mais pessoas receberiam meu ministério”. Como os chineses naquele tempo eram muito conservadores, não queriam aceitar nada que considerassem moderno. Para eles, um cavalheiro deveria usar o cabelo bem curto. Alguns estariam abertos para receber o ministério do irmão Watchman Nee se ele atingisse o padrão deles de perfeição nessa questão.
Os cristãos são facilmente atraídos pelos que parecem praticar a perfeição cristã. Por exemplo, suponha que certo irmão seja gentil, humilde e manso, e sempre fale de maneira bondosa e amável. Você não seria atraído por ele? Não seria fácil ser influenciado por ele? Eu uso isso como ilustração para ressaltar como as pessoas são atraídas pela perfeição.
Se virmos que a perfeição atrai as pessoas, poderemos entender a natureza da influência de Tiago em Jerusalém. Ele era piedoso, justo e, em certo sentido, santo. Ele certamente tinha uma medida de perfeição cristã prática. Contudo não podemos ver nele a vida de alguém que vive no reino de Deus.
AQUELE QUE VIVEU DEUS E O EXPRESSOU
Em todo o Novo Testamento só há uma Pessoa que viveu plena, total e absolutamente conforme a economia neotestamentária de Deus, e essa Pessoa foi o Senhor Jesus.
Quando eu era jovem, ensinaram-me a tomar Jesus como exemplo e segui-Lo. Até certo ponto ensinei outros a fazer o mesmo. Contudo por anos eu me perguntava como tomar Jesus como exemplo e segui-Lo, Você sabe como tomar Jesus como exemplo? sabe como segui-Lo? Quando perguntei a certos mestres e pastores cristãos sobre isso, disseram-me que o Senhor Jesus era gentil e nunca estava irado. Por fim descobri, lendo as Escrituras, que pelo menos em uma ocasião, o Senhor Jesus ficou irado, foi quando “encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e os cambistas assentados. Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou o dinheiro dos cambistas e virou as mesas.” (Jo 2:14-15). Isso me fez questionar o que me haviam ensinado sobre a maneira de seguir o Senhor. Comecei a perder a confiança no que, agora vejo, é um entendimento e ensinamento natural sobre tomar Jesus como exemplo.
No Evangelho de Marcos vemos que o Senhor Jesus não teve um mero viver de moralidade humana nem de guardar a lei; pelo contrário, teve Deus Pai como Sua vida. Esse viver é muito superior a um viver de guardar a lei ou de moralidade humana.
O desejo de Deus é ser expresso de nosso interior. Ele não quer ver-nos apenas tendo um viver moral ou de acordo com a lei. Ele quer ver a Si mesmo expresso de nosso interior, quando O tomamos como vida e O vivemos. No evangelho de Marcos temos o retrato de uma vida não da lei nem meramente da moralidade, mas Daquele que viveu Deus e O expressou.
Numa mensagem posterior veremos que, como Aquele que viveu Deus e O expressou, o Senhor Jesus tinha Deus Pai como Sua essência divina interior e Deus Espírito exteriormente como Seu poder. Ele, portanto, viveu pela essência divina Nele e pelo poder divino sobre Ele. Isso significa que Ele viveu a vida de Deus. Esse viver é revelado no Evangelho de Marcos.
Todo o tempo em que esteve na terra, o Senhor Jesus viveu a vida de Deus. Nele as coisas do Antigo Testamento tinham morrido. Sua vida era totalmente nova, pois Ele tinha Deus Pai em Si e Deus Espírito sobre Si. Sua vida, portanto, estava absolutamente relacionada com o próprio Deus e era totalmente conforme a Sua economia neotestamentária. Aleluia por tal vida! Essa vida é a realidade, a substância e o padrão da economia neotestamentária de Deus. É a vida que produz os membros de Cristo para formar Seu Corpo a fim de expressar o Deus Triúno (Pai, Filho e Espírito Santo).
LEITURA BÍBLICA:
Marcos 1:14-15; 4:3, 26, 29; 1 Pedro 1:23; 1 João 3:9; 1 Coríntios 3:9; Apocalipse 14:14-16
Vamos considerar um assunto muito misterioso. Um mistério é algo que não se pode entender facilmente. O mistério que iremos considerar nesta mensagem é o do Senhor Jesus como Semeador, semente e reino. Esses três itens são todos parte de uma Pessoa maravilhosa e todo-inclusiva: o Senhor Jesus Cristo. Como veremos, no Evangelho de Marcos o Semeador é uma pessoa, a semente é uma pessoa e o reino é uma pessoa.
A VIDA E OBRA DO SENHOR
Em Lucas 17:20 o Senhor Jesus foi “interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus”. Em Sua resposta Ele lhes disse: “O reino de Deus não vem de modo observável. Nem dirão; Ei-lo aqui! ou ei-lo ali! porque eis que o reino de Deus está no meio de vós”. Considerando esses versículos juntamente com Lucas 17:22-24, fica provado que o reino de Deus é o próprio Salvador, que estava entre os fariseus quando eles Lhe fizeram essa pergunta. Como o próprio Senhor é o reino, onde quer que Ele esteja, ali está o reino de Deus.
Depois que o Senhor Jesus foi batizado, o Espírito desceu sobre Ele. Então Ele saiu em Seu mover para trabalhar e ministrar. Vimos que quanto a Ele, não havia diferença entre vida e obra. Sua vida era Sua obra, e Sua obra era Sua vida. Podemos dizer que Ele vivia a obra; Ele vivia um ministério. O Senhor tinha um viver de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. Nele só havia uma coisa: Sua vida, que era Sua obra, mover e ministério. Tudo o que fazia, tudo o que falava e todo lugar aonde fosse eram parte de Sua vida.
Enquanto se movia na terra, tendo um viver de Deus, o Senhor Jesus pregou o evangelho aos miseráveis, ensinou a verdade aos que estavam nas trevas, expulsou demônios dos que estavam possuídos, curou enfermos e purificou leprosos. Isso está retratado no capítulo 1 de Marcos. Então em Marcos 2 e 3 vemos que o Senhor Jesus introduziu as pessoas no perdão dos pecados e no festejar alegre, tendo Ele mesmo como justiça para cobri-las exteriormente e como vida para enchê-las interiormente. Então o Senhor Jesus se tornou a satisfação e liberação deles.
UM HOMEM QUE FALAVA NO SANTO DOS SANTOS
No capítulo 4 de Marcos o Senhor Jesus foi à beira-mar. Marcos 4:1 diz: “De novo começou Jesus a ensinar junto ao mar. E reuniu-se a Ele numerosíssima multidão, de modo que entrou num barco e nele se assentou, no mar; e toda a multidão estava em terra, de frente para o mar”. Aqui o barco representa a igreja, a terra representa a nação judaica, e o mar, os gentios.
Para o Senhor Jesus o barco em Marcos 4 tornou-se Seu Santo dos Santos. Quando alguns ouvem isso, talvez digam: “Como você pode dizer que um barco se tornou o Santo dos Santos para o Senhor Jesus? O Santo dos Santos tem de estar no templo”. A isso eu responderia que, se um lugar é ou não o Santo dos Santos, não depende do lugar em si; mas de Deus. Se Deus está em determinado lugar, ali é o Santo dos Santos. Isso significa que, uma vez que o Senhor Jesus é o próprio Deus, o barco, de onde falava em Marcos capítulo 4, era o Santo dos Santos. Quando Ele falava do barco, na verdade era Deus que falava. No Antigo Testamento Deus falava no Santo dos Santos, do propiciatório. No tempo de Marcos capítulo 4, tal Santo dos Santos já fora abandonado por Deus e o novo Santo dos Santos era o barco onde estava o Senhor Jesus.
Se você não acredita nisso, pode ser indicação de que você ainda não teve fim. Se você teve fim, verá que em Marcos capítulo 4 os discípulos estavam com o Senhor Jesus no barco que era o Santo dos Santos. Lembre-se, Aquele que estava nesse barco falando a palavra era, na verdade, o próprio Deus. O Deus que antes falava no Santo dos Santos falava agora no barco. Nesse Santo dos Santos, um Homem falava, e esse Homem era o Deus que fala.
O SENHOR LANÇA A SEMENTE
Vimos que em Seu serviço evangélico, o Senhor Jesus pregava, ensinava, expulsava demônios, curava enfermos, purificava leprosos e introduzia os que Ele tocava no perdão dos pecados e numa condição de festejar com Ele, com alegria, satisfação e liberdade. Pode ser que os que O tocavam se perguntassem o que, na verdade, lhes teria acontecido. No capítulo 4 de Marcos temos uma definição do que o Senhor Jesus fazia nos capítulos 1 ao 3.
Em Marcos 4:1, depois de ministrar nos três capítulos anteriores, o Senhor Jesus entrou num barco e ensinou ao povo “muitas coisas” “em parábolas” (Mc 4:2). A primeira foi a parábola do Semeador (Mc 4:1-20), que começa com as palavras: “Eis que o Semeador saiu a semear” (Mc 4:3). Isso indica que nos três primeiros capítulos de Marcos tudo o que o Senhor Jesus fazia era semear. Por exemplo, em Marcos 1:14-20 o Senhor pregou o evangelho dizendo: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1:15). Como o Senhor Jesus pregava o evangelho, pode ser que O consideremos apenas um pregador. Mas a parábola do Semeador indica que Ele era um Semeador. Isso quer dizer que ao pregar o evangelho Ele não era só um pregador, mas também um Semeador. Há grande diferença entre Semeador e pregador. Aparentemente o Senhor Jesus era um pregador; na verdade, era um Semeador.
A situação é a mesma quanto a ensinar a verdade, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. Aparentemente o Senhor Jesus era um mestre, na verdade Ele era um Semeador. Da mesma forma, aparentemente o Senhor Jesus era Alguém que expulsava demônios, curava doentes e purificava leprosos. Mas, ao fazer todas essas coisas, Ele na verdade era um Semeador. Quando pregava o evangelho, ensinava a verdade, expulsava demônios, curava enfermos e purificava leprosos, Ele era um Semeador plantando a semente.
UMA VIDA DE SEMEAR
Marcos 4 revela que a vida que vive de acordo com a economia neotestamentária de Deus é uma vida que semeia. O Senhor Jesus como Semeador semeou a Si mesmo como semente nas pessoas por Ele tocadas. Podemos tomar o caso da cura da sogra de Pedro como ilustração. Quando foi a ela, Ele a curou. A esse respeito Marcos 1:31 diz: “Então, aproximando-se e tomando-a pela mão, levantou-a; e a febre a deixou, e ela se pôs a servi-los”. Você acha que aqui o Senhor Jesus não fez nada mais além de curar? Por certo, Ele fez muito mais. Aquela cura foi na verdade um semear. Quando Ele a curou, algo Dele mesmo foi semeado nela. Naturalmente, naquele momento ela por certo não estava consciente de que algo fora semeado nela. Contudo é um fato, uma realidade, que algo que saiu do Salvador Semeador fora infundido nela.
O Senhor Jesus também semeava quando tocou o leproso e o curou (Mc 1:40-45). O leproso disse ao Senhor: “Se quiseres, podes purificar-me.” (Mc 1:40). Compadecido, o Senhor o tocou e lhe disse: “Quero, fica limpo! E imediatamente foi-se-lhe a lepra, e ficou limpo.” (Mc 1:41-42). Quando Ele tocou o leproso e o purificou, você não crê que algo Dele foi semeado naquele que foi purificado? Enquanto purificava o leproso, Ele Se semeava nele.
Provavelmente o leproso purificado e a sogra de Pedro não estavam conscientes de que algo fora semeado neles pelo Senhor. Contudo grande mudança aconteceu em seu ser. Depois de curada, a sogra de Pedro serviu e, depois de curado, o leproso se movia de forma diferente. Isso indica que algo do Senhor foi semeado neles, embora não tivessem conscientes disso e não pudessem explicar o que havia acontecido. No capítulo 4 de Marcos, o Senhor revela que o que foi infundido naqueles com os quais tinha entrado em contato era a semente plantada neles por Ele mesmo como Semeador. O Semeador, portanto, é a Pessoa maravilhosa do Senhor Jesus.
A SEMENTE DO REINO
Na parábola do Semeador não há menção do reino de Deus. Mas na parábola da semente o Senhor Jesus fala claramente do reino de Deus (Mc 4:26-29). No versículo 26 Ele diz: “O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra” (Mc 4:26). Isso revela que o reino de Deus é uma semente.
Você conhece algum escrito cristão que diga que o reino de Deus é uma semente? A maioria dos mestres da Bíblia, ao estudar o reino de Deus, diriam que ele é uma dispensação para Deus exercitar Seu governo ou uma esfera para exercitar Sua autoridade a fim de cumprir Seu propósito. Alguns dizem que o reino de Deus primeiramente estava com os filhos de Israel, contudo, quando os judeus rejeitaram o Senhor Jesus, dizem eles: o reino foi suspenso até a era vindoura, a era do reino. Além disso, esses mestres dizem que a era atual não é a era do reino, mas apenas da igreja. Dizem que a era vindoura, a era do milênio, será a era do reino, seguida pelo reino eterno, no novo céu e nova terra. Embora eu não diga que ensinamentos como esses não têm base nas Escrituras, gostaria de chamar sua atenção para o fato de que isso não é o que é ensinado com respeito ao reino de Deus em Marcos 4:26-29. Aqui a palavra do Senhor revela que o reino de Deus é uma semente.
O EVANGELHO E O REINO
O Evangelho de Marcos começa com estas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Que é o evangelho? Talvez você diga que são as boas-novas, as boas notícias. Isso, naturalmente, está correto. Mas que são as boas-novas? Quando jovem, ensinaram-me que as boas-novas é o que está em João 3:16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Não há dúvida de que isso certamente são boas-novas. Contudo em Marcos não lemos nada sobre Deus amando o mundo. Em vez disso, Marcos 1:1 fala do princípio do evangelho de Jesus Cristo. Então é-nos dito em Marcos 1:14 que o Senhor Jesus foi à Galiléia pregando o evangelho de Deus. Em Sua pregação Ele declarava: “Arrependei-vos e crede no evangelho”. Não há nenhuma palavra aqui a dizer que Ele pregava a respeito do amor de Deus ou que tenha dito que chegara o tempo de crer Nele para ter a vida eterna. Em Marcos 1:15 o Senhor Jesus disse que o tempo estava cumprido e que o reino de Deus estava próximo. Assim precisamos arrepender-nos e crer no evangelho.
Se lermos Marcos 1:14-15 com cuidado, perceberemos que o evangelho é, na verdade, o reino de Deus. O versículo 14 diz que o Senhor Jesus pregava o evangelho de Deus, e o versículo 15 diz que Ele declarou que o reino de Deus estava próximo. Como o reino de Deus estava próximo, as pessoas deviam arrepender-se e crer no evangelho. Aqui vemos que o evangelho e o reino de Deus são sinônimos. O reino é o evangelho, e o evangelho é o reino.
Se o reino de Deus fosse apenas uma esfera para Deus exercer autoridade ou uma dispensação para Ele administrar Seu governo, não é plausível que tal reino pudesse ser um evangelho para nós. Mas em Marcos é revelado que o reino de Deus é o evangelho. Quando o Senhor Jesus pregava o evangelho de Deus, pregava o reino de Deus.
DEFINIÇÃO DO REINO DE DEUS
O que é o reino de Deus? Rigorosamente falando, o reino de Deus é uma Pessoa, e essa Pessoa é o Filho de Deus encarnado como Filho do Homem cujo nome é Jesus Cristo. Primeiro, essa Pessoa maravilhosa veio como o Semeador. Segundo, Ele é a semente plantada por Ele mesmo como o Semeador. Quando o Semeador planta a semente em nós, isso é o reino de Deus. Podemos dizer que, de acordo com 1 Coríntios 3:9, o reino de Deus é Sua lavoura. Portanto o reino de Deus é o Semeador plantando a semente nos seres humanos. Hoje esse reino é a lavoura de Deus, e essa lavoura é a vida adequada da igreja.
O que cresce na lavoura de Deus? É Cristo. Esse é o conceito, não apenas do Evangelho de Marcos, mas também de outros livros do Novo Testamento. Por exemplo, na sua primeira Epístola, Pedro diz: “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” (1Pe 1:23). Aqui vemos que nascemos de Deus porque temos a semente de Deus em nós.
No último livro do Novo Testamento, Apocalipse, temos a colheita da semente plantada nos Evangelhos. Nos Evangelhos o Senhor Jesus era o Semeador, mas em Apocalipse 14 Ele virá como o Segador. O que foi plantado nos Evangelhos cresce nas Epístolas e por fim irá amadurecer em Apocalipse 14, e haverá a colheita. Considere Apocalipse 14:14-15: “Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!”. Essa colheita será o agregado dos crentes maduros. Por fim, eles serão reis com o Senhor Jesus.
Já enfatizamos que no Evangelho de Marcos vemos uma vida segundo a economia neotestamentária de Deus. Tudo o que o Senhor Jesus fazia ao pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos era de acordo com a economia neotestamentária de Deus. Agora no capítulo quatro de Marcos vemos que essa vida é uma vida que semeia. A vida que é de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela é uma vida de semear.
Em Marcos 1:1 temos um princípio, e em Marcos 1:4, um término. Sem término, não pode haver novo início. Por que fomos batizados depois de crer no Senhor Jesus? Para sepultar a velha vida, que inclui a nós mesmos. Sempre que alguém se arrepende e crê no Senhor Jesus, devemos pôr fim a sua velha vida e velho ego, batizando-o, isto é, sepultando-o. Esse término visa a um novo princípio.
O BATISMO DO SENHOR JESUS
Marcos 1:9 fala do batismo do Senhor Jesus: “E aconteceu naqueles dias que veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão”. O Senhor Jesus queria ser batizado; Ele queria ser sepultado.
Por que o Senhor Jesus foi batizado? Embora por um lado não houvesse Nele nada que necessitasse ser sepultado, em especial nada velho, o Senhor, no entanto, era um homem e como tal era parte da velha criação. Se Ele não tivesse nada a ver com a velha criação, como poderia ser o Salvador dela?
De acordo com João 1:1, 14, o Verbo, que era Deus, tornou-se carne. A palavra carne é um termo negativo nas Escrituras. Deus não criou a carne; criou o homem. Por que então João não diz que o Verbo tornou-se homem? João 1:14 diz claramente, não que o Verbo tornou-se homem, e sim tornou-se carne. Quando Jesus saiu de Nazaré e foi até João, Ele tinha um corpo de carne.
Com respeito a isso, Paulo foi muito cuidadoso. Em Romanos 8:3 ele diz que Cristo veio em semelhança de carne pecaminosa. O homem caído se tinha tornado a carne do pecado. Mas o Senhor Jesus tinha apenas a semelhança da carne do pecado; não tinha pecado. Assim como a serpente de bronze levantada no deserto para a redenção dos israelitas caídos tinha apenas a semelhança, a forma, de serpente, mas não sua natureza, o Senhor Jesus também tinha apenas a semelhança da carne de pecado, e não sua natureza.
Quando o Senhor Jesus se tornou um homem, a humanidade havia caído. Contudo no interior Dele não havia pecado. Embora não houvesse pecado Nele, Sua humanidade ainda era à semelhança da carne de pecado. Por um lado, Ele era o Filho de Deus; tratava-se de Sua deidade. Por outro, era o Filho do homem; tratava-se de Sua humanidade. Com respeito à Sua deidade, não havia necessidade de o Senhor Jesus ser batizado. Mas, com respeito à Sua humanidade, com respeito ao fato de Ele ser um homem entre os homens, havia a necessidade de ser batizado. O Senhor Jesus como homem precisava ter fim, ser sepultado.
Naturalmente a Bíblia não diz que, ao ser batizado, o Senhor Jesus se arrependeu. Como Ele não tinha nada do que se arrepender, não havia necessidade disso. Ele não tinha pecado e nunca pecou. Como não tinha o pecado e nem pecados, Ele não precisava arrepender-se. Contudo Ele tinha uma humanidade relacionada com a velha criação e por essa razão precisava ser batizado. Em Seu batismo Ele queria ser colocado de lado.
O ESPÍRITO SOBRE O SENHOR JESUS
Marcos 1:10 nos diz o que aconteceu quando o Senhor Jesus saiu da água: “E imediatamente, ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como pomba, descendo sobre Ele”. Antes disso Ele já tinha Deus Pai em Seu interior como a essência de Seu ser. Depois do batismo, Deus Espírito desceu sobre Ele. Portanto em Seu interior Ele tinha a essência divina e sobre Si tinha o Espírito de Deus. Com o Pai em Seu interior como Sua essência e com o Espírito sobre Si como poder para Seu mover e obra, Ele iniciou Seu ministério. Em Seu mover e obra, Ele não era apenas moral ou ético nem era religioso. Mas era alguém absolutamente de Deus. em todos os lugares e todo o tempo porque Sua obra era Sua vida, Sua vida era Seu mover e Seu mover era Sua obra. Nele não havia diferença entre vida, obra e mover.
No Senhor Jesus, todo aspecto de Sua vida era o mesmo. Nós, contudo, podemos dividir a vida entre trabalho, escola, família e igreja. Podemos facilmente dizer quantas horas trabalhamos cada dia. Mas você consegue dizer quantas horas o Senhor Jesus trabalhava cada dia? Qual era o tempo separado para as refeições? O que quero ressaltar aqui é que Ele sempre vivia, trabalhava e se movia. Sua pregação e ensino eram parte do viver. Expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos também eram parte do viver do Senhor Jesus. Nele não há distinção entre vida e obra.
Podemos pensar que o Senhor Jesus foi capaz de ter tal viver, mas nós não. Hoje todos devemos ter uma vida de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. A prática comum de contratar pregadores para trabalhar como profissionais não está correta de acordo com as Escrituras. Cada crente deve ter um viver de pregar, ensinar, expulsar demônios e curar enfermos. Se vivermos dessa forma, aonde quer que formos, nossa vida será nossa pregação, pois temos um viver de pregação. Da mesma forma também teremos um viver de expulsar demônios. Muitos são indulgentes com certas coisas malignas e mundanas porque foram possuídos por demônios.
Eis o que quero dizer ao falar sobre isso: o Senhor Jesus viveu uma vida de Deus, e é uma vida de pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos e purificar leprosos. Não é um viver de cultura, religião, filosofia ou mera ética ou moral. A vida de Deus espontaneamente prega, ensina, expulsa demônios, cura e purifica. Se todos vivermos dessa forma, a situação em nossa cidade será diferente após certo tempo. Contudo o que enfatizamos é a vida em si, a vida de Deus totalmente de acordo com a Sua economia neotestamentária e para ela.
O RESULTADO DE VIVER DE ACORDO COM A ECONOMIA DE DEUS
Vimos que o conteúdo do serviço evangélico do Senhor Jesus inclui pregar o evangelho, ensinar a verdade, expulsar demônios, curar enfermos, e purificar leprosos. Em Marcos 2:1-28; 3:1-6 vemos as formas de levar a cabo o serviço evangélico: perdoar pecados (vs. 1-12), festejar com pecadores (vs. 13-17), fazer com que Seus seguidores se alegrassem sem ter de jejuar (vs. 18-22), importar-se antes com a fome de Seus seguidores do que com os preceitos da religião (vs. 23-28), importar-se antes com o alívio do que sofre do que com os ritos da religião (3:1-6). Todos esses itens deveriam ser encontrados em nosso viver como cristãos hoje.
Se você vive a vida de Deus, após certo tempo alguns colegas seus podem experimentar o perdão dos pecados. Então irão desfrutar o Senhor como festa, tendo-O como justiça para se cobrir e vida para se encher e estar satisfeitos. Então terão liberdade. Antes de você contatá-los, eles estavam debaixo da condenação e não tinham verdadeira alegria, satisfação nem liberdade. Mas como resultado de sua pregação do evangelho, não por meio de meras palavras, mas pela vida, a verdade brilha neles e eles têm o perdão dos pecados. Esse é o resultado de viver totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus.
Uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela é bem diferente da religião, que enfatiza o esforço humano. A economia de Deus é totalmente questão de vida.
ASPECTOS DE UMA VIDA DE ACORDO COM DEUS
Em Marcos 3:7-35 temos cinco atos auxiliares para o serviço evangélico: escapar da pressão da multidão (vs. 7-12), designar os apóstolos para pregar (vs. 13-19), deixar de comer por causa da necessidade urgente (vs. 20-21), amarrar Satanás e saquear-lhe a casa por meio do Espírito Santo (vs. 22-30) e não permanecer no relacionamento da vida natural, e sim no da vida espiritual (vs. 31-35). Se vivermos de acordo com a economia neotestamentária de Deus, nos manteremos afastados da multidão e então oraremos a fim de conhecer a vontade de Deus a respeito dos outros viverem da maneira como vivemos. Além disso, iremos importar-nos com a necessidade de Deus, e não com nosso comer. Também iremos amarrar o inimigo e saquear-lhe a casa. Ao mesmo tempo, negaremos o relacionamento natural e permaneceremos no da vida espiritual. Todos esses não são aspectos de um viver ético, moral, religioso ou cultural, mas de uma vida que é de Deus e de acordo com Deus. Essa vida está fora da religião, cultura, e ética. É um viver que expressa Deus como tudo.
Precisamos ser impressionados com o fato de que o Evangelho de Marcos não é mero livro de histórias nem biografia; é um livro que apresenta a vida divina, uma vida que vive Deus e O expressa. É uma vida totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela.
LEITURA BÍBLICA:
Marcos 1:1, 14-15; 4:1-20, 26-29
No Evangelho de Marcos vemos uma Pessoa a viver segundo a economia neotestamentária de Deus. Esse livro não revela outra coisa a não ser o Senhor Jesus como essa Pessoa maravilhosa.
QUESTÕES QUE OCUPAM A NOSSA ATENÇÃO
Citaremos a seguir uma série de itens que têm ocupado a atenção das pessoas através da história: cultura, religião, ética, moral, aperfeiçoamento do caráter, filosofia, ser bíblico, espiritual, santo e vitorioso. Esses dez itens abrangem os pensamentos, idéias e conceitos de todos, incluindo gentios, judeus e cristãos. Pessoas em todos os lugares têm a mente ocupada com cultura, religião, ética, moral, melhoria do caráter e filosofia. Além disso, os cristãos podem estar ocupados em ser bíblicos, espirituais, santos e vitoriosos. Muitos livros foram escritos por mestres cristãos a respeito de como se pode ser bíblico, espiritual, santo e vitorioso.
De acordo com o Evangelho de Marcos, o Senhor Jesus não ensinou cultura, religião, ética, moral, melhoria do caráter ou filosofia. Tampouco ajudou as pessoas a ser mais bíblicas, espirituais, santas e vitoriosas. Como ressaltamos em mensagem anterior, o Senhor Jesus não vivia no reino da lei nem no da ética; vivia totalmente em outra esfera: o reino de Deus.
O SEMEADOR PLANTA A SI MESMO COMO SEMENTE DE VIDA
Como Aquele que vivia no reino de Deus, como é que o Senhor Jesus vivia? que fazia? No capítulo 4 de Marcos vemos que Ele era um Semeador e plantou a Si mesmo como semente nas pessoas. Em especial, plantou-Se em Pedro e nos outros discípulos.
Não era fácil o Senhor Jesus semear-Se nos seres humanos. Semear na terra é fácil, mas para o Senhor plantar a semente viva nas pessoas era difícil. Essa dificuldade pode ser ilustrada pela dificuldade que muitas vezes os pais encontram em dar remédio aos filhos doentes. Como a criança às vezes resiste fortemente, os pais têm de segurá-la e abrir-lhe a boca, a fim de conseguir dar-lhe o remédio. De forma semelhante, o Senhor Jesus talvez tivesse de usar anjos como ajudantes para semear-Se em nós. Pode ter sido necessário que passássemos por uma situação difícil antes que nos abríssemos a Ele para recebê-Lo como semente divina. Louvado seja o Senhor, porque apesar da dificuldade Ele foi semeado em nós.
O Evangelho de Marcos nos mostra o Senhor Jesus vivendo e trabalhando para semear-Se nas pessoas. Marcos não é um livro sobre cultura, religião, ética, moral, melhoria do caráter ou filosofia. Também não é um livro que nos ensina a ser bíblicos, espirituais, santos e vitoriosos. Antes, é um livro que nos apresenta o Semeador plantando-Se em nós como semente da vida que vive segundo a economia neotestamentária de Deus.
Talvez até os pensamentos dos santos na restauração do Senhor estejam ocupados com como ser bíblico, espiritual, santo e vitorioso. Você não quer ser santo? não quer ser espiritual e vitorioso? Os livros escritos pelos cristãos enfatizando a necessidade de ser santo, espiritual e vitorioso podem citar versículos da Bíblia para sustentar seus ensinamentos. Contudo Marcos nem toca nesse campo. Esse Evangelho não nos ensina a ser santos, espirituais e vitoriosos, antes, apresenta o Senhor Jesus como Aquele que Se semeia nos discípulos.
Os seguidores íntimos do Senhor Jesus ficaram três anos e meio com Ele, nos quais Ele deve ter-lhes ensinado muitas coisas. É surpreendente que em Marcos não encontremos nenhuma pista a respeito disso. Nesse livro vemos que o Senhor Jesus continuamente Se semeava em Pedro e nos outros discípulos. No capítulo 1, Ele viu Pedro e seu irmão André pescando. Ele os chamou e, atraídos por Ele, eles deixaram tudo e O seguiram (Mc 1:16-18). Pode ser que o semear do Senhor em Pedro tenha começado naquele momento.
O SENHOR SE SEMEOU EM PEDRO
Quando Pedro foi salvo? Eis uma pergunta difícil de responder. Será que foi salvo ao ser chamado no capítulo 1 de Marcos? Se você disser que ele não foi salvo ali, eu pergunto: “Como é que Pedro podia ser chamado se ainda não fora salvo? A Bíblia revela que, uma vez chamados, somos salvos”. Contudo, se dissermos que Pedro foi salvo quando foi chamado em Marcos 1, podemos perguntar-nos por que ele não mostrou nenhum sinal de ser alguém salvo. Pedro era egoísta e natural. Ele sempre estava em si mesmo, sem nenhum indício de ter sido salvo. Talvez Pedro tenha sido salvo quando sua sogra foi curada, ou quando declarou que Jesus é o Cristo, ou quando viu o Senhor transfigurado no monte. Mas em nenhuma dessas situações Pedro dá alguma mostra de ser um salvo. Ele disse ao Senhor Jesus que mesmo que os outros O negassem, ele nunca O negaria (Mc 14:29, 31). Isso pode ser um sinal de que fosse salvo então. Contudo logo em seguida negou o Senhor três vezes. Depois saiu e chorou (Mc 14:72). Talvez tenha sido salvo nessa ocasião. É realmente difícil determinar quando Pedro foi salvo.
Houve longo tempo de semeadura do capítulo 1 de Marcos até o tempo em que o Senhor Jesus em ressurreição foi aos discípulos, soprou neles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20:22). Creio que a semeadura do Senhor em Pedro iniciou em Marcos 1 quando o Senhor o chamou e ele O seguiu. Essa semeadura continuou até que o Cristo ressurreto soprou nos discípulos reunidos num aposento fechado. Creio que a semeadura do Senhor se completou aí. Prova disso é que no capítulo um de Atos Pedro é alguém diferente. Não é mais natural. Em Atos 1 ele realmente traz sinais de ter sido salvo pelo Senhor. O que quero enfatizar aqui é que o Senhor Jesus, como o Semeador, passou por longo processo para semear-Se em Pedro e nos outros discípulos.
Em sua experiência, não levou tempo antes que o Senhor Se semeasse em você? Ao fazer essa pergunta não estou me referindo à salvação, regeneração, justificação ou reconciliação do ponto de vista doutrinário. Falo da experiência do desfrute da salvação de Deus. Alguns podem pensar que o fato de o Senhor ter levado três anos e meio para Se semear em Pedro por completo foi muito tempo. Contudo para o Senhor não é muito, pois para Ele, mil anos são como um dia (2Pe 3:8).
Em vez de enfatizar o ensino e o treinamento do Senhor para os discípulos, Marcos nos dá uma visão clara de como o Senhor Jesus realizava a obra de semear-Se neles. Do capítulo um ao dezesseis, o Senhor planta a semente na “terra” dos discípulos. Ele até mesmo levava essa “terra” Consigo, aonde quer que Ele fosse, sempre Se semeando nela.
CRISTO EM NÓS
O ponto crucial é que a economia neotestamentária de Deus não é questão de melhorar nossa cultura, religião, ética, moral, caráter ou filosofia. Nem é mera questão de nos ajudar a ser mais bíblicos, espirituais, santos e vitoriosos; antes, trata-se de Deus semear-Se em nós a fim de que tenhamos um viver segundo Sua economia.
Por acaso o fato de que Deus, em Sua economia, semeia em você uma Pessoa maravilhosa, Jesus Cristo o Filho de Deus, é mera doutrina para você? O Senhor, porventura, não é uma Pessoa real e viva em você? Pela Palavra de Deus e pela nossa experiência, sabemos que o Senhor Jesus não está apenas nos céus, mas também em nós. Ele habita em nós como a vida que vive segundo a economia neotestamentária de Deus.
O ENFOQUE DA MARAVILHOSA PESSOA DE CRISTO
Se tivermos essa visão, ela nos controlará e nos livrará da cultura, religião, ética e outros itens que nos podem distrair da economia de Deus. Levou bastante tempo para o Senhor me resgatar dessas coisas, principalmente da preocupação em ser espiritual, santo e vitorioso. Creio que muitos entre nós ainda aspiram ser bíblicos, espirituais, santos e vitoriosos. Talvez hoje mesmo você tenha orado: “Ó Senhor, dá-me um dia vitorioso. Ontem, Senhor, não fui vitorioso. Peço-Te que hoje eu seja vitorioso”. Enquanto nós, que buscamos o Senhor, não formos resgatados dessas coisas, seremos impedidos de experimentar a maravilhosa Pessoa de Cristo e desfrutar a vida que é absolutamente segundo a economia neotestamentária de Deus.
Freqüentemente nas cerimônias de casamento, o pastor, baseado em Efésios 5, exorta a mulher a se submeter ao marido e o marido a amar a mulher. Não conheço ninguém que tenha tido sucesso em cumprir essa exortação. Qual é o marido que pode dizer que é capaz, em si mesmo, de amar a mulher como Cristo amou a igreja, e qual mulher pode dizer que é totalmente submissa ao marido? A economia de Deus não é que o marido tente amar a mulher e que a mulher se esforce para se submeter ao marido. Gostaríamos de enfatizar que a economia de Deus é semear Jesus Cristo em nosso ser. Quando Cristo vive num irmão casado segundo a economia neotestamentária de Deus, não haverá necessidade de ele tentar amar a esposa, pois irá amá-la espontaneamente. Da mesma forma, se Cristo vive numa irmã casada, ela automaticamente se submeterá ao marido. A questão vital é ser cheio de Cristo.
Os dez itens mencionados anteriormente nesta mensagem podem ser divididos em dois grupos: cultura, religião, ética, moral, melhoria de caráter e filosofia são de um tipo; e ser espiritual, bíblico, santo e vitorioso são de outro. A maioria dos cristãos hoje está em um desses dois grupos. Assim o meu encargo é mostrar a saída de ambos e a entrada em outro item: o Filho de Deus, Jesus Cristo. Quando nos concentramos nesse item, estamos no reino de Deus.
A título de ilustração, vou contar-lhe a respeito de uma irmã que tentou muito submeter-se ao marido. Preocupada com o fato de que não conseguia submeter-se, ela falou comigo. Eu a encorajei a desistir de tentar submeter-se e voltar a atenção a Cristo. Falei com ela a esse respeito duas ou três vezes, mas ela ainda não havia recebido nenhuma ajuda. A última vez que falamos sobre isso, eu lhe disse: “Você precisa abandonar a idéia de se submeter ao marido e prestar atenção a Cristo. Você precisa louvar o Senhor”. Ela me perguntou como é que podia louvar o Senhor, uma vez que estava derrotada em seus esforços de se submeter ao marido. Disse a ela que o louvor deveria vir primeiro, e a vitória depois. Contudo o conceito dela era que a vitória deveria vir antes do louvor. Continuei falando-lhe a respeito de Cristo ser o Salvador dela nessa questão. Por fim, a luz brilhou e ela foi ajudada a se concentrar em Cristo, e não na submissão. Esse deve ser o nosso viver: "não eu, mas Cristo. Pois Cristo é tudo, e em todos."
VIVER SEGUNDO A ECONOMIA DE DEUS
Muitos irmãos ainda estão preocupados em ser espirituais, bíblicos, santos e vitoriosos. Como vimos, essas coisas não são a economia de Deus. A economia de Deus é semear em nós uma Pessoa real, viva e presente. Essa é a razão pela qual o Novo Testamento nos diz que, por meio da ressurreição, o Senhor Jesus se tornou o Espírito que dá vida (1Co 15:45). Como Semeador, Cristo semeou-Se como Espírito que dá vida em nós. O Espírito que dá vida em nós é a semente plantada em nosso ser.
Vimos recentemente que Marcos apresenta uma vida que é totalmente de acordo com a economia neotestamentária de Deus e para ela. Não se trata de cultura, religião, ética, moral, melhoria do caráter ou filosofia humana. Essa vida também não é somente ser bíblico, espiritual, santo e vitorioso. Creio que os irmãos na vida da igreja terão esse viver em Cristo e nas reuniões irão dar testemunho a esse respeito.
Precisamos ser impressionados com o fato de que em Sua economia Deus não se importa com nada, a não ser com Jesus Cristo. A economia neotestamentária de Deus é semear essa Pessoa em nosso ser, a fim de que tenhamos um viver totalmente de acordo com tal economia. Louvado seja o Senhor, porque a Pessoa viva de Cristo foi semeada em nós! Agora podemos viver de acordo com a economia neotestamentária de Deus. Que todos oremos com respeito a essa vida e tenhamos mais comunhão a esse respeito!
Jesus é o Senhor!