28 - QUE IMPRESSÃO DAMOS AOS OUTROS? - Watchman Nee
QUE IMPRESSÃO DAMOS?
Para fazermos a obra do Senhor não depende tanto das nossas palavras ou ações, mas, sim, daquilo que vem saindo de nós. Não temos capacidade de edificar os outros se dizemos uma coisa e emitimos da nossa vida outra, se encenamos uma maneira de viver e realmente vivemos de outra. Aquilo que emana de nós é uma consideração importante.
Frequentemente dizemos que nossa impressão de certa pessoa é boa ou má. Como recebemos semelhante impressão? Não é somente das suas palavras, nem sequer das suas ações. Alguma coisa misteriosa expressa-se enquanto ele está falando ou agindo. É isto que nos dá a impressão.
O que os outros sentem em nós é nossa característica mais destacada. Se nossa mente nunca foi tratada, e é indisciplinada, naturalmente usaremos nossa mente para entrar em contato com as pessoas, e elas ficarão impressionadas com seu vigor. Ou se possuímos uma afeição exagerada, se somos demasiadamente calorosos ou frios, outras pessoas tomarão nota disto na sua impressão de nós. Seja qual for nossa característica mais forte, invariavelmente se destacará e impressionará outras pessoas. Talvez possamos controlar nossas palavras ou nossas ações, mas não podemos refrear aquilo que expressa nossa natureza. Não podemos deixar de revelar aquilo que somos.
2ª Reis capítulo 4, narra como a sunamita recebia Eliseu. "Certo dia passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Daí todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: "Vejo que este que passa sempre por nós, é um santo homem de Deus". Note que Eliseu não pregou sermão algum, nem operou milagre algum. Meramente fazia uma rápida visita e comia, sempre que passava por aquele caminho. Pelo modo dele comer, a mulher o reconhecia como sendo um santo homem de Deus. Esta era a impressão que Eliseu dava aos outros.
Devemos perguntar a nós mesmos: qual é a impressão que damos aos outros? Quantas vezes enfatizamos a necessidade para a nossa alma ser quebrantada. Se este quebrantamento não for realizado, outras pessoas encontram o impacto da nossa alma. Sempre que estamos na presença delas, sentem-se constrangidas por nosso amor próprio, ou por nosso orgulho, ou obstinação, ou habilidade, ou eloqüência. Talvez a impressão que deixamos seja favorável, mas Deus está sendo satisfeito? Semelhante impressão servirá à necessidade da igreja? Se Deus não está satisfeito, e a igreja não está sendo ajudada, qualquer impressão que deixamos é em vão.
Amados, a plena intenção de Deus requer que nosso espírito seja liberado. É imperativo para o crescimento da igreja. Como é urgente, portanto, que nossa alma seja quebrantada! Sem este quebrantamento, nosso espírito não poderá emergir, e a impressão que deixaremos com outras pessoas não será espiritual.
Suponhamos que um irmão está falando sobre o Espírito Santo. Embora seu assunto seja o Espírito Santo, suas palavras, suas atitudes, e suas ilustrações estão cheias de si mesmo. Talvez, sem saber por que, o auditório sofre interiormente enquanto o escuta. Sua boca está cheia do Espírito Santo, mas a impressão que deixa com seus ouvintes é dele mesmo. Qual é o valor espiritual de semelhante conversa vazia? Nenhum.
Ao invés de ressaltar o ensino, coloquemos mais ênfase sobre aquilo que sai de nós. Deus não está nos observando para ver se nosso ensino se torna mais profundo; quer lidar conosco como indivíduos. Se nossa natureza não for corretamente tratada, poderemos emitir o assim chamado ensino espiritual, mas não há qualquer comunicação espiritual. Como é trágico quando meramente impressionamos a alma das pessoas, mas não transmitimos nada de impressão viva ao espírito das pessoas!
Uma vez após outra, Deus dispõe nossas circunstâncias para quebrantar-nos em nosso ponto forte. Você poderá ser ferido uma vez, duas vezes, mas ainda o terceiro golpe terá de vir. Deus não soltará você. Não deterá Sua mão até que tenha quebrantado aquela característica de destaque em você.
Aquilo que o Espírito Santo realiza quando estamos sendo disciplinados é totalmente diferente daquilo que acontece quando estamos ouvindo uma mensagem. Uma mensagem que ouvimos pode frequentemente ficar em nossa mente por vários meses, possivelmente até durante anos, antes da sua verdade tornar-se operacional em nós. Deste modo, o ouvir frequentemente antecede o verdadeiro entrar na vida. Através da disciplina do Espírito Santo, porém, percebemos a verdade mais rapidamente, e assim a possuímos. Como é estranho que captamos mero conhecimento através de uma mensagem muito mais rapidamente do que aprendemos a realidade através da disciplina! Uma vez que ouvimos, nos lembramos. Podemos, porém, ser disciplinados dez vezes e ainda ficar querendo saber porque. O dia em que a disciplina realiza seu propósito é o dia em que você realmente "vê" a verdade e entra na sua realidade. Assim, a obra do Espírito Santo é demoli-lo de um lado, e reedificá-lo do outro lado. Assim, seu coração dirá: "Graças ao Senhor! Agora sei que Sua mão que estava sobre mim durante estes últimos cinco ou dez anos, tem sido precisamente para quebrantar este ponto forte em mim."
A OBRA NOTÁVEL DE MORRER ATRAVÉS DA DOMINAÇÃO
Tendo considerado a operação disciplinar do Espírito Santo, agora vejamos como Ele emprega outros meios para lidar com a nossa alma. Além da disciplina, haverá a iluminação. Às vezes estas duas são usadas simultaneamente, às vezes alternadamente. Às vezes a disciplina é demonstrada em circunstâncias que visam o nivelamento da nossa característica destacada: noutras vezes, Deus graciosamente brilha sobre nós para nos iluminar. A carne, conforme sabemos, jaz oculta nas trevas. Permite-se a existência de muitas obras da carne porque nós não as reconhecemos como tais. Uma vez que a luz de Deus nos revela a carne, trememos, e não ousamos movimentar-nos.
Observamos especialmente este fato em tempos em que a igreja está rica na Palavra de Deus. Quando o ministério da Sua Palavra é forte, e não há falta de ministério profético, a luz de Deus aparece, clara e forte. Em tal luz, você chega a reconhecer que até mesmo a condenação do seu orgulho é em si mesma orgulho. Na realidade, sua própria maneira de falar contra seu orgulho é jactanciosa (que ostenta suas qualidades ou feitos; que expressa arrogância ou possui uma opinião muito elevada sobre si mesmo; vaidoso ou orgulhoso). Deste modo, tão logo que você vê seu orgulho na luz de Deus, você certamente dirá: "Ai de mim! Então isto é orgulho — quão repugnante e impuro eu sou!" O orgulho visto à luz da revelação de Deus é completamente diferente do orgulho acerca do qual se fala tão levianamente. A iluminação (a luz de Deus) desmascara a sua condição verdadeira. Imediatamente raia sobre você que é dez mil vezes pior do que quaisquer das suas noções preconcebidas acerca de si mesmo. No mesmo momento, seu orgulho, seu próprio-eu, e sua carne murcham de tudo e morrem sem esperança alguma da sobrevivência.
Tudo quanto é revelado "na luz" é morto por ela. Isto é muito maravilhoso. Não somos primeiramente iluminados para então, no decorrer do tempo, paulatinamente sermos trazidos para a morte. Pelo contrário, caímos instantaneamente diante da vinda da luz de Deus. À medida em que o Espírito Santo revela, recebemos nosso tratamento. A revelação, portanto, inclui tanto o ver quanto o morrer. É o modo sem igual de Deus tratar. Uma vez que a impureza é realmente exposta, não poderá permanecer. Logo, a luz de Deus tanto revela quanto mata tudo o que é de nós mesmos.
Esta ação de ser morto pela luz de Deus é uma das experiências cristãs mais necessárias. Paulo não foi correndo para a beira da estrada para ajoelhar-se quando a luz do Senhor brilhou sobre ele. Paulo caiu em terra. Embora ele fosse naturalmente capaz e autoconfiante, reagiu à luz do Senhor ao cair, um pouco perplexo, mas intimamente desmascarado. Quão eficaz era esta luz do Senhor que prostrou-o em terra! Notemos que isto aconteceu de uma só vez. Poderíamos supor que Deus primeiramente ilumina nosso entendimento e depois nos deixa para calcular tudo. Este não é o modo de Deus agir. Deus sempre nos mostra quão odiosos e poluídos somos, e nossa resposta imediata é: "Ai de mim! Como sou miserável — tão impuro, tão desprezível!" Se Deus revelar nosso verdadeiro eu, cairemos como mortos. Uma vez que uma pessoa orgulhosa tenha sido iluminada, não poderá sequer fazer uma tentativa de ser orgulhosa — nunca mais! O efeito daquela iluminação deixará sua marca sobre ela durante todos os seus dias.
Do outro lado, este tempo da iluminação de Deus sobre nós também é o tempo para crêrmos — não para pedirmos, mas para curvar-nos até ao chão. Deus segue o mesmo princípio ao salvar-nos como faz ao operar em nós mais tarde. Quando o brilho do Evangelho de Deus resplandece em nós, não oramos assim: "Senhor, rógo-Te, seja meu Salvador". Orar assim, até mesmo por dias a fio, não traria a certeza da salvação. Dizemos simplesmente: "Senhor, eu Te recebo como meu Salvador". Imediatamente, a salvação ocorre! De modo semelhante, na operação subsequente de Deus, tão logo que a luz de Deus vem sobre nós, devemos imediatamente prostrar-nos sob Sua luz e dizer ao Senhor: "Senhor, aceito a Tua sentença. Concordo com Teu julgamento". Isto nos preparará para mais luz do Senhor.
Naquela hora do desvendamento, que a luz do Senhor brilha sobre nós, percebemos que até mesmo as ações nobres — realizadas em nome do Senhor e por amor a Ele — de alguma maneira perderão seu brilho. Em todo propósito sublime você perceberá a inclinação mais vil. Aquilo que você considerava como sendo inteiramente para Deus, agora parece crivado com o próprio-eu. Aí! O próprio-eu parece permear todo vestígio do seu ser, furtando a Deus a Sua glória.
A nós tem parecido que não há profundidade que o próprio homem não possa sondar! Mesmo assim, é necessária a revelação de Deus para desmascarar a condição real do homem. Deus não parará até que nos desnude a fim de que vejamos a nós mesmos. De início, somente Ele sabe, porque sempre estamos descobertos e patentes diante dEle. Mas uma vez que Deus nos revelou os pensamentos e propósitos do nosso coração, então estamos descobertos diante de nós mesmos. Como voltaremos a erguer nossa cabeça? A nossa própria brandura fica sendo coisa do passado. Embora tenhamos pensado que éramos melhor do que outras pessoas, agora sabemos o que realmente somos, e temos vergonha de nos mostrar. Procuramos em vão uma palavra adequada para descrever nossa impureza e nossa condição desprezível. Nossa vergonha pesa sobre nós, como se carregássemos a vergonha do mundo inteiro. Como Jó, caímos diante do Senhor e nos arrependemos de nós mesmos: "Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza". Semelhante iluminação, semelhante aborrecimento de si mesmo, semelhante vergonha e humilhação, semelhante arrependimento, libertam-nos da escravidão de longos anos. Quando o Senhor ilumina, liberta. A iluminação é a libertação, e o ver é a liberdade. Somente assim é que nossa carne cessa de operar, e nossa casca externa (nossa alma) é quebrantada.
Na próxima mensagem veremos "A disciplina do Espírito Santo comparada com a revelação do Espírito Santo".