36 - TODOS NÓS NECESSITAMOS QUE O SENHOR USE ALGUÉM PARA TRAZER UMA PALAVRA DE REFRIGÉRIO AO NOSSO ESPÍRITO.


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Mensagem 36 
"TODOS NÓS NECESSITAMOS QUE O SENHOR USE ALGUÉM PARA TRAZER UMA PALAVRA DE REFRIGÉRIO AO NOSSO ESPÍRITO".

No evangelho de João está registrado um acontecimento que somente ele preservou para nós. É um acontecimento cheio de significado Divino, e que ajuda muito a nos esclarecer este problema de viver no mundo. Refiro-me ao incidente do capítulo 13 de João, no qual nosso Senhor Jesus cinge-se com uma toalha, e tomando de uma bacia, lava os pés de Seus discípulos. Esse feito de Jesus tem lições para nos ensinar, as quais não me proponho a analisar totalmente aqui. Ao invés disso, desejo que contemplemos particularmente o Seu mandamento que acompanha o feito. "Ora, se eu, sendo o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também... Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes" (João 13:14-17). Digo de imediato que esta passagem não se refere a pecados.
O que é esse mútuo lavar de pés? O que significa o fato de que devo lavar os pés de meu irmão e que meus pés devem ser lavados por ele? O aspecto da verdade especialmente enfatizado aqui é o refrigério. Como veremos em breve, significa muito para o Senhor que nós, como Seus filhos, aprendamos a ministrar refrigério a nossos irmãos, e que eles por sua vez sejam um meio de refrigério para nosso espírito. Isso que significa lavar os pés.

Até mesmo o nosso Senhor Jesus censurou seu anfitrião com as palavras: "Não me deste água para os pés" (Lc 7:44). Assim sendo, por favor, lembrem-se de que o refrigério mútuo de João capítulo 13 não está relacionado com pecados cometidos, para os quais há sempre perdão através do Sangue de Jesus, mas dos quais, Deus, de qualquer forma tenciona que sejamos libertos. Não, antes está relacionado ao nosso caminhar diário pelo mundo, durante o qual é inevitável que algo se apegue a nós. "Vós estais limpos", diz Jesus. O precioso Sangue providencia isso. "Quem já se banhou não necessita..." e no que diz respeito ao pecado, a sentença poderia terminar aqui. Mas nos movimentamos no reino de Satanás, e algo com certeza se apegará a nós. Tal como uma película fica entre nós e o nosso Senhor. Não pode ser evitado, simplesmente porque estamos tocando as coisas do mundo todo o tempo, seu comércio e prazeres, sua escala de valores corrupta e toda a sua aparência pecaminosa. Essa é a razão das palavras com que Jesus conclui: " ... de lavar senão os pés".
Vamos agora ao resultado prático de tudo isso. Alguns de vocês, irmãos e irmãs em Cristo, tem que sair para trabalhar em escritórios ou lojas, por digamos, sete ou oito horas diárias. Não está errado que o façam. Não é pecado trabalhar em uma loja ou fábrica. Mas quando você volta de seu emprego para casa, não se sente cansado, desanimado e desafinado com as coisas? Você encontra um irmão, mas não pode passar fácil e diretamente a conversa com ele sobre coisas divinas. É como se houvesse uma capa ou algo contaminando. Repito: não é necessariamente pecado; é só que o seu contato com o mundo depositou sobre você aquela película de sujeira. Você não pode deixar de senti-la, pois parece haver uma incapacidade de elevar-se de imediato até o Senhor. O contato luminoso que você teve pela manhã com Ele parece ter escurecido; seu frescor desapareceu de você. Todos nós conhecemos essa experiência. Ou, por outro lado, algumas de nossas irmãs tem que atender aos deveres domésticos. Vamos supor que uma jovem mãe está preparando o jantar, e tem algo cozinhando no fogão. Ao mesmo tempo, o bebê chora, a campainha da porta toca, e o leite ferve – tudo desaba sobre ela a um só tempo. Ela corre para atender um, e falha para com o outro! Finalmente, depois que tudo está ajeitado, ela senta-se, e parece como se precisasse de uma força para elevá-la novamente à presença de Deus.
Ela está consciente de que há algo ali – não pecado, mas como se houvesse um depósito de poeira sobre todas as coisas. Adere como uma película, ficando entre ela e o Senhor, e ela sente-se suja, manchada. Não há aquele caminho claro que a conduz a Deus de imediato. Isto, penso eu, nos ilustra a necessidade do lavar dos pés.

Muitas vezes estamos cansados e fatigados por nossos deveres seculares. Quando nos ajoelhamos para orar, descobrimos que temos que esperar por algum tempo. Parece que levamos dez ou vinte minutos para voltar àquele lugar onde podemos realmente chegar à presença de Deus. Ou, se nos sentamos para ler a Palavra, descobrimos que é preciso um esforço determinado para restaurar novamente aquela receptividade do Seu falar.
Mas como é bom quando no caminho para casa, encontramos um irmão com um coração transbordante, saído recentemente da comunhão com Deus! Sem qualquer intenção, ele apenas aperta nossa mão espontaneamente e diz, "Irmão, louvado seja o Senhor!" Ele pode não saber, mas é como se tivesse chegado com um espanador, e limpado tudo. Imediatamente sentimos que nosso contato com Deus foi restaurado.

Às vezes, você pode chegar a uma reunião de oração com o espírito pesado, por causa do efeito de seu trabalho durante o dia. Alguém ora, e você ainda se sente da mesma maneira; e outra pessoa ora, e não há diferença. Mas então um outro irmão ou irmã ora, e de algum modo você imediatamente sente um poder que eleva. Você está refrigerado; seus pés foram lavados.

O que, então, significa a lavagem? Significa restaurar o frescor original. Significa trazer as coisas de volta a um ponto de tal clareza, que é uma vez mais como se viessem da imediata presença de Deus, saídas recentemente de Suas mãos.

Não sei quantas vezes eu pessoalmente senti-me oprimido dessa forma, quando o problema não era exatamente o pecado, mas a consciência de uma camada de poeira do mundo; e então encontrei um irmão e irmã, alguém que podia não saber nada de minha condição, mas que fez uma observação que clareou tudo. Quando isto acontece, você simplesmente sente que toda escuridão se foi, a película foi retirada. Louvado seja Deus, você está revigorado, e de volta imediatamente à condição na qual pode diretamente gozar comunhão com Ele novamente. Isso é o lavar dos pés – dar refrigério a meus irmãos em Cristo; trazê-lo novamente ao lugar de onde ele tenha saído há pouco da própria presença de Deus. É este ministério de um para o outro que o Senhor deseja ver entre Seus filhos.

Se estamos andando com Deus, não há um só dia em que possamos, se assim desejarmos, ser refrigério para nossos irmãos. Este é um dos maiores ministérios. Pode não ser mais do que um aperto de mãos. Pode ser uma palavra de encorajamento dita como que casualmente. Pode ser só a luz dos céus em nossa face. Mas se estamos dentro da vontade de Deus, e estamos em condições em que não haja nuvens entre nós e Ele, descobriremos que estamos sendo mansamente usados. Pode ser que não o saibamos, pois é melhor não procurar sabê-lo – na verdade pode ser melhor nunca saber. Mas quer o saibamos quer não, estamos constantemente sendo usados para refrigério de nosso irmão. Quando ele está abatido e nas trevas, quando tem um peso no coração ou uma película diante dos olhos, quando está sujo e manchado, então ele virá a nós. Pode ser que não fique por muito tempo, talvez só por alguns minutos.
Procure por esse ministério. Descubra a Graça de Deus para ajudar seu irmão. Freqüentemente pensamos que seria bom se pudéssemos pregar longos sermões que tenham grande audiência, mas poucos tem esse dom, e muitos não são alcançados por aqueles poucos que o tem. Refrigerar o coração dos santos é o tipo de ministério que todos podem preencher e que pode alcançar todos os lugares. Na avaliação de Deus, não tem preço.

Mas para servirmos a outros desse modo, precisamos preencher as condições. Se estamos realmente andando com Deus, naturalmente não há dúvida de que seremos usados, pois com Ele não há limitações. Se estamos limpos, com os corações transbordantes com Sua alegria e paz, haverá com certeza um derramamento. Assim sendo, a questão simples que lhes apresento é: existe algum ponto de controvérsia entre você e Deus? Refiro-me, é claro, a questões reais e conhecidas. Se não há nada especial, então não há necessidade de procurar para descobrir algo; o próprio Senhor sempre o descobrirá. Quando Ele quer trazer à luz algo que você está negligenciando, sempre colocará Seu dedo ali, e você saberá. Não há necessidade de voltar-se para dentro de si, e através da verificação e análise de cada sentimento, tentar escavar a controvérsia. Apenas louve a Deus! É o Senhor e não você quem deve brilhar em seu coração e mostrar quando você está afastado Dele.
Mas uma coisa é certa, se você tiver uma controvérsia com Deus, só poderá contaminar aos outros. Jamais poderá lavar os seus pés. Quando estiverem abatidos, você os abaterá ainda mais. Quando se sentirem oprimidos, você fará com que se sintam ainda mais oprimidos. Ao invés de refrigerá-los e restaurá-los às coisas novas que vêm de Deus, você só poderá lançá-los em trevas mais profundas. Estar em disputa com Deus é o caminho certo para ser um dreno na vida de Sua Igreja, enquanto que a maior manifestação de poder é, creio eu, ser constantemente capaz de renovar outros. É algo inestimável, aquele toque dos céus que eleva, limpa, renova.

"Também vós deveis lavar os pés uns dos outros" (João 13:14). De todos os mandamentos dados aos Seus discípulos este é – e uso a expressão em seu sentido real – o mais dramático. Para imprimir neles a sua importância, Ele próprio o realizou diante deles. Foi uma expressão do Seu amor pelos "seus que estavam no mundo" (vs. 1). Ele próprio se colocou no lugar de servo, para mostrar a Seus discípulos o que entendia por ministério. Não é trabalho de palco. É servir uns aos outros com uma bacia e uma toalha. Sempre haverá necessidade de restaurar pessoas que caíram, ou trazer de volta ao arrependimento os fracos que pecaram; mas a maior necessidade dos santos hoje em dia é de refrigério, e quero dizer com isso, chamá-los de novo ao que é original e de Deus. Isso é poder. O próprio Jesus "viera de Deus" (vs. 3) para fazer isso.

Não sei como esse fato afeta você, mas penso que não há maior poder para Deus do que estar recém-saído de Sua presença, perante o mundo. Você não acha que esta é a maior manifestação do poder da vida Divina? Num sistema mundial obscurecido com a fumaça do abismo como nos regozijamos por encontrar santos que estão recém-chegados do ar limpo dos céus. Tal frescor traz de novo a você e a mim o sopro Divino da vida.
Agradeço a Deus porque em minha juventude eu tive o privilégio de conhecer um dos mais extraordinários dos santos. Conheci-a por muitos anos, e descobri que ela tinha muitas qualidades espirituais; mas creio que a que me impressionou mais foi a sensação da presença de Deus que ela transmitia. Você não podia ficar algum tempo em sua presença, ou até mesmo entrar em seu quarto e apertar sua mão, sem sentir uma sensação da presença de Deus vindo sobre você. Não sabia explicar, mas você a sentia. Eu não fui o único a sentir isso. Todos os que tiveram contato com ela deram o mesmo testemunho. Tenho que confessar que naqueles dias muitas vezes sentia-me desanimado, e parecia como se tudo saísse errado. Entrava em seu quarto, e imediatamente sentia-me repreendido. Sentia prontamente que estava face a face com Deus, estava refrigerado. Porque aconteceria isso, essa imediata restauração? Certamente não é por ser o ministério de alguns poucos privilegiados. O Senhor gostaria que cada um de nós fosse assim, comunicasse aquele poder para iluminar nossos irmãos e irmãs quando estivessem contaminados. Por favor lembrem-se – atrevo-me a dizer isso! –que às vêzes o fato de estar contaminado faz mais para prejudicar o impacto da vida cristã sobre o mundo do que os seus pecados reais e conscientes.
De vez em quando nós pecamos, qualquer um de nós, mas porque somos sensíveis a isso, sabemos de imediato que o fizemos, e assim buscaremos e encontraremos perdão. Mas muitas vezes somos manchados durante horas com a contaminação do mundo, e porque não é pecado real, permanecemos despreocupados. É então que o impacto que exercemos a favor de Deus sobre o mundo torna-se embotado. Como é bom, em tais circunstâncias, ter por perto um irmão ou irmã através de quem somos elevados novamente a uma renovada comunhão com Deus!

Quais, então, são as regras? São duas. Primeira, como vimos, não deve existir nenhuma discórdia conhecida entre mim e meu Senhor, que não seja de imediato esclarecida; pois se existir, isso de fato coloca-me totalmente fora desse ministério. Qualquer que seja o assunto, deve ser acertado imediatamente, ou fico inutilizado. Longe de ser um recurso para a Igreja de Deus, tornar-me-ei apenas um fardo. Não posso contribuir; posso apenas adicionar à coluna de débito da vida de Seus filhos. Para ser um contribuinte, precisa haver uma transparente clareza entre mim e Deus em cada questão consciente. Então, livre de tal desarmonia, eu também posso ser o meio de elevar meus irmãos de volta a seu lugar de poder contra o mundo.
Em segundo lugar – e para evitar mal-entendidos, isto precisa ser francamente declarado: lembrem-se de que este refrigério é mútuo. "Lavar os pés uns dos outros", disse Jesus. O que refrigera deve esperar ser também refrigerado pelos outros. Muitas vezes o Senhor poderá usá-lo, mas igualmente, muitas vezes Ele poderá usar alguém para refrigerá-lo.

Não existem alguns poucos escolhidos separados para uma tarefa espiritual como "renovadores", assim como nenhum de nós está absolvido de caminhar pelo mundo e portanto necessitar de renovação. Como Pedro, nenhum de nós pode dizer de si próprio: "Já passei por esse estágio. Estou agora com tal comunhão com Deus, que estou acima de contaminação, e posso orar ou pregar sem a necessidade de tal ministério. Tu jamais lavará meus pés!" Não existe na Igreja uma classe superior de irmãos que não tem necessidade de refrigério. É algo de que cada servo de Deus depende. Trabalhando em uma oficina ou em uma cozinha o dia todo, você bem precisa ser renovado; mas alguns de nós trabalham o dia todo em igrejas, e nós também precisamos ser renovados! Nossa necessidade de renovação é com freqüência da mesma intensidade, embora possamos bem ser iludidos a negligenciar esse fato. Quer trabalhemos em qualquer esfera obviamente secular, ou estejamos empenhados em coisas assim chamadas espirituais, o mundo está ao nosso redor, envolvendo-nos. Portanto, de quando em quando precisamos de auxílio de algum irmão ou irmã para elevar-nos de novo àquele recente contato com Deus, aquela renovação de poder Divino. Assim, o princípio do Corpo é simplesmente, refrigerar e ser refrigerado. Quanto mais nós caminhamos com o Senhor, mais necessitamos dos irmãos. Pois neste ministério, nenhum de nós é insignificante, e nenhum de nós alcança o estágio onde não tem necessidade de ser ministrado por outro. Minha oração por mim mesmo é que Deus possa de vez em quando usar-me para refrigerar o espírito de alguém quando estiver cansado, e que da mesma forma Ele possa de quando em quando usar alguém para tocar meu espírito abatido e refrigerar-me. Se através daquele irmão, a contaminação do mundo for tirada de mim, de modo que chegando cansado eu saia renovado, então o ministério desse irmão foi um ministério de Cristo para mim.

O que procurei descrever em termos simples, forma uma frente unida contra o mundo. Isto não é algo sem importância. Se crermos o suficiente para praticar, estou certo que, possui poder para fazer as mais poderosas fortalezas de Satanás tremerem. Nas palavras de Jesus: "Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes" (
João 13:17).

Livro: "Não Ameis o Mundo". (Watchman Nee)

Jesus é o Senhor!
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