40 - OS PODERES DO MUNDO VINDOURO - Parte 2 de 2.



Mensagem 40
OS PODERES DO MUNDO VINDOURO  
Parte 2/2.

O propósito eterno de Deus está ligado ao homem. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança", disse Deus, "e tenha ele domínio" (Gn 1:26). Deus pretendia que o homem exercesse poder, para reinar e governar, controlar as demais coisas criadas. Não podemos dizer que a redenção era desígnio de Deus – ou mesmo parte dele – pois o homem jamais foi criado para cair, menos ainda para perecer. Gênesis capítulo 3 representa a história do homem, não o propósito de Deus para com ele. Um trabalhador pode cair do quinto andar de um edifício em construção, mas esse nunca foi o plano do arquiteto! Não, o plano de Deus está relacionado ao domínio do homem, e é bom notar a esfera especial desse domínio, isto é, "toda a terra" (Gn. 1:26). Não há problema com o céu; o problema está na terra. É dito ao homem para sujeitá-la (Gn 1:28) e perguntamo-nos por que. Se não houvesse forças para sujeitar, por que esta necessidade? Além disso, nos é contado que o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar e "o guardar" (Gn. 2:15). Isto significa mais do que a palavra costumeiramente usada no hebraico para "guardar". Adão vai “proteger" o Paraíso de Deus, e de novo isto implica na proximidade de um inimigo para ser mantido em xeque.

É interessante notar as expressões em Gênesis 1:26. O homem deverá ter domínio "sobre toda a terra", e a cláusula é ampliada para cobrir, entre outras coisas, "todos os répteis da terra". Mas no caso, a primeira coisa que o homem falhou em controlar foi um animal rastejante, uma serpente. E pelo fracasso do homem Satanás obteve, de uma nova maneira no próprio homem, direitos legais sobre a terra. É verdade que o pó da terra foi a esfera inferior destinada a ele. "Rastejarás sobre o teu ventre, e comerás pó todos os dias de tua vida" (Gn. 3:14). Mas o que é o pó? É a substância da qual foi feito Adão! Assim, o homem na carne está agora moralmente submetido a Satanás. O inimigo de Deus assegurou um direito claro de posse sobre tudo o que por nascimento natural o homem tem e é.
A vida humana natural é a base da atividade de Satanás sobre a terra. O mundo de Satanás salta e encontra sua força nos seus direitos sobre o homem, e até mesmo Deus não disputa esses direitos. Ele adquiriu, pela falha de Adão, um direito de posse total sobre tudo o que é da velha criação. Se Satanás tiver que cessar de agir em nós, então sua propriedade em nós deve ser tomada dele. Deus trata assim dessa situação na redenção, não negociando diretamente com Satanás, mas, como vimos, tirando tudo da velha criação fora do caminho – o próprio homem, seu mundo, tudo – e assim tirando de Satanás sua plataforma legal. A ruína de Satanás é alcançada não por um golpe direto contra ele, mas indiretamente, afastando dele na morte de Cristo tudo o que lhe dá direito moral de controle. "Sabendo isto, que foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos" (Rom. 6:6). Louvado seja Deus, Satanás portanto não tem mais nenhum direito sobre nós. Mas esse é meramente um fato negativo. Há também um fato positivo. Deus não só removeu tudo o que estava no caminho do seu propósito eterno, removendo a velha criação; Ele também assegurou tudo o que é necessário para realizar esse propósito, trazendo em cena o Seu novo Homem. "Pois sabemos que, Cristo tendo sido ressuscitado dos mortos, Ele não pode morrer outra vez: a morte não tem mais domínio sobre Ele" (Rm. 6:9). O propósito revelado em Gênesis capítulo 1 e perdido em Gênesis capítulo 3 não está perdido para sempre. O que Deus não pode assegurar no primeiro homem, Ele obteve no segundo; e esse segundo Homem está no Trono. Não é de se admirar que o escritor do Novo Testamento ouse replicar as palavras do salmista: "Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? ...De glória e de honra o coroaste" (Hb 2:6). Assim ele cita o salmo, e então exclama: "Vemos, todavia... Jesus ...coroado!" (Salmo 8:4-6; Heb. 2:6-9). Se a criação da humanidade devia preencher a necessidade de Deus, essa necessidade foi agora finalmente preenchida. Deus conseguiu o Seu Homem. Gênesis capítulo 1, Salmo capítulo 8 e Hebreus capítulo 2 estão assim singularmente ligados. O Salmo capítulo 8 naturalmente é poesia, e fala sobre o plano de Deus para a humanidade, mas o fato significativo é que, apesar da queda, o cantor não se desvia. Ele apenas reafirma o plano original de Gênesis capítulo 1: "Sob Seus pés tudo lhe puseste". Não mudou. Além disso, ele não só começa, mas termina seu cântico com a exclamação de louvor: "Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o Teu nome!" (Salmo 8:9). 
O inimigo conseguiu o seu mal; o homem foi preso na armadilha para blasfemar de Deus, e se você ou eu tivessemos escrito esse salmo, nós certamente teríamos acrescentado ao versículo 8 um grifo de angústia: "Mas, ai de nós, o homem caiu; tudo está perdido!" O salmista não age assim, é como se ele tivesse esquecido completamente da queda, pois nem sequer a menciona. Ele salta em pensamento por sobre toda a história da redenção, e grita novamente: "Quão magnífico!" Adão e Eva caíram, mas não puderam alterar o propósito de Deus de que o homem iria finalmente derrotar o poder de Satanás. Seu propósito permanece inalterado, e sua excelência é para ser conhecida – onde? Em toda a terra. Não é só no Filho do Homem que esse propósito é realizado, mas nos filhos dos homens – aqueles "muitos filhos" os quais Deus está trazendo para a glória. O salmista esforça-se para sublinhar esse fato. Embora o inimigo tenha feito o pior, os direitos que conseguiu através da queda não provaram ser intransferíveis. Entre os homens, ainda há os que ele não pode tocar. "Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador" (Salmo 8:2). Deus não depende de grandes líderes militares. Criancinhas, sim, verdadeiros bebês são suficientes para subjugar as hostes de Seus inimigos.
Como vimos, Hebreus capítulo 2 tira sua inspiração deste salmo. Contudo vai um passo além. Embora reafirmando o propósito de Deus na criação e o objetivo para o qual aponta, faz muito mais do que isso. Olhando para trás realísticamente, para o decurso da negra história do homem caído, estabelece agora que o propósito de Deus na redenção e recuperação está dirigido para idêntico fim. Em todas as novas circunstâncias que a redenção criou, o plano está ainda inalterado. Deus não abandonou Seu alvo. Longe disso, do ponto de vista do escritor, além do triunfo da cruz ele pode confiantemente reafirmar a confissão de fé do salmista. Assim, longe de estar tudo perdido, é correto afirmar que em Cristo o final foi assegurado.
Oh sim, o plano ainda é o mesmo: "Nada deixou fora do seu domínio" (Hb 2:8). As aparências tendem a negar isto, pois que "ainda não vemos todas as coisas a Ele sujeitas" (Hb 2:8). E embora sendo isto verdadeiro, o autor o desconsidera, e imediatamente prossegue triunfante: "Vemos, todavia, Aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor do que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela Graça de Deus, provasse a morte por todo homem" (Hb 2:9). E então acrescenta, quase que desafiadoramente: "para que destruísse... o diabo" (Hb 2:14).
O que o homem tinha que fazer para Deus na terra, e não fez, nosso Senhor Jesus realizou. Ele "provou a morte por todas as coisas" (como está implícito no original grego – não apenas "por todo homem"). Isto é, não foi somente para a redenção do homem que Ele morreu, mas para a de toda a criação e, mais ainda, para a recuperação do propósito do Pai na completa derrubada da ordem mundial satânica.
Assim torna-se claro que hoje a Igreja tem a responsabilidade definida perante Deus de registrar a vitória de Cristo no território do diabo. Se tem que haver um testemunho aos principados e potestades, se o impacto da soberania de Cristo através da Sua cruz tem que ser registrado no campo espiritual, isto poderá ser alcançado somente quando a plataforma judicial do "enganador" da raça for encontrada em nossos corações e, pela mesma cruz, removida e repudiada. Pois o alvo de Deus ainda é que o homem "tenha domínio". Nossa obra para Ele não se resume na proclamação de um evangelho que foi designado meramente para desfazer o efeito de Gênesis capítulo 3, maravilhosa como possa ser essa realização. Deus deseja também conduzir-nos de volta a Gênesis capítulo 1. Ele quer que nós em Cristo reconquistemos o domínio moral sobre Seu inimigo que ali estava em vista, e que assim efetivamente restauremos a terra para Ele. Certamente é por isso que, como nos diz Paulo, "a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus" (Rom. 8:19).

O Evangelho da Salvação é necessário e vital para preencher a necessidade do homem. Mas se, como servos de Deus, estamos apenas trabalhando por outros, estamos perdendo o primeiro alvo de Deus na criação, que era suprir não só a necessidade do homem, mas a Sua própria. Pois como já dissemos antes, a criação do homem deveria preencher a necessidade de Deus. Assim, se hoje vamos satisfazer a necessidade de Deus, precisamos ir um passo além, e lidar com o próprio Satanás. Devemos tomar de volta seu poder, expulsá-lo de seu território, saquear seus bens e libertar seus cativos - para Deus. A questão não é simplesmente: como estamos nós no ganhar almas? Mas sim: como estamos nós no campo dos principados e potestades? E por isto há um preço a pagar.
Muitas vezes é possível mover os homens quando é totalmente impossível mover Satanás. A verdade é que custa muito mais lidar com Satanás do que ganhar almas. Requer uma totalidade de espírito para com Deus, que em si própria priva Satanás de qualquer propriedade moral em nós da qual ele possa reivindicar possessão. Esta é a parte custosa. Deus, em Seu amor misericordioso pelos perdidos, pode freqüentemente passar por cima e desconsiderar em Seus servos o que se poderia, com justiça, considerar como espantosa fraqueza e até mesmo fracasso. Mas ao passo que Ele pode fazer isso para com o ganhador de almas, quando se trata de nosso lidar com o diabo, o caso é outro.
Os espíritos maus podem ver através do testemunho do homem. Podem dizer quando este está comprometido por ser de coração dividido, ou insincero. Eles sabem quando guardamos uma parte do preço. Olhando-nos, eles não tem ilusões quanto a quem podem desafiar ou ignorar com segurança; e, ao contrário, sabem perfeitamente bem contra quem são impotentes. Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: "Conheço a Jesus e sei quem é Paulo. Mas vós, quem sois?" (Atos 19:15). Porque crêem, sabem quando temer. E permitam-me dizer: uma vez que nossa tarefa mais importante é a derrota dos espíritos malignos, sempre é melhor termos o testemunho da força do mal do que o louvor dos homens. Mas o preço desse testemunho dos principados e potestades é, repito, uma total lealdade para com Deus, que é ilimitado. Nutrir nossas próprias opiniões e desejos, ou preferir nossas próprias escolhas divergentes e contrárias, é simplesmente presentear o inimigo com sua vantagem. É, em resumo, estragar o jogo. Em qualquer outra esfera talvez possa haver – não sei – lugar entre nossas motivações para um pouco de interesse próprio, sem perdas consideráveis. Mas nunca, e eu repito nunca, nesta esfera. Sem tal totalidade para com Deus nada pode ser conseguido, pois sem ela somos impotente contra o inimigo.
Assim, digo uma vez mais: a exigência é muito alta. Estamos você e eu aqui na terra, totalmente submissos, totalmente entregues ao próprio Deus? E porque é assim, estamos agora mesmo experimentando os poderes daquela futura época gloriosa? Estamos reclamando território do príncipe deste mundo para Aquele a quem por direito pertence?
Que Deus por meio de Jesus Cristo nos encha do Seu Santo Espírito e capacita-nos para Sua boa obra.


Livro: "Não Ameis o Mundo". (Watchman Nee)

Jesus é o Senhor!
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